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História Everything I hate about Christmas - Capítulo 5 - História escrita por FuckingSwen - Spirit Fanfics e Histórias
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História Everything I hate about Christmas - Capítulo 5


Escrita por: FuckingSwen

Notas do Autor


Gente, PERDAO! Eu sei que prometi voltar na sexta feira passada, mas não só eu tive que viajar, como também fiquei bem doente (ainda estou).

De qualquer forma, vejam pelo lado bom kkkkkkkk esse nao é o ultimo cap. A fanfic vai ter 6 cap, então na terça feira eu estarei postando ele, vou deixar agendado no wattpad, assim não preciso me lembrar e o site faz isso automaticamente. Acho chiquérrimo

Enfim, obrigada demais demais demais pelo carinho e pela paciencia. Vou responder os comentarios aqui, mas também podem ir gritar comigo no twitter (fuckingswen).

Comentem bastante pq eu amo ver a reação de vcs kkkkkk

Boa leitura e vamo que vamo que o negocio fica feia aqui.

Capítulo 5 - Capítulo 5


Fanfic / Fanfiction Everything I hate about Christmas - Capítulo 5

A véspera de Natal tinha dado as caras, finalmente e com ela a noite anual do baile beneficente de Midvale. A cidade toda estava compenetrada nas diversas atividades que aconteceriam ao final da tarde, como as vendas de lojas locais, que montavam uma feirinha dentro do orfanato, os postos de doações de roupas, sapatos e comidas não perecíveis. Enquanto isso, Eliza e seu grupo de colegas do grupo de leitura focaram nos pratos de comida que precisavam ser embalados antes de viajarem para o seu destino. Ninguém teve muito tempo para pensar no que fariam durante o decorrer do dia, já que havia tanto a ser feito ainda.

Os bolos foram entregues a tempo, juntamente com os muffins e cupcakes que seriam distribuídos para as crianças. As cestas com as cartas e as sacolas com os presentes foram separados por nomes e colocados debaixo da árvore de natal gigantesca que estava montada no salão principal do orfanato de Smallville. Um grupo ficou responsável pela decoração, montagem das mesas, organização das cadeiras e do singelo palco onde a banda ficaria durante o baile. Por conta do clima instável e das ameaças de mais uma nevasca, os brinquedos foram montados na garagem, pois assim ninguém ficava exposto ou correria perigo.

As freiras que cuidavam do local ajudaram a separar cada criança por faixa etária, deixando seus vestidos, calças e casacos separados em suas camas, assim como os crachás que tinham seus nomes, observações sobre alergias e o nome de seu padrinho/madrinha de Natal , auxiliando assim na hora do lanche e do jantar. Tudo foi executado com muito esmero e esforço a fim de garantir o melhor para aqueles que não tinham a oportunidade de compartilhar aquela época tão linda e mágica ao lado de seus familiares. Eliza fez questão de recolher os crachás de suas filhas para levar para casa, isso quando terminasse de arrumar perfeitamente a mesa dos “comes e bebes” para o maior evento daquele mês.

E falando em casa, a primeira refeição do dia que ocorreu naquela manhã na pousada foi um tanto quanto… silenciosa, talvez até incômoda. Não para as duas mulheres que tinham acordado entrelaçadas uma na outra, os cabelos embaraçados e seus corpos quentes se tocando por debaixo dos infindos cobertores que Kara tinha. A primeira coisa que Lena viu ao abrir os olhos, com a luz entrando pelas frestas da persiana do quarto, foi uma loira adormecida com os braços segurando sua cintura possessivamente, como se tivesse medo dela escapar durante a noite. Podia sentir sua respiração abafada atingir sua nuca, afinal Kara estava com o rosto escondido em seus cabelos.

Teve medo de despertá-la ao se mexer lentamente até que invertesse sua posição, ficando agora frente a frente, podendo notar pela primeira vez as sardinhas claras que cobriam as maçãs de seu rosto, assim como a cicatriz perto da sobrancelha. Jogando o bom senso pela janela e ignorando os alertas que sua mente enviava para o seu coração, Lena inclinou-se e beijou seu nariz, sua testa e então seus lábios, que logo se quebrou num sorriso sonolento. E que mais tarde evoluiu para uma luta breve por controle, até que Kara venceu, ficando por cima da Luthor e a beijando até que perdesse o ar.

Bom, o que começou como minutos de carinho e apreciação, terminou com ambas nuas, suadas e ofegantes, repetindo várias das coisas que fizeram na noite passada e também adquirindo mais conhecimento sobre o corpo humano, se é que podiam chamar isso de aula de ciências.

Lena diria que sim e Kara diria que estava disposta a aprender o que fosse preciso.

— Aí estão vocês duas — Alex falou por cima da xícara fumegante de café, sem levantar a cabeça — com fome? — perguntou sarcasticamente.

— Acabei de comer — Lena rebateu com um bom humor irritante, caso a ruiva fosse julgar — mas aceito café, por favor.

— Eu estou faminta! — óbvio que a loira estaria completamente alheia ao comentário ambíguo que sua amiga tinha simplesmente feito em pleno café da manhã — seria capaz de comer o suficiente para alimentar três caminhoneiros.

— E porque será, né? — a Danvers mais velha queria ver se sua irmã iria contar as novidades, ou iria se fingir de sonsa. A segunda opção tinha maiores chances de acontecer — se exercitou hoje cedo, foi?

— Nada como um cárdio para manter o físico, que aliás sua irmã está de parabéns — disse, tirando Alex completamente do sério.

— Do que vocês estão falando? — Kara franziu o cenho, empurrando o óculo para cima e dando mais uma mordida no pão com ovo e bacon que montou para comer — céus, isso aqui está divino.

— Como consegue comer que nem uma porca tão cedo, eu mal tenho disposição pra viver — Lena não podia perder essa oportunidade, estava divertido demais defender a loira da irmã, mesmo que a mesma não estivesse entendendo absolutamente nada.

— Eu diria que ela é muito boa de boca, Alex — e essa foi a gota d’água.

— Ugh, você é nojenta, Luthor — bufou derrotada — podiam ter pelo menos avisado, mandado uma mensagem, sabe? Ao invés de me deixar entrar no quarto enquanto… ugh, eu ainda estou traumatizada. Vou mandar a conta da minha terapia pra você — apontou para a irmã, que arregalou os olhos e engasgou com um pedaço do sanduíche — nós ainda vamos conversar sobre isso.

— Alex! — Kara sentiu o rosto ferver de vergonha — eu… a gente… eu não…

— Espero que engasgue e morra — falou da boca para fora, sendo exageradamente dramática — e eu aqui, toda preocupada, achando que aquela ali — apontou dessa vez para Lena — estava morrendo e que iríamos ser processadas por ter matado a CEO mais famosa de Metrópolis.

— Bom, Kara tinha que fazer alguma coisa pra temperatura do meu corpo pudesse voltar ao normal — a Luthor deu de ombros, nem um pouco incomodada com o teatrinho da outra Danvers — e ela me fez suar, o que cá entre nós, é o primeiro socorro que uma mulher precisa.

