Laisa, andava apressada por toda a casa numa madrugada fria de inverno típico da Dinamarca, ele ouviu seu chamado o chacoalhando na cama:
— Aleksia! Vamos acorda filho, nós precisamos sair, rápido!
— Mas mãe — falou o pequeno Aleksia esfregando os olhos, não devia ter mais de 6 anos — está muito tarde e eu to com sono, o Soren tá dormindo olha! — apontou pro irmão que não passava dos 4 anos, deitado em sono profundo.
— Seja bonzinho Aleksia, venha! — pegou o garoto pela mão e o seu irmão no colo.
Os três se encontraram com o marido dela, Anders, na sala. O homem estava nervoso, mais do que todos.
— Vocês demoraram demais! Nosso transporte está aguardando, esperem aqui que eu vou falar rapidamente com o condutor.
Os três ficaram no corredor por exatos dois minutos quando um barulho alto foi ouvido do lado de fora, logo em seguida a porta foi arrombada e três homens entraram. Dentre eles Laisa conhecia um, era colega de trabalho e amigo de Anders: Baduin von Mortensen. Ela colocou os filhos atrás dela e pretendia mandá-los correr para poder lutar, quando do outro lado do corredor outro homem também apareceu, estavam cercados!
— Laisa, acabou! Não faça nenhuma besteira, se entregue sem resistência e prometemos que ninguém vai se ferir.
— Você é um mentiroso Baduin!! Nos traiu e agora faz esse papel de bom moço?? — Retrucou Laisa transtornada, Soren começou a chorar.
— Vocês traíram o código de leis e condutas de Estray, por isso estamos levando você e seu marido sob custódia, por favor não resista. Pense na segurança das crianças.
As coisas aceleraram, não havia mais som, as únicas cenas foram de sua mãe abraçando cada um dos filhos e depois sendo levada pelos dois homens. Aleksia tentava ir até a mãe, mas o homem chamado Baduin o segurava pelos ombros, enquanto outro homem levava Soren que não parava de chorar.
Dinamarca, 8 meses para o início da Guerra
Aleksia Von Ejnar desperta repentinamente do pesadelo, estava ofegante e seu rosto estava molhado com algumas lágrimas. Mas agora ele não era mais um menino, é um jovem de 19 anos. Sua pele é branca como um nativo da Dinamarca, ele é alto mas seu físico não é muito desenvolvido, seus cabelos são castanhos profundos (escuros) igualmente a seus olhos. Ele acabou de despertar de um sonho no qual reviveu mais uma vez a tentativa de fuga de sua família, que fracassou e acabou em condenação e morte dos seus pais.
Ele pertencia a família Ejnar, importante família do Norte da Europa que é associada do Mar de Estray. Seus pais eram pesquisadores do Departamento de Pragas e seu pai era um dos nomes mais respeitados do setor, cotado até para liderar o setor, mas desenvolvia secretamente uma pesquisa proibida. Quando foi descoberto ele tentou fugir com sua família, mas foi apanhado e condenado a morte junto com sua mulher Laisa, que foi acusada de ser cúmplice. Ambos foram mortos como exemplos.
O rapaz não guardava rancor, muito pelo contrário, ele achava correto o que aconteceu com seus pais, pois eles cometeram atos criminosos. A pesquisa proibida envolvia um método para retirar o prana de seres vivos e acrescentar para si mesmo, baseado nos Apóstolos Mortos, só de imaginar o desastre que isto poderia provocar causava repulsa no jovem que o fazia até odiar seus pais. Na época foi um escândalo e os dois filhos do casal ficaram sob a tutela de Estray e mais tarde aos 11 e 13 anos foram separados, sendo que Aleksia foi mantido sob a guarda de um membro de Estray na Dinamarca, por ser julgado mais talentoso, e seu irmão, definido como sem aptidão para a magia, foi mandado para uma família no Egito.
A separação não foi amistosa, na verdade ambos os irmãos divergiam sobre a condenação dos pais, enquanto Aleksia acreditava na culpa, Soren acreditava na inocência dos pais. Ele ainda se lembrava da briga que tiveram antes que Soren fosse embora.
