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História Fall(ing) - Seis - História escrita por antumbra - Spirit Fanfics e Histórias
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História Fall(ing) - Seis


Escrita por: antumbra

Notas do Autor


ay último capitulo

mais uma explicação pq sinto q dessa vez talvez precise:
não tem quebra de tempo de anos dessa vez. antes da primeira quebra de tempo ([...]) os dois tem 17, e depois também. isso é só o que aconteceu no fim do capítulo passado aos olhos do gon.
por falar em olhos do gon, é o ponto de vista dele.

e nanika é uma gata nessa fanfic. então quando o Killua se refere a ela como "gata", é o felino mesmo.

valeu💞

Capítulo 6 - Seis


Gon acordou no meio da noite com algo colado em suas costas. Não se moveu, por medo do que estaria acontecendo — depois de anos vendo filmes de terror com Killua, era óbvio que ficasse com algumas sequelas —, mas, assim que seu estado grogue passou, notou que aquilo mexendo e arrastando-se contra o tecido de seu pijama era um pé, escutou a porta abrir e fechar — as dobradiças rangeram —, e chegou na conclusão de que não passava de uma das duas pessoas que estava dividindo o quarto naquela noite.

Levantou-se do colchão rapidamente, olhando ao redor. Encarando a cama, apenas viu Alluka dormindo ali, tranquila, babando sobre o travesseiro — completamente enrolada nos lençóis —, com o lugar que antes Killua ocupava vazio.

Passou um tempo fixado no espaço, tentando afastar o sono e entender o que estava acontecendo. Quando se tocou, um trovão soou e um lampejo de luz tomou o lugar — iluminando completamente a irmã do garoto.

Aproveitou isso para sair do quarto em silêncio.

Iria interpelar Killua — perguntar-lhe o motivo de estar tão sonolento aqueles dias.

Assim que desceu as escadas, escutou uma batida alta vinda da cozinha, e se apressou até o lugar a tempo de escutar vozes.


— Não. Não- nada disso. Somos amigos. — Ouviu Killua falar. — Só amigos.


Cogitou entrar, perguntar-lhe sobre o quê diabos estava falando — ou porque estava falando sozinho — quando a voz de Mito impediu-lhe, dizendo com firmeza:


— Vocês usam fantasias de casal, dormem abraçados, passam dias agarrados vendo filmes de romance- e o jeito que vocês se olham e conversam, então? Entrega tudo. Você não precisa mentir para mim, Killua, eu sei que tem alguma coisa entre vocês dois.


Fez uma careta. Já havia dito a ela milhares de vezes — justificado milhares de vezes — desde que tinha saído do armário que não tinha absolutamente nada entre si e ele — não era porque nenhum dos dois era hétero que iriam se relacionar dessa forma, chegava a ser ofensivo; o que tinham era apenas camaradagem, nada mais, nada menos.

Era frustrante que ela estivesse falando sobre isso com ele sem nem lhe questionar primeiro.


— Eu juro que é a verdade. Juro. — Então, escutou um suspiro, e pensou que, talvez, deveria aparecer e dizer para ela não fazer mais isso, porque Killua deveria estar se contorcendo de vergonha ao ter que explicar. — Eu queria estar mentindo e queria estar namorando com ele ou algo do tipo, mas não estou. Talvez seja isso que você ache que tem entre nós. Eu quero algo.


Isso lhe deu certeza absoluta de que deveria permanecer em seu lugar. Mesmo se não tivesse, não conseguiria se mexer. Paralisou ali.

Parecia que seu cérebro finalmente tinha pifado.


— Ah. Talvez. Só que o Gon definitivamente tem culpa nisso também.


Nem ao menos conseguiu processar o que ela tinha dito — tirar um tempo para levar como uma ofensa, porque conhecia sua tia bem o suficiente para saber que aquilo era uma reclamação indireta contra si.