— Cala a boca, na moral, eu vou vomitar. Preferia muito mais quando vocês implicavam uma com a outra — Alex se levantou, tomando o restante do conteúdo de sua xícara numa golada só — você, vem comigo. Winn mandou uma encomenda hoje de manhã e precisamos conversar.

Foi então que Kara soube que a irmã falava sério. Não havia mais resquícios daquele tom brincalhão de segundos atrás, muito pelo contrário. Por mais engraçada que fosse quando o assunto era a sua vida sexual, evitando falar sobre, ou reagindo como se alguém tivesse tirado inteiramente a sua castidade e pureza, Alex também se preocupava demasiadamente com as consequências que o sexo trazia consigo, principalmente porque sabia as implicações que aquele possível relacionamento traria na vida de alguém que estava esperando por um príncipe encantado. Ou nesse caso uma princesa.

Ela sabia como aquilo iria terminar e o quão ferida sua irmã sairia, e isso era o que menos queria para o final do ano. Infelizmente, Kara não era boa com relacionamentos casuais, pois seus sentimentos sempre ficavam à flor da pele, eram intensos demais para algo que duraria somente uns dias e depois seria como se nada tivesse acontecido. Alex podia não conhecer que tipo de mulher Lena Luthor era, porém era tão óbvio que uma CEO não desistiria de seu império por uma garota do interior, que provavelmente iria querer morar em Midvale para o resto da vida, casar e construir uma família. Pessoas como Lena eram excessivamente ocupadas, com seus dias se resumindo a reuniões, festas de gala, flertes rápidos e amizades sem nenhuma conexão real.

Sim, talvez estivesse se baseando num estereótipo muito ruim que aprendeu com Succession. Se tinha algo que aprendeu com Shiv Roy era que tudo era um jogo, onde ser permissiva era apenas o começo, afinal qualquer coisa era justificável para conseguir mais dinheiro. Sua irmã não merecia se entregar para alguém que sequer compartilhava dos mesmos sonhos que ela, que sairia na calada da noite de Natal, ou pior, tentaria persuadi-la a deixar de lado suas crenças, por mais bobas e infantis que fossem. Precisava conversar com Kara e descobrir exatamente como ela estava se sentindo e quais seriam seus próximos passos. O baile era hoje a noite, Lena com certeza iria estragar tudo, Alex era policial e seu faro para problemas funcionava bem melhor que o seu gaydar.

A Luthor, pressentindo que as coisas não estavam muito boas para o seu lado, pediu licença e se retirou para o quarto, deixando as Danvers para lidarem com aquela tensão, que pairou no ar feito uma nuvem carregada, sozinhas.

— O que foi, Alex? — Kara questionou assim que ouviu Lena subir as escadas — eu não quero-

— Ficou maluca? — a interrompeu bruscamente, cruzando os braços e lançou um olhar furioso para a outra — olha, eu sei o quanto você esperou para ir com alguém especial pra esse baile cafona. Ok, não é cafona, mas é entediante e então você convida uma mulher que mal conhece, e pior… transou com ela? — falou baixinho a última parte.

— E o que você tem a ver com isso? Eu posso dormir com quem eu quiser! — a loira rebateu, um pouco confusa com aquela reação. Não era a primeira vez que sua irmã tentava a proteger, mas agora estava saindo um pouco do controle — Alex, eu te amo e sabe que adoro quando quer me defender, mas eu não sou mais uma adolescente que se deixou levar pela lábia de um cara que depois me traiu com metade da escola — disse ofegante, as palavras se atropelando na ponta da língua.

— Ela não vai ficar aqui e aí, o que vai fazer? Ir atrás dela? — tinha que tentar colocar bom senso naquela cabeça oca e loira — você nunca lidou bem com sexo casual, se lembra de quando tentou com a Lucy?

— A gente namorou — aquilo era meio verdade — e está exagerando, eu não estou apaixonada pela Lena. Ok, eu gosto dela, apesar dela ser irritante e rude, e me tirar do sério… — suspirou. Aonde queria chegar com o seu argumento? — meu ponto é: vai ser o que tiver que ser.

— E o que vai fazer quando começar a gostar tanto dela ao ponto de acabar partindo seu coração nesse processo? Ao ponto de querer que ela fique? O que vai fazer quando Lena sair por aquela porta e esquecer que você existe, como se o que viveram aqui não tivesse significado nada? — Kara, que estava focada num ponto qualquer do seu prato, escutou cada palavra com atenção, até que a ficha caiu. Ela ergueu a cabeça e encontrou sua irmã com o rosto vermelho, os olhos cheios de lágrimas e os lábios trêmulos.

Num piscar de olhos, a pequena Danvers estava de pé, envolvendo Alex num abraço apertado que ambas necessitavam. Como pode deixar aquela dor, aquele sofrimento da pessoa que mais amava no universo, passar despercebido? Claro, Kara compreendia de onde aquela discussão estava vindo, sabia bem dos motivos e não era como se sua irmã mais velha estivesse completamente errada. Ela realmente não sabia navegar nas águas desconhecidas do que era um relacionamento casual, ou gostar de alguém que certamente não iria se esforçar para tentar fazer funcionar. Alguém que jamais lhe daria uma chance de provar o seu valor, de mostrar o seu ponto de vista.

— Alex, eu sinto muito — murmurou, engolindo o nó que se formou em sua garganta — eu sinto muito mesmo.

— Me perdoe por acabar projetando o que eu sinto em você, mas eu me preocupo tanto e a última coisa que quero é que acabe tão machucada como eu estou — soluçou — isso… isso dói muito, Kara. Vai passar, mas primeiro vai te corroer por dentro e não quero que passe pelo mesmo.

— Eu sei, eu sei — as duas se afastaram, com a loira agora segurando o rosto de sua irmã nas mãos — porém o que você tinha com a Maggie não chega nem perto do que está rolando entre eu e a Lena, você tinha um relacionamento sério. No meu caso, pode ser que acabe hoje, depois da olhada que deu pra ela, pelo amor de deus, você acabou com todas as chances que eu tinha! — resmungou, fazendo Alex rir.

— Esse é o meu trabalho — comentou ao enxugar o rosto com a manga da blusa.

— O seu trabalho é cuidar de você, do seu coração e da sua saúde mental, que cá entre nós, está em frangalhos — pontuou carinhosamente, sorrindo para ela — não se preocupe comigo.

— Sabe que eu vou.

— Eu sei, mas de verdade, não estou esperando nada dela e meus sentimentos são só isso, sentimentos. Não dá pra confiar em algo que muda constantemente, certo? — ambas começaram a tirar os pratos sujos da mesa, colocar o restante da comida na geladeira e arrumar a mesa. A distração era o mecanismo de enfrentamento de ambas.

— O problema é quando esses sentimentos param de mudar e ficam constantes — Alex empilhou as xícaras umas em cima das outras e levou para a pia — e acho que é perigoso você deixar isso acontecer. Eu aposto que a Lena é uma garota legal, apesar de ainda achá-la um pouco esnobe, mas a vida de vocês duas são literalmente opostas. É algo que já nasceu fadado ao fracasso.

