O momento em que Thomas entrou no Buraco dos Verdugos pode ser descrito como a sensação de ser atingido por um balde de água fria.
Da cabeça aos pés, seu corpo tremeu e ele fechou os olhos com força ao receber a lufada de ar gélido apenas para cair em cima de Teresa e Chuck, derrubando-os.
-Todos bem?! .-Ele gritou, seus olhos tentando se acostumar a penumbra.-Pessoal?!
-Sim.-As mãos delicadas de Teresa o empurraram.-Tom, você me machucou! Preciso de espaço!
-Cadê a Claire?!.-Indagou Chuck urgentemente.-Você viu se ela já está vindo?!
Thomas agradeceu silenciosamente quando seu rosto foi atingido pelo flash da lanterna de Teresa.
Não só porque agora poderia analisar melhor o local, como também tornou-se uma boa desculpa para não responder Chuck.
Da última vez que vira Claire, ela estava encurralada por dois Verdugos assim como Newt.
Os restos mortais de Alby eram uma bagunça em volta deles.
O Líder que, desde o começo, não tinha sido agradável com Thomas não era sua pessoa favorita no mundo.
Mas isso não quer dizer que se sentia bem vendo ele ser despedaçado, feito um boneco.
Aquela imagem não deixaria a mente de Thomas tão cedo.
Talvez nunca.
Tinha a leve impressão que a cena da cabeça de Alby soltando-se do pescoço e rolando pelo chão do Labirinto atormentava até seus piores pesadelos.
Ele aproveitou a fraca luminosidade para puxar a própria lanterna da mochila e, após ter um rápido vislumbre dos rostos assustados dos amigos, Thomas conseguiu se equilibrar e caminhar pelo Buraco.
Parecia uma espécie de caverna, como um cilindro de pedra.
Cheirava a umidade e era escuro feito breu.
Ele ergueu os olhos para a passagem no teto.
Parecia uma pequena janela quadrada, dando vista para um céu escuro e sem estrelas.
O que era estranho, pois ele se lembrava claramente do tom cinza do céu nublado quando eles entraram no Labirinto.
-Ali! .-Teresa praticamente gritou, fazendo-o ter um sobressalto.-O computador está naquele lado!
Ele precisou apressar o passo para acompanhá-la, enquanto puxava Chuck pelo ombro.
Avançando alguns metros dentro do túnel, a luz da lanterna de Teresa apontou para uma máquina que aparentemente tinha saído da pré história.
O monitor está grudado na parede, completamente empoeirado e, abaixo dele, um teclado foi instalado em um ângulo estranho, pequeno demais para combinar com a grandiosa tela.
Um baque se fez no teto acima deles, estremecendo toda a caverna.
-Depressa!-Thomas conseguiu dizer, o suor escorrendo por todo o seu rosto.-Vamos digitar logo esse código! Como será que…
-Eu digito.-Teresa sentenciou.-Você e Chuck ficam de guarda, vendo se nenhum Verdugo tenta atravessar o buraco.
Thomas tentou balbuciar algo para acrescentar ao plano, mas nada lhe passou além de acatar a autoridade de Teresa, então ele apenas engoliu em seco e disse:
-Tudo bem. Vamos, Chuck.
-Ela está demorando muito.-O garotinho reclamou encarando a passagem. Ele segurava a lança com as duas mãos, apontando-a para cima, e mesmo assim o objeto tremia.-Tem alguma coisa errada.
-Ela já vem, Chuck.-Thomas tentou acalmá-lo.-Claire é esperta demais para não escapar.
-Não é questão disso.
Thomas suspirou.
É claro que não era.
Ele sabia.
Ainda dava para ouvir o sons da batalha que estava sendo travada lá em cima.
Os gritos de dor, de esforço.
O rangido metálico dos braços dos Verdugos.
Ruídos de quando os monstros se encolhem e rolam pelo chão, derrubando quem que esteja a sua frente.
A cauda estalando no ar.
E Thomas guardou para si mesmo o detalhe de não ter escutado em nenhum momento a voz de Claire.
-Teresa!.-Ele gritou tentando afastar os pensamentos macabros que rondavam seus amigos..-Está conseguindo?!
-Acho que sim! Eu…
Um golpe violento dentro da caverna a interrompeu, fazendo as paredes estremecerem.
Ele relançou a lanterna por toda a extensão até que localizou algo que antes tinha lhe passado despercebido.
Estruturas ovais, muito semelhantes com casulos foram colocadas em cada uma das paredes.
Foi fácil terem passadas despercebidas, pois a tonalidade é de um tom tão escuro que beira o preto e se não fosse por uma delas, estar tremendo neste exato instante, Thomas provavelmente sequer notaria.
-O que é isso?.-Chuck perguntou, a voz não passou de um fio de pavor.-Thomas?
Ele não respondeu.
Empurrou Chuck para trás.
Segurou firmemente a lança e avançou de forma lenta em direção ao casulo.
Seu coração doía de tão rápido que pulsava.
-Teresa?
Dessa vez ela não gritou.
Podia ouvir o ‘’tec tec tec’’ do teclado.
-Estou quase.
E ele pôde sentir o medo nas palavras dela também.
A cápsula a frente de Thomas, continuou tremendo até que algo se soltou e ela foi completamente aberta, exibindo o que ele mais temia.
Um Verdugo esticando-se todo para sair da sua pequena fenda.
Os ferrões se retraíram enquanto ele impulsionava o corpo nojento para frente.
E, antes que Thomas pudesse aproveitar este rápido instante para atacá-lo, a criatura com um baque borbulhante conseguiu se soltar, e uma dúzia de objetos pontiagudos e mortais saltaram com vida.
-Tom!