Apenas escutou passos, e seu coração agitou como se estivesse em uma perseguição — a adrenalina viajando por sua corrente sanguínea em uma velocidade surpreendente —, entretanto, foi apenas isso. Porque ainda não tinha conseguido fazer seu corpo obedecer àquele urge que tinha de correr, se esconder e fingir que isso nunca tinha acontecido, e nenhum de seus membros respondia ao seu cérebro ou aos impulsos nervosos que enviava.


Foi apenas piscar que viu Mito em sua frente, ela lhe encarou por alguns segundos — Gon finalmente conseguiu fazer algo: negar com a cabeça freneticamente, pedindo que não contasse a ele que estava ali —, antes dela rir, alto, apenas para virar-se em direção da cozinha — nesse momento, sentiu seu estômago gelar —, e falar:


— E, Killua, querido... — Ela sorriu ainda mais, e Gon podia jurar que havia desviado o olhar para si momentaneamente. — Eu não acho que, entre vocês, você seja o único querendo alguma coisa.


Mito passou por si — como se nada tivesse acontecido, esbanjando uma calmaria invejável —, deu dois tapinhas em seu ombro e continuou andando.

Gon conseguia ouvir seus passos subindo as escadas.


Finalmente pôde raciocinar, perceber o que estava acontecendo, fazer sentido com o que havia acabado de escutar.

Killua queria namorar. E não com qualquer um; não, queria namorar consigo.

Killua Zoldyck queria namorar Gon Freecss.

Seu melhor amigo — de longa data — queria lhe namorar.

N-a-m-o-r-a-r. Ou, ao menos, "algo do tipo".

Iria cair. Sentia suas pernas enfraquecendo, todas as engrenagens em sua mente mexendo vigorosamente, e, se tentasse o suficiente, provavelmente seria capaz de ouvir seus neurônios em chamas correndo para todos os lados e gritando em meio ao mais puro desespero.


Quando escutou um banco sendo arrastado, enfim conseguiu reagir: correu. Correu para seu quarto, jogou-se no colchão, enfiou-se debaixo das cobertas rapidamente e tentou controlar sua respiração.


Estava tão confuso. Apenas queria gritar o mais alto e forte que seus pulmões permitiam — e, por partes, o fez, sem tanta força, mas fez; enfiou sua cabeça no travesseiro e soltou um chiado fino, completamente abafado.

Não sabia se aquela ansiedade correndo até a ponta de seus pés — sendo sentida em cada célula de seu ser —, era algo positivo ou não. Porque uma parte de si gritava em um misto de felicidade e confusão que estranhava, sem saber a fonte, outra apenas gritava enervada e assustada pela situação.

Não fazia a menor ideia do que estava acontecendo naquele momento.


Depois de um tempo, a porta abriu, e Gon sentiu o mesmo peso afundando seu colchão mais uma vez. Prendeu o fôlego e apertou a fronha do travesseiro, a fim de impedir aquele urge de falar alguma coisa.

Assistiu o peso sumir, ouviu Killua deitar novamente.


Não conseguiu mais dormir durante essa noite.


[...]


Fazia alguns dias que as chuvas tinham parado e o sol raiava mais forte do que deveria para aquela época do ano. Mas Gon não conseguia nem aproveitar as nuvens branquinhas colorindo aquele céu tom de sorvete de chiclete ou mesmo a brisa outonal batendo em seu rosto. Era uma sexta-feira. Durante a semana contou, não tão ansioso quanto deveria, os dias para sábado — o último sábado daquele outono; aquele em que iriam para o festival —, levando em conta que, até o dia atual, tinha arranjado algum jeito — então desconhecido — de ignorar as falas de Killua.


Mas faziam mais que só alguns dias que estava confuso. Tudo começou um curto período antes do Halloween, quando algo que deveria ser normal — ver Killua sem camisa, já que, desnecessário dizer, havia acontecido incontáveis vezes — tinha lhe feito travar por alguns segundos. E prolongou-se até o dia em que dormiram juntos, apenas para terminar — momentaneamente — na noite em que caminhou com ele até sua casa, porque, após voltar para o próprio quarto, deitou-se em sua cama e repensou em suas ações por horas até chegar na conclusão de que queria ter sido beijado naquele momento.