— Eu sei — Kara tentou esconder o quanto desapontada e frustrada estava com toda aquela conversa. Estar com Lena na noite anterior pareceu tão certo, como se elas se encaixassem tão bem uma na outra, e não iria mentir, esperou pelo pior hoje de manhã ao acordarem. Achou que a morena iria se vestir, sair pela porta e seguir com o dia como se ela não tivesse marcado o coração de alguém com suas impressões digitais. No entanto, nada disso tinha acontecido. Lena não foi embora. Não ainda — depois do Natal tudo vai voltar ao normal e essa história vai passar a ser só uma memória. Mas eu tenho o direito de vivê-la enquanto está acontecendo, Alex.

— Tem certeza que quer isso? — a ruiva perguntou concentrada no que fazia, ao mesmo tempo que sua irmã guardava os talheres limpos de volta na gaveta.

— E se… e se o final não for tão ruim? E se ela… ou eu… uh, e se tivesse um jeito? — se embolou na pergunta, não tendo certeza se tinha realmente dito algo coerente.

— Ela mora em Metrópolis — Alex pontuou.

— Ela vai mudar a empresa para National City — Kara respondeu prontamente — não sei se vai desativar a que está em Metrópolis, mas…

— Que seja, você mora em Midvale, no Maine, e gosta daqui — e era nisso que a agente estava sendo impulsiva em afirmar.

— Eu amo esse lugar, a pousada, a cidade e o ritmo em que as coisas acontecem, mas Alex… eu não tenho nada meu aqui, nada que eu construí, nada para fazer, ou para… usar o meu diploma de jornalista — desabafou. Alex parou o que estava fazendo na mesma hora e virou-se para encarar a irmã — todo dia eu acordo, faço as mesmas coisas, vivo a mesma rotina e apesar de trabalhar com pessoas, nunca me senti tão sozinha como agora. Você tinha a Maggie, o Winn logo arranja alguém e as chances dele abrir uma confeitaria numa cidade maior, me deixando pra trás, são enormes! E aí o que me resta? O Mike? — rolou os olhos, com nojo só de imaginar.

— Olha, não se cospe no prato em que se come, porém ainda bem que você anda… comendo outras coisas, ou coisa… pessoa, enfim! — não iria entrar naquele assunto de novo — por que nunca me contou isso? Por que não me falou que estava tão infeliz?

— Porque eu não estou! Bom, não exatamente — ela mordeu o lábio e chacoalhou a cabeça — eu só quero que a pousada continue funcionando, não quero que a mamãe veja algo que levou anos para ser construído, morrer assim do nada.

E lá estava a raíz do problema, a resposta de um trauma. Alex tinha suas suspeitas quanto às razões pelas quais Kara se recusava a sair de Midvale. Não era porque a cidade em si guardava inúmeras lembranças incríveis de suas infâncias, ou porque tinha um apego àquelas pessoas, não. Era porque ela sentia que devia algo a eles, a pousada e, principalmente, a Eliza. Veja bem, Kara era muito novinha quando seu pai morreu, porém a falta que ele fazia e a mudança súbita a qual foi forçada a aceitar, a afetou mais do que gostava de admitir. Toda sua vida e rotina foi virada de cabeça para baixo da noite para o dia. Num sábado qualquer elas estavam em Boston, brincando no quarto onde cresceram, e de repente, estavam num carro, o porta malas abarrotado de pertences pessoais, indo em rumo ao futuro que não haviam escolhido.

Kara tinha um medo irracional da mudança.

— E depois eu quem preciso cuidar da minha saúde mental — foi a primeira coisa que falou, arrancando uma risada triste da outra — o que eu vou dizer vai parecer muito óbvio, mas a pousada é só uma casa velha e a mamãe não se importa de um dia acabar fechando as portas, ou vendê-la para outra pessoa. Inclusive ela já me disse que anda muito cansada, que as coisas não estão indo tão bem e que talvez seja a hora de mudar de novo — era doloroso ver o quanto Kara não queria que esse fosse o destino final para o The Golden Sleeper — e você não pode ficar se privando de viver, só porque tem medo de enfrentar algo novo. Nada é tão assustador assim que você não possa lidar.

— Eu sinto como se estivesse sendo ingrata, sabe? E ao mesmo tempo não suporto a ideia de ir pra outra cidade e começar do zero — foi honesta. Pela primeira vez em anos, ela criava coragem para expor o que estava lhe assombrando — tenho medo de não fazer amigos, você vai achar outra pessoa e é natural que viva a sua vida. E se eu não tiver a mesma sorte, vou acabar me sentindo sozinha mais uma vez — e então, a verdade — recebi uma proposta de emprego há algumas semanas atrás — testou para ver a reação da irmã.

— Ok, continue — Alex ofereceu espaço para que Kara se sentisse à vontade.

— É na CatCo, uma empresa de mídia e jornalismo, eu seria treinada como assistente e então assumiria o cargo de jornalista chefe depois de seis meses — explicou. A outra deixou o pano de prato de lado para dar atenção total para o tópico em discussão — se eu aceitar, tenho que me mudar depois do ano novo para National City — a ruiva riu. Claro que o universo, o destino, a vida, ou os astros, iriam colocar Kara e Lena juntas de alguma forma.

— E você chegou a responder? — a pergunta de um milhão de dólares.

— Não, eu escondi a carta na minha gaveta de calcinhas — encolheu os ombros, tentando não rir de si mesma — não me olhe assim! Eu estava ignorando os meus problemas!

— E olha só no que deu — ambas riram — nada como uma maneira saudável de lidar com os nossos problemas — comentou, seus olhos castanhos mornos brilhando ao encontrar duas garrafas de cerveja na geladeira — aqui, vamos brindar.

— A quê, exatamente? — franziu o cenho, aceitou a cerveja e esperou pela outra.

— Novos começos, uma saúde mental inexistente e a nós, porque eu te amo e você é a minha pessoa favorita — Alex não era de se exprimir muito, sempre foi uma garota mais calada e mais racional, uma personalidade que contrastava demais com a de sua irmã mais nova, e que foi o apogeu de uma guerra quando eram adolescentes. Todavia, quando o momento pedia e quando ela estava se sentindo mais vulnerável, aquele lado dela ganhava uma chance de correr livre — o que quer que decida sobre esse emprego, eu acho que seria uma oportunidade única de ir morar perto de mim e coloque dentro dessa sua cabecinha oca que eu jamais te deixaria sozinha, com ou sem namorada, mas enfim — piscou divertida — tem o meu apoio. Pra tudo — acrescentou e aquele “tudo” tinha a conotação que Kara precisava. O tudo englobava Lena.

— Eu te amo, Alex — elas brindaram, as garrafas indo de encontro uma com a outra e beberam o conteúdo juntas — isso aqui tem um gosto horrível — fez uma careta, botando a língua para fora e tossindo.

