— Parece que eles chegaram.
Kenny estava no topo da torre, observando o pai de Arthur entrar no edifício e sendo seguido por ao menos três de seus capangas. Enquanto isso, fumava um cigarro até o limite para tentar manter a mente calma, mesmo que algumas luzes fracas ao redor da área atraíssem sua atenção.
Ao jogar a bituca no chão e pisá-la com força, ouviu o rangido da porta de trás.
— Eles estão entrando na torre. — Disse Floch Foster, parando logo atrás da escadaria da pista de pouso do topo do prédio.
— Eles vieram com reforços, pelo visto. — Apontou Kenny.
Descendo a escadaria de três degraus vazados e se apoiando no corrimão repleto de tinta amarela, fitou Floch nos olhos para lhe dar uma ordem.
— Faça o que for possível para que o Jean Kirstein, ou ninguém da equipe dele venha até aqui. Os assuntos são entre mim e o senhorzinho, ouviu bem?
O Foster se curvou perante o criminoso.
— Entendido, Kenny Ackerman. Farei o que for necessário.
Endireitando a postura e mantendo os olhos vidrados no piso de concreto, o agiota então questionou.
— Antes de ir, repartiremos a grana como combinamos, certo? Cinquenta por cento para cada.
Ouviu apenas um grunhido vindo do outro homem.
— Veremos. Agora vá.
— Entendido.
Assim que Floch passou e fechou a porta de onde veio, Kenny retornou para a escada e se apoiou no corrimão, sentindo um incômodo em sua perna, mas fazendo o possível para conter a dor.
— Você me paga, Arthur de Silva.
◆
Após a porta atrás de Kleber ser fechada, ele forçou as mãos sobre a alça da mala, segurando-a com firmeza e aguardando as instruções do homem que o “escoltava”, aparentando estar prestes a apertar o gatilho no menor vacilo que desse.
O Silva engoliu em seco, observando com atenção a estrutura do interior do edifício.
O local se trata de um grande salão circular com área extensa no centro, iluminada por lâmpadas azuis e vermelhas circundando o grande vão vertical e cilíndrico.
Pilares grossos circundam a área central, e há números nas paredes indicando cada andar.
Ainda na região central, há dois elevadores cilíndricos de paredes transparentes que, a cada cinco andares para cima, se deparam com uma passarela de quatro pistas conectando os andares.
Já à direita de Kleber, há uma rota alternativa às cabines de vidro, sendo uma rampa curvilínea e ingrime.
Esta rota é muito mais longa e assim como os elevadores do centro, quem estivesse do andar de cima teria a vantagem de observar os andares inferiores.
Um detalhe, entretanto, é que essa rampa se assimila a um funil invertido.
Nos andares mais baixos ela é extensa, porém, quanto mais sobe, mais estreita a pista se torna.
Um nó se formou na garganta de Kleber, que a cada vez que tentava folgá-lo, sentia o ar faltar em seus pulmões. Do local em que estava, não conseguia erguer a cabeça o suficiente para encarar o último andar do observatório.
— Continue andando. — O homem armado tirou o Silva do transe, o empurrando e o fazendo resmungar baixo apenas para o próprio homem barbado ouvir.
Caminharam até a área central e pararam no elevador.
O homem armado apertou uma série de botões, aguardando que a porta fechasse e a cabine fosse puxada para cima. Após uma arrancada brusca que espantou o Silva, o elevador começou a subir, e Kleber, ainda que estivesse silencioso, se mantinha em alerta com tudo o que havia ao seu redor.
Constantemente os olhos vagavam pelo ambiente, buscando por alguma abertura para os companheiros de Jean entrarem nas instalações e começarem o plano formulado pelo Kirstein, e foi após chegar no décimo segundo andar que uma movimentação estranha foi notada na superfície.
Os homens do andar inferior rumaram para a entrada, e o saguão ficou vazio de repente.
“Eles já entraram?”
Foi em meio a essa subida que notou que duas pessoas se aproveitavam dos capangas distraídos para adentrar uma sala no sétimo andar. Aquela imagem lhe chamou a atenção, entretanto, tinha noção de que se movesse um músculo, causaria estranheza e o homem armado começaria uma onda de questionamentos sem fim, revelando as artimanhas arquitetadas pelos policiais.
