História Feelings - Table

// II //

T A B L E

Atualmente.

As cores são importantes para mim. Talvez elas sejam tudo o que eu tenho no momento, não posso perde-las — não agora que eu finalmente as tenho de verdade. — A senhora Kennedy está me encarando novamente, da mesma forma que a última vez. Parece que eu sou um caso perdido. Não me importo, de novo. Hoje eu não encara a sala, sua estante ou seus quadros. Meu olhar é fixo no chão. O carpete que ela usa é bege e um pouco alto. Ótimo para tirar os sapatos e andar descalça. Senhora Kennedy quer que eu fale sobre a tabela, sobre as cores e seus significados, mas eu não quero. Há exatos quinze minutos, cheguei à conclusão de que ela não mudará de ideia e me pressionará até que eu conte. Uma parte do meu ser, quer contar. A outra não, a outra quer que eu guarde somente para mim. Tenho 99% de certeza de que a tabela não é tão importante como eu acho ser, mas não importa. Ela é importante para mim.

— Tudo bem. — Eu falo, dessa vez eu a encaro. — Foi em outubro.

Outubro.

As cores se misturam uma na outra e eu gosto do que vejo. O céu está ficando escuro e o sol está se pondo. O marrom das folhas se misturam com o verde da grama, o laranja das abóboras faz com que tudo pareça apenas uma paisagem típica de pintores. A rua se transforma em um clichê de livros e filmes. Ela está toda iluminada — sendo pelos postes, pelas casas e, até mesmo, pelo sol que ainda não se pôs totalmente. — Gostaria de tirar uma foto, mas me desaponto sabendo que sou péssima em tal coisa. Empty Gold, da Halsey, está explodindo em meus ouvidos pelo fone. Gosto de como consigo deixar tudo ainda mais clichê. Vejo crianças saírem de suas casas com suas fantasias legais, à procura de doces. É tarde — quase noite — de Halloween, as crianças me fazem lembrar de quando eu amava me fantasiar de princesas e sair à procura de doces com as minhas amigas.

Eu vejo Calum na praça onde marcamos de nos encontrar, mas, bem, ele não está sozinho. Reconheço Luke, Michael e Ashton. Eles estão rindo, se divertindo — eu gosto do que vejo. Gosto de apreciar cada momento feliz de pessoas alheias. Eu penso duas vezes antes de me aproximar deles, tenho medo de estragar toda a animação com a minha expressão tediosa — a qual que, até mesmo eu, não consigo afastar mais. Mas quando eles me notam, sorriem.

— Selenita! — Cal me abraça forte, como se não nos víssemos há meses.

— Oi, Cal. — Eu falo. — Oi, meninos.

Eles me cumprimentam com sorrisos contagiantes.  

— A festa da Amelie vai ser a melhor do ano! — Ashton fala animado. Estamos conversando sobre como será a nossa noite de Halloween. Eles falam sobre a festa da Amelie Smith, uma das garotas mais populares do colégio. — Você vai