Agora estava ainda mais confuso, já que isso significava que apenas saber o que quis não era mais o suficiente — queria dizer que precisava se esforçar para descobrir se aquele desejo acabava ali ou se estendia até "namoro".

A fala do garoto e de sua tia perduravam em sua mente a cada pequena ação que tomava, e pensava que, talvez, estava se estressando um pouco mais do que deveria para algo que, em tese, era simples. Mas nem se tivesse visto todos os romances do mundo estaria preparado para isso.


— Você perdeu. De novo — Killua falou, sorrindo, e aprumou-se sob o sofá do próprio quarto. — Eu sei que sou bom, mas algo me diz que tem alguma coisa errada, porque hoje você nem teve uma chance.


— Acho que o milkshake que você me comprou 'tá estragado — respondeu, dando de ombros.


Ele colocou o controle de lado e estendeu a mão até o copo preso no meio de suas pernas, puxou-o e levou o canudo aos lábios.

Gon achava que seu cérebro tinha desistido de levar qualquer coisa ao lado racional, porque um lado bem infantil em si exclamou em alto e bom som: "ele está colocando a boca onde você colocou! É um beijo indireto!"

Ilogicamente, seu rosto esquentou, e Killua estranhou ainda mais a situação ao assistir essa cena.


— Pra' mim parece normal. — Ele lhe encarou por um tempo, o que contribuiu para piorar a vergonha que estava sentindo. — Gon, cara,... eu não achei que teria que te perguntar isso, mas acho que chegamos em uma situação em que é meio necessário... — Killua suspirou. Aquilo apenas tinha aumentado seu nervosismo. Seus dedos cruzaram-se automaticamente, e fez diversas preces para que não fosse o que estava imaginando. —... Você menstruou?


Piscou, incrédulo.

Depois de três segundos processando o que tinha acontecido, pegou um dos travesseiros atrás de si e jogou nele.


— Sério que esse é seu palpite?!


Ele riu, levantando o copo para não derramar.


— Sei lá! Você 'tá estranho essa semana! Vai que, né'...?


— Vai que o quê?! — Sorriu. — Que eu criei um útero do dia pra' noite?!


— Você não precisa de um útero pra' isso. — Gon levantou as sobrancelhas, inclinando-se na direção dele como quem duvidava de algo. Killua arfou, surpreso, e colocou a mão no peito de forma dramática. — Precisa?! — Então, olhou para o meio das próprias pernas. — Merda... Acho que eu deveria ir em um médico...


Riu também, recostando-se sobre o sofá.

Estava começando a entender um pouco melhor o porquê daquela semana estar sendo tão suportável. Killua sabia que não queria conversar sobre isso, logo, apenas lhe distraía com outras coisas. Ele era perfeito — fazia o que julgava melhor para si, por mais curioso que estivesse.

Mordeu o lábio assim que parou de rir, impedindo-se de sorrir enquanto o encarava.


— Você é incrível — nem hesitou em dizer.


O menino virou o rosto — tímido, evitando que visse o quão encabulado ficava por ouvir aquilo.

Era uma fofura — pensava.


— C-Cinco anos e você ainda não aprendeu...


Aproximou-se mais um pouco, mordendo seus lábios fortemente para conter o sorriso que mal conseguia segurar.


— A o quê? Falar coisas que você deve ouvir?


— Eu juro, Gon, às vezes parece que você faz de propósito.


Recostou-se sobre o sofá, a cabeça virada na direção dele. Fechou os olhos, virou-se para o teto novamente.


— Você pode me dizer como é gostar de alguém? Tipo, romanticamente, sei lá.


Ouviu ele levantar. O copo de milkshake foi posto em suas mãos e o lugar ao seu lado tomado.


— Você 'tá me perguntando muito sobre isso esses dias. Por quê?


— Eu só perguntei duas vezes! — retrucou ligeiramente, um tanto exaltado.