Preferiu, portanto, se conter e apenas soltar ar pela fina abertura da boca.
Chegaram até o último andar que o elevador consegue ir, e as portas da cabine se abriram.
O homem armado encostou a ponta da arma nas costas de Kleber, o ordenando para continuar a caminhar.
Kleber assentiu, apertando as alças da maleta e andou a passos curtos para a frente em direção a uma pequena escadaria que leva aonde pensava ser os “discos” do observatório.
Subiram, e o capanga pegou um conjunto de chaves para destrancar a porta a frente deles, orientando que Kleber seguisse adiante.
O Silva franziu o cenho, com um calafrio descendo da cabeça os pés quase o paralisando, mas seguiu as ordens, temendo por sua vida.
Após a porta ser aberta, se viu em um corredor extenso e com duas portas de cada lado da parede, com uma lâmpada comprida no teto baixo iluminando o corredor. Se suas suspeitas estiverem certas, muitos corredores ali devem ser similares a este, então fez questão de observar mais atentamente ainda o seu arredor.
No final daquele caminho, se deparou com painel de vidro, aparentemente do tipo temperado, da altura da parede e até alcançando o teto, tendo uma visão panorâmica da cidade brilhante ao fundo.
Olhou para baixo, e o piso lhe fez sentir uma tontura inimaginável a ponto de se escorar nas paredes de vidro.
O piso era formado por uma trilha de vidro blindado e largo no centro, dividindo qualquer que seja aquele material utilizado no chão. Kleber pisou sobre o local, temendo causar uma rachadura no vidro devido ao seu peso, entretanto, sendo sincero, temia mais levar um tiro do que despencar daquela altura. Na queda, a morte seria instantânea, já o tiro, agonizaria até a alma sair do próprio corpo.
— Continue andando.
Novamente, o cano da arma foi colocado contra as costas, e Kleber se viu obrigado a seguir as ordens daquele bandido.
O caminhar de Kleber se tornou cada vez mais lento a medida que se afastava do corredor de onde veio, e já arrastando os sapatos pelo piso, ponderava que estratégia deveria seguir assim que o plano de Jean começar a ser executado.
Se prosseguirem com o plano de desativar as luzes, o que fazer? Ser agressivo e quebrar tudo pelo caminho? Ou aguardar que Jean chegue e o acuda? Não. A segunda opção é inviável considerando as circunstâncias atuais, porém, a primeira opção é quase suicídio garantido.
As luzes oscilaram de repente, fazendo os olhos de Kleber arderem pelo frenesi das lâmpadas. Aquele show de luzes foi mais que suficiente para desnortear o capanga atrás de Kleber, que recuou poucos passos e coçava os olhos, resmungando no processo.
Além disso, graças as nuvens bloqueando a luz sutil da lua, o local foi banhado em escuridão, a ponto de não enxergar absolutamente nada. Até as árvores que haviam sob os pés de Kleber se tornavam indecifráveis naquela escuridão noturna.
— Você não ouse se mexer ou eu aperto o gat-
O barulho de um trovão soou distante, e os primeiros pingos da chuva começaram a atingir as vidraças do corredor.
De forma ágil, Kleber aproveitou a cegueira do inimigo e avançou em direção a ele, o agarrando pela gola da vestimenta, segurando o braço direito, chutando a perna esquerda e o atirando de uma só vez no chão, provocando rachaduras no piso de vidro temperado.
Vendo o capanga no chão, o Silva só conseguia pensar, “espera, isso deu certo mesmo?!”
O homem caído resmungou pela pancada, e rodou para poder se apoiar no chão e logo nocautear Kleber. Este, entretanto, conseguiu ser tão rápido quanto o capanga.
De uma só vez, Kleber atingiu a cabeça alheia com a quina da maleta pelo menos três vezes antes de ver o homem despencar no chão novamente.
— Espero que isso seja o suficiente para te desacordar.
Com o capanga aparentemente desacordado, começou a tateá-lo para procurar algo como uma lanterna, e por sorte, sacou uma. A lançou no ar, a fazendo rotacionar, e a agarrou antes que caísse no chão.
— Ótimo. Agora é ir atrás do Arthur.