— Eu gosto — deu de ombros — aliás, a mamãe pediu pra gente ajudar a levar o restante da comida pro orfanato e não se atrasar pro jantar e pro baile. Eu vou tomar um banho rápido, me trocar e te esperar na caminhonete.

— Certo, eu preciso decidir o que vou vestir ainda, não faço a menor ideia — Kara correu para terminar de arrumar a mesa da sala de jantar e agilizar com a louça suja — não quero… uh, não quero decepcionar.

— Kara, isso é impossível e você não precisa se preocupar, Winn te mandou a roupa perfeita pra hoje a noite — Alex sorriu reconfortante para a irmã, que assentiu ainda nervosa e ansiosa para ver Lena novamente.

As Danvers se aprontaram para sair, levando consigo panelas, alguns pratos e as bebidas que ficaram para trás. O dia prometia muito e ao mesmo tempo parecia não passar depressa o bastante. Apesar de ter conversado com Kara, Alex ainda sentia um mau pressentimento, como se não pudesse respirar normalmente sem sentir que o ar fosse ficar preso na base de sua garganta. Queria confiar que tudo sairia bem, que aquele baile fosse mostrar a sua irmã que ela não precisava de alguém especial, para se sentir de tal forma.

Deixando de lado aquela suspeita e escolhendo não pensar muito sobre a vozinha que repetia em seu ouvido que algo estava para acontecer, elas deram a partida na caminhonete e partiram em direção ao orfanato municipal de Smallville.

***

A previsão do tempo ainda alertava para mais neve vinda do Norte, as correntes de ar frias não colaboravam com aqueles que tinham que viajar, ou voltar para casa a fim de aproveitar as festividades de final de ano. E nesse meio tempo, Lena ponderou todas as possibilidades que tinha de acabar desistindo de ir ao baile, dar uma desculpa esfarrapada e escapar de uma furada. Suas mãos suavam e seu peito subia e descia numa velocidade não muito saudável. A ansiedade era uma filha da puta que gostava de dar as caras nos momentos mais inconvenientes e te fazer congelar no tempo. Tinha certeza que estava na mesma posição por pelo menos uma hora e meia desde que subiu para o seu quarto a fim de evitar o olhar equivocado que Alex lançou sobre a sua pessoa.

A noite passada trazia à tona tantos demônios que Lena precisou enfileirar cada um deles e enxotar numa caixa bem no fundo da alma. Como sairia daquela situação sem desapontar Kara? Como explicaria que, apesar de gostar muito dela, não poderia oferecer o que ela tanto buscava? Transar sem expectativas, sem se preocupar com as consequências, era uma coisa, mas transar quando existe pelo menos uma consideração mínima pelo outro? Não havia uma saída simples, muito menos uma que fosse garantir que ninguém se machucasse.

Ainda se lembrava de cada toque, podia senti-los em sua pele. Quentes, firmes e tão gentis. Kara a tocou como quem toca um piano, seus dedos roçando levemente em cada centímetro seu, com medo de quebrá-la, porém mal esperando para poder arruiná-la de uma maneira que jamais fosse esquecer. Seus beijos foram os mais deliciosos, os lábios carnudos e rosados, a forma como se moldava aos seus, como se tivessem sido feitos na mesma moldura. Feitos para pertencerem um ao outro. Acordar e se deparar com aquela imensidão azul era como olhar o mar pela janela, com a diferença de que agora, ela encarava a alma de uma garota que havia levado todo o seu fôlego sem nem pedir licença.

E era por isso que tinha que ter cuidado. Kara era digna de tanto que nem todo o dinheiro e poder do mundo faria jus a tal enormidade.

Lena seguiu com o dia sem prestar muita atenção em que horas eram, passando parte dele em frente ao laptop, adiantando o trabalho que começava a ficar acumulado e resolvendo alguns pormenores referentes a sua transferência para National City. Havia sonhado por esse momento, pelo dia em que fosse tirar o nome da sua família da lama, usar seus laboratórios para algo bom, algo que fosse ajudar as pessoas a serem melhores. Jack e Samantha foram os primeiros a concordarem que, ficar em Metrópolis, era um erro e que dificilmente a cidade esqueceria de todo o terror que Lex causou, e por isso era mais seguro, tanto para Lena, como para a L-Corp, que eles fossem para National City.

Era um novo começo, uma chance de fazer o que mais amava e de finalmente sentir que pertencia a algum lugar. Por vezes ela se sentiu tão sozinha no apartamento exageradamente grande para uma mulher solteira que mal tinha amigos. Jack sempre tentava a convencer de baixar aplicativos de namoro, dar o primeiro passo, isso quando não a arrastava para um bar qualquer e tentava arranjar encontros casuais para a amiga. Nenhum deles funcionou muito bem, já que a CEO também não se esforçava para ser no mínimo simpática. Seus comentários sarcásticos e piadas de humor negro com a própria família nunca foram bem recebidos. No fim, seus dias se resumiam a noites acordadas testando alguns protótipos em seu laboratório particular, ou comendo pizza na casa da Sam junto com sua filha Ruby.

Uma vida boa, ela diria.

Só não uma vida completa.

Invejava demais essas mulheres que clamam ser auto suficientes, que gritam aos sete ventos que não precisam de um parceiro, que são melhores sozinhas e que seguem a vida sem nunca se apaixonar, ou se permitir gostar de alguém que fosse tirar o seu foco. Ela era o completo oposto disso. Lena ansiava por um contato humano mais significativo e praticamente implorava por mais relacionamentos de qualidade. A solidão batia à sua porta sempre nos mesmos horários e foi assim desde que sua mãe a deixou. Por isso era tão fácil cair nas garras de alguém como Andrea Rojas, que aliás, havia enviado onze mensagens e ligado três vezes nos últimos vinte minutos.

Seu celular vibrou mais duas vezes e então parou, dando a ela a chance de respirar fundo e ligar para o número em sua lista de emergência.

— Lena, lembrou que tem amiga — Sam atendeu sorridente, o tom divertido de sempre vindo como um abraço — Ruby, pode me dar um segundo e ir assistir TV no seu quarto, por favor? — pediu a filha, que obedeceu prontamente e correu escada acima.

— Diga a ela que estou com saudade — Lena falou ao ouvir a amiga se mexer sobre o estofado de couro.

— Ela está curiosa pra saber o que vai trazer de Natal esse ano, mesmo sabendo que você odeia — riu — ei, o que foi? — perguntou, de repente preocupada pela ligação sem aviso prévio. Não era do feitio da Luthor fazer tal coisa.

— Sam, eu não posso mais ficar aqui — murmurou, colocando o laptop de lado, onde procurava por soluções de transporte até Portland antes da próxima nevasca chegar. Havia desistido desse plano de fuga quando escutou a voz da loira no andar debaixo, falando algo sobre o baile de mais tarde — Andrea me mandou mensagem.

— E você não respondeu, né? — Sam se mexeu novamente e alcançou a taça de vinho sobre a mesinha de centro de sua sala de estar — diz que não respondeu.

