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História Fallen Angel - Jungkook & Min Yoongi - Turno do cemitério - História escrita por fanficsK-POP - Spirit Fanfics e Histórias
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História Fallen Angel - Jungkook & Min Yoongi - Turno do cemitério


Escrita por: fanficsK-POP

Notas do Autor


Desculpa a demora meninas. Aqui está mais um capítulo. Boa leitura💜

E já sabem essa fic terá muitos capítulos com mais de 3 mil palavras em cada um, pois quero terminar no capítulo 20, para n ficar muito longa.

Agr sim boa leitura kkk 💜

Capítulo 4 - Turno do cemitério


Fanfic / Fanfiction Fallen Angel - Jungkook & Min Yoongi - Turno do cemitério

Ahhh, terça-feira. Dia do waffle. Desde que conseguia se lembrar, terças estivais significavam café fresco, tigelas transbordando de framboesas com chantilly e uma interminável pilha de waffles crocantes e dourados. Até mesmo nesse verão, quando seus pais começaram a sentir um pouco de medo dela, o dia do waffle era uma coisa com a qual podia contar. Ela podia rolar na cama numa terça de manhã e, antes de se dar conta de qualquer outra coisa, sabia instintivamente que dia era.

Luce farejou lentamente, recuperando os sentidos, e então farejou mais uma vez, com mais vontade. Não, nada de cheiro da massa amanteigada, nada além do cheiro avinagrado da tinta descascando. Ela esfregou os olhos para espantar o sono e observou o quarto entulhado. 

Parecia a foto de "antes" em um daqueles programas de decoração. O interminável pesadelo que tinha sido a segunda-feira voltou à sua mente: se despedindo de seu celular, o incidente com o bolo de carne e os olhos cheios de ódio de Lisa no refeitório, o esbarrão com Jungkook na biblioteca. O que o deixava tão rancoroso, Luce não fazia ideia.

Ela se sentou e olhou pela janela. Ainda estava escuro; o sol não tinha nem começado a aparecer no horizonte. Nunca havia levantado tão cedo. Pensando bem, na verdade não se lembrava de ter visto ao sol nascer nunca. Para falar a verdade, alguma coisa sobre assistir o sol nascer a deixava nervosa; os momentos de espera, os momentos logo-antes-do-sol-aparecer-na-linha-do-horizonte, sentada na escuridão olhando para a fileira de árvores. 

Era o horário perfeito para as sombras.

Luce soltou um alto, saudoso e solitário suspiro, o que a deixou ainda mais solitária e com mais saudades de casa. O que ia fazer com as três horas que tinha entre o raiar do dia e a primeira aula? “Raiar do dia”, por que essas palavras estavam soando familiares em seus ouvidos? Ah. Droga. Ela deveria estar no castigo.

Luce se apressou para sair da cama, tropeçando na mochila ainda cheia, e puxou mais um suéter preto sem graça do alto da pilha de suéteres pretos sem graça. Levou o mesmo jeans do dia anterior e estremeceu ao ver o reflexo desastroso do cabelo amassado, tentando penteá-lo com os dedos enquanto corria porta afora.

Ela estava sem fôlego quando chegou aos portões de ferro do cemitério, de pouco mais de um metro de altura e com desenhos intrincados. Estava engasgando com o sufocante cheiro de lixo podre e se sentindo sozinha demais com seus pensamentos.

Onde estava todo mundo? A ideia deles de "raiar do dia" era diferente da dela? Luce olhou o relógio: já eram 6h15.

Toda a instrução que recebera era para se encontrarem no cemitério, e Luce tinha quase certeza de que essa era a única entrada. Ficou parada na entrada, onde o asfalto rústico do estacionamento dava lugar a um terreno pedregoso cheio de ervas daninhas. Ela viu um dente-de-leão solitário e passou pela sua cabeça que uma Luce mais jovem o teria arrancado, feito um pedido e então o soprado. Mas os pedidos da Luce atual eram pesados demais para algo tão leve.

Os portões delicados eram tudo que separava o cemitério do estacionamento, o que era digno de nota em uma escola que tinha tanto arame farpado em todos os outros lugares. Luce passou a mão pelos portões, delineando com os dedos os delicados padrões florais. 