— Durante todos os anos que me conheceu só perguntou três, contando com essas!


Suspirou.


— 'Tá. Se não quer me contar é só dizer não.


Killua soltou um riso nasalado — querendo deixar bem claro o quão desacreditado estava por ter dito isso —, e falou:


— Uma porra que você ia aceitar só um "não" como resposta.


Abriu os olhos para vê-lo — como se tivesse escutado algo absurdo.


— Eu só quero saber como é! Não é te pedir muito!


— E eu não quero contar!


Bufou, fez um bico e cruzou os braços, resmungando um: "chato...", bem baixinho.


— Eu consigo te ouvir, Gon.


— Não acredito que não vai ajudar um amigo em momento de necessidade. E não qualquer amigo, eu!


— Onde que isso é um momento de necessidade?! — ele retrucou, aumentando a voz.


— Eu preciso saber!


— Que teimosia do caralho…!


Empurrou-o. Ele lhe empurrou de volta.

Se encararam por algum tempo, e Gon deu um pequeno sorriso — piscando bem devagar —, enquanto o olhava. Sabia bem como convencê-lo de algo.


— Isso é jogo sujo... — Killua murmurou, fazendo seu sorriso apenas alargar. — Fecha os olhos de novo. Não te quero me encarando estranho enquanto eu falo.


— Você é o melhor! — exclamou, obedecendo-o sem nem hesitar.


Demorou um tempo para que o garoto começasse a falar.


— Você sente essa coisa estranha na barriga. Tipo quando dá um passo em falso numa escada e tem uns milissegundos pra' perceber que vai cair. — Segurou um riso com a descrição. Ele definitivamente não era muito afeiçoado por esse tipo de coisa. — Huh,... acho que... tem uma parada do coração também, 'tá ligado? Taquicardia.


— Eu não entendo palavras técnicas, fala de um jeito burro.


Killua bufou, alto — parecia estar sofrendo.

Gon queria muito rir.


— Coração faz "tum tum" rápido — ele fez uma voz fina e infantil, claramente frustrado. Não conseguiu, soltou uma única risada curta. Ele riu junto. — É tipo usar droga: você se sente extremamente bem por um tempo, daí tem a abstinência, e percebe que se passar muito tempo sem ver a pessoa vai sentir que é um drogado procurando por qualquer migalha e prova de que ela existiu.


— Uau, que romântico.


— Você pediu uma explicação, não romance, lide com isso. — "Não posso ter os dois?", Gon quis perguntar. — Continuando com o lance das drogas, sabe vício vício? Enquanto não usar de novo, não vai ter um segundo sequer que fique sem pensar nisso.


— Eu deveria estar preocupado que você sabe como é usar droga?


— É, Gon, porque eu adoooro cocaína. Não consigo parar de cheirar. — Ouviu ele puxar ar, inalando. Riu novamente. — E sei lá explicar essa merda. É estranho, idiota e feliz. Tipo você. Eu consigo explicar de forma técnica, mas não faço ideia de como funciona, só sinto acontecer.


Abriu os olhos, sorrindo.


— Fico tocado. E,... pode me explicar da forma que você sabe, se quiser...


— Você não vai entender e acho que vou estragar seus filmes favoritos. — Killua fez uma expressão pensativa e deu de ombros. — Como só vejo benefícios, vou explicar: que nem qualquer sentimento, o "amor" é só uma mistura de hormônios. Então não existe de verdade. — Ele gesticulava com as mãos, dramaticamente. — Tem dopamina que vai te deixar feliz que nem imbecil, adrenalina que faz teu coração "coisar", já expliquei essa parte, daí tem noradrenalina que é querer foder com-


— Para — interrompeu, fazendo uma careta terrível. Olhou para o outro, percebendo que ele planejava lhe ignorar e voltar a falar, então, antes mesmo que pudesse, continuou: — Não quero saber. Só cala a boca. Você já estragou absolutamente tudo com a última frase.