— Não, mas se eu não o fizer logo, ela vai me ligar e-

— E mais nada, bloqueia o número dela, ignora, ou usa essa sua grosseria toda pra mandar uma mensagem bem clara como resposta — sugeriu, perdendo um pouco da paciência — Lena, eu não consigo entender porque você não se livra dela. O que ela tem que te atrai desse jeito? Achei que estar longe e conhecer alguém novo poderia te ajudar, mas estou começando a achar que isso que você tem não tem cura — nada do que disse era novidade, muito pelo contrário, Sam estava cansada de repetir aquela ladainha.

— Eu não… eu não… — suspirou e uma lágrima ácida escorreu em sua bochecha — Sam, ela não tem mais esse poder que você pensa sobre mim, não é isso. Eu tive uma noite tão boa ontem que me fez abrir os olhos pra muita das escolhas terríveis e porcas que fiz esse ano, e não quero mais isso.

— Então o que é? — doía demais nela escutar a outra chorar, porque era raro de acontecer. Lena guardava tudo para si como se colecionasse aqueles sentimentos e os colocasse numa estante.

— Andrea ainda me assusta e ela consegue ser bem persuasiva quando quer, mas pior do que isso, tenho medo da pessoa que eu sou quando ela está por perto e medo do que pode fazer pra poder me conseguir de volta — Lena ainda escondia algo, Sam tinha suas suspeitas e não iria forçá-la a falar quando claramente não estava pronta — ela sabe… muito. Mais do que deveria.

— Lena, me perdoe, porque é realmente impossível de entender essa bagunça e assim, o que está parecendo é que ela está te chantageando? — se fosse verdade, ela seria capaz de matar essa Andrea com as próprias mãos e de quebra convenceria Jack a esconder o corpo — porque se for isso, então está na hora de envolver seus advogados.

— Eu não posso, Sam — soluçou, o autocontrole escorrendo por entre seus dedos e o desespero tomando conta da sua razão — e eu odeio o fato de que mesmo de longe, mesmo sem fazer ideia de onde eu estou, ela consegue estragar tudo pra mim.

— Oh Lena, eu sinto muito que se sinta assim — quis poder abraçá-la — vamos fazer assim, não atenda Andrea, caso ela ligue, nem responda nenhuma das mensagens. Vou ver com o Jack o que podemos fazer e você apenas aproveite os poucos dias que ainda tem em Midvale. Logo isso acaba e você estará em casa. Eu prometo.

— Obrigada, mas não se afunde nessa areia movediça que é a minha vida, ok? Não quero prejudicar ninguém, principalmente quem eu amo — jamais se perdoaria caso Andrea tentasse algo contra Sam, Ruby ou Jack. Ou Kara, mas jamais falaria isso em voz alta — e quanto a estar aqui, eu não ligo tanto assim. Não como antes — ela se levantou da cama e foi ao banheiro para lavar o rosto, apoiando o celular na pia.

— Eu escutei direito? — Lena riu.

— Sim, Sam — rolou os olhos — a cidade é tão tranquila e silenciosa, e a pousada até que não é nada mal, apesar da banheira não ter água quente sempre. O que não é um problema, já que usei a da Kara ontem — comentou, despretensiosamente, esperando a reação de sua amiga.

— Lena! Meu deus… ai meu deus — Sam gargalhou alto e agradeceu aos céus por Ruby não estar perto — não acredito! Estava mais do que na hora! Sabe que Jack vai pedir pelos detalhes sórdidos, eu dispenso, mas quero saber o que vai ser agora? Achei que Kara não era o tipo de fazer sexo casual.

— Ugh, e ela provavelmente não é, o que só complica pra mim, porque eu não posso ficar e ela não vai sair daqui — choramingou ao voltar para cama e se enfiar debaixo de três camadas de cobertores — e bom, não que a gente esteja em algum ponto crítico de um relacionamento, até porque não estamos namorando e nem sei se haveria uma possibilidade pra qualquer coisa desse tipo ocorrer futuramente. É um caso sem saída. Nasceu fadado ao fracasso.

— Nunca se sabe, Lena — pontuou espertamente — nunca subestime a vontade e a dedicação de uma mulher que gosta de outra mulher. E não tem que pensar nisso agora, aproveite o momento. Carpe diem até não aguentar mais.

— Eu vou levá-la no baile beneficente de natal hoje a noite e nem sequer sei o que vou usar — escondeu o rosto no travesseiro ao se lembrar desse detalhe mais do que importante — Sam, e se der tudo errado?

— Se isso já nasceu fadado ao fracasso, que escolha você tem a não ser a de tirar o máximo de proveito que pode e garantir que a sua querida Kara também tenha a melhor noite da vida dela? — ela tinha um ponto — mas vamos ao que interessa: você num baile de Natal — frisou a palavra Natal, rindo em seguida. Lena era uma lésbica inútil — me mostre todos os seus vestidos, vou colocar Jack na ligação.

E foi assim que a Luthor passou o restante daquela tarde. Jack, como sempre, tinha vários comentários a fazer sobre sua vida sexual e escolha de vestuário, enquanto que Sam estava feliz em só observar, digitar algo em seu laptop e fazer perguntas pertinentes sobre as intenções que a amiga tinha com relação a essa tal de Kara Danvers. Eles novamente stalkearam o perfil da loira no Instagram, apenas por diversão, com Lena contando sobre o dia anterior, seu acidente no lago e então sobre o beijo, que escalou para algo mais. Não deixou passar também o fato de que Alex tinha chamado a irmã para conversar e que isso com certeza significava que, o que quer que estivesse nascendo ali entre elas, com certeza não tinha a aprovação da família.

Não que ela quisesse uma namorada.

Não.

Ela não precisava de uma.

Merda.

***

Com o salão pronto, cadeiras e mesas decoradas e postas, luzes em seus devidos lugares e o palco montado para a banda, os moradores da pacata Midvale e de Smallville foram liberados para voltarem para suas respectivas casas, a fim de se arrumarem para o grande evento. Os que se voluntariaram para servir a comida e cuidar das crianças, puderam colocar seus pertences no pequeno dormitório da igreja, onde também poderiam tomar banho e se vestir apropriadamente para a festa. A comida cheirava muito bem e seu aroma infestou toda a área em poucos minutos, chamando a atenção de quem passava. As freiras terminaram de aprontar cada órfão e os liberaram para brincar na garagem, onde um trampolim e uma piscina de bolinhas foram montados.

A gritaria não demorou a começar, risadas e sapatos jogados por todo o canto vieram em seguida. Mesmo com a neve caindo e com a iminência de uma outra tempestade, a energia era de boas vindas e de calor humano. O clima natalino certamente não deu trégua para o da natureza. Os carros foram se amontoando no estacionamento e nas estradas de terra que conectavam o orfanato ao centro da cidade. Smallville era menor que Midvale, o que explicava a multidão que migrava de uma para a outra quando o assunto era compras. Ambas ficavam na costa litorânea do estado, com paisagens paradisíacas e reservas florestais que recebiam vários adolescentes no verão para os acampamentos.