— Eles te transformaram num cachorrinho, não é Aleksia!? Você é tão traidor quanto aquela cobra do Baduin!
— Não seja idiota Soren, nossos pais estavam desenvolvendo uma arma perigosa e você ainda acredita na inocência deles? Que era só uma pesquisinha atoa? Acorda!
— É você que precisa acordar irmão! Eu vou embora pra muito longe, algum dia eu vou voltar e vou provar a inocência deles!
E saiu levando sua mala, rumo ao andar debaixo onde o representante da sua nova família aguardava.
Aleksia resolveu beber água na cozinha e se levantou, acordando Thor, o seu gato, que estava aninhado em seus pés. O gato abanava o rabo para o dono e voltou para a mesma posição.
— Foi mal — murmurou para o bichano.
Os aquecedores do quarto eram muito bons ao ponto dele usar um pijama comum, mas vestiu um roupão e chinelos pois isso não se aplicava ao resto da casa, que estava fria. Ele baixou a camisa para ocultar algumas queimaduras na barriga, resultados dos seus estudos sobre alquimia. Apesar de todo o incidente, Aleksia ficou em Estray e se tornou aluno no mesmo seguimento de seus pais, o Departamento de Pragas. O responsável por isso foi o seu então tutor Baduin, que agora era chefe do setor. Ele ficou responsável pelo menino em nome da velha amizade com seus pais, cuidando da educação do garoto e permitindo que ele se associasse ao Mar de Estray mais tarde, convencendo os outros superiores de que ele era a “ovelha branca” da família.
Ele desceu as mesmas escadas da casa que um dia foi de sua família, os superiores a deram de presente para ele depois de uma busca sinuosa para procurar possíveis evidências ou perigos. Estava realmente frio, principalmente na cozinha, quando ele colocou o copo na pia após saciar a sede, ele ouve uma batida na porta.
“Quem pode ser a essa hora?”, ele estremeceu um pouco, tinha seus motivos.
Chegando a porta ele pode ver a silhueta de um homem pelo vidro, a porta possuía diversas defesas mágicas e era reforçada, até mais do que era décadas atrás. Ele tocou a porta e ela ficou transparente, mas era um efeito apenas do lado de dentro, igual a um espelho falso. Do lado de fora estava um homem baixo de bigode, estava usando um casaco grosso e chapéu, reconheceu então Baduin e abriu a porta.
— Sr. Baduin? O que faz aqui a esta hora?
— Aleksia, se não se importa prefiro conversas do lado de dentro — a neve caia la fora, mas a temperatura absurdamente baixa não adentrava a casa que embora mantivesse a temperatura fria, prevenia o gelo.
O jovem permitiu que ele entrasse, pegando seu casaco e chapéu e colocando no suporte. O homem ainda se aquecia e retirou as luvas para apertar a mão de Aleksia.
— Desculpe vir tão tarde, acordei você?
— Não, eu estava bebendo uma água e já ia voltar pra cama.
— Eu vim por um motivo urgente, podemos ir até a sala? Preciso me aquecer.
A lareira foi acesa e eles se sentaram, Aleksia no sofá e Baduin numa poltrona. Após um minuto todo o ambiente estava aquecido e muito mais confortável.
— O motivo de tanta urgência que não poderia esperar até amanhã, é que a quase um mês chegou a notícia através de um de nossos representantes do exterior, de que haverá uma nova Guerra do Santo Graal.
— Como assim? Mas o Graal não foi desmantelado pelo pessoal da Torre?
— Sim, mas este era o de Fuyuki, foi implantado um novo na cidade de Nuevos Santos e acontecerá dentro de oito meses uma nova disputa.
— Como assim um segundo Graal?? — Indagou Aleksia se ajeitando no sofá.
— Três famílias do exterior, liderados pelo excêntrico líder dos Santiago, conseguiram amostras do antigo Graal de Fuyuki depois da 4ª Guerra, então levaram para esta nova cidade e copiaram o sistema.
