— E está tudo bem mesmo por aí? — Norma perguntou pelo outro lado da ligação.
— Claro que está, oras — Alex assegurou.
— Então por que está tudo tão quieto e a Elena ainda não veio falar comigo? — ela desafiou, vendo Alex disfarçar através da chamada via FaceTime. — Alex?
Ele balançou o celular e sua imagem ficou borrada, mas logo consertou.
— Ela está descansando, brincou muito agora à tarde e eu disse para descansar antes do jantar — ele contou, mas Norma sabia que era mentira. Alex havia se tornado um péssimo mentiroso. Antes, quando não era nada, ele até sabia esconder suas emoções, mas depois que casaram, e ainda mais depois que tiveram a filha, ela conseguia lê-lo só de observá-lo.
— Diga para ela que eu vou voltar logo e que se eu pudesse, estaria aí.
Alex sorriu ao ver que não conseguia esconder nada dela.
— Ela só está um pouco chateada porque já faz três dias.
— Diga que eu também estou, mas ela precisa entender que temos outras responsabilidades. E Dylan precisava de ajuda, Emma está no hospital ainda, e lá não é lugar para a Kate, e ela ainda não vai para a escola, não pode ficar sozinha e Dylan tem que trabalhar.
— Eu sei, meu amor. Ela só...sente sua falta.
— Eu também sinto a de vocês. Muito mesmo. — Norma escutou um chamado vindo do quarto. — Kate acordou, preciso ir lá vê-la. Dá um beijo na princesa por mim, tá bom? Mais tarde eu ligo e vou querer falar com ela.
Alex sorriu e mandou um beijo.
— Não se preocupe, vou conversar com ela. Até mais tarde, meu amor.
Assim que desligou o telefone, Alex suspirou. Bateu o celular nos dedos e estalou a língua, sabendo que não seria nada fácil.
Elena era a cópia da mãe. Em todos os detalhes. E embora ele tivesse aprendido com o tempo a como acalmar Norma, Elena era uma criança, e tinha menos controle das emoções do que a mãe.
— Vamos, xerife, hora de acalmar a fera — encorajou a si mesmo. Se levantou da cama e seguiu para o quarto da filha, no cômodo ao lado.
Bateu à porta e procurou por ela, a vendo deitada na cama de braços cruzados e cara amarrada.
— Ei, unicórnio — falou calmamente. — Posso entrar?
— Pode — respondeu, mas não queria conversar. Ela só queria a mãe, apenas isso.
Alex se sentou ao lado dela na cama e tocou sua mãozinha, fazendo cócegas para ver se ela se rendia.
— Acabei de falar com a mamãe no telefone — anunciou.
— Ela vai voltar hoje? — pediu ela, se animando.
— Não, princesa, ela ainda precisa ficar um tempinho lá.
E assim, ela se emburrou novamente, virando de costas para o pai e bufando.
— Ei, unicórnio, não precisa ficar assim — Alex ponderou, tentando achar uma forma de fazer aquilo dar certo. — Eu sei que você sente saudade da mamãe, eu também sinto, mas ela vai voltar logo.
— Quando? — indagou.
— Logo, meu amor. Olhe, a tia Emma tá doente, você lembra que a mamãe e o papai te contaram que antes de você nascer, ela ganhou um pulmão novo? Então, mas mesmo tendo um pulmão novo, quando ela fica doente, ela tem que ir pro hospital. E a sua priminha é muito pequena pra ficar sozinha, seu irmão precisava de ajuda e sua mãe foi ajudar, não é um gesto bonito?
— É.
A resposta seca dela fez Alex notar que ele não estava atingindo seu objetivo.
— Gatinha, olha pro papai — pediu, mas Elena não olhou. — Sabe, eu fico triste de saber que você não quer ficar comigo, só com a mamãe. Sei que não é isso, é só saudade da mamãe, mas você fica só aqui nessa cama, não quer nem brincar comigo.
Elena se virou para ele enfim, e Alex alisou o cabelo dela.
— Papai, eu... — ela travou, triste consigo mesmo.
— Eu sei que você queria a mamãe aqui, meu amor, mas ela precisa estar lá. E ela liga todo dia, sei que não é igual, mas é alguma coisa, não é?
Elena se sentou na cama, encarando o pai e vendo que ele estava tão triste quanto ela.
Ela viu que a expressão dele parecia de alguém que ia chorar, mas era difícil dizer porque ela nunca via seu pai chorando, então não sabia qual cara ele fazia quando chorava.