As Danvers retornaram para a mansão um pouco antes do almoço, afinal ainda tinham uma hóspede que precisava que os serviços da pousada não ficassem abandonados. Porém, como o baile era um episódio recorrente, elas sempre deixavam claro nos avisos em suas redes sociais que alguns horários estavam sujeitos a mudanças, podendo ser cancelados ou adiados, assim evitavam reclamações e também divulgavam sobre as festas de final de ano que eram abertas ao público. Eliza foi direto para seu quarto, pedindo que Alex esquentasse a comida e arrumasse a mesa juntamente com Kara e exigiu que ambas estivessem arrumadas a tempo de saírem, não toleraria atrasos dessa vez.

Bom, ela falava a mesma coisa todo ano.

E todo ano as três se atrapalham e perdiam a hora.

— E por favor, peça a Lena que esteja pronta para sair antes das seis — a matriarca exclamou ao subir as escadas — mas diga também que ela pode ficar aqui, caso se sinta muito desconfortável para se juntar a nós.

— Aos plebeus — Alex murmurou, recebendo uma cotovelada da irmã — ok, vamos comer e subir pra tomar banho.

— Tudo bem, vou avisar Lena sobre o horário e descer pra buscar minhas roupas no carro.

Winn tinha escolhido a dedo um look para hoje a noite, um que combinava perfeitamente com o tema e também com as datas comemorativas. Ela provavelmente iria se destacar entre as várias mulheres e garotas que estariam usando vestidos e salto alto, mas não se importava. Nunca se identificou muito com a feminilidade, apesar de ter seus momentos onde gostava de se maquiar e usar jóias, deixar seu cabelo solto. Mike nunca gostou desse lado mais masculino e sempre a obrigou a trocar de roupa antes de saírem para um jantar, ou para encontrar os amigos. Foi assim durante todo o namoro. Ele costumava dizer que essa mania dela de querer vestir mais calças do que saias, ou de malhar até ficar musculosa, o diminuía enquanto homem. Por achar que o amava e que seus destinos estavam traçados, Kara não se queixou, permitindo assim que uma enorme e considerável parte de sua personalidade fosse afogada nas águas do machismo e preconceito.

Apesar de se sentir mais confiante e estar em paz com a pessoa que tinha se tornado, o fantasma do julgamento ainda a assombrava, subindo as escadas com pés pesados logo atrás dela. A breve conversa que teve com a irmã ainda latejava no fundo de sua mente, se misturando com o alívio de ter contado para ela sobre a oportunidade de emprego na CatCo e seu medo um pouco irracional de se mudar para National City. Foi cruzando o corredor do terceiro andar, encarando cada parede, cada quadro e seu próprio reflexo num dos espelhos ovais que ficavam lado a lado com algumas fotos de família, que Kara percebeu o quanto iria sentir saudade daquele lugar. E ao ser invadida por essa melancolia, ela constatou que já tinha tomado uma decisão no seu inconsciente.

Aquela casa tinha sido guardiã de muitas lembranças e se transformado numa biblioteca de memórias. Cada cômodo mantinha consigo um fração do tempo, um sorriso, uma promessa de amor, ou apenas sussurros que se desmantelaram no ar. Também foi palco de discussões, choros e segredos que provavelmente nunca veriam a luz do dia. As pilastras tinham a marca do crescimento das irmãs Danvers durante os primeiros seis anos depois que saíram de Boston. Eliza nunca teve coragem de apagar os rabiscos que as filhas fizeram em uma das paredes brancas do lado de fora. Os brinquedos que não foram doados, ficavam seguramente guardados num depósito no porão, carinhosamente embalados e limpos.

A saudade era definida por alguns como um sentimento parecido como a fome e a mesma só passa quando se come a presença daquele que sentimos falta. Outros diriam que a saudade é amar um passado que ainda não passou, é recusar um presente que nos machuca, é não ver o futuro que nos convida. Pablo Neruda foi muito cirúrgico quando disse que o pior sofrimento é não ter a quem ou do que sentir saudades. E Kara podia afirmar que esse sentimento era a sua essência, como se fizesse parte do seu DNA. Seu pai foi um homem de princípios, um que vivia pela sua conduta moral, mas que sempre esteve aberto a críticas, a aprender um outro ponto de vista, a aceitar que estava errado.

Boston foi o seu lar por quatro anos e por mais que soe como se tivesse sido muito tempo, ela mal se lembrava de como era o seu quarto, ou do cheiro dos móveis, de como a madeira escura rangia sob seus pés quando corria pela sala, fugindo de uma Alex que fingia ser um monstro que habitava a cabana montada com lençóis e cadeiras. Aquela felicidade e leveza foram perdidas e então reconquistadas. Acontece que não se sente a mesma emoção da mesma forma duas vezes. E tudo bem, Kara era feliz e foi feliz, e esperava continuar assim até quando chegasse a hora de se reerguer novamente.

— Lena? — bateu na porta duas vezes com os nós dos dedos. Ela então se abriu, mostrando uma Lena enrolada na toalha e os cabelos molhados — uh…

A morena arqueou a sobrancelha, sorrindo de lado com a reação da outra.

— Vai ficar parada aí ou veio só pra admirar a paisagem? — provocou e Kara piscou os olhos, ainda num transe. Gotículas de água escorriam por debaixo da toalha, percorrendo o caminho dos joelhos até os pés, e então atingindo o carpete — Kara?

— O que? — ergueu o olhar — ah, desculpa.

— Kara, acho que depois de ontem não tem porque pedir desculpas por encarar — ela deu passagem para a outra, fechando a porta em seguida — ainda não me respondeu.

— Uh… ah, só vim avisar que vamos sair antes das seis, minha mãe vai literalmente nos arrastar pelos cabelos se não estivermos prontas na hora — riu sem graça, suas bochechas corando e não sabia se era pela nudez da outra, ou por vergonha mesmo — ainda… ainda quer ir comigo? Digo, ao baile. Tudo bem se não quiser, principalmente depois do que… er, do que rolou ontem e também não tivemos tempo de conversar e… — por deus, ela queria não ter gaguejado daquela maneira, mas estava tremendo de nervoso.

Lena se esforçou para não rir, porém foi impossível. Além de achar aquela mulher interessante, bela e atraente, ela também adorava como as pontas de suas orelhas ficavam vermelhas, ou como ela empurrava o óculo de volta para o topo do nariz, ou até mesmo quando começava a brincar com as mãos e com a barra da camiseta. Ainda envolta nessa atmosfera de admiração por alguém que não, ela não estava se apaixonando, a Luthor andou até ela e pousou uma das mãos na lateral de seu rosto, acariciando a pele dela com a ponta do polegar.

— É claro que eu quero ir — ficou na ponta dos pés, revogando os lábios dela nos seus por longos segundos até se afastar — a não ser que queira me trocar por outra pessoa.