— Mas o que tem isso? Quem cuida da disputa do Graal não é a Torre do Relógio?
— Calma eu chegarei lá, há cerca de dez anos chegou um convite, nele dizia que talvez nós demonstrássemos ter mais interesse no futuro do que a Torre...
Continuou sob os olhares confusos de seu aluno — quando enviamos um dos nossos agentes para averiguar, ele descobriu que havia um novo Graal com todo o sistema pronto, em etapa final de finalização para passar para o estágio de carga. Mas estavam nos oferecendo uma cadeira junto as três famílias, ou seja, nós sempre teríamos um representante da nossa escolha... Nós resolvemos aceitar, há tempos a Torre vem controlando a disputa e nunca conseguiu o prêmio, por isso nós vamos intervir desta vez.
Aleksia estava digerindo tudo isso, quer dizer que Estray estava tomando parte no conflito no lugar da Torre?
— Certo... E o senhor veio me contar que fará parte do conflito?
Baduin deu uma gargalhada, até que começou a tossir horrivelmente. O jovem perguntou se ele queria água, mas ele fez um gesto para ele se sentar, enfim acalmando seus pulmões.
— Meu jovem, anos de pesquisa e testes experimentais de alquimia não me permitiriam entrar numa disputa deste nível, você deve saber como é — referindo-se as feridas em sua barriga — Não, você é muito ingênuo quanto ao que está a sua frente. Queremos que você seja o representante do Mar de Estray nesta Guerra!
— E-e-eu?? Mas como poderia... Eu não sou qualificado pra isso!
— É claro que é! Você foi um aluno exemplar e, com certeza, já é um pesquisador promissor no Departamento!
— Mas os outros superiores concordam com isso?
— Eles resistiram, mas eu garanti que você é inteiramente leal ao Mar de Estray e — fez uma pausa — não se deixou influenciar pelos acontecimentos com os seus pais. Em todo o caso você vem de uma excelente linhagem de magos.
Milhares de coisas corriam pela sua cabeça — Eu não sei... É muita informação, muita responsabilidade!
— Talvez você precise de um tempo para pensar, mas nós não podemos esperar, se você não aceitar amanhã cedo o conselho vai tentar votar um novo representante.
Aleksia respirou profundamente, era a oportunidade perfeita de reparar as coisas, algo do tipo que não acontece duas vezes. Ele lembrou da família, tudo que passou, em seu irmão que não via a anos...
— Sim, eu aceito — Disse se erguendo.
— Excelente! Sabia que você não iria nos decepcionar. Agora, estenda sua mão direita! — Ordenou Baduin se erguendo também.
— Mas como assim? Aqui e agora?
— Sou a autoridade escolhida para conferir o selo, portanto farei agora, sem mais delongas.
— Mas eu não precisarei de um Geis ou algo do tipo? — Fez uma pergunta pertinente.
— Meu jovem, Geis são para quem não tem palavra ou confiança, nós somos magos de elite, fiéis a nossa Associação, portanto não o faríamos passar por uma humilhação destas. Mas devo adverti-lo, você deve entregar o cálice para Estray, ou sofrerá as consequências.
— Certo, compreendi... — Estendeu a mão direita com a palma para cima.
— Pela autoridade a mim conferida, eu, Baduin Von Mortensen, confiro ao representante do Mar de Estray, Aleksia Von Ejnar, os Selos de Comando pertencentes a esta ordem por direito firmado com o Graal!
Na palma da mão direita de Aleksia houve um pequeno brilho vermelho acompanhado de uma queimação, as três estigmas apareceram sob a forma de um traço mediamente volumoso, ladeado por duas asas, uma apontando para cima e outra para baixo. Ele ficou admirando o símbolo da sua entrada na disputa que com toda certeza decidiria a sua vida.
Seu mestre lhe informou a data exata e quando ele poderia evocar um servo, ele também não deveria se preocupar pois receberia o catalisador adequado. O velho se despediu e saiu na tempestade novamente.