Assim que escutava os barulhos de mais passos se aproximando por trás, Kleber acelerava os seus para procurar alguma porta ou lugar para se esconder, todavia, aquele corredor curvilíneo apenas tinha a parede no seu lado esquerdo com todas as portas trancadas.
Sussurrou a medida que avançava:
— Tem que ter algum lugar que leve até o observatório. Tem que ter.
De repente, outro barulho lhe fez paralisar.
Aquilo era som de tiro?
— O Jean já deve ter entrado no prédio. — Arregalou os olhos, cambaleando para lá e para cá, incerto de onde ir. — Só espero que ele consiga chegar nesse andar. Não, ele vai demorar muito para chegar, e se virem que ele está desacordado, virão atrás de mim. De jeito nenhum que ficarei esperando por ajuda.
Um estrondo foi escutado, depois uma pancada intensa, seguida de tremor violento travaram todos os músculos de Kleber.
— Por favor, que isso não tenha sido o elevador e que ninguém tenha entrado nele.
Rangeu os dentes, continuando a vasculhar pelo corredor extenso.
Levantando sua lanterna novamente, apontou para a parede e se deparou com uma porta e uma janela ao lado dela.
Ao dar um pontapé na porta, se decepcionou ao descobrir que, para escapar daquela sala, precisava passar por duas colunas de mesas, e só então passaria para o próximo corredor visível através de uma janela e a luz oscilante do outro lado da área.
Andou e ao chegar no meio do caminho, Kleber escutou um rangido da porta de onde veio, não demorando a se jogar no chão e buscar por cobertura.
— Eu sei que você está aqui, Kleber! — O capanga gritou, logo fechando a porta e pisando forte sobre o piso da sala. Gemia de dor a medida que se aproximava do Silva.
Kleber engatinhou por entre as mesas, sempre observando que direção o inimigo estava tomando. Este pisava no chão com hesitação, quase tropeçando e aparentemente lutando contra a tontura da pancada desferida contra a cabeça.
O Silva continuou se arrastando no chão até se aproximar da porta para onde deveria ir. Devagar, girou a maçaneta para abrir a porta, e a empurrou de uma só vez, correndo em disparada dali.
— Aí está!
O inimigo se virou de uma só vez e apertou o gatilho da metralhadora, perfurando a parede.
— Droga, ele fugiu!
Kleber já havia passado por dois outros corredores, começando a apresentar sinais de exaustão no final do terceiro corredor. Se escondeu temporariamente até estabilizar a respiração, e procurou atentar sua audição para ter certeza de que direção o inimigo que o perseguia viria.
Foi quando, de repente, escutou um novo estrondo vir da esquerda do Silva, e ali, avistou uma porta azul, a qual avançou a toda velocidade. De uma só vez a empurrou e a derrubou.
Após ela ir ao chão, deu de cara com uma vidraça da altura da parede similar à do lado exterior do observatório, mas esta dava a visão do interior do prédio, o saguão inferior.
Lá, ele viu que a situação estava ainda mais desagradável.
Seus olhos vagavam de forma acelerada, procurando pelos policiais, mas devido à fumaça dos andares abaixo, aquela tarefa se tornava difícil.
— Cadê ele? Cadê ele? — Kleber avançou para a direita pelo corredor curvo, buscando pelos policiais. — Jean, onde é que você está?
Até que conseguiu avistar ele de relance, e esboçou um enorme sorriso ao encontrar o Kirstein.
O policial atravessou uma das passarelas para ir ao provável nono andar, e vinha acompanhado de seus colegas de equipe já conhecidos.
No entanto, algo que Kleber não entendeu foi porquê que Jean se separou e caminhava na direção oposta ao grupo dele.
“Não é possível que tenha se esquecido algo.”
◆
— Eu acho que vi o Floch. — O Kirstein afirmou com convicção.
— Onde? — Petra indagou, sua voz soando ofegante. — Não me diga que está tendo alucinações logo agora.
— Não estou. Eu sei que não estou vendo errado. — Ergueu o rosto para cima, observando as paredes de vidro no andar mais alto. — Ele passou por aquele corredor e entrou em alguma sala. Não posso permitir que ele alcance o Kleber de forma alguma.