Os portões deviam datar da época da Guerra Civil a que Jisoo estava se referindo, quando o cemitério costumava ser o repouso final de soldados mortos em combate. Quando a escola ao lado não era lar de psicopatas instáveis. Quando o lugar todo era bem menos encoberto e sombrio.

Era estranho, o resto do campus era liso como uma folha de papel, mas, de alguma maneira, o cemitério tinha uma forma côncava. De onde estava ela podia ver o declive da vasta região à frente. Fileira após fileira de lápides simples se alinhavam na ladeira como espectadores numa arena.

Mas, em direção ao centro, no ponto mais baixo do cemitério, o caminho pelas lápides se retorcia num labirinto de túmulos maiores e esculpidos, estátuas de mármore e mausoléus. Provavelmente eram dos generais da Confederação ou apenas para os soldados de famílias ricas. Pareciam ser lindas quando vistas de perto. Mas dali, o próprio peso delas parecia puxar o cemitério para baixo, quase como se o lugar inteiro estivesse sendo sugado por um ralo.

Passos às suas costas. Luce se virou e viu uma figura atarracada vestida de preto saindo de trás de uma árvore. Eunji! Luce se segurou para não jogar seus braços em volta da garota. Nunca havia ficado tão feliz em ver alguém, apesar de ser difícil acreditar que Eunji também tivesse sido mandada para o castigo.

— Não está atrasada? — Eunji perguntou, parando alguns centímetros na frente de Luce e balançando a cabeça para ela como se sentisse pena da garota nova.

— Estou aqui há dez minutos — respondeu Luce. — Não é você que está atrasada?

Eunji deu um sorrisinho.

— Claro que não, eu só levanto cedo. Nunca vou para o castigo. — Ela deu de ombros e ajeitou os óculos roxos no nariz. — Mas você deveria estar lá, junto com outras cinco almas infelizes que provavelmente estão ficando com mais raiva a cada minuto esperando no monólito. — Ela ficou na ponta dos pés e apontou para a direção atrás de Luce, para a maior estrutura de pedra que se erguia na parte mais funda do cemitério. Se Luce apertasse os olhos, podia distinguir um grupo de figuras negras agrupadas na base.

— Eles só disseram que deveria encontrá-los no cemitério. — reclamou Luce, já se sentindo derrotada. — Ninguém me disse onde ir.

— Bem, eu estou dizendo agora: monólito. Agora desça até lá — disse Eunji. — Não vai fazer amigos atrapalhando a manhã deles ainda mais.

Luce engoliu em seco. Parte dela queria pedir a Eunji para lhe mostrar o caminho. Dali de cima, parecia um labirinto, e Luce não queria se perder num cemitério. De repente, teve aquela sensação nervosa de estar longe de casa, e sabia que isso só ia piorar lá. Ela estalou os dedos, tentando passar o tempo.

— Luce? — Eunji chamou, dando um leve empurrão em seus ombros. — Você ainda está parada aí.

Luce tentou dar a Eunji um bravo sorriso de agradecimento, desceu apressadamente o declive até o centro do cemitério.

O sol ainda não tinha nascido, mas estava quase, e esses últimos momentos da madrugada eram sempre os que mais a assustavam. Luce passou correndo pelas fileiras de lápides simples.

Algum dia elas provavelmente estiveram eretas, mas agora estavam tão velhas que a maioria se inclinava para um lado ou para o outro, fazendo o lugar todo parecer algum tipo de jogo de dominós mórbido.

Ela ensopou os All Star pretos em poças de lama encobertas por folhas mortas. Quando tinha passado pelos túmulos simples e chegado aos mais ornamentados, o chão tinha mais ou menos se nivelado, e ela estava totalmente perdida. Parou de correr para recuperar o fôlego. Vozes. Se conseguisse se acalmar, podia ouvir as vozes.

— Mais cinco minutos, e tô fora — disse um garoto.

— Pena que sua opinião não interessa, Sr. Kim. — Uma voz geniosa, que Luce reconheceu de alguma de suas aulas ontem. Srta. Sun.