Após mais um tempo contemplando os selos com a empolgação a flor da pele, ele foi até a cozinha no lugar de voltar para a cama. Thor estava lá, sentado em cima da mesa, até parecia que o esperava. Ele fez um carinho na cabeça do gato e se dirigiu até uma parede próxima a lavanderia, seguido de perto pelo felino. Aleksia então colocou um dedo na boca e umedeceu, em seguida fazendo um risco vertical na parede que se tornou verde brilhante, expandindo e contornando uma passagem. Logo depois ela se abriu como uma porta revelando uma passagem secreta com uma escada para baixo.
Thor desceu as escadas antes de seu dono, que o seguiu em seguida. Luzes se acendiam recepcionando o dono da casa, revelando um laboratório oculto dentro do subsolo da casa. Diversos frascos e instrumentos usados em experimentos de alquimia eram visíveis, assim como curiosos ingredientes estavam estocados em potes muito bem organizados. Pergaminhos contendo escritas rúnicas também eram presentes, alguns estavam em uma mesa com uma luz e uma lupa, possivelmente para uma análise mais profunda. Fragmentos e pedaços grandes de pedras rúnicas antigas também completavam o cenário de museu.
Na mesa principal do tipo clássica de escritório estava um retrato da família, na foto estava sua mãe segurando no colo Soren e seu pai o pequeno Aleksia. Todos sorriam e Soren estava lambuzado com um doce de chocolate. Uma lágrima correu pelos olhos do rapaz ao lembrar do momento. Na mesma mesa também constava uma pasta, esta era o motivo do jovem ter nos últimos tempos pesadelos com os pais.
A razão era muito simples: ele descobrira que eles eram inocentes, foi tudo um grande mal entendido.
Aconteceu num dia a quase um ano e meio atrás, quando Thor começou a arranhar a parede da cozinha insistentemente por horas, após algumas investigações para o motivo da fixação do gato, um acidente com um martelo quando tentava tirar um pedaço da parede o fez descobrir sem querer a passagem secreta, por ele umedecer o dedo e tocá-la depois. A chave no lugar dos tradicionais: sangue, toque ou senhas, era a amílase salivar de um dos donos da casa. Após descer as escadas Aleksia descobriu o laboratório secreto, no qual após alguns dias investigando ele descobriu pedaços de manuscritos e rascunhos de seu pai, alguns em especial referentes ao conhecimento que o levou a morte. Mas para sua surpresa e choque não era nada do que ele pensava.
A tal pesquisa proibida não era para sugar prana dos seres vivos, mas sim para drenar simplesmente o mana (versão que não está presente nos circuitos mágicos, que é o prana) presente no imaterial com exposição ao ambiente, mas em pequenas quantidades. Embora pudesse ser modificado para exercer a função perigosa, não era essa razão pelo que ele pode perceber por alguns resultados. Era relatado que pessoas normais enfermas com doenças mágicas melhoraram substancialmente, quando implantadas com selos que sugavam o mana do meio externo. Isto era porque o seu prana era alimentado com esta nova energia e a pessoa adquiria alguma resistência mágica, que normalmente só é encontrada em pessoas ligadas a magia com bom treinamento. Relatórios de longevidade também estavam presentes, contando sobre enfermos em estado terminal que melhoraram substancialmente.
Foram dias de muito desespero para Aleksia, pois ele se culpava por ter feito mal juízo dos pais e ter profanado os seus nomes os chamando de criminosos. Após muitas lágrimas, ele buscou se redimir, tentando secretamente continuar a pesquisa de seu pai. Era complicado, pois muitas das partes importantes foram destruídas por Estray no laboratório de seu pai na Associação. Nas instalações secretas da casa continham alguns protótipos e princípios, mas não o levavam a um grande êxito no objetivo central, que era ajudar.