— Você é tão criança. Pessoas fazem sexo, é completamente natural.


— 'Tá bom, senhor adulto, quem, curiosamente, nem adulto é. — Revirou os olhos. — Só acho estranho.


— Porque você é um organismo simples e assexuado. — O empurrou outra vez.


— Não sou! — E ele lhe empurrou também.


— É!


E continuaram, com força, até empurrar ele forte o suficiente para o fazer cambalear e Killua retribuir com ainda mais força — e lhe derrubar, porque não estava preparado para isso. Ao fim, puxou-o junto.

Caíram, e Gon bateu a cabeça no chão — dolorosamente — enquanto Killua conseguiu apoiar-se com as duas mãos antes de fazer o mesmo — só que, ao invés dele bater a própria cabeça no chão, bateria ela na sua.


— Uh, merda... Machucou muito?


Ele estava perto — perto o suficiente. Seria bem mais fácil fazer isso agora, porque ele não estaria esperando nada.

Killua desviou o olhar para a porta — tentando se reerguer e voltar para o sofá, usando as duas pernas que ainda estavam nas almofadas para impulso, e, com aquela brecha, puxou-o novamente, até que caísse em cima de si. Ouviu xingamentos — quase inaudíveis —, ele rolou para seu lado e voltou o rosto em sua direção.


— Satisfeito? — o menino perguntou.


Ter Killua bem em sua frente — a centímetros —, fez-lhe perceber que na verdade, não, não estava satisfeito — nem um pouco. Porque gostava de tê-lo assim tão próximo, quando podia ver ainda melhor os pequenos detalhes em seu rosto.

Então aproximou-se um pouco mais. Viu as pálpebras dele saltarem pela surpresa — viu as sobrancelhas pulando e seu rosto tornando-se completamente rubro em questão de segundos —, até que estivessem a milímetros — e sentisse sua respiração misturar-se com a sua perfeitamente durante um curto período. A próxima coisa que Gon fez foi algo que se arrependeu de não ter feito dias atrás, assim que teve a oportunidade — ao invés de esperar ter sido feito.

Enfim, beijou-o.

E teve uma boa sorte de que, ao invés de tentar ser racional — como de costume —, Killua beijou de volta, colocou a mão em seu pescoço e lhe puxou para perto também. Separaram-se alguns segundos depois, ainda envergonhados, os dedos dele ainda permaneciam firmes em sua nuca e, em seguida, foi ele a lhe beijar. Segurou as bochechas do menino com as suas mãos, sorriu, rolou até estar tão próximo que a intersecção entre seus corpos era quase nula e suas pernas se entrelaçassem.

Por fim, beijaram-se.

E passaram a tarde inteira assim.


[...]


No dia seguinte, empurraram uns aos outros nos assentos traseiros do carro. Gon em uma ponta, Alluka no meio e Killua em outra. Ela passou a primeira meia hora inicial mexendo nos cabelos do irmão, e ele rindo quietamente enquanto olhava pela janela e sua franja era puxada para trás — ao fim disso, o garoto estava com os cabelos presos em marias chiquinhas e o queixo apoiado na mão enquanto via algumas montanhas passarem.

Percebeu algumas olhadelas indiscretas de Mito para os bancos de trás, mais especificamente para si, quem, segundo ela, tinha um sorriso "de besta" estampado na cara desde que voltou para casa. Se dispôs a passar mais quinze minutos também olhando as montanhas — por vezes, sendo puxado em uma conversa trivial por Alluka —, e devolvendo essas olhadelas — ainda mais sorridente.

A viagem não era tão demorada, antes que pudesse perceber, já estavam dirigindo próximos à casas de arquitetura simplória e uma avenida rodeada por um caminho repleto de árvores avermelhadas.


— Dona Mito! — Alluka chamou, esgueirando-se para mais perto do banco da frente, ainda inclinada sobre o assento. — Meu irmão falou que a senhora sabe escolher amuletos muito bem!