Depois do incidente com o bolo de carne, Luce tinha chegado atrasada na aula dela e a rígida e gorda professora de ciências não teve exatamente a melhor impressão de Luce.

— A não ser que alguém queira perder seus privilégios sociais dessa semana — ouviram-se grunhidos entre os túmulos — vamos todos esperar pacientemente, como se não tivéssemos nada melhor para fazer, até a Srta. Brandon decidir nos agraciar com sua presença.

— Estou aqui — arfou Luce, finalmente dando a volta em uma gigantesca estátua de querubim.

A Srta. Sun parou com as mãos nos quadris, usando um vestido preto solto parecido com o do dia anterior. O cabelo castanho fino estava grudado na cabeça e os tediosos olhos castanhos só revelaram irritação com a chegada de Luce. Biologia sempre fora difícil para Luce e, até agora, ela não estava fazendo nenhum favor a suas notas na aula da Srta. Sun.

Atrás da professora estavam Jisoo, Lisa e Taehyung, de pé em volta de um círculo de pedestais que circulavam uma grande estátua central de um anjo. Comparada às outras estátuas, essa parecia mais nova, mais limpa e maior. E encostado numa das pernas esculpidas do anjo, ela quase não tinha percebido, estava Jungkook.

Ele estava usando a mesma jaqueta de couro velha e a echarpe vermelha do dia anterior. Luce analisou os cabelos longos e loiros desarrumados, que parecia não ter sido penteado depois de acordar... O que a fez começar a pensar em como Jungkook era dormindo... O que a fez corar tanto, que quando seus olhos desceram do cabelo dele até seus olhos, ela se sentiu completamente humilhada.

A essa altura ele já estava olhando feio para ela.

— Sinto muito — soltou. — Não sabia onde era para a gente se encontrar. Eu juro...

— Poupe-me — disse a Srta. Sun, arrastando um dedo através da garganta. — Já desperdiçou tempo demais, de todo mundo. Agora, aposto que se lembra de qualquer que seja a indiscrição desprezível que cometeu para estar aqui. Pode refletir sobre isso durante as próximas duas horas enquanto trabalha. Formem duplas. Já conhecem o esquema. — Ela olhou para Luce e soltou a respiração. — OK, quem quer uma protegida?

Para o horror de Luce, todos os outros alunos baixaram os olhos. Mas então, depois de um torturante minuto, um quinto aluno apareceu virando na beirada do mausoléu.

— Eu quero.

Yoongi. Sua camisa preta de gola V ficava justa em seus ombros largos. Ele era quase trinta centímetros mais alto que Taehyung, que deu um passo para o lado quando Yoongi passou por ele e foi na direção de Luce. 

Seus olhos estavam colados nos dela enquanto andava para frente, se movimentando com suavidade e confiança, tão confortável nesse reformatório quanto Luce estava desconfortável. Parte dela queria desviar os olhos, porque o jeito que Yoongi a encarava na frente de todo mundo era embaraçoso. Mas, por alguma razão, estava hipnotizada. Ela não conseguia afastar o olhar, até Jisoo se colocar entre eles.

— Pedi primeiro — falou. — Pedi ela primeiro.

— Não pediu, não — retrucou Yoongi.

— Pedi sim, você é que não me ouviu, do seu poleiro esquisito ali atrás. — Jisoo falava sem parar. — ... Eu quero ficar com ela.

— Eu... — Yoongi começou a responder.

Jisoo inclinou a cabeça em expectativa. Luce engoliu em seco. Será que ele ia virar e dizer que ele também queria ficar com ela? Não podiam simplesmente deixar para lá? Ficar de castigo num grupo de três?

Yoongi afagou o braço de Luce.

— Falo com você depois, OK? — disse, como se fosse uma promessa que ela tivesse pedido para ele fazer.

Os outros alunos levantaram-se dos túmulos onde estavam sentados e foram até um barracão. Luce os seguiu, grudada em Jisoo, que sem dizer nada entregou a ela um ancinho.

— Então. Quer o anjo vingador, ou os carnudos amantes abraçados?