Como protótipos mais avançados ele então sintetizou dois, o primeiro era uma pequena pedra cinza circular contendo todos os códigos e escrituras rúnicas do conhecimento que ele conseguiu decifrar da pesquisa, inspirado no estilo clássico. Esta após muitas falhas se provou apenas ter potencial para uma arma, pois gerava um campo médio que absorvia mana ao seu redor, mas em questão de prana apenas enfraquecia levemente quem tivesse certo domínio sobre seus próprios circuitos. O seu lado bom é que era efetivo contra familiares e outras marionetes. Ele batizou a pedra de Neomenia: Devorador Místico.
A segunda foi baseada na primeira, em que ele tentou uma versão para um hospedeiro do mesmo modo descrito nos relatórios, mas novamente era forte demais e ele, que era a cobaia, absorvia prana demais do alvo com o toque das mãos, servindo novamente apenas como arma. Era mais eficaz do que a primeira versão, mas como arma exigia que ele tocasse por certo tempo o alvo. Ele batizou esta versão de Eclipsim: Vampiro Místico.
Em ambos os casos ele não conseguia um bom resultado universal para tornar o processo de extração mais suave, para que o hospedeiro não se tornasse um parasita no meio em que estivesse. O prana absorvido também não era muito bem condicionado para ser usado por qualquer um, pessoas normais por exemplo, sofreriam um processo de “intoxicação” pela presença de prana estranho em seus corpos, pois nem todos tinham circuitos mágicos adequados ou até mesmo não possuíam circuitos. O próprio Aleksia, que era um mago com bons circuitos, enfrentava problemas para utilizar o mana capturado, pois boa parte se perdia no processo de reutilização ou ele poderia sofrer uma sobrecarga se tentasse pegar mais do que poderia tolerar.
O seu maior anseio em relação a pesquisa não foi atendido, pois até então ele conseguira boas armas, mas nenhum instrumento para ajudar as outras pessoas que era o objetivo original. Além de um meio de tornar o processo mais suave, faltava um modo de tornar a rejeição bem menor.
Ele pensava em desistir, pois isso se tornou a sua vida a mais de ano, ele não aguentava estar preso no mesmo ponto a quase um semestre sem avançar. Não poderia de modo algum pedir ajuda ao departamento, seria uma piada repetir o mesmo destino dos pais, também não poderia sair e viajar, pois nem sabia por onde começar sem medidas transloucadas envolvendo os próprios Apóstolos Mortos. Mas nada disso importava mais.
“Agora poderei adquirir o meio supremo para honrar o trabalho dos meus pais e ainda por cima limpar os seus nomes! Queria que meu irmão pudesse me ver agora, com certeza ficaria contente”
1 semana para o conflito
Aleksia recebeu a notícia de que o catalisador foi encontrado a três meses atrás, mas ele só o receberia por segurança faltando um dia para a liberação dos servos, na semana final antes do inicio da Guerra. Baduin veio pessoalmente entregar-lhe um pedaço de madeira do tamanho de um dedo, quando perguntado ele lhe respondeu que era o fragmento do timão de um barco, mas não respondeu qual a identidade do servo.
— Você não quer estragar a surpresa, não é mesmo? — Falou jocosamente o velho.
— Isto não é brincadeira Senhor, conhecer a identidade do meu servo é fundamental para traçar meus planos!
— Um dia a mais ou a menos não fará diferença agora, apenas garanto que ele com absoluta certeza não lhe fará mal. O resto você saberá por ele mesmo.
— Então apenas me diga se é um Rider! Eu não gostaria de combater ao lado de um pirata...
— Contenha sua ansiedade jovem, voltarei aqui amanhã as nove para convocá-lo ao seu lado, adeus... — E se retirou mesmo sob protestos do rapaz.
Já eram quase onde horas e nada do velho aparecer, Aleksia já estava impaciente pois quanto mais demorasse maiores eram as chances de perder a vaga de um servo. Caso seu catalisador fosse de um herói muito específico, que não se encaixaria em mais de uma classe, poderia até haver o cancelamento da invocação. Não havia tempo hábil para conseguir outro catalisador. “Sinto muito Baduin, não pude te esperar”.