— Na verdade, eu ia falar, mas você saiu e comprou eles antes que eu pudesse terminar — Killua resmungou, tirando as ligas dos cabelos, reclamando baixinho quando ficavam enroscadas em fios e puxavam-nos.


— Correção: comprei o seu. — Ela falou, apontando um dedo para ele. — Fiquei ocupada e Nanika parecia com mais fome que o normal...


— Não me diz que você gastou o resto do dinheiro com aquela merda de ração premium outra vez...! Porra, essa gata vai morrer obesa!


— Linguajar, Killua! — Mito interrompeu, com o olhar ainda fixo na estrada.


— Desculpa, Mito.


— A senhora pode me ajudar a comprar um? Eu trouxe dinheiro! — Alluka pediu, alegre.


— Meu amor, o que eu te disse?


— Que ser chamada de "senhora" te faz se sentir velha... — a menina murmurou, envergonhada, e sentou-se sobre o assento novamente, com a postura certa.


— E que podemos fazer o que você quiser porque é a minha favorita — ela finalizou.


— Ei! — Gon se pronunciou, ofendido — Como assim favorita?! Eu sou seu filho!


— Ah, Gon, não deve ser uma surpresa pra' você... — Mito retrucou, ajustou o retrovisor e virou para trás. — Sai do carro.


Apontou para si mesmo, assustado.


— Eu?


— Quem mais? Vamos, não tenho o dia inteiro.


Arfou, ainda mais ofendido, e abriu a porta, saindo logo em seguida. Foi até a calçada.

Ouviu alguns gritos abafados e, em um piscar de olhos, Killua saiu também, indo até seu lado em passos rápidos.

O carro começou a dirigir para longe.


— Tia Mito acabou de sequestrar sua irmã e me abandonar ou é impressão minha...?


— Elas vão comprar o negócio,... mas, hã,... acho que a parte do abandonar não é só impressão. Sabe pra' onde deveríamos ir? — Negou com a cabeça, devagar. — E as malas estão com elas...


— Sempre soube que isso ia acontecer algum dia. — Sorriu, puxando-o consigo. — Bora olhar o canal. Vem, vem!


— Na verdade, Gon, eu queria falar sobre o-... Aquilo ali é pretzel?! Cara, se eles tiverem de chocolate...


— Meu Deus. — Riu, ao que, dessa vez, ele que começou a lhe arrastar até uma das barracas, na direção oposta. — Você é uma formiga! Será que não pode ver nada com açúcar?!


— Sabe que não. Viu meu exame de sangue passado.


— Ainda não entendo o porquê de você ter me mostrado, mas-... — Encarou-o, constipado. — Eu sequer deveria estar te deixando comer doces?!


— Ninguém precisa saber. — O menino pressionou o indicador sobre a boca, em um "shh" quase mudo, e virou para a barraca novamente.


Parou — fazendo com que Killua parasse também, consequentemente. Começou a trazê-lo para longe das barracas de comida — com dificuldades, porque não parecia querer sair dali.


— Vem, o canal é pra' lá.


— Você pode, por favor, me soltar? — ele pediu, para qual Gon apenas negou com a cabeça e continuou andando. — Eu vou me soltar sozinho.


Olhou para ele — sem muita animação.


— E eu vou correr atrás de você gritando — retrucou.


— Você vai é pra' puta que pariu, arrombado do caralho...


— Isso tudo por que eu não te deixei comer um pretzel? — Arrastou a mão para baixo, passando do braço dele até sua palma, puxando-o para seu encalço.


Continuou a caminhar, parando frente ao caminho de árvores. Killua arrastou o polegar sobre as costas de sua mão, avisando com uma voz suave:


— Queria conversar com você sobre ontem...


— O que tem pra' conversar sobre ontem?


Olhou ao redor. As folhas caíam na água, e as cores mesclavam-se novamente. A visão trazia uma nostalgia do fundo de suas memórias, das vezes em que correu pela floresta, num degradê bem similar entre amarelo, laranja e vermelho — entretanto, sem uma quantidade exorbitante de folhas secas.