Ninguém comentou os acontecimentos de ontem ou o bilhete de Jisoo, e Luce de alguma maneira sentiu que não devia tocar no assunto agora. Em vez disso, ela olhou para cima e se deparou com duas estátuas gigantescas cercando-a. 

A mais perto dela parecia um Rodin. Um homem e uma mulher nus entrelaçados num abraço. Ela estudara escultura francesa na Dover, e sempre achara as obras de Rodin as mais românticas. Mas agora era difícil olhar os amantes abraçados sem pensar em Jungkook.

Jungkook. Que a odiava. Se precisava de mais provas disso depois de ele basicamente fugir da biblioteca ontem à noite, era só se lembrar do olhar feio que disparara para ela naquela manhã.

— Cadê o anjo vingador? — perguntou a Jisoo com um suspiro.

— Boa escolha. Por aqui. — Jisoo levou Luce até uma maciça escultura de mármore de um anjo salvando a terra do choque de um raio. Pode ter sido uma obra interessante, na época em que fora esculpida. Mas agora parecia apenas velha e suja, coberta de lama e musgo.

— Não entendo — assumiu Luce. — O que a gente deve fazer?

— Esfrega-esfrega-esfrega — disse Jisoo, quase cantando. — Gosto de fingir que estou dando um banhinho neles. — Com isso, ela escalou o anjo gigante, passando as pernas por cima do braço da estátua que segurava o relâmpago, como se aquilo fosse um resistente carvalho.

Morrendo de medo de a Srta. Sun achar que ela estava querendo mais problemas, Luce começou a trabalhar com seu ancinho em volta do pedestal da estátua. Ela tentou tirar o que parecia uma pilha interminável de folhas molhadas.

Três minutos depois, seus braços a estavam matando. Definitivamente não estava vestida adequadamente para aquele tipo de trabalho sujo braçal. Luce nunca fora mandada para o castigo na Dover mas, pelo que já tinha escutado, lá ele resumia-se a preencher uma folha de papel com "Nunca mais vou copiar trabalhos da Internet" algumas centenas de vezes.

Aquilo era um abuso. Especialmente quando tudo que fizera fora esbarrar acidentalmente em Lisa na lanchonete. Ela estava tentando não julgar ninguém ali rápido demais, mas tirar lama dos túmulos de gente que estava morta há mais de um século? Luce totalmente odiava sua vida naquele momento.

Então uma fresta de luz do sol finalmente atravessou a copa das árvores e de repente havia cor no cemitério. Luce se sentiu instantaneamente melhor. Ela podia enxergar a mais de três metros adiante. Podia enxergar jungkook... trabalhando ao lado de Lisa.

O coração de Luce parou. A sensação de leveza desapareceu.

Ela olhou para Jisoo, que lhe lançou um olhar de simpatia, mas continuou trabalhando.

— Ei — Luce sussurrou alto.

Jisoo pôs um dedo nos lábios, mas chamou Luce para subir ao lado dela. Com muito menos graça e agilidade do que Jisoo, Luce agarrou o braço da estátua e balançou-se para cima do pedestal.

Quando percebeu que não ia se esborrachar, sussurrou:

— Então... Jungkook é amigo de Lisa?

Jisoo bufou.

— Não, de jeito nenhum, eles se odeiam — respondeu rapidamente, e então parou. — Por que está perguntando?

Luce apontou para os dois, não se esforçando nem um pouco para tirar folhas de cima de sua sepultura. Estavam perto um do outro, apoiados em seus ancinhos, entretidos numa conversa que Luce desesperadamente queria poder ouvir.

— Eles parecem amigos para mim.

— É o castigo — explicou jisoo secamente. — Somos obrigados a fazer duplas. Por acaso acha que Taehyung e o tarado do banheiro são amigos? — Ela apontou para Taehyung e Yoongi. Eles pareciam estar discutindo sobre a melhor maneira de dividir o trabalho na estátua dos amantes. — Amigos do castigo não significa amigos da vida real.

Jisoo olhou de volta para Luce, que podia sentir seu rosto denunciar a frustração, apesar de se esforçar muito para parecer neutra.