O jovem aproveitou para fazer a evocação no laboratório do pai, ali ele teria toda concentração para realizar um bom processo. Embora a evocação fosse feita pelo Graal, um pouco de superstição não fazia mal para manter a confiança.
Preparou o círculo usando tinta vermelha e depositou o pedaço de madeira num altar ao lado, tinha a companhia do gato que observava tudo de muito perto sentado quase ao seu lado. Ele foi deixar o pincel de volta no lugar e quando voltou Thor estava com o pedaço de madeira na boca.
— Thor, me entrega isso agora! — Ordenou assustado se aproximando vagarosamente.
O gato arqueou as pernas e deu alguns passos pra trás, quando Aleksia correu para pegá-lo ele saltou sobre ele e subiu as escadas.
— THOR EU NÃO TENHO TEMPO PRA ISSO!! — Ele estremeceu. E se o gato escondesse o fragmento? E se todo aquele atraso o fizesse perder a vaga?
Comicamente ele perseguiu o gato pela casa inteira, a paciência já o deixara desde que ele escorregou no tapete do corredor. A qualquer momento ele usaria um feitiço para parar o gato quando ele saiu pela portinhola da cozinha, que levava aos jardins, não havia mais neve e o clima estava até agradável no dia de hoje.
“Ótimo agora que eu não vou encontrar mesmo!”
Ele seguiu o gato, o encontrando parado no centro do pátio, sentado em um banco com o pedaço de madeira na boca, abanando a cauda. O pátio ficava bem no centro do jardim que tinha todo o chão ladrilhado, Aleksia brincou muito ali com o Soren. Muitas árvores cercavam o local e quando não havia muito frio era possível ver alguns pássaros. Thor deixou o pedaço de madeira no banco e veio ao encontro do seu dono, se esfregando em suas pernas.
— Cansou, é? — Na verdade ele é quem estava exausto de tanto correr.
Aleksia se aproximou do banco para pegar o catalisador, quando parou para olhar melhor todo o cenário. No centro do jardim havia um círculo decorando o local, com algumas escritas rúnicas na borda, sua mãe usava quando queria reparar a saúde das plantas dos arredores. O banco estava elevado e posicionado de forma a lembrar um altar. Ele olhou para o gato, olhou para o círculo e novamente pro felino.
— Você quer que eu faça o ritual aqui? Mas este círculo talvez não seja adequado...
O gato inclinou a cabeça e continuou abanando a cauda.
“Ótimo, estou discutindo conhecimento mágico com um gato! Se bem que... Nunca foi especificado qual tipo de círculo deveria ser”
— Pois bem, vamos começar! — E inspirou.
As folhas se agitavam com um vento, o círculo brilhou verde. Thor se escondeu em uma moita.
“Contemplados por Miming:
Minha honra exige reparação, mas ouça meu apelo.
Juro perante ti lutar pelos fracos e enfermos, pela vida em sua graça e perfeição.
Meu suor lavará todo o mal de nosso caminho.
Tua arma abrirá os caminhos para o Santo Graal.
Que meu brado toque teu coração e dite suas ações.
Eu te convoco, guerreiro da virtude!”
O brilho se intensificou e cessou, dando lugar a uma figura que usava armadura prateada, um pouco mais alta que Aleksia. Tinha cabelos longos negros, seu rosto era um pouco triangular e ele estava sério. Usava uma capa vermelha que lhe caia sobre um dos ombros e as costas. Possuía uma espada embainhada.
— Sou o servo da classe Saber, tu eres meu senhor?
Ainda não tinha caído a ficha de Aleksia, apesar de todos os atrasos ele conseguiu convocar um Saber! Mas ele respondeu quase que automaticamente ao nobre homem que ali estava.
— Me chamo Aleksia Von Ejnar e eu sou o seu mestre, por favor... Poderia confirmar sua identidade?
Saber sorriu e abaixou diante de Aleksia, se apoiando em um dos joelhos, colocou a mão direita no ombro esquerdo.