Mike então se aproximou do Kirstein, segurando a alça da maleta do Kirstein.
— Vou carregar a maleta para você então. — Disse e a tomou para si. — Vá e dê um jeito nesse desgraçado!
Jean assentiu e saiu em uma arrancada.
— Obrigado pela motivação, Mike!
O policial avançou em direção à ponte que liga o elevador, que levava à escadaria do último andar.
Acelerando seus passos, olhou para cima para confirmar sua rota, e foi naquele exato momento que seu olhar cruzou com o de Floch, que o encarava com um olhar mortal e segurava um controle na mão esquerda.
— Não pode ser.
No segundo seguinte, um som de “tzz” foi ouvido embaixo de seus pés, e foi com aquele alarde que viu que precisava se apressar.
De repente, uma explosão chacoalhou a pista que Jean corria, e sem demora, ela começava a espalhar as rachaduras até seus pés e despencar logo em seguida.
Tinha apenas alguns segundos para chegar até o centro, a área circular do elevador, e avançou o mais rápido que pôde, entretanto, ao baixar a cabeça, notou que as rachaduras já lhe alcançavam.
— Não, não, não!
Quando estava prestes a alcançar o centro, o piso rachou e começou a despedaçar em uma velocidade assustadora.
No último segundo, Jean saltou e conseguiu se agarrar à beirada do que sobrou da passarela.
As mãos pareciam que escorregariam a qualquer momento daquela beirada, mas não parou de forçar a subir.
Após muito esforço colocado sobre seus braços e subir para o piso firme, se escorou na superfície de vidro do elevador e olhou para trás para buscar por seus companheiros de equipe. Daquele ângulo, estranhamente não consegui avistá-los. A fumaça, apesar de já alcançar aquela altura, não embaçava a visão o suficiente para impedir de enxergar o que havia nos andares das salas além das plataformas.
Olhou para cima, ofegante, avistando de relance a silhueta de Floch desaparecer atrás dos painéis de vidro.
— Logo vou alcançar vocês após dar um jeito no Floch.
Ao subir para o local, no segundo andar do piso de “disco” onde achou ter visto o Foster, chutou porta por porta para descobrir sua localização.
— Apareça, Floch! — Ele gritou, testando os limites de suas cordas vocais. — Eu sei que você está aí!
Em determinado momento, Jean chutou uma porta que dá uma sala vazia, apenas com as vidraças no teto expondo o céu amarronzado, misturado às gotas que caiam sobre os painéis.
Jean manteve-se em constantemente em movimento pelo local, com a mão apoiada no cabo de sua pistola guardada no coldre preso no cinto e buscando pelo inimigo em questão.
O que não contava, no entanto, é que aquele local carecia de iluminação. Nem a luz fraca da lua ocultada pelas nuvens iluminava o suficiente para poder ao menos enxergar as bordas das vidraças da sala.
“Isso só pode ser uma armadilha, e eu cai feio nela.”
Um relâmpago iluminou o local brevemente e seguido da luz intensa, um trovão soou abafando, acelerando ainda mais o batimento cardíaco já rápido do Kirstein.
Subitamente, a porta fechada de maneira violenta, espalhando o barulho estrondoso pela sala e deixando o policial ainda mais ansioso, que inconscientemente paralisou no meio da sala.
Não há escapatória, pelo que o Kirstein conseguiu enxergar.
— Eu só tenho uma pergunta a fazer para você.
Jean escutou vários sons cristalinos ecoarem no lado direito da sala, rapidamente mudando para o lado esquerdo e virou a cabeça na direção do som.
Agora concentrado, o policial notou que os ruídos se assemelharem a dezenas de cacos de vidro sendo estilhaçados a cada passo dado pela outra pessoa.
— Como pode ver, tudo que planejei saiu até melhor do que o esperado. — Floch falou em um tom esnobe, irritando o policial. — Não percebe, Jean, que está apenas atrapalhando os meus planos?
Jean levou a mão ao coldre, segurando imediatamente o cabo da sua arma.
— Eu só estou fazendo o que é certo.