— Nunca — a loira puxou a parceira pela cintura, apalpando seu torso, a base de seus seios e então descendo as mãos até o quadril — sobre ontem…

— Não precisamos colocar um nome, se não quiser e também não precisamos dar um significado ao que aconteceu também — se adiantou em explicar, seu estômago se contorcendo com a tensão ao passo que sentia suas pernas amolecerem ao ter o corpo da outra colado ao seu — pode ser só isso, uma noite de diversão, ou pode-

— Eu sei e não… não quero fingir que não foi grande coisa pra mim, porque foi e eu estou me controlando demais agora pra não repetir o que fizemos na minha cama hoje de manhã — a audácia era a coragem sem vergonha na cara.

— Não quero que sua mãe venha aqui te arrastar pelos cabelos quando deveria ser eu puxando eles — a morena murmurou excitada, o banho teria que ser repetido.

— Ugh, ela vai me matar quando descobrir — grunhiu, deitando a cabeça no ombro da Luthor — não temos nenhuma regra sobre não dormir com hóspedes, mas mesmo assim, eu devia ter o bom senso de não o fazer.

— Então quer dizer que é algo que faz sempre? Bom saber, senhorita Danvers, que não sou a única — o tom era brincalhão, mas sua respiração falhou ao pensar na loira com outras e ela se amaldiçoou mentalmente por isso — vou dar cinco estrelas pela boa comida dessa pousada e escrever algo como “Eliza é ótima em tudo o que faz, inclusive a filha mais nova. Essa estava deliciosa”.

— Lena! Por deus… — ambas gargalharam, aproveitando da simplicidade do momento para se beijarem, dessa vez com mais fulgor e vontade. Quando deram por si, a toalha estava no chão e Kara estava por cima da CEO, as pernas brancas e grossas presas em sua cintura e mãos geladas embrenhadas em seus fios loiros — L-Lena…

— Você começou, agora termine — ordenou, sentindo o corpo superaquecer. O jeans que a outra vestia estava manchado com o gozo que escorria pela sua virilha — lembre-se das cinco estrelas, tudo por uma boa crítica.

— Então isso é só uma proposta de negócios? — Kara mordeu o vão entre o pescoço e o ombro esquerdo, dando selinhos molhados onde seus dentes ficaram marcados — uma troca de mercadoria?

— O que eu posso fa-fazer… — arfou ao ter seu mamilo abocanhado e sugados pela língua áspera e quente de sua amiga. Ela fechou os olhos e forçou uma concentração inexistente que tomou quase tudo de si — eu sou… uh… e-eu…

— Não é muito articulada para uma CEO, eu esperava mais — a morena riu, porém não foi capaz de rebater — acho que vou ter que mandar um email pessoal para a Forbes, sabe… pra provar o meu ponto de vista sobre você.

A este ponto, Lena não dava a mínima se toda a sua reputação fosse ser arruinada por uma loira atrevida que agora estava entre suas pernas, as mantendo afastadas, enquanto lambia seu sexo avidamente e enfiava dois dedos dentro de si, os movimentando tão rápido ao ponto de seu cérebro derreter. Ela gemeu alto, mesmo sabendo que aquelas paredes eram finas e seus louvores fossem ser ouvidos por qualquer um que ousasse passar pelo corredor. Era o mínimo que podia fazer para ver Kara corar o restante da tarde quando tivesse que enfrentar Eliza e Alex antes da janta.

E falando em jantar.

— Me lembre de mandar um email bem mal educado para o gerente dessa pousada — Lena balbuciou, tentando recobrar a consciência e o resto de dignidade que lhe sobrou depois de atingir o clímax. Kara estava de pé amarrando o cabelo de volta num rabo de cavalo.

— Pode ter certeza que ela vai te responder com a mesma educação — rebateu, procurando agora pelo outro lado de seu sapato — não se esqueça que não se cospe no prato em que se come — piscou divertida.

— Bom, a não ser que você peça com carinho.

E com essa, Kara se retirou do recinto antes que as suas roupas fossem as próximas a terminarem no chão.

***

O burburinho ficava cada vez mais alto ao passo que os convidados se cumprimentavam com abraços e suas felicitações acompanhadas de um “Feliz Natal” adiantado. Algumas crianças estavam do lado de fora jogando bolinhas de neve umas nas outras, com seus casacos cobertos pelos flocos que desciam do céu. A música também se fez presente, a melodia calma e aconchegante perambulava por entre a multidão, alguns dançavam e outros apenas chacoalhavam os ombros enquanto bebericavam uma taça de vinho.

Alex entregou os crachás para Eliza e Kara, e se retirando para procurar sua afilhada Esme, que sempre ficava extremamente contente em vê-la. A menina tinha sido transferida de um orfanato no interior de Minnesota para Smallville há quatro anos, quando ainda era só uma bebezinha de um ano e meio. Elas tinham um vínculo de dar inveja, como se tivessem nascido uma para a outra, apesar da ruiva nunca ter exprimido vontade nenhuma em adotar. Ser policial e morar sozinha, num apartamento que mal cabia suas coisas, não era bem o ambiente correto e apropriado para se criar uma pessoa.

Lena desceu da caminhonete, seus saltos afundando minimamente na camada fofa branca que se acumulava na entrada, seu sobretudo cobrindo o vestido vinho que tinha as costas abertas e cujas as alças ficavam caídas em seus ombros. Ela escolheu deixar os cabelos soltos em ondas, que desciam por cima de seus seios. A maquiagem realçava o verde claro de seus olhos e o batom vermelho era só pelo puro prazer de marcar Kara com ele mais tarde. E por falar nela, a Luthor ainda estava tendo dificuldades em processar o quão deslumbrante estava naquele terno marrom escuro, com os suspensórios marcando a camisa de botão branca e combinando perfeitamente com a gravata borboleta. Seus fios loiros foram presos num coque firme, que deixava seus traços delicados mais afiados e atraentes.

Teve que se impedir de babar na frente de toda aquela gente.

— Lena, você… está linda — Kara suspirou impressionada com a beleza extraordinária de sua amiga — simplesmente magnífica.

— Usando palavras difíceis, querida? — comentou ao entregar o casaco para ser pendurado num dos cabides, sem ao menos notar o “querida” que escapou sem querer.

— Você merece todo o meu repertório — estendeu o braço. Lena o aceitou.

— Se não soubesse que dorme com suas hóspedes como forma de compensar pela falta de água quente na torneira, eu diria que está flertando comigo — arqueou a sobrancelha. Ambas caminharam até o centro do salão, com a loira apresentando a Luthor para alguns conhecidos e amigos de longa data, nunca deixando de elogiar sua garota quando alguém citava a L-Corp. Podia não saber muito sobre seus projetos, mas sempre a defenderia de comentários maldosos, apesar de que ninguém teve muito a dizer. Eles foram simpáticos, inclusive pontuando o fato de que elas formavam um casal maravilhosos, o que fez a pequena Danvers querer cavar um buraco no chão e se esconder.

