● Alyssa Bieber
Chicago, Illinois
17 de fevereiro de 2019
16:40
— O que eu ganho com isso?
— Todo o meu amor pelo resto da sua vida.
— Coitada de mim então. — Grace riu. — E quem disse que ele me quer lá?
— Mesmo se ele não quisesse, não iria te expulsar.
Ergueu as sobrancelhas e deu de ombros. Tentava convencê-la a ir comigo na festa de Elias. Eu não queria ir sozinha e, Grace tinha me ligado dizendo que não aguentava mais ficar em casa, parecia uma boa convidá-la, mesmo que ela não tenha sido.
— Eu nem o conheço.
— Por favor, Grace. Não te peço mais nada.
— É só dizer que você não quer ir, então você vem e nós duas podemos sair e ir em outro lugar.
— Eu pensei que você me amasse. — fiz beicinho.
— É só uma festa, não se desespere por isso. — pela tela do celular observei ela passar a mão nas suas madeixas pretas. — É que horas mesmo?
— Ele disse que começa às 19.
— Tá bom, vou pegar algumas coisas e vou pra sua casa, me arrumo aí. — balancei a cabeça. — Justin está?
— Não. — murmurei.
— Ok, até daqui a pouco.
— Certo.
Desliguei a chamada de vídeo e antes que eu pudesse bloquear meu celular, o mesmo apitou, avisando que tinha chegado uma notificação.
"Acabei de chegar da viagem. Tudo certo para a festa de Elias? :)"
Revirei os olhos ao ver a carinha, mas rapidamente respondi Lewis.
"Acho que sim. Vou levar a minha prima"
"Como o convidado convida outra pessoa?" — sua resposta veio minutos depois.
"Único jeito para mim ir ;)"
Bloqueie o celular. Fui para sala, esperar Grace chegar. Acho que acabei cochilando, já que acordei assustada, com o barulho da campainha. Levantei do sofá rapidamente e fui abrir a porta.
— Mas que demora, de hoje que aperto isso.
— Desculpa, eu estava dormindo.
Entrou em casa carregando duas bolsas.
— Para que isso tudo? — fechei a porta.
— Ah, eu não me decidi sobre o que iria usar e vou dormir aqui. — dei de ombros.
Ela seguiu até o meu quarto, como se a casa fosse sua, segui atrás dela. Vi ela jogar as bolsas na cama e abri-las, jogando tudo em cima. Sentei-me ao lado da bagunça.
— Você vai arrumar tudo depois. — revirou os olhos.
Ela continuava em pé, de frente para mim.
— Alyssa, você sabe que é festa mesmo né? — franzi a testa. — Só para você não achar que é uma festa de aniversário típica de uma criança de um ano.
— Eu não sou burra.
— Vai que… — deu de ombros.
Joguei uma peça de roupa na sua direção, a mesma não segurou e deixou cair no chão. Antes de pegar, mostrou-me a língua.
— Quem vai?
— Não sei, ele disse que eram amigos próximos.
— Seu chefe vai?
— Sim.
— Bom, pelo menos vou conhecer os seus amigos.
— Amigos. — dei risada.
— E a outra vai?
— Quem? Kath? Possivelmente.
— Kath. — fez uma voz mais fina.
Revirei os olhos.
— Olha, eu não vou demorar lá. Não sei porque trouxe tanta coisa.
— Se não vai demorar, por que tanta agonia?
— Eu quero ir, ué. — apertou os olhos.
— Justin sabe?
— Não.. — hesitei.
— Uh, saindo sem permissão. — expressou uma falsa surpresa. — Eu não te via saindo há um bom tempo.
Sentou ao meu lado, em cima de algumas das suas roupas.
— Aliás, não te via animada para algo há muito tempo… mesmo que a sua animação seja esquisita.
— Não estou animada, só quero ir… são pessoas legais, sabe? Me sinto bem com elas.
— Então, os amigos do Justin não são legais?
— Que?
— Ele sempre saí com eles e você nunca vai.
— Não é ambiente pra mim.
— Resposta estranha, combina com você. — revirei os olhos. — Jura que está com frio?