— Não chora, papai — pediu, se colocando de joelhos e alisando o rosto dele como se enxugasse lágrimas. — Desculpa.
Alex a puxou para um abraçou e a apertou contra si.
— Não tem que pedir desculpas por isso, meu amor. Sei que sente falta da mamãe.
— Eu gosto de ficar com você, papai, mas eu gosto mais quando a gente fica os três juntos.
Alex sorriu.
— Eu sei, unicórnio. Eu também gosto mais. Mas olhe — a puxou para frente e acariciou suas mãozinhas —, a mamãe faz falta aqui, eu sei, mas ela precisa estar em outros lugares de vez em quando. Você entende isso?
Ela assentiu.
— E você gosta quando a mamãe cuida de você, não gosta?
— Gosto! Ela faz carinho e canta até eu dormir.
Alex deu uma risadinha.
— Bom, cantar eu não sei, mas também sei fazer carinho e posso contar histórias, como tenho feito. E mais, se você gosta quando a mamãe cuida de você, e ela faz isso todo dia, não acha que a Kate também tá gostando de poder ter isso só um pouquinho? Principalmente agora que a mamãe dela tá no hospital e ela não pode nem entrar pra vê-la?
Elena ponderou e viu que o pai tinha razão.
— Tem razão, papai.
— E são só alguns dias. A tia Emma logo mais sai do hospital e volta pra casa, e a mamãe volta pra gente.
A garotinha deu um meio sorriso.
— Você quer brincar um pouquinho antes do jantar? Pra se distrair e fazer o tempo passar mais rápido pra mamãe estar logo aqui com a gente? — sugeriu.
— Podemos pedir pizza, papai? — pediu, piscando os olhinhos.
O problema de Elena era que Alex, de modo geral, nunca sabia dizer não, doía quando tinha que fazer isso, mas fazia se necessário. Porém, depois de vê-la chorar o dia inteiro, ficar emburrada no quarto por saudade da mãe e ter um momento tão bonito com ela, ele seria um monstro se dissesse não. Até mesmo porque quase nunca pediam pizza ou lanches, Norma tinha uma regra de que essas coisas eram somente aos finais de semana e nunca todos. De vez em quando.
— Podemos, sim. Mas só hoje, viu?
Ela riu e concordou.
— Do que você quer brincar?
— Vamos brincar de esconde-esconde, papai? — pediu, e Alex concordou pois sabia que era a brincadeira favorita dela.
— Tudo bem. Eu começo contanto.
Elena viu o pai fechar os olhos e cobri-los com as mãos e saiu correndo para se esconder.
A casa era bem grande, tinha muitos lugares para se esconder, mas ela queria um que não fosse óbvio, um que não tivesse usado como esconderijo antes.
Debaixo da cama? Não, seria o primeiro lugar que sei pai procuraria.
Dentro do armário? Por favor, ela era melhor do que isso.
Decidiu se esconder então no baú da sala, ninguém nunca usava aquela coisa e era bem grande para ela caber dentro.
Ela esperou pelo pai no escuro, abraçando a si mesma para ocupar o espaço todo e sem fazer barulho para não entregar que estava ali.
— Onde você está? — ela escutou ele chamar, e riu consigo mesmo para não se entregar.
De repente, tudo ficou claro.
— Ahá! Te achei!
Elena se levantou e riu.
— Papai, não vale, você me achou muito rápido! — falou.
Na verdade, Alex só a havia encontrado rápido porque Elena tirou as coisas de cima do baú e jogou no sofá, entregando que havia mexido ali, mas ele não diria isso para filha não pensar que havia errado em algo. Ela também poderia ser bem sensível quanto a mãe nessas coisas.
— Quer tentar de novo? Escolhe um lugar melhor — sugeriu.
— Ta bom. Mas sem olhar! — advertiu, sabendo que o pai sempre trapasseava nos jogos.
Eles brincaram por quase uma hora, e Elena foi achando lugares melhores para se esconder, como dentro da despensa e no banheiro atrás da cortina do box, lugares onde seu pai demorou mais para pensar em procurar.
— Muito bem, mocinha, já brincamos bastante e agora é hora do banho. O papai vai encher a banheira e depois vou lá na cozinha ligar pra pizzaria, tá bom?
— Tá bom, papai. Uh — suspirou. — Tô cansada.
Alex deu um beijo nela e a levou até o banheiro. A colocou no chão e ligou a torneira que levava água para a banheira, já separando a toalha da filha e pegando o sabonete líquido para jogar na água.