Um bastão metálico projetou-se do Verdugo e transformou-se em um apêndice com três lâminas e, com um rápido movimento, acertaram o rosto de Thomas, cortando-o.
O sangue escorreu por sua face.
O ferimento seria bem maior se ele não tivesse usado a lança para se defender e afastar o braço do monstro para baixo, antes que o corte se aprofundasse.
Com um rangido, o Verdugo desdobrou outra extensão, dessa vez parecida com uma cerra e avançou novamente para o rosto de Thomas.
Ele tensionou os músculos e ergueu violentamente a lança, atingido a carne bulbosa do monstro, a puxou em direção ao teto.
O Verdugo deu um guincho e estalou a cauda no ar, pronto para abri-la e segurar Thomas que, com um grito raivoso, recuou em direção ao chão.
‘’Estou quase terminando, Tom. ‘’ disse a voz em sua mente, ‘’Mas acho que tem algo errado.’’
Ele desejou que Teresa não usasse a telepatia agora.
Talvez porque ainda não aprendera a usar corretamente ou só porque poder fazer isso ainda era meio perturbador para ele, mas sua cabeça estremecia de dor a cada palavra dita.
Os ferrões do monstro reapareceram e avançaram para Thomas feito imensas garras.
Ele mudou de tática, dessa vez focando na cabeça da criatura, e concentrou todas as suas forças no ataque
A lança chocou-se contra a base das garras e o Verdugo se retraiu.
Com um baque ruidoso, e depois um chiado, um dos braços foi arrancado do encaixe, caindo no chão.
‘’Tom!”
Houve outro tremor.
As outras cápsulas se mexiam.
Logo, mais Verdugos escapariam de seus esconderijos.
E seria o fim deles.
-Thomas! .-Ela gritou.-Não estou conseguindo introduzir a última palavra!
Ele quis respondê-la mas precisava tirar vantagem do rápido momento de fraqueza do Verdugo.
Brandiu a lança acima da cabeça e pôs os pés na pele do monstro, que afundou, como se fosse lama.
-Continue! .-Um grito infantil.-Ele está morrendo!
Thomas não saberia dizer se essa era a palavra certa.
Acreditava que sim, os Verdugos poderiam ser vencidos, mas mortos?
Máquinas não morrem.
Por mais bizarras que sejam.
O mais perto que ele chegaria de matar um desses, seria quebrando-o ou fazendo algo em sua fiação, provavelmente.
Seria bem mais fácil se pudesse simplesmente tirá-lo da tomada.
O Verdugo passou a se contorcer quando seu segundo braço foi arrancado.
Thomas desviou o olhar daquela criatura odiosa, soltando um líquido amarelado, murchando aos poucos e, ainda com a lança firme em suas mãos, recuou, esticando o pescoço para o monitor onde estava Teresa.
-Qual é o problema?!
Ele tentou dividir sua atenção no Verdugo que, a qualquer momento poderia levantar, nas cápsulas que continuavam tremendo e em Teresa que digitava freneticamente no teclado a mesma palavra várias vezes.
‘’APERTA.’’
O painel emitia um brilho esverdeado, mas nada além disso.
-Já digitei todas as palavras e, uma por uma, elas aparecem na tela. Então o computador fez um barulho estranho e elas desapareceram! Agora não consigo inserir a última.
O suor desceu pelas costas de Thomas.
-Hã…será que é a ordem correta?
Teresa lhe lançou um olhar ríspido.
-Acha que eu sou idiota?! Tom, é claro que é a ordem certa!
-Eu só…
-Thomas!.-Chuck agarrou a camisa dele.-Eles estão saindo!
As cápsulas agora estavam entreabertas.
Era possível ver o começo da cauda de mais três Verdugos, espiando para fora.
O quarto monstro, jazia no chão, mexendo precariamente os ferrões que lhe restava.
De alguma maneira, Thomas sabia que quando os outros levantassem , ele iria fazer o mesmo.
-O que deu errado?! .-O garotinho entrou em desespero.-Por que eles não desligam logo?! Onde estão os outros?!
-Chuck, eu não sei! .-Teresa soou estridente.-Não vai, já tentei de todo jeito!
Ele respirou com dificuldade e, por um momento, Thomas temeu que eo garoto fosse desmaiar.
Passou as mãos pelos cachinhos de modo urgente, os olhos azuis percorrendo toda a Caverna.
Até que ele parou.
E apontou.
-Cara, por que você só não aperta aquele botão?!
Thomas, que passara a fitar novamente o Verdugo no chão, esperando por outro ataque, deu as costas e mirou Chuck.
Teresa começou a falar que já havia pressionado todos os botões do teclado, mas Chuck passou por ela, quase derrubando-a.
-Não, Teresa! Aquele ali!
Thomas observou, estupefato, o garoto se encolher e ficar embaixo do teclado apontado para um botão tão pequeno que foi difícil de enxergar, mesmo com a lanterna.
É redondo e cinza.
-Não acredito!
Teresa logo se ajoelhou ao lado dele, e Thomas inclinou-se para também ter uma melhor visão.
-Aperta! .-Thomas disse, o olhar desviando-se para os Verdugos que agora tinham metade do corpo para fora.-Aperta logo, Chuck!
Não precisou de outro comando.
O garoto obedeceu.
Apertou ao pequeno botão com toda força que seu pequeno corpo permitia.
E, no mesmo instante, os Verdugos se silenciaram.
Ficaram imóveis.
Tudo ficou calmo.
Até que ouviram o som de uma porta deslizando para se abrir.
E algo caiu do teto.
Não pela passagem já aberta.
Mas diretamente do teto, bem no meio deles.
Teresa gritou.
Chuck se jogou no chão novamente.
E Thomas só conseguia olhar para todo aquele sangue.
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