— Até naquela noite em que o Arthur foi sequestrado, na noite em que me prendeu, aquilo estava nos meus planos. Se nem aquela cela abaixo do departamento conseguiu me segurar ou me impedir de me comunicar com o mundo, acha mesmo que você será capaz de me deter? Ha! Você achou evitou uma catástrofe, mas conseguiu causar outra. Meus parabéns, Jean Kirstein! Meus parabéns!
“Que moleque insolente!”
— Devo muito a você por ter me permitido executar meu plano com sucesso. — Os ruídos de cacos de vidro se estilhaçando voltaram a soar, agora pela direita. Jean se moveu naquela direção, seguindo o som. — Agora o Arthur está lá, preso, dando os últimos suspiros dele, em uma sala com tudo que ele mais odeia. Mofo, mau cheiro, baratas. Huff. Tudo de ruim que possa imaginar. Mas ele bem que merece apodrecer e virar restos para insetos se alimentarem, sabia?
Irritado pelas palavras hediondas do Foster, de uma só vez e sem dar oportunidade para Floch continuar a falar, Jean sacou o revólver e disparou para frente.
— Para que tanta pressa, Jean? — A voz alheia soou irônica, e agora, soou atrás do Kirstein, que se virou naquela direção, apontando a arma para frente. — Sabe que fazer o serviço muito rápido é quase sinônimo de serviço malfeito, não sabe?
— Eu devia ter metido uma bala na sua cabeça quando tive a oportunidade.
— E ainda diz que vai “proteger a população de Stohess” com essa atitude? Jean, conta outra, vai!
Floch falou, recarregando a própria arma, uma pistola de tiro triplo.
— Não ouse apertar o gatilho agora. Sabe que se for para me matar, que ao menos me proporcione um pouco de prazer antes disso. Eu não quero ter uma morte patética.
Jean, farto dos jogos de Foster, ditou.
— Então o que quer que faça então? Seja direto ao ponto.
— Vamos resolver isso à moda antiga, o que acha?
Após o anúncio de Floch, ele recuou alguns passos e logo o clarão de um raio iluminou a sala, expondo a silhueta de ambos os homens a frente um do outro. Floch continuou a falar com um tom de voz esnobe.
— Assim, apenas um de nós sairá dessa sala com vida. Temos as mesmas condições, armas e munição, então basta você decidir se vai aceitar um confronto até a morte. O que me diz?
— Finalmente algo bom vindo de você. — Um sorriso maligno se formou na face de Jean, não demorando a sentir uma onda de excitação tomar seu corpo como as chamas que se propagam em um incêndio. — Que faça desse confronto algo memorável, Floch Foster.
— Que vença o melhor.
◆
O pai de Arthur, ofegante após a longa corrida e despistar o capanga com sucesso, voltou para o corredor dos painéis de vidro que expõem o lado externo da construção e continuou a caçada pelo filho.
Ele necessitou urgentemente parar por alguns minutos. Uma dor incessante se instaurou em sua barriga, e sabia que se ousasse correr só por mais alguns segundos, o seu estômago ia virar do avesso.
Apoiando-se na parede, suspirou e expirou incontáveis vezes, controlando a tremedeira causada pelo pânico e endireitando os pensamentos turbulentos em sua mente.
Ao engolir em seco, avançou devagar rumo às outras portas que conseguiu encontrar.
Uma a uma, ele tentou puxar a maçaneta para destravar e entrar, entretanto, para seu desgosto, nenhuma estava aberta. Ou estavam trancadas, ou emperradas. Aquelas eram possibilidades plausíveis, segundo o Silva.
— Ele não deve estar muito longe. Algo me diz isso.
Subitamente, sentiu algo ser colocado em suas costas.
O material era frio, e o fez ter um sobressalto, que logo foi interrompido pela voz de um homem que lhe era familiar, e tal reconhecimento lhe gerou uma carranca evidente.
— Quem diria que eu encontraria logo você por aqui, Kleber de Silva.
O Silva soprou ar quente pela boca, e inclinou lentamente a cabeça para a esquerda, e em seguida, a íris vagou até o canto do olho, fitando então o dito cujo.
— O homem que ninguém suporta a sua presença de tão irritante que é.
Kleber virou a cabeça de uma só vez, encarando o jovem de cabelos ruivos e temperamento instável, empurrando o cabo de uma pistola contra as costas do Silva.
— Floch Foster, não é?
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