Os minutos seguintes passaram rápidos demais para que eu pudesse registrar. Apenas sei que em um determinado tempo, eu me encontrava dormindo no meu quarto e no instante seguinte eu já era preparada pelos guardas com um colete aprova de balas, para entrar na sala do trono.
O general Thunder, superior de Aspen, estava me instruindo sobre como eu deveria me portar e como agir. Eu não prestava muita atenção no que ele falava, já que ele basicamente falava que eu devia fazer tudo para salvar a vida do rei, mesmo que isso levasse a minha morte. E claramente eu não estava dispostas a morrer por Clarkson.
A única coisa na minha mente era não entender o porquê Kriss estava fazendo isso. Ela até poderia ser uma rebelde, mas não era rebelde sulista, o que me deixava confusa. Eu não entendia o que ela queria comigo no meio dessa confusão. Eu não queria ter nada a ver com essa situação.
- Entendeu, senhorita Singer? - o general me perguntou. Assenti com a cabeça, apesar de não entender. - Você tem permissão de entrar com um guarda, então vou com você - ele disse, mandão.
- Não! - respondi rapidamente – Eu quero o Aspen – pedi, lançando um olhar de suplica ao meu velho amigo.
- Senhorita Singer, eu não acho prudente... - ele começou a falar.
- Ou você me deixa entrar com Aspen, ou eu não entro e a morte do seu amado rei estará na suas mãos - falei, usando um pouco da postura que eu havia aprendido com Nicolletta.
- Sim senhorita – ele disse, com a cara fechado, não gostando do fato de ter recebido ordens de uma garota. - Soldado Leger – falou, chamando Aspen. - Você vai entrar com a senhorita Singer. - ele repassou as ordens a Aspen, apesar do mesmo já ter ouvido tudo, já que não havia saído do meu lado.
- Desculpe te colocar nessa situação - falei ao meu amigo, em voz baixa, enquanto nos posicionávamos em frente a porta, esperando a ordem para entrar.
- Eu ficaria ofendido se você tivesse aceitado a companhia de Thunder ao invés da minha – ele disse, me lançando um sorriso.
As portas se abriram e calmamente Aspen me conduziu para dentro da sala do trono. Os dois grandes tronos, no centro da sala, estavam vazios. Vi Clarkson amordaçado e com as mãos algemadas numa das pernas do trono. Suas pernas também estavam amarradas, impossibilitando que o mesmo se levantasse. Maxon e Amberly estavam no canto oposto, amarrados ao trono do rainha, não pareciam estar machucados, o que me fez soltar a respiração.
Eu já não poderia dizer o mesmo do rei. Ele parecia bastante ferido e poderia jurar que ele estava dopado. Havia um corte feio na sua cabeça, que fazia o sangue escorrer pelo rosto e manchar sua camisa branca. O braço também parecia bem ferido e poderia até dizer que estava quebrado, apesar de não entender nada de medicina.
Havia alguns homens portando arma, vigiando as portas e as janelas. Eu supus que eles eram rebeldes, obviamente. Dois deles vieram revistar a mim e Aspen. As armas de Aspen haviam sido tiradas antes mesmo de entrar na sala, por Thunder. Estávamos ali apenas para negociar, segundo o general.
- América - Kriss falou, saindo de uma roda de guardas, com quem ela provavelmente estava conversando.
- O que você está fazendo Kriss? - eu perguntava, já chorando. Meu olhar cruzou o de Maxon e mesmo vendo que ele não estava machucado, doia o ver daquele jeito.
- Deixem ela se aproximar – ela ordenou aos guardas que estavam nos revistando, e eles me soltaram no mesmo instante. Sem pensar duas vezes, corri de encontro a Maxon e Amberly, abraçando o loiro assim que eu me aproximei.
- Ah Maxon – falei, tirando a mordaça de sua boca, para que ele pudesse falar. Fiz o mesmo com Amberly, que parecia estar tendo problemas para respirar.
- Você não devia ter vindo América - ele dizia, chorando – Ela vai lhe matar e eu não suportaria isso....