— Olha, Luce, eu não quis dizer... — A voz sumiu. — Tirando o fato de que você me fez perder uns bons vinte minutos da minha manhã, não tenho nada contra você. Na verdade, acho que é meio interessante. Meio natural. Quero dizer, não sei o que você estava esperando em termos de amiguinhos para sempre aqui na  Talaghan Cheonsa. Mas deixe-me ser a primeira a explicar: simplesmente não é tão fácil assim. As pessoas estão aqui porque têm bagagem. Estou falando de gente que precisa pagar pelo excesso de bagagem no check-in. Sacou?

Luce deu de ombros, se sentindo envergonhada.

— Foi só uma pergunta.

Jisoo deu um risinho silencioso.

— Está sempre tão na defensiva? Que diabos aprontou pra vir pra cá, afinal?

Luce não estava com vontade de falar no assunto. Talvez Jisoo tivesse razão; era melhor não ficar tentando fazer amigos. Luce desceu e voltou a atacar o musgo na base da estátua.

Infelizmente, Jisoo ficou intrigada. Ela pulou e colocou o ancinho em cima do de Luce, prendendo-o no lugar.

— Ahhh, me conta, me conta, me conta — provocou.

O rosto de Jisoo estava tão perto do de Luce. Fazendo a garota se lembrar do dia anterior, agachando-se sobre Jisoo depois da convulsão. Elas dividiram algo ali, não? E parte de Luce queria muito poder conversar com alguém. Tinha sido um verão tão longo e sufocante só com seus pais... Ela suspirou, descansando a testa no cabo de seu ancinho.

Uma sensação salgada e nervosa encheu sua boca, mas ela não conseguia engolir. A última vez que havia revelado esses detalhes tinha sido por causa de um mandado judicial. Luce poderia esquecer aquilo rapidamente mas, quanto mais Jisoo a encarava, mais claramente as palavras voltavam, e mais perto ela ficava de contar a verdade.

— Eu estava com um amigo uma noite — começou a explicar, respirando longa e profundamente. — E uma coisa horrível aconteceu. — Ela fechou os olhos, rezando para que a cena não se repetisse por baixo de suas pálpebras. — Houve um incêndio.

Eu consegui fugir... mas ele não.

Jisoo bocejou, muito menos horrorizada pela história do que Luce.

— De qualquer maneira — Luce continuou —, depois eu não conseguia lembrar os detalhes, como aquilo tinha acontecido. O que eu conseguia lembrar, o que contei para o juiz, de qualquer forma, acho que pensaram que eu era louca. — Luce tentou sorrir, mas pareceu forçado.

Para a surpresa de Luce, Jisoo apertou seu ombro. E, por um segundo, seu rosto pareceu realmente sincero. Então voltou a exibir o velho sorrisinho irônico.

— Somos todas tão incompreendidas, não somos? — Ela cutucou a barriga de Luce. — Sabe, Taehyung e eu estávamos comentando outro dia mesmo que não temos nenhum amigo piromaníaco. E todo mundo sabe que é preciso um bom piro para aprontar uma brincadeira de reformatório boa o suficiente para valer o esforço. — Ela já estava tramando. — Taehyung pensou que talvez aquele outro garoto novo, Felix, fosse servir, mas eu prefiro apostar em você. Temos que pensar em algo juntos, um dia desses.

Luce engoliu em seco. Não era piromaníaca. Mas já estava cansada de falar de seu passado; não tinha nem vontade de tentar se defender.

— Ah, espere só até Taehyung ficar sabendo — disse Jisoo, largando o ancinho no chão. — Você é, tipo, um sonho virando realidade.

Luce abriu a boca para protestar, mas Jisoo já tinha saído de perto. Perfeito, pensou Luce, ouvindo o barulho dos sapatos de Jisoo esguichando na lama. Agora era uma questão de minutos até a história se espalhar pelo cemitério e chegar aos ouvidos de Jungkook.

Sozinha mais uma vez, ela levantou os olhos para a estátua. Apesar de já ter tirado uma enorme pilha de musgo e folhas, o anjo parecia mais sujo do que nunca. Essa tarefa parecia tão sem sentido... Ela duvidava que alguém fosse visitar aquele lugar, de qualquer maneira. Também duvidava que qualquer um dos outros alunos de castigo ainda estivessem trabalhando.