— Pronto, só um pouquinho — despejou o líquido colorido e voltou para a filha. — O papai já volta, tá bem? Toma seu banhinho enquanto isso.
Ela assentiu e Alex saiu do banheiro, passando pelo quarto dela e já separando seu pijama e deixando em cima da cama.
Ele desceu até a cozinha pegou o telefone preso à parede e discou o número da pizzaria, fazendo o pedido rapidamente. Demoraria uns 30 minutos para chegar, era tempo suficiente para ele trocar Elena e escolher um filme no quarto para assistirem juntos.
Quando voltou para o banheiro, entretanto, uma surpresa lhe ocorreu. Assim que abriu a porta, deu de cara com bolhas.
Bolhas de sabão voando pelo cômodo e muita espuma saindo da banheira.
— Elena? — ele chamou, preocupado que estivesse tudo bem.
Ela saiu debaixo d'água e passou a mão pelo rosto, encarando o pai em seguida.
— O que...aconteceu aqui? — ele perguntou, vendo que a banheira toda estava tomada por espuma.
— Eu coloquei o sabonete da mamãe, papai, queria sentir o cheiro dela.
Ele se aproximou, com cuidado para não escorregar porque várias bolhas estouraram e deixaram o chão liso e se agachou perto da banheira. Na base dela, um vidro de sabonete líquido.
— Ah...o sabonete da mamãe — ele falou, vendo que o vidro estava vazio. — Você usou tudo, né?
O vidro estava quase pela metade, e Elena virou tudo na banheira.
E era um sabonete razoavelmente caro, Norma brigava quando ele usava demais porque ela dizia que umas gotinhas eram suficiente.
— Queria sentir o cheiro da mamãe, papai — repetiu.
Ele agradeceu por ser ele ali, Norma com certeza surtaria. Não pelo sabonete, porque isso ela compraria outro, mas por ele ter deixado a filha tomar banho sozinha sem supervisão e ter deixado o vidro à disposição dela.
— Tudo bem, mocinha, não deveria ter feito isso, sabe que a mamãe adora esse sabonete e você usou tudo — falou, sendo firme mas mantendo a calma.
— Desculpa, papai, é que eu derramei na minha mão e o vidro escorregou e caiu na água, aí espalhou tudo. Foi sem querer — justificou.
— Tudo bem, unicórnio, acidentes acontecem. Mas na próxima, chama o papai que eu faço pra você, ok? — ela concordou. — Bom, vamos sair dessa banheira porque seus dedinhos já estão ficando enrugados.
Ele estendeu a toalha e esperou que a filha levantasse e a cobriu com o pano, a enrolando nele e a puxando para si e a levando de volta para o quarto para colocar uma roupa quente.
— O que você acha de assistirmos um filme lá no outro quarto? — ele perguntou, ajeitando o pijama dela.
— Posso dormir lá, papai? — pediu.
Elena, desde que se autodenominou grande demais para dormir na mesma cama dos pais, quase nunca pedia para dormir lá, só em ocasiões específicas. Essa era uma delas.
— Claro que pode. E olha, te deixo ficar com o travesseiro da mamãe, tem o perfume dela e tem me ajudado a dormir esses dias, pode te ajudar também.
Ela sorriu e concordou.
Alex a levou para o quarto e entregou o controle da televisão na mão dela e deixou que escolhesse o filme que quisesse, e ele sabia que seria o mesmo de sempre: A Bela e a Fera.
A campainha tocou e ele soube que era a entrega da pizza, e desceu para receber, pagando e dando uma gorjeta significativa ao rapaz.
Pegou um kit de guardanapos na cozinha e subiu com a caixa para o quarto.
Esses eram dois motivos pelos quais Norma poderia matá-lo: comer pizza no jantar e fazer isso no quarto.
Mas ela estava longe, nem iria ver.
— Prontinho, princesa. Já escolheu um filme?
— Já, papai — falou, apontando pra TV.
Alex estranhou o filme
— Enrolados? Pensei que fosse querer ver A Bela e a Fera.
— Eu ia. Mas Enrolados é o filme favorito da mamãe, e a gente sempre assiste junto.
Era verdade, Alex sabia disso. O filme da princesa Rapunzel era o favorito de Norma porque ela dizia que conseguia enxergar semelhanças no desenho e na sua vida. Ela, sempre presa, um dia conhece um cara que invade a sua casa e a sua vida e rouba seu coração. Na cabeça da loira, fazia sentido.Os dois ficaram ali, assistindo o filme e comendo pizza, mas como já era previsto por Alex, lá pela metade do filme, a pizza já estava fria e Elena já estava pegando no sono.