Gostava bastante disso. Quando era criança visitou esse lugar — apenas a si, Mito e sua bisavó —, e lembrava de ter segurado ambos os braços rente ao corpo enquanto observava as árvores com os olhos arregalados e repletos de admiração.

Era compreensível, mesmo mais velho. Ver todas as cores descendo juntas, dançando no ar até cair na água e misturarem-se simplesmente tirava seu fôlego. Gostava de vê-las esparramadas pelo chão de pedra, entre a calçada e o mato em que as raízes estavam plantadas, e flutuando em queda bem em frente aos seus olhos.


— Você me beijou. Hum... Sem me avisar.


— Ah... Isso não é uma daquelas conversas sobre assédio, né'...? — perguntou temeroso, dando-lhe um sorriso amarelo e soltando-o por fim. — Porque você me beijou também, Killua. Não tem como ser assédio se você fez também!


— Relaxa! Ninguém vai te prender nem nada. Eu só queria saber se foi uma daquelas coisas que você faz aleatoriamente, porque,... se for,... não é muito legal.


Negou com a cabeça.


— Eu não faria isso. Ao menos,... não de novo. — Suspirou. — Muito menos agora quando eu sei que você 'tá meio,... hum,... eu sinto que você vai gritar comigo se eu falar. — Abaixou a cabeça. — A fim de mim...?


Killua nem ao menos piscou. Por trinta segundos inteiros, permaneceu completamente estático, encarando-lhe fixamente. Quando finalmente se mexeu — àquela altura do campeonato, parecendo um pouco menos uma estátua —, uniu os lábios em uma linha fina, cerrou os olhos e murmurou algo bem baixinho — o que não conseguiu entender muito bem.


— Mito te falou alguma coisa? — perguntou, usando o tom de voz sóbrio e rígido que Gon só ouvia quando ele falava com alguém da própria família.


— Não — respondeu, aproximando-se.


— Então você sabe.


— Eu te ouvi dizer.


— Ok. Certo. Eu- Eu acho que preciso de um tempo pra' processar isso. Vou... dar uma volta. Conhecer a cidade e tal. — Uma folha passou bem em frente aos olhos do garoto. Isso chamou sua atenção a eles, estavam marejados; brilhantes. — Quando Mito voltar, fala- fala pra'... pra' Alluka me ligar.


— Killua...?


— O quê? — Ele balançou a cabeça, limpou os olhos com a mão que ainda seguravam e acenou em sinal de negação. — Vem cá, você sabia. Você sabia e- e não me avisou. Faz uma semana. — Riu, seus olhos finalmente transbordaram. — E m-me beijou. É hilário. Descobriu que eu 'tô apaixonado e ao invés de só me dizer que não 'tava interessado você aproveita disso pra'-... Tem ideia do quão egoísta foi? — Killua franziu as sobrancelhas, forçando um sorriso, soltou-se de si e colocou as mãos no bolso. — Pensei que tivesse consideração por mim. 


— Não é assim...! Eu... — Abaixou a cabeça. — Não fiz isso porque eu queria te testar ou alguma coisa assim... É que... — Inspirou fundo. — Eu queria fazer isso há mais de uma semana. Só não sabia muito bem o porquê antes de…- de realmente fazer.


— E por que fez?


— Porque também 'tô a fim de você.


Ele piscou. Abriu a boca, fechou, limpou o rosto novamente e olhou para os dois lados. Por fim, falou um "ok" bastante tímido e esticou-se para pegar seu braço — entrelaçar seus dedos.

Encarou-o, tentando abster-se de rir, balançou suas mãos juntas — sem soltá-las — e começou a andar túnel adentro. Tropeçou nas pedras algumas vezes, porque sua mente ainda tentava controlar as risadas que queriam escapar por presenciar em primeira mão a falta de jeito do menino, também, por sentir-se bobo o suficiente para ser capaz de sorrir e nunca mais parar — tinha uma sensação especial em dizer aquelas palavras que deixava tudo um pouco mais mágico. Ainda porque estavam entrando em um lugar em que a luz mal passava, vindo avermelhada pela proteção das folhas coloridas na copa das árvores, fazendo daquilo um pouco mais romântico — em um nível que pensava ser enjoativo até para si mesmo. Alguns casais passavam também, dispersos e um tanto maravilhados pela paisagem.