Seu olhar por acaso encontrou jungkook, que estava trabalhando. Eficientemente usava uma escova para esfregar o mofo de uma inscrição de bronze num dos túmulos. Ele tinha até enrolado as mangas do suéter, e Luce podia ver os músculos se tensionando enquanto Jungkook trabalhava. Ela suspirou e não pôde evitar, apoiou seu cotovelo no anjo de pedra para observá-lo.

Ele sempre trabalhou tão duro.

Luce rapidamente balançou a cabeça. De onde aquilo tinha vindo? Ela não fazia ideia do que significava. E, ainda assim, aquele pensamento acontecera. Era o tipo de frase que às vezes se formava em sua cabeça um pouco antes de cair no sono.

Besteiras sem sentido que ela nunca conseguia relacionar com nada fora de seus sonhos. Mas ali estava ela, completamente acordada.

Precisava se controlar com essa história de Jungkook. Conhecia ele há um dia e já sentia que se encaminhara para um lugar muito estranho e pouco familiar.

— Provavelmente é melhor ficar longe dele — uma voz fria disse às suas costas.

Luce se virou e deu de cara com Lisa, na mesma pose em que a vira ontem: mãos nos quadris, as narinas com piercing se abrindo. Eunji tinha lhe explicado que a surpreendente regra da  Talaghan Cheonsa que permitia piercings faciais vinha da relutância do próprio diretor em tirar o brinco de diamante da orelha.

— De quem? — perguntou a Lisa, sabendo que parecia uma idiota.

Lisa revirou os olhos.

— Apenas confie em mim quando digo que se apaixonar por Jungkook seria uma ideia muito, muito ruim.

Antes que Luce pudesse responder, Lisa já não estava mais ali. Mas Jungkook, quase como se tivesse escutado seu nome, estava olhando diretamente na sua direção. E em seguida estava andando para lá.

Ela sabia que o sol se escondera atrás de uma nuvem. Se conseguisse desviar os olhos dele, poderia olhar para o alto e ver por si mesma. Mas não podia levantar os olhos, não podia desviar o olhar, e, por algum motivo, tinha que apertar os olhos para vê-lo. Era quase como se Jungkook estivesse emanando sua própria luz, como se a estivesse cegando. Um zumbido oco encheu seus ouvidos e os joelhos começaram a tremer.

Luce queria pegar seu ancinho e fingir que não tinha visto que Jungkook estava vindo. Mas já era tarde demais para dar uma de despreocupada.

— O que ela disse pra você? — perguntou ele.

— Hum — ela enrolou, procurando em seu cérebro uma mentira viável. Não achou nada, então estalou os dedos.

Jungkook segurou suas mãos.

— Odeio quando faz isso.

Luce se afastou instintivamente. O toque de suas mãos tinha sido tão fugaz e ainda assim sentiu o rosto corar. Ele quis dizer que aquilo o irritava, que qualquer pessoa estalando os dedos o irritava, certo? Porque dizer que odiava quando ela fazia aquilo implicava que já a vira fazendo aquilo antes. E isso era impossível. Ele mal a conhecia. Então por que isso parecia uma discussão que já havia acontecido antes?

— Lisa me disse para ficar longe de você — respondeu ela finalmente.

Jungkook inclinou a cabeça de um lado para o outro, parecendo estar pensando no assunto.

— Ela provavelmente está certa.

Luce estremeceu. Uma sombra deslizou por cima deles, escurecendo o rosto do anjo por tempo suficiente para preocupar Luce. Ela fechou os olhos e tentou respirar, rezando para que Jungkook não notasse que havia algo de estranho. Mas o pânico estava crescendo dentro dela. Sua vontade era sair correndo, mas não podia. E se se perdesse no cemitério?

Jungkook seguiu a direção de seu olhar até o céu.

— O que foi?

— Nada.

— E então, você vai fazer isso? — perguntou ele, cruzando os braços sobre o peito, desafiando-a.

— O quê? — confundiu-se ela. Correr?