— Ei, unicórnio, vamos escovar os dentinhos antes de dormir?
— Não quero dormir, papai. Quero ver o filme.
Alex riu.
— Mas você já está praticamente cochilando, princesa. Vamos lá no banheiro e depois a gente volta e deita pra dormir, o filme a gente termina amanhã.
Elena estava tão cansada e fraca que Alex teve que levá-la até o banheiro no colo, onde arrumou a escova de dente delas e colocou a pasta sobre as cerdas, a ajudando a escovar os dentes.
Ela fez isso com uma preguiça danada, mas fez direitinho como havia sido ensinada.
Eles voltaram para o quarto e Alex a depositou no colchão, a deixando ficar com o travesseiro da mãe como prometeu que faria.
— Pode dormir, princesa, o papai vai guardar o resto dessa pizza na geladeira e já volto.
Quando Alex retornou, Elena estava cutucando o travesseiro, lutando bravamente contra o sono.
Ele se sentou na cama e abriu espaço debaixo do cobertor para se deitar, e de lado, viu a filha cutucando o tecido de seda e se questionou o porquê.
— Vem cá, meu amor, vamos dormir — chamou ele, sabendo que Elena amava deitar contra ele para dormir. Mas ela não foi de imediato.
Pelo contrário, o encarou com os olhinhos azuis e disse:
— Papai, quanto tempo ainda a mamãe vai ficar fora?
Alex suspirou e acariciou os cabelos dela.
— Eu não sei, meu amor. Depende da sua tia Emma ter alta do hospital.
Elena se ajeitou na cama e deitou contra o pai, sendo abraçada por ele.
— A tia Emma tá muito doente?
— Um pouco, meu amor. Como ela fez o transplante, ela tem uma sensibilidade maior que outras pessoas, e ela precisava ficar sob cuidados médicos intensos.
Elena suspirou e coçou os olhinhos, morrendo de sono.
— E a gente não pode ir ver a mamãe? — pediu ela, encarando o pai.
Alex parou e pensou. Seattle não era tão longe assim, claro, eram muitas horas de carro e talvez ele tivesse que fazer algumas paradas por conta da filha, mas não era impossível.
O problema era que Elena tinha a escola, e ele tinha o emprego dele.
— Você tem escola, meu amor, por isso a mamãe não levou você.
— Mas não essa semana, papai. Só vou ter aula semana que vem, lembra?
Alex puxou na memória e se lembrou que a escola que que Elena estudava havia mandado no calendário que durante aquela semana não haveria aulas por conta do feriado de aniversário da cidade, e Alex se sentiu um tolo por esquecer.
Mas ele ainda tinha outro problema. Todo ano, durante o aniversário da cidade, ocorria um festival, e Alex sempre tinha que dobrar plantões porque esses festivais só atraiam problemas.
— Não dá, papai?
— Não sei, meu amor.
— Você não tá trabalhando — ela apontou.
Era verdade, Alex havia tirado licença para poder cuidar da filha, já que com Norma longe, não tinha com quem deixá-la. Mas esse hábito de deixar o trabalho para segundo plano vinha se tornando frequente desde que Elena nasceu.
Na mesma época, ele promoveu seu subordinado Jeffcoat a sub-xerife, e deixava praticamente todo o pesado para ele sendo somente “o chefe”.
Ele se pegou sorrindo, vendo que a filha tinha argumentos melhores do que ele.
— Você quer mesmo ver a mamãe, não quer? — ele jogou, mesmo sabendo a resposta.
— Quero. Tô com muita saudade dela — falou, com os olhinhos lacrimejados.
— Então tá bom, meu amor. Amanhã a gente vai pra Seattle, ok? Vamos matar a saudade da mamãe.
***
Kate havia acabado de tomar sua sopa e adormecido quando a campainha tocou. Norma se assustou, não esperava visitas, já que Dylan estava trabalhando e ela não conhecia ninguém ali.
Ela estava exausta, haviam sido 24 horas complicadas já que Dylan não voltou para a casa na noite anterior pois foi ficar com Emma no hospital, e Kate teve crise alérgica à noite inteira, chorou o tempo todo e Norma não conseguiu pregar os olhos.