- Ela não vai fazer mal algum a mim, Maxon – falei a ele, confiante, apesar de não ter certeza.
- América - Amberly chamou minha atenção. Ela parecia fraca e se apoiava no filho para não cair. - Ajude Clarkson – pediu, com a voz fraca. Eu nunca conseguia entender o que ela vira naquele monstro.
- Eu vou fazer o possível para tirar todos vocês daqui em segurança - disse, não querendo assumir uma promessa que eu não pudesse cumprir.
- Tragam ela – Kriss disse, ordenando ao guarda que estava cuidando de Maxon e Amberly. Ele me arrastou de perto deles até o ponto onde Kriss estava. Vi outro guarda voltar a amordaçar Maxon, enquanto o mesmo se debatia para se livrar das cordas.
- O que você está fazendo Kriss? - perguntei novamente.
- Eu te dei um tempo para pensar, América - ela disse, ignorando minha pergunta – Eu não tenho mais tempo e eu preciso que você tome conta de Maxon e Katherine – ela pediu, e eu sentia dor na sua voz. Ela não queria estar fazendo isso. Lancei um olhar a Aspen, que eu via analisar toda a situação, mesmo sendo retido por um dor guardas. Ele tinha um plano, eu conseguia ver no olhar dele. Ele só precisava de tempo.
- Me conte tudo, Kriss – pedi.
- Imaginei que você quisesse saber – ela disse, soltando um sorriso tenso. Estávamos no meio do salão, afastados de todos. Ela olhou para o lado, aonde antes eu a via conversando com alguns dos rebeldes. - Esses ai são os chefes de uma facção rebelde nortista mais radical. - começou a contar – Eles tem algumas ligações com rebeldes sulistas... Eu não sei ao certo tudo o que eles fazem. Apenas sei que eles estão sendo responsáveis pelos ataques ao palácio e pelas mortes. Eles estão me chantageando – ela disse, tensa. - Estão ameaçando Katherine, América - ela disse, começando a chorar.
- Então é por isso que eles tentaram sequestrar ela? - perguntei e ela assentiu.
- Eles precisavam da minha ajuda parar armar isso, América. Eles querem Clarkson fora do trono, eles querem o fim das castas – me contou, cuidando com o tom de voz. - Eles querem Maxon no trono porque acreditam que ele vai abolir as mesmas, ainda mais com uma boa rainha ao seu lado – disse, me lançando um olhar sugestivo.
- Kriss, você não vai conseguir sair dessa e ainda assumir o trono – eu disse – Eles deviam ter pensando melhor no plano e ter deixado você de lado...
- América, eles não me querem no trono – ela disse. Eu podia ver a dor que isso causava a ela. - Eles querem alguém que não tem medo de lutar por seus ideais. - completou. Fiquei a encarando por um instante até que a ficha caiu.
- Oh – soltei. Eles me queriam no trono, não ela. - É por isso que você me chamou?
- Não - ela disse. - Eu precisava pedir uma coisa a você. Eu precisava pedir que tomasse conta de Katherine. - olhei para ela sem entender nada – Quando eles me contaram o que planejavam, eu neguei a todo o custo. Então começaram a atacar Katherine. Ela aparecia com arranhões e cortes pelo corpo. - ela disse, chorando – Eles estavam machucando a minha princesa para me alcançar. Não demorei muito para aceitar depois de ver o que eles poderiam fazer com a minha filha. - falou, tentando esconder a dor – Eu não me orgulho do que eu estou fazendo América e sei o que me aguarda no final disso, mais eu não deixaria eles machucarem mais a minha menina.
"Pensei durante muito tempo no que fazer. Eu precisava garantir a segurança de Katherine. Eu precisava achar alguém que cuidasse da minha filha, que lhe desse amor. Eu sabia que, comigo fora do caminho e Clarkson morto, Maxon correria de volta para você - disse, me lançando um doloroso sorriso - Então, eu precisava saber se você amaria a minha filha também. Eu precisava ter certeza de que seu amor por Maxon se estenderia a Katherine. E eu tive essa certeza no momento eu que vocês se viram pela primeira vez. Vocês ainda sentiam algo e algo grande, apesar de todas as magoas."