Apontou para o meu moletom, o que me fez olhar para ele. O meu pulso não estava mais inchado e nem vermelho, mas o meu braço tinha uma pequenina mancha. Se eu estivesse indo para o trabalho, sair, ou ir para a festa sozinha, poderia usar uma blusa sem manga e não teria problemas, mas com Grace não. Ela notaria de cara, perguntava sobre cada coisinha que tinha no meu corpo, mesmo que fosse apenas uma picadinha de mosquito. Teria que vestir algo com manga.
— Não, foi só a primeira coisa que eu vi pela frente.
Ela levantou e voltou a ficar de frente para mim.
— Hm. — fez careta. — Vamos ver... me ajuda. Qual?
Puxou um vestido vermelho longo e depois uma saia preta de brilho.
— Saia com o que?
— Fica bom?
Mostrou um cropped branco.
— Sim.
— Ou esse vestido?
Largou as outras peças e pegou o vestido. Era preto, de mangas compridas, não muito longo e parecia ser justo.
— Ainda fico com a saia.
— Ok, então. — jogou tudo na cama. — E você?
— O que?
— Já escolheu a roupa?
Fiz um barulho com a boca, que eu esperava, que indicasse uma afirmação.
— Eu sei que não. — bufou.
Rapidamente, Grace entrou no meu closet e voltou com duas peças de roupas: um vestido azul marinho tomara-que-caia e um short jeans escuro, de cós alto, em mãos.
— O que prefere?
— Meu Deus, nem lembrava que esse vestido existia.
— Eu acho ele lindo.
— Então pode ficar.
— Sério? — balancei a cabeça positivamente.
— Ele deve ficar melhor em você. — dei de ombros — Eu fico com o short.
Levantei e fui até ela. Tirei o short das suas mãos e segui para o closet.
— Você precisa de roupas novas. — escutei sua voz e seus passos atrás de mim.
Dei de ombros. Eu só usava as mesmas dez roupas, sempre. Não precisava de mais.
— Vai com essa blusa?
Virei meu corpo em sua direção, vendo uma careta em sua face.
— O quê que tem?
Encarei a peça que estava na minha mão, e não via nada demais. A blusa era preta, de mangas longas, era justa e a gola vinha até o pescoço.
— Use essa.
Apontou para uma blusa do mesmo estilo, só que ela era totalmente de renda.
— Não. Hoje não. — revirou os olhos.
Disse para ela que se arrumasse logo, já que sempre demorava. Grace murmurou que não demoraria mais que 15 minutos. Acabou entrando no banheiro ao som da minha risada.
Fui na sala e busquei meu celular, que estava no sofá. Tinha uma notificação de mensagem de Alaska.
"Livre hoje?"
"Não, vou em uma festa de aniversário com Grace." — respondi.
"AHHH. Vocês nem me convidaram :("
Joguei o meu corpo no sofá, rindo ao ver que Lewis não era o único que usava essas carinhas.
"É de um cara que trabalha comigo, te prometo que não é nada demais. Mas sinta-se convidada."
"Não, não. Eu estou bem, estava apenas brincando. Divirta-se."
Mandei um coração como resposta. Fui a procura do contato de Justin.
"Vem pra casa hoje?"
"Não" — sua resposta veio de imediato.
"Grace vai dormir aqui." — ele não me respondeu mas vi que visualizou.
Minha amiga gritou por mim e fui direto para o quarto. Ela já tinha terminado o banho e estava mandando eu ir. Em menos de 20 minutos, eu já estava de volta ao quarto e vestida.
— Não vamos demorar né? — Grace murmurou enquanto se olhava na penteadeira.
— Não vamos. Que horas são?
— Quase seis. — balancei a cabeça positivamente.
Sentei na cama e calcei meu scarpin preto. Soltei o cabelo e observei que Grace continuava na mesma posição.
Era estranho pensar nela e em Alaska hoje em dia. Parece que não foi só eu que mudei em dois anos. Lembro que Grace sempre foi a mais agitada e louca, agia sempre pelo coração e toda semana estava brigada com alguém; com o tempo ela se tornou mais estressada, cabeça dura, e fechada em seu próprio canto. Minha prima era a que estava em todas as festas — muitas vezes, acompanhada pela morena —, bebendo tudo o que podia, com um namorado diferente a cada dois meses; então ela também ficou mais fechada, guardando seus sentimentos para si, mais reservada, e diria até insegura. Eu nem podia dizer o que mudou em mim, porque já foram tantas coisas.