— Jamais iria flertar com alguém que deliberadamente pediu para a secretária colocar exigências quando pediu pelo quarto, quem em sã consciência escolhe não comer chocolate ou açúcar num geral? — murmurou, fazendo a outra rir.

— Nem todos nascemos com genes bons como os seus — rebateu. Finalmente chegaram até o outro lado, onde a comida estava disposta sobre uma mesa longa, que ia da porta da cozinha, no lado direito, até a porta que dava acesso a garagem no extremo oposto.

— Se eu não soubesse que dorme com desconhecidas, diria que está flertando comigo — usou as palavras da outra contra ela, sorrindo de lado.

— Você é impossível, Kara Danvers — o que não daria para sair dali e voltar para a pousada, onde mostraria para ela todas as formas de calar sua boca.

De repente a banda deu um boa noite que ecoou pelo salão, o grupo se ajeitando sobre o palco, pegando seus instrumentos e testando os microfones. Eles agradeceram pelo convite, explicando o quão lisonjeados estavam por terem sido escolhidos e que gostaria que todos dessem uma salva de palmas para os organizadores daquela festa. Todos se levantaram assim que a primeira música foi anunciada, dando início ao baile. Os pares foram formados rapidamente, os convidados indo em direção ao centro da pista de dança temporária que foi montada. It’s been a long, long time cantada por Harry James começou a tocar e o clima romântico se instalou como uma brisa de primavera.

Kiss me once, then kiss me twice

Then kiss me once again

— Essa é uma das minhas favoritas! — ela bradou animada, entrelaçando sua mão com a de Lena e a arrastando para onde os casais dançavam lentamente, cada um vestido a rigor e de acordo com o tema.

— Kara, eu não... — tarde demais, a loira ficou a sua frente, colando seus corpos ao ponto de não haver espaço sequer entre seus corações. Kara levou uma das mãos até a base de suas costas, enquanto a outra continuava a segurar a sua que estava livre — eu não sei dançar — confessou, o ar ficando preso em seus pulmões.

— Relaxa, eu não vou contar pra ninguém — piscou e então começou a guiar cada movimento, seus pés indo de um lado para o outro numa coreografia silenciosa e vagarosa — se bem que eles devem pagar tão bem por essa informação. Vou colocar isso na minha lista de coisas para enviar à Forbes.

Lena arqueou a sobrancelha, com a outra a afastando para girá-la e então a puxá-la de volta.

— Achei que era jornalista e não fofoqueira — sussurrou em seu ouvido, fazendo a pequena Danvers rir.

— É praticamente a mesma coisa — contestou espertamente — eles vão descobrir como a querida CEO deles seduz pobres meninas do interior do Maine.

— Meninas? — perguntou — no plural? — elas rodopiaram, Lena sequer percebeu como Kara era assustadoramente boa naquilo.

— Me diz você, eu sou apenas a vítima — elas continuaram as provocações sem fim, completamente alheias ao mundo, aos outros pares que também estava vivendo dentro de suas próprias bolhas.

— Bom, se faz tanta questão de que eu seja a vilã, posso ir testar minha teoria mais tarde — comentou, com o timbre de sua voz descendo algumas oitavas e ficando rouca — sabe, além de CEO e milionária, eu também sou cientista.

— Teoria? — a música foi caminhando para o último verso — que teoria?

— A de que todas as filhas da Eliza beijam bem — seus lábios ligeiramente se ergueram no canto num sorriso atrevido — acho que Alex pode me fornecer muito material para provar o meu ponto.

Kara arregalou os olhos e sua boca se abriu num enorme O.

— Não faria isso — a encarou numa mistura de curiosidade e ciúmes. A Luthor riu.

— Então não faça acusações falsas, porque eu vou torná-las reais — falou seriamente, por mais que estivesse adorando aquela brincadeira, ela amava testar até onde sua parceira aguentava sem quebrar a farsa — estou bem satisfeita seduzindo só uma das filhas da Eliza — ficou na ponta do pé e a beijou, seus olhos se fechando para poder absorver aquele sabor delicioso que a outra tinha. Uma mão boba deslizou da base de suas costas até a bunda, subindo lentamente até voltar aonde previamente estava.

O vocalista cantou as últimas notas belíssimamente, com a plateia aplaudindo e esperando pela próxima atração. Kara e Lena permaneceram ali por mais alguns minutos, se distraindo e se elogiando em sussurros, sem nunca se importarem com os olhares indiscretos de julgamento e com o burburinho que começou a se espalhar. Eliza assistia de longe a filha sorrir apaixonada e então gargalhar de algo que a morena tinha dito. Nada a deixava mais feliz do que ver que Kara estava feliz.

A banda tocou a entrada de Unchained melody e tudo se acalmou novamente.

Woah, my love, my darling

I've hungered for your touch

A long, lonely time

— Vem, vamos pegar algo para beber — Kara anunciou, vendo a outra suspirar aliviada. Dançar não era o seu forte, mas não iria reclamar, afinal aquela era uma ótima desculpa para poder ter a loira agarrada em sua cintura.

Marcharam até a mesa, onde dois rapazes trabalhavam como bartender e receberam duas taças de vinho tinto. A atmosfera do lugar era de agitação e euforia, Lena nunca tinha participado de um evento onde as pessoas realmente se divertiam e queriam estar ali, por livre e espontânea vontade. Geralmente, os bailes de gala aos quais tinha que comparecer, caso contrário seria alvo de fofocas no dia seguinte, ou capa de alguma revista cujas informações eram de procedência duvidosa, nunca durava mais do que duas horas. Negócios eram fechados, acordos selados e mais dinheiro gerado. Isso sem contar as traições, homens que se esfaquearam pelas costas e dormiam com as esposas alheias.

— Que coincidência te encontrar por aqui, Lena.

A morena por pouco não deixou sua taça se estatelar no chão. Aquela voz.

Aquela maldita voz.

Um arrepio gélido desceu pela sua espinha como uma descarga elétrica e todos os seus sentidos ficaram em alerta, como se pudessem farejar o perigo.

Ela se virou para encarar a pessoa que tinha uma mão sobre seu ombro e se arrependeu amargamente por essa escolha.

— Quem é você? — Kara franziu o cenho, seu olhar indo da mulher para Lena, para a maneira íntima com que a estranha a tocava, como se fosse proprietária dela.

— Fico triste em saber que ela não tenha falado sobre mim, mas podemos consertar isso — a mulher deu um passo à frente — Andrea Rojas, namorada da Lena.

É meus caros, a noite estava só começando. 


Notas Finais


HEHEHEHEHEHEHE eu tive que terminar o capitulo bem no momento CERTO. Foi de proposito, eu admito.

Teorias? Eu sei que parecia muito que a Lena tinha um apego mais amoroso/emocional com a Andrea, mas deu pra notar que não é exatamente isso....

Porem eu prometi final feliz e vou entregar, entao nao me odeiem tanto assim. Vai ter drama? Vai, pq eu sou dramatica e tenho licença poética pra isso.

Me digam o que estao achando!

Terça feira sai o cap 6 então até a próxima!


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