— Eu, Sir Percival de Gales, juro lealdade ao meu senhor Aleksia e também juro completar a tarefa ainda me conferida em vida de trazer o Santo Graal! — Com isto Aleksia imaginou que o contrato estava formalmente selado.
3 Horas mais tarde
O jovem mestre almoçava, a evocação do cavaleiro da Távola Redonda foi custosa e ele sentia de certo modo o gasto com prana inicial, mais tarde isso estabilizaria, mas em todo caso a fome era muito mais devido a corrida atrás do gato por toda a casa. Ele não tinha certeza se Sir Percival precisava comer, mas o convidou a mesa para comer de qualquer modo, Saber aceitou de bom grado o convite.
O deslumbrante cavaleiro era muito educado quando falava, mas nem um pouco sutil ao comer. Ele pegava as coxinhas de frango e estraçalhava sem nenhum pudor, fazendo uma pequena sujeira. Aleksia estranhava um pouco e olhava a voracidade do servo, este percebeu e pausou um pouco.
— A comida não está do seu agrado meu senhor?
— Não, não é isso, mas eu não imaginei que um cavaleiro comesse... Assim deste modo.
— Mil perdões meu senhor se o constrangi com meus modos, vou me retirar — fazendo menção de se levantar.
— Não Saber! Não foi isso que eu quis dizer, é que todo esse negócio de nobre traz uma ideia errada, sabe? Mas não me constrange o jeito que você come — pegando uma coxinha com as mãos e mordendo — estou até contente, pois a muito tempo não tenho companhia para comer.
Saber sorriu e voltou a comer, os dois conversaram sobre Aleksia primeiro, o jovem tinha em mente que precisava ter uma boa relação com seu servo para atingir os seus objetivos, ainda mais se tratando de um cavaleiro com estrito código de honra. Foi quando a campainha tocou e os dois pararam de comer, o rapaz se limpou rapidamente e foi até a porta. Na checagem pela porta “falso espelho” ele reconheceu um superior de Estray, o segundo em comando do Departamento de Pragas, Sr.Henning.
— Senhor, o que o traz aqui? Veio verificar se a evocação correu bem?
— Aleksia, vim aqui para falar a respeito de Baduin — respondeu o senhor que era tão velho quanto Baduin. Os dois entraram e o velho não quis ir além do hall.
— Ele ficou de vir aqui, mas não apareceu, o que houve?
— Ele morreu hoje de madrugada — respondeu o superior.
Aleksia ficou paralisado com a notícia.
— Mas como assim, ele estava aqui ontem mesmo!
— Ele teve uma complicação devido a uma degeneração adquirida nos pulmões, causada por um experimento que fracassou anos atrás. Sinto muito, pois ele era o seu Tutor e parecia gostar muito de você — fazendo uma pausa — Vou apenas checar se está tudo bem e já me vou, acredito que Baduin tenha lhe explicado cada detalhe não é?
O jovem respondeu que sim com um aceno.
— Ótimo, o seu jato sai as cinco da matina amanhã, por favor não se atrase. Leve seu servo em forma de espírito. A propósito, onde ele está? — Aleksia respondeu que estava na sala, o velho já ia até lá quando se deteve e retirou um conteúdo do bolso — Já ia me esquecendo, ele deixou esta carta registrada para você — E entregou uma carta selada com a marca de Baduin, era um selo especial que prevenia violações por terceiros, destruindo o conteúdo se isto fosse tentado.
Henning foi embora satisfeito logo depois de checar que Aleksia conseguiu com sucesso um Saber. Na mesma noite enquanto arrumava todos os materiais para viajar, ele abriu o conteúdo da carta e ficou tão chocado quanto ficou ao descobrir sobre a pesquisa do pai, quando leu o conteúdo que Baduin deixou escrito. Sir Percival brincava com Thor usando sua capa, apesar de ser uma arma não deixava de ser uma companhia agradável.
Mas uma coisa o Mestre tinha certeza, nada iria pará-lo até que ele conquistasse o Graal, agora mais do que nunca.
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