Jungkook deu um passo à frente. Agora estava a menos de trinta centímetros de distância. Luce prendeu a respiração e manteve seu corpo completamente imóvel. E esperou.

— Vai ficar longe de mim?

Quase parecia um flerte.

Mas Luce estava completamente sem fala. Sua testa estava molhada de suor e ela apertou as têmporas, tentando retomar o controle sobre seu corpo, tentando retomá-lo do controle dele. Luce estava totalmente despreparada para flertar de volta. Isto é, se o que ele estava fazendo era realmente isso.

Ela deu um passo para trás.

— Acho que sim.

— Não ouvi — sussurrou ele, erguendo uma sobrancelha e dando mais um passo para a frente.

Luce recuou de novo, para mais longe dessa vez. Ela praticamente colidiu com a base da estátua e pôde sentir o pé de pedra áspera do anjo arranhando suas costas. Uma segunda sombra, mais escura e mais fria, voou por sobre suas cabeças. Podia jurar que Jungkook estremeceu junto com ela.

E então o rosnar alto de algo pesado assustou a ambos. Luce se sobressaltou quando o topo da estátua de mármore oscilou acima deles, como um galho de árvore balançando ao vento. Por um segundo, parecia estar suspensa no ar.

Luce e Jungkook ficaram parados, olhando o anjo. Ambos sabiam que estava caindo. A cabeça do anjo baixou lentamente em direção a eles, como se estivesse rezando, e então toda a estátua ganhou velocidade enquanto tombava para o chão. Luce sentiu a mão de Jungkook envolvendo sua cintura no mesmo instante, com força, como se soubesse exatamente onde ela começava e onde terminava. 

A outra mão cobriu sua cabeça e forçou-a a se abaixar bem na hora que a estátua tombou por cima deles, caindo onde estavam parados. Ela caiu com um som alto e oco, a cabeça na lama e os pés ainda em cima do pedestal, deixando um pequeno triângulo vazio, onde Jungkook e Luce estavam agachados.

Os dois arfavam, nariz com nariz, Jungkook com os olhos assustados. Entre seus corpos e a estátua havia talvez apenas alguns centímetros de espaço.

— Luce? — ele sussurrou.

Tudo que ela conseguiu fazer foi assentir.

Os olhos dele se estreitaram.

— O que você viu?

Então a mão de alguém apareceu e puxou Luce do espaço sob a estátua. Ela sentiu um arranhão nas costas e então uma lufada de ar alcançou seu rosto. Viu a vacilante luz do sol novamente. Os alunos do castigo estavam todos boquiabertos em volta, exceto pela Srta. Sun, que os olhava com raiva, e Yoongi, que ajudou Luce a se levantar.

— Você está bem? — perguntou, analisando-a em busca de arranhões e machucados e tirando um pouco de terra de seus ombros. — Vi a estátua desabando e corri para tentar impedi-la, mas já era... Você deve estar tão assustada.

Luce não respondeu. Assustada era apenas um décimo de como se sentia.

Jungkook, já de pé, nem olhou para trás para ver se ela estava bem ou não. Apenas saiu andando.

Luce ficou de boca aberta ao vê-lo ir embora, ao perceber que ninguém mais parecia se importar que ele tivesse simplesmente dado o fora.

— O que você fez? — perguntou a Srta. Sun.

— Não sei. Num minuto, estávamos paradas ali — Luce olhou de relance para a Srta. Sun — hum, trabalhando. E logo depois a estátua... caiu.

A professora se abaixou para examinar o anjo despedaçado. A cabeça tinha se partido bem no meio. Ela começou a resmungar alguma coisa sobre as forças da natureza e pedras antigas.

Mas foi uma voz no ouvido de Luce que permaneceu com ela, mesmo depois de todo mundo ter voltado ao trabalho. Foi Lisa, apenas centímetros atrás de seu ombro, que sussurrou:

— Pelo visto alguém devia começar a ouvir os meus conselhos.


Notas Finais


👼. Então oque acharam? Lembrem-se é de extrema importância o feedbacks de vcs minhas bebês.

👼. Beijo até o próximo capítulo. 🫶💜


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