- Kriss, você não precisa fazer isso – eu afirmei a ela. - Podemos achar um jeito de acabar com tudo isso, podemos salvar eles! - eu disse, apontando para os três, amarrados aos tronos.
- Você não entende, América - ela disse, eu conseguia sentir o medo na sua voz – Se eu não fazer isso, eles vão achar um jeito de machucar Katherine e Maxon. Eu cheguei ao limite do meu tempo esperando a sua resposta. Não há mais tempo América! - ela disse, triste.
- Kriss, você devia ter me dito – comentei – Eu teria achado um jeito de te ajudar! Poderiamos ter tirado Katherine e você do país, poderíamos ter bolado algo contra eles, Kriss!
- América, eles entraram nesse castelo inúmeras vezes, algumas sequer sem ser notados, você realmente acha que eu conseguiria me esconder? - ela disse.
- Poderíamos ter tentado! Isso não precisa acabar desse jeito – eu já chorava, vendo o fim que isso levaria.
- Ambers – um dos homens que Kriss conversava anteriormente, se aproximou de onde estávamos. - Senhorita Singer – ele disse, me cumprimentando, como se tudo estivesse normal. Meus olhos vagaram a sala, atrás de Aspen, quando não o encontrei, comecei a entrar em desespero. - É um prazer enfim lhe conhecer – o homem continuou a falar, mas eu não prestava muita atenção. Virei meu olhar rapidamente para Maxon e, vendo a minha angustia, apontou para um canto, onde Aspen estava encostado, fingindo sentir alguma dor no pé.
- Queria poder dizer o mesmo – respondi ao homem.
- Senhorita Singer, eu não pretendo fazer mal a senhorita ou a qualquer pessoa por quem a senhora tenha afeto – ele garantiu, tranquilamente.
- Pois eu tenho afeto pelo rei, e pelo que vejo, vocês planejam mata-lo – falei, brava. Ele soltou uma risada irônica.
- Sabemos de suas desavenças com o rei, América - ele disse.
- Eu conheço muito bem as minhas desavenças com o rei, mesmo assim não o desejo morto – retruquei.
- Realmente a rainha que precisávamos – ele disse, me analisando por completo.
- A Rainha que precisamos está ali – Apontei para Amberly.
- A Rainha Amberly pode até ser uma boa pessoa, mas minha querida, ela não tem voz nesse castelo – bufou.
- Escute aqui – eu disse, me aproximando dele e dando de dedo na cara dele – Primeiramente, eu não sou sua querida – eu sei que não era o momento certo, porém era mais forte que eu – E em segundo, aquela mulher ali é uma rainha melhor do que qualquer outra pessoa nessa sala. E ela tem voz sim! Ela é uma guerreira e luta pelo que acredita.
- Soube que ela acredita que você deveria ser Rainha, não Kriss – ele jogou, apenas para ver a minha reação.
- Temo que ela tenha segundas intenções com essa afirmação - falei.
- TIREM A AMÉRICA DE LÁ - escutei um berro vindo da antessala, onde o general estava comandando a missão. Meu coração deu um pulo ao escutar a voz de Celeste. - EU NÃO VOU FICAR CALMA ENQUANTO ELES NÃO TIRAREM MINHA AMIGA DE LÁ PHILIPE – ela completou. Devia estar chorando, pois sua voz implicava a isso.
- Sua amiga é escandalosa – o homem falou.
- Ela faz de tudo para proteger quem ela ama, exatamente como eu. - disse, para ver a sua reação. Kriss estava extremamente quieta, o que me fez suspeitar.
- Então você faria qualquer coisa para salvar o príncipe, então - ele disse, dando um passo em direção a Maxon. Por impulso, me pus entre seu caminho. Escutei Maxon tentar falar algo, mas a mordaça não deixava.