Depois de algum tempo caminhando a sós, Killua pediu:


— Dá pra' esquecer que eu surtei?


— Não — respondeu. — Vou fazer questão de te lembrar.


— Por que é que eu gosto de você mesmo?


Girou os calcanhares, seu sorriso aumentando na medida em que virava na direção do garoto e mais folhas caiam lenta e separadamente.


— Porque é impossível resistir ao meu charme. — Piscou um olho. Ele sorriu também, imperceptivelmente, apenas sendo visível pela curva de seus lábios tremendo. — E porque sou cheiroso, bonito, educado...


—... Humilde... — interrompeu-lhe para adicionar.


— Ah, principalmente humilde. E, hum,... sortudo. — Olhou para ele. O redor de seus olhos estava vermelho, e suas íris vidradas no canal. — Tão sortudo.


— Não começa — Killua murmurou, o rosto extremamente quente. — Eu vou desmaiar de vergonha.


Soltou suas mãos, segurou nos ombros do garoto e se pôs na ponta dos pés. Tentou ajeitar-se sem cair, seus dedos já ardendo pelo peso posto e sapatos apertando-os. Firmou-se nos ombros dele novamente, desejando usá-lo como um alicerce, porém suas pernas já tremiam, e ele, vendo sua dificuldade, colocou-se na ponta dos pés, apenas para dificultar a situação.


— Você tinha mais equilíbrio quando éramos mais novos — Killua falou, sorrindo, enquanto olhava para baixo, diretamente para si.


— Dá pra' me ajudar aqui?! — Ele segurou-lhe também, encostando os pés no chão por completo. — Bem melhor. Então- — Foi puxado para o lado, e finalmente cedeu até, assim como o garoto, sair da ponta dos pés. Bufou. — Qual é! Colabora!


Killua passou a gargalhar — alto, indiscreto, algumas das lágrimas que estavam presas em seus cílios escapulindo, e lhe trouxe para um abraço. Mesmo sabendo que não poderia ser visto, deu seu melhor sorriso, abraçando-o também.


— Mais tarde, hã,... você quer sair? — perguntou a ele, abafado pela proximidade em que estavam. — Aqui fica legal de noite, e a gente precisa de ao menos um encontro nessa época do ano.


— Quero. Tipo, pra' caralho.


O vento soprou, e uma única folha pairou sobre si.


Gon realmente gostava do outono. Não apenas das cores quentes, do frio bom o suficiente para precisar se esquentar — mas não o bastante para lhe fazer tremer —, de se esconder debaixo de cobertores com seu melhor amigo e de sair batendo de porta em porta à procura de doces; não apenas da confiança que chegava assim que essa época do ano aparecia, das chuvas excessivas, ou mesmo de toda a romanticidade que tomava o clima com seus tons alaranjados. Gostava do que era e de tudo o que representava, de como, a cada ano que se passava, ganhava a premissa de uma novidade, do que trazia e levava, e do que transformava consigo em especial. Acima disso, gostava de como, por uma ironia do destino, aquela estação reservava para si marcos importantes. Pois para sempre lembraria de que, durante o outono, apaixonou-se por Killua.


Logo, outra folha solitária juntou-se à sua companheira no ar. 


Notas Finais


então,
eh isto.
foi mal qualquer erro##

aliás sou péssimo em fazer finais ou inserir romance,
então sinto muito pela demora (mentira), andei fritando meu cerebro pra conseguir extrair algo💘😝


isso eh suuuuper broxante pq eh o final, mas qualquer pergunta manda bala🗣

eu realmente não sei o que botar aqui.
obrigado por ler é nois tmj✌🏻✌🏻✌🏻✌🏻


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