Não demorei para me arrumar. Penteei o cabelo rapidamente, a minha amiga fez uma maquiagem rápida em mim, e terminei tudo, colocando alguns acessórios. Fomos no carro de Grace, já que ela tinha vindo com ele e o meu estava com Justin, como sempre. Chegamos no local pouco depois das sete horas, fiquei surpresa por ser uma casa enorme, maior que a minha, sem dúvidas. A porta estava aberta e já dava para escutar o barulho da música, tinha algumas pessoas ali na frente da casa, já bebendo e conversando. Quando entramos, me assustei pela quantidade de pessoas. Elias realmente não iria se preocupar se tinha convidado Grace ou não.
— Eu achei que eram só amigos.
Ela murmurou ao segurar no meu antebraço.
— Eu também.
Olhei o local cheio de pessoas, achando um canto quase vazio, puxei Grace até lá.
— Já se arrependeu né?
— Um pouco. — ri fraco.
— Aly!
Escutei meu nome, virei a cabeça para o lado esquerdo, vendo Kath vindo na minha direção. Em questões de segundos, seu corpo se chocou com o meu em um abraço.
— Aly. — sabia que era Grace imitando.
— Kath, eu nem sabia que vinha.
— Eu imaginei que você não viria. — me soltou, sorrindo.
Senti o olhar da minha amiga em mim, sabia que estava morrendo de ciúmes.
— Kath, essa é Grace, minha amiga. — fiquei ao lado da morena. — Grace, essa é Kath, ela trabalha comigo.
Katherine iria abraçá-la, mas quando percebeu que não era a mesma vontade dela, apenas estendeu a mão.
— Melhor amiga. — falou mais alto o "melhor".
Revirei os olhos.
— Ok, melhor amiga. — deu risada.
— Desculpa. — murmurei para a loira, ela deu de ombros. — Eu não imaginei que vinha tanta gente.
— Ah, eu devia ter te dito. Ele sempre diz que vai ser uma festinha, mas sempre dá nisso. — comentou olhando ao redor. — Ainda nem vi ele. — piscou. — Eu vou buscar algo para beber, querem algo?
— Algum refrigerante, se tiver.
— Pra mim também. — escutei a voz de Grace ao meu lado.
Kath balançou a cabeça positivamente e rapidamente se afastou.
— Que música chata. — achei graça e ri.
Tocava alguma música eletrônica. Só aí percebi que as meninas estavam falando muito alto, para que escutassemos mesmo com a música. A luz que iluminava o cômodo (talvez, fosse uma sala), doía meus olhos, era algo como vermelho e azul.
— Alyssa. — senti alguém tocar o meu ombro, o que me fez virar o corpo, na direção da pessoa que me chamava.
— Lewis! — sorri.
Ele sorriu também. Fiquei paralisada quando me abraçou, não retribui.
— Ah.. oi. — percebi que ficou sem graça.
Pelo canto de olho, percebi que Grace me fitava.
— Oi, Grace. — estendeu a mão, vi ele fazer o mesmo. — Sou amiga da Alyssa… — ela me encarou meio estranho.
— Lewis, eu sou…
— Sei quem você é. — sorriu.
Escutei sua risada, o que me fez revirar os olhos. Katherine apareceu com três copos em mãos, dois deles cheios com um líquido preto. Pegamos os copos, e então eu notei que ela começava a conversar com Lewis. Bebi um pouco do conteúdo, sabendo que era refrigerante.
— Acabei de ver Elias subindo com umas três garotas. — foi o comentário de Kath.
— Amanhã vocês não trabalham?
— Nós sim, ele está de folga. — Lewis respondeu Grace.
— Ah.
Lewis ia dizer algo, mas um Alec, muito alegre, interrompeu ao se jogar em cima de Kath, deixando um beijo na sua bochecha.
— Me larga garoto. — tirou seus braços, que estavam ao redor dela.
Alec somente riu. Eu conseguia ver de longe que estava bêbado. Ele saiu de perto dela em questão de segundos.
— Alguém quer dançar?
— Eu quero.
Em um piscar de olhos, Grace sumiu com Kath ao entrar no meio das pessoas que estavam dançando.
— Tem lugar pra sentar.
Encarei Lewis, que apontava para um sofá, que estava atrás de nós. Ele sentou e depois de longos segundos, eu fiz o mesmo.
— Desculpa pelo abraço.