Ela finalmente havia tinha uma melhora súbita depois da sopa que a loira fez e agora dormia, e Norma esperava cochilar nem que fosse por umas duas horas.
Quando a abriu a porta, entretanto, teve uma surpresa.
— Mamãe! — Elena falou alto e animada, pulando nos braços da mãe, que a pegou mesmo ainda um pouco estática.
— Ah! — ela exclamou, olhando para a filha e alisando seu rosto para saber se não estava delirando. A beijou quando viu que não. — O que estão fazendo aqui? — perguntou.
— Sentimos saudade — Elena explicou.
Norma olhou para o marido e tocou seu rosto, recebendo um sorriso de volta. Puxou a face dele e acariciou a bochecha, lhe dando um beijo em seguida.
— Por que não avisaram?
— Queríamos fazer uma surpresa. Como Elena disse, estávamos morrendo de saudades.
— Oh — ela exprimiu, entrelaçando os dedos com os do marido e sorrindo para a filha. — E você, gatinha, como você está? Deus, que saudade eu senti de você! — A apertou em seu abraço.
— Agora tô melhor, mamãe! — Abraçou Norma pelo pescoço, deitando no ombro dela. — Tava com muita saudade de você.
— É verdade — Alex completou —, eu até pensei que ela fosse ficar doente.
Norma apertou mais a filha contra si, a protegendo desse medo que ela sentia. Mesmo que Elena nunca tivesse tido motivo para acreditar que seria abandonada, ela parecia ter herdado esse medo da mãe, que até pouquíssimo tempo atrás, acreditava que todos em sua vida a abandonariam.
— Tá tudo bem, princesa, a mamãe tá com você agora — sussurrou. — E mais, tenho certeza que o papai cuidou muito bem de você.
Elena se endireitou e sorriu.
— Cuidou, mamãe. Mas eu gosto mais assim — esticou o braço para o pai, o puxando até que ela estivesse no meio deles dois —, nós três juntos.
— Eu também prefiro assim, princesa — Norma falou, dando um beijo nela, que bocejou no seu colo. — Ei, tá com sono?
— Tô, mamãe, a gente acordou cedo — ela respondeu.
— O único vôo saindo de Portland pra Seattle hoje era às seis da manhã — falou Alex. — Íamos vir de carro, mas não quis viajar muito tempo com ela pela estrada — justificou.
— Fez bem. Não é bom também você ficar dirigindo muito tempo, principalmente uma viatura. — Norma ajeitou Elena no colo. — Quer descansar um pouquinho, meu amor?
— Quero ficar com você, mamãe — pediu, brigando com o sono.
— A mamãe fica com você. Vem, vou te colocar na cama.
Levou a filha no colo até o quarto de hóspedes que ela vinha dormindo, e junto do marido, a colocou para dormir um pouquinho. Sabiam que Elena era agitada, principalmente na presença do irmão mais velho, e Dylan deveria chegar à tarde, e com certeza Elena iria querer a atenção dele.
Norma acariciou os cabelos loirinhos da filha e se sentou no chão, admirando a garotinha conforme adormecia.
— Mamãe — ela sussurrou.
— Oi, meu amor?
— Vai ficar com o papai um pouquinho, ele também tá com saudade — falou. Os dois adultos sorriram. — Eu vou dormir, tá bom?
— Tudo bem, princesa. A mamãe vai fazer biscoitos mais tarde pra você, o que acha?
Elena sorriu.
— Eu gosto... — mal terminou de falar e dormiu.
Norma fechou a porta do quarto com cuidado para não atrapalhar o sono da filha.
Como quem não queria nada, virou-se para o marido e deu um sorriso disfarçado, mordendo o lábio inferior e mostrando levemente os dentes.
— Então...você ouviu sua filha — ela dedilhou o peito dele, subindo até o ombro —, ela disse pra eu ficar com você porque você também tá com saudade — quando chegou ao ombro, dançou com os dedos sobre a pele. — Isso é verdade?
Alex sorriu, enlaçando a cintura dela.
— Talvez — provocou, a prendendo contra si e deitando contra seu pescoço para poder sentir o cheiro dela. Doce floral.
Bom, geralmente.
Não naquele momento.
Ela estava com um cheiro diferente. Um perfume diferente.
— Hm...trocou de perfume?
Ela deu um risinho.
— Sim, esqueci o meu em casa e você sabe que não consigo ficar sem. Aí Dylan me deu esse, ele disse que comprou há um tempão mas queria entregar pessoalmente mas acabou não conseguindo ir lá em casa. Você gostou?