- Não ouse tocar neles – falei, autoritária.
- Você pode não perceber, América - ele disse, sorridente – Mas pelas poucas palavras que trocamos eu consigo ver que leva jeito para rainha.
Os segundos seguintes, foram pura confusão. Do canto, Aspen roubou a arma do guarda que fazia sua proteção, atirando no mesmo. Eu pulei ao encontro de Amberly e Maxon, levando os dois ao chão. Kriss roubou a arma da cintura do homem com quem conversamos e atirou na cabeça do mesmo. Os guardas, escutando os tiros, invadiram a sala, aniquilando quase todos os rebeldes em instantes.
Quando os tiros cessaram, apenas um rebelde ainda estava de pé: Kriss, com uma arma apontada para a cabeça de Clarkson.
- Kriss, acabou – falei, me levantando e caminhando até ela. Os guardas estavam todos com armas apontadas para ela e ela se escondia atrás do corpo do rei, que estava visivelmente drogado.
- Você não entende, América! - ela disse, pela milésima vez naquele dia.
- Então me explique! - retruquei.
- Eles vão me matar de qualquer jeito! Eles vão levar a minha filha de mim de qualquer jeito! Eu tenho que fazer isso! - ela disse, chorando.
- Kriss, me escute – Maxon disse, chegando ao meu lado. - Eu posso garantir que ninguém vai lhe machucar e ninguém vai tirar Katherine de você! Vamos achar um jeito de resolver isso, Kriss – ele disse, com calma.
- Essa é a única saída - disse, apertando mais a arma contra a cabeça de um Clarkson que deve estar tendo uma viagem e tanto.
- Não machuque ele, Kriss – Amberly pediu. Ela ainda não havia conseguido se levantar, mas um guarda a estava ajudando a se livrar das cordas.
- Me desculpe, Amberly – Kriss falou – Eu sei quanto você se importa com ele, mas ele é um monstro que está causando a morte de centenas de inocentes.
- Isso não é verdade, Kriss – Maxon falou, tentando se aproximar da esposa.
- Fique ai Maxon! - ela disse, dando um passo para trás no mesmo instante.
- Olha pra mim, Kriss – pedi, esperando trazer algum senso a ela. - Vamos achar um jeito de passar por isso! Eu vou te ajudar!
- Nós vamos te ajudar, Kriss – Maxon disse, pegando a minha mão, me impedindo de seguir até ela.
- O único jeito de me ajudar e tomando conta de Katherine por mim – ela disse, chorando. Seus olhos olhavam diretamente para a mão de Maxon na minha. - Me prometa isso, América. Prometa que vai cuidar dela. - disse, soluçando.
- Kriss... Isso não precisa ser necessário - eu já chorava também.
- Prometa, América - ela pediu, mas uma voz. Sua voz fraquejava.
- Kriss, me escute – Maxon tentou falar, mas ela olhava para mim.
- América! - disse, cortando Maxon.
- Eu prometo, Kriss – falei. Ela me olhou e soltou um suspiro de alívio - Mas você não precisa fazer isso...
- Obrigada, América - ela disse, parecendo relaxada.
- Isso não precisa acontecer Kriss... - Maxon pediu, também com os olhos marejados.
- Eu te amo, Maxon – ela disse – Eu sempre amei e sempre vou e é por isso que tudo isso precisa acontecer. Você só vai ser feliz se eu me for. Você será um rei incrível e eu sei que América será uma ótima mãe para Katherine.
- Kriss, não por favor – pedi, sentindo minhas pernas fraquejaram. Maxon, então, me tomou em seus braços, me protegendo de uma queda.
- Eu amo vocês e contem a Katherine o quanto eu a amava – ela falou, fechando os olhos e deixando as lágrimas caírem. Tudo que eu ouvi em seguida foram tiros.
- Não! - gritei e Maxon nos jogou no chão, tentando nos proteger. Junto com os nossos corpos, outros dois atingiram o chão, de um outro canto da sala. Ambos sem vida. Kriss e Clarkson estavam mortos.
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