— Tudo bem. — suspirei. — Como foi a viagem?
— Cansativa. Vim pra cá, assim que cheguei. Não tive tempo de fazer muita coisa.
Virei meu corpo, sentando de lado. Ele fez o mesmo, ficando de frente para mim, então pude prestar atenção nele. Estava com uma blusa pólo, de manga, e uma calça jeans. Não consiga ver as cores da roupa, por conta da luz do local.
— Por que não foi descansar?
— Ah, você viria. Imaginei que valia a pena.
Forcei uma risada ao sentir minhas bochechas esquentaram. Deveria está corada.
— Como foi o seu final de semana? — suspirei.
— Normal.
— Você parece meio cansada…
— Jura?
Eu sabia disso, e achei um milagre Grace não ter dito nada sobre.
— Tudo bem?
— Sim, eu acho que só não estou dormindo direito. Mas… bobagem. — franziu o cenho.
— Não é…
Ele mesmo cortou a sua frase e mudou o assunto.
— Você está linda.
— Obrigada, você também. — sorri fraco.
Ficou um silêncio chato depois disso. Prendi o cabelo, que estava solto, em um coque frouxo, em busca de fazer algo para não olhar diretamente para ele. Mas mais uma vez, ele quebrou o silêncio.
— Acho que elas fazem amizade muito rápido.
Olhei para onde ele apontava: Kath e Grace estavam dançando com mais duas mulheres e um homem. Não conseguia ver elas direito, mas percebia que elas cantavam a música que invadia o local.
— Eu achei que elas não tinham se dado bem. — ri fraco. — Grace é muito ciumenta em relação a mim, muito mesmo.
— Deu pra perceber.
Virei meu rosto, encarando ele. Lewis sorria.
— Ela nunca se deu bem com o meu marido, porque, na época do colégio, sempre dizia que eu me afastava dela quando estava com ele… o que era verdade, mas até hoje ela não superou isso. — balancei a cabeça.
— Cresceram juntas?
— Sim, eu conheço ela desde o primário.
— Que bom. — sorri.
Um silêncio se instalou novamente por longos minutos. Era estranho conversar com ele fora do ambiente de trabalho, eu sempre ficava sem saber o que dizer ou como agir. Ficamos nessa por muito mais tempo, até Grace aparecer.
— Alyssa, temos que ir!
— O que? O que foi?
Levantei rapidamente e encarei Grace que me olhava atordoada. Ela tinha seu celular em uma mão e a minha bolsa ela segurava, meio sem jeito, na outra, nem lembrava que tinha deixado com ela. Olhei Kath, que mantinha uma expressão confusa.
— A-a.. Alaska… — respirou fundo.
— O que tem ela? — senti uma mão tocar o meu ombro, e soube que era Lewis. — Responde, Grace.
— Eu acho que ela está no hospital… eu.. eu não sei o que aconteceu.
— Quem te disse isso? — tentei falar o mais calmo possível.
— É do número dela, mas tenho certeza que não foi ela que digitou.
Entregou-me o celular. Vi uma mensagem de texto, com um nome de hospital no fim. Como tinha muitos erros, imaginei que talvez fosse James que tivesse enviado.
— Vamos.
Senti ela segurar na minha mão e me puxar até a saída da casa. Escutei passos atrás de nós, e imaginei que fosse Kath e Lewis. Grace adiantou os passos e entrou no seu carro, rapidamente.
— Não quer que eu leve vocês? Conseguem ir sozinhas?
— Obrigada, mas não precisa. — me virei para eles.
— Certeza? — Kath me encarou.
— Sim… é… se virem Elias, digam que eu mandei parabéns.
— Nos mantenha informados então. Tomem cuidado. — forcei um sorriso e balancei a cabeça positivamente.
Assim que entrei no carro, Grace deu partida. Coloquei o cinto de segurança, antes de fazer o que ela havia pedido: ligar o gps e colocar a rota do hospital. De relance, consegui ver que já eram um pouco mais de dez da noite. Encostei a cabeça no vidro da janela e, mesmo que não soubesse como, rezei baixinho, para o quê que tivesse acontecido, não fosse nada sério e Alaska estivesse bem.
Talvez eu reze
Reze
Talvez eu reze
Nunca acreditei e você sabe disso
Mas eu vou rezar
Pray — Sam Smith.
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