— Gostei. É diferente. Um pouco menos doce que o seu de sempre, mais puxado pro cítrico. Posso me acostumar — sussurrou, beijando a curva do ombro e do pescoço dela.
— Hm, desde quando entende tão bem de perfumes?
— Não entendo. Eu entendo de você — se colocou ereto e puxou o pescoço dela um pouquinho para ficar mais perto de seu rosto. — Eu sempre gosto de saber cada detalhe seu para memorizar e poder ficar com eles me circulando o dia todo quando estou longe no trabalho. Me dá sorte
Ela emitiu um som delicado apaixonado.
— Então sou seu amuleto da sorte?
Ele riu.
— Você sempre foi.
Ela olhou para cima e puxou o lábio inferior dele com os dentes, sem beijá-lo de fato, apenas provocando.
— E quer ficar com mais sorte ainda?
— Quanto tempo temos antes de Dylan chegar? — ele devolveu uma pergunta, porque as coisas que ele tinha em mente não poderiam ser feitas em somente cinco minutos.
— Bom, ele não voltou desde ontem, e como não avisou, acho que foi direto pro trabalho do hospital, o que significa que ele vai levar uma bronca por isso porque sabe Deus o que ele comeu desde então. Porém, ele só chega depois das três num dia normal... são meio-dia ainda...Kate acabou de dormir, e Elena também...
Alex sorriu contra o nariz dela, sabendo que tinham tempo.
— Me mostre o caminho — pediu.
Norma se virou para levá-lo até o banheiro, mas antes que andasse dois passos, Alex a puxou e a fez soltar um gritinho. Ele a beijou como há muito não beijava, a sufocando com o toque e a deixando sem ar.
— Desculpa, esqueci de te dar isso antes — brincou.
Ela sorriu e o levou até o banheiro, onde havia uma banheira e ela ligou para encher enquanto se despia junto do marido.
Alex tinha um ritual que ele sempre gostava de fazer, ele nunca só tirava a roupa da esposa, ele tinha a necessidade de sempre beijar cada canto dela, então era isso que estava fazendo.
Ele entrou primeiro na banheira e se sentou, a puxando para si e a colocando em seu colo. Norma ficou de frente para ele, o beijando e acariciando seu pescoço.
— Senti tanta saudade — ele sussurrou. — Foi um inferno ficar sem você.
— Eu sei, senti o mesmo. Mas acho que é bom se afastar de vez em quando, se não, de que outra forma você teria feito essa surpresa pra mim e pegado um avião só pra me ver?
Ele sorriu.
— Bom, devo dividir o crédito com a Elena, ela quem deu a ideia. Ela quase morreu de saudades. Ela te ama muito, sabia?
Norma riu baixinho.
— Sabia. Eu também a amo muito. E amo você também, xerife — falou contra a boca dele e sugou seus lábios em seguida. — Vocês vão ficar muito tempo? — ela pediu.
— Não sei, depende...a casa é pequena, e com tudo acontecendo, não sei se é uma boa ideia.
— Acho que Dylan não vai se importar, ele adora ter a irmã por perto, e com Emma no hospital, é bom ter uma distração. Sem contar que eu poderia muito usar a sua ajuda com a Kate, não tenho conseguido dormir direito.
Alex sorriu com piedade e acariciou o rosto dela.
— Se estiver tudo bem, eu fico, claro. Você cuida da Kate e eu cuido de você.
— E quem cuida da Elena? — brincou.
— A gente. Juntos, do jeito que ela gosta.
Norma balançou a cabeça e o beijou.
— Eu te amo tanto, xerife Romero.
— Eu que te amo, meu amor.
— Hm, será que ama mesmo? Porque eu estou nua, bem em cima de você, e você ainda não tomou uma atitude — apontou.
Ele deu um risinho.
— Você acabou de falar que está cansada.
— Mas não de você. Pelo contrário, estar com você me dá energia. O que nos resta é saber se você vai fazer alguma coisa com essa informação ou não.
E claro que ele iria fazer. Com o consentimento dela, iria do céu ao inferno, ida e volta.
A saudade era tanta, mas eles tinham que ter cuidado porque tinham duas crianças dormindo na casa, e acordá-las naquele momento seria horrível.
E por tamanha saudade, tudo foi rápido demais.
Alex se preocupou mais em cuidar dela, pois isso era o que mais tinha sentido falta.
Sexo ele poderia viver sem, mas sem poder abraçar, beijar ou sequer tocar sua mulher...isso o mataria.
Com a esponja macia, ele fez bastante espuma e passou pelo corpo dela, e Norma apenas aproveitava aquele tratamento, já fazia um tempo desde a última vez que recebeu um desses.
Os últimos dias vinham sendo exaustivos, e durante o dia, ela nem tinha muito tempo para raciocinar. Mas quando conseguia algumas pausas ou quando ia se deitar à noite, é que a ficha caía. A cama vazia ao seu lado, sem ser despertada de manhã ou por beijos suaves ou por um corpinho de 25 quilos pulando em cima dela.
Eram longas noites. Difícil de adormecer e pior ainda de acordar. Estava vivendo de preocupação. Preocupada em cuidar bem de Kate, preocupada com Emma, com Dylan. Preocupada com Alex e Elena que estavam longe.
E agora, por algumas horas, estava podendo tirar isso da cabeça.
— Ei, não vai dormir aqui — ele falou baixinho, vendo a forma como ela recostou no peito dele e fechou os olhos.
— Não vou dormir, só estou descansando os olhos.
— Aham, sei, já ouvi essa antes.
Ela riu baixinho e se recostou mais.
— Quer sair e dormir um pouquinho?
— Não posso. Prometi fazer biscoitos. E a Elena tá na minha cama.
— Como se ela fosse se importar de deitar com você, é tudo que ela vem querendo há dias.
Norma sorriu e se ajeitou.
— Mas eu prometi fazer biscoitos, e quero que estejam prontos quando ela acordar.
— Então vamos sair.
— Só mais um pouqui....
— Mãe? — alguém chamou do lado de fora. — Mãe, você tá aí?
— Dylan? — ela despertou automaticamente. — Dylan! — gritou, o que foi resposta suficiente para o rapaz do outro lado. — Já vou sair.
— Eu só quis avisar que cheguei, vou dormir um pouco antes de voltar pro hospital — ele devolveu.
— Tá bom, filho. Eu...falo com você depois.
Norma saiu da banheira e pegou a toalha, se secando e a passando para Alex, vestindo o roupão em seguida.
— Não estamos com cara de quem transou, né?
Alex riu da pergunta.
— Não, estamos com cara de quem tomou um banho bem relaxante que pode ou não ter envolvido um pouco de sexo.
Ela suspirou, abrindo a porta quando o marido se vestiu. Ela queria avisar que Alex e Elena estavam ali, mas quando se deparou com Dylan, viu que ele tinha alguém nos braços.
— Bom, acho que isso significa que você já sabe que eles estão aqui — Norma brincou. — E você, mocinha, não deveria estar dormindo? — cutucou o pezinho descalço da filha no colo do irmão.
— Eu ouvi a voz do Dylan e vim ver ele, mamãe.
Dylan beijou a irmã e a ajeitou em seus braços.
— Fico feliz que tenham vindo — Dylan disse. — A casa é pequena mas tem espaço pra todo mundo, podem ficar o tempo que quiserem.
— E a Emma, filho? — Norma quis saber.
— Melhor, mãe. O médico disse que ela tá melhorando e os exames estão melhores. Vão mantê-la em observação mais alguns dias mas deve ter alta até o final da semana.
— Ah, que maravilha! Estava preocupada com ela. Mas bem, vá descansar, você precisa dormir. E você, mocinha — pegou a filha no colo e a passou para o pai —, o papai vai te colocar na cama pra você dormir mais um pouquinho, a mamãe vai fazer biscoitos.
Elena coçou os olhinhos e concordou, sendo levada de volta para a cama pelo pai, onde não demorou a adormecer.
***
— Hm, o cheiro está maravilhoso — Alex elogiou ao entrar na cozinha. Norma, que tinha uma vasilha em mãos e mexia a massa dos biscoitos o encarou confusa.
— Cheiro de quê? Nem liguei o forno ainda.
— Estou falando de você — se aproximou e a puxou pela cintura ao dizer. — Eu amo seu cheiro. Já disse isso?
— Já, só um milhão de vezes — brincou, dando um beijo rápido nele. — Pega a forma pra mim, por favor?
Alex se afastou pegou a forma, enquanto Norma colocou o forno para pré-aquecer.
Ela foi fazendo bolinhas com a massa dos biscoitos e distribuindo a uma distância segurando uma da outra na forma, até preencher o espaço e colocou no forno.
— Agora é só esperar.
— Hm, e isso significa que eu ganho quinze minutinhos com você? — ele provocou ao pé do ouvido dela.
— Alex, Dylan está em casa! E Elena já mostrou que seu sono é leve como uma pena. Não podemos.
Ele riu.
— Você é a única tendo pensamentos impuros aqui, eu falei de ter um tempo com você, não de transar. Pensei em deitarmos um pouquinho no sofá, começar a ver um filme chato que nenhum de nós vai prestar atenção enquanto eu faço carinho no seu cabelo e você descansa no meu peito. Hm? O que me diz?
Ela sorriu e se aproximou, o abraçando.
— Não posso desviar desse forno, não quero colocar fogo na casa sem querer. Você já teve uma casa queimada, Romero, não queira ser a causa de um segundo incêndio — atiçou, o fazendo rir.
— Não se preocupe, o forno vai desligar e apitar quando estiver pronto, não vai queimar nada. E eu ligo isso aqui — avisou para o timer que por acaso viu em cima do armário — e ele nos avisa daqui 15 minutos. Pode ser?
Ela torceu os lábios e se rendeu.
— Só porque seu argumento foi muito bom.
Alex a levou até o sofá, onde se deitou e a colocou contra si, sorrindo quando ela se apoiou contra ele de costas e deitou em seu braço. Ele ligou a TV e deixou em qualquer canal, não era como se fossem prestar atenção.
Alex ficou ali deitado e acariciando o cabelo dela e só apreciando o som da respiração dela. Era tão bom tê-la perto assim.
Nem dois minutos depois que se deitaram assim, Norma se virou, forçando Alex a deitar completamente de costas no sofá e se apoiou em seu peito e se aconchegou ali.
— Senti falta disso. Do seu abraço.
Alex beijou a testa dela, bem ao alcance dos seu lábios naquela posição.
— Também senti, meu amor. Deitar na nossa cama sem você é horrível, o que me salvou esses dias é que seu cheiro está impregnado por todo o quarto, então foi um pouco mais suportável.
Ela amava ouvi-lo dizer essas coisas. Alex sempre fazia questão de demonstrar com palavras o quanto a amava, e ela sabia que ele sempre fazia isso porque no passado, as palavras só foram usadas contra ela e para machucá-la, e ele queria ressignificar isso para ela. Mas com o tempo, se tornou um hábito tão natural que ela só conseguia sentir o amor dele, não o esforço para que ela se sentisse bem.
E o amor dele curou tudo. E ainda lhe deu a filha que ela sempre sonhou.
— Acredite, também foi difícil para mim. Mas me diga, como foram esses dias sendo pai e dono de casa?
— Ha, a casa é fácil, difícil é entreter a sua filha — ele falou. — Ela está cada dia mais esperta, as brincadeiras ficaram “chatas demais” para ela, eu não sei o que faço. E sem você lá, foi impossível. Ontem, quando você ligou e eu disse que ela estava dormindo, eu menti. Ela estava no quarto, emburrada e chorando de saudade de você. — Norma sentiu seu coração quebrar, mas ao mesmo tempo, era um conforto saber que sua filha a amava tanto também. Ela já havia falhado com dois filhos, um terceiro seria um recorde do pior tipo. — Eu senti como se não fosse suficiente para ela, sabe, mas aí a gente conversou e ela disse que gosta de quando ficamos os três juntos e tava com muita saudade. Foi por isso que eu a trouxe quando ela pediu, eu não ia por causa da escola, mas como essa semana é atípica, reservei o primeiro vôo que achei online, porque tive medo que ela ficasse doente.
— Minha garotinha linda... — Norma sussurrou.
— Ela te ama muito, e ela só quer que você saiba disso.
— Eu a amo tanto também. — Olhou para cima. — E amo você, por tudo que fez por mim, mas principalmente por ter me dado ela. Meu recomeço, ela é tudo pra mim. Vocês são.
— Te digo o mesmo, meu amor. — A beijou outra vez. — Promete não ficar mais tanto tempo longe?
— Sabe que não posso prometer isso, mas...prometo fazer o possível para evitar.
— É...posso viver com isso. Desde que me faça outra promessa.
Ela revirou os olhos de forma divertida.
— Que promessa?
— Que independente de onde esteja ou se for ficar muito tempo longe, você vai voltar pra mim — pediu. — Sempre.
Ela sorriu e o abraçou mais.
— Isso eu posso prometer. Eu sempre vou voltar para você. Com tanto que você também sempre volte para mim.
— Eu sempre voltarei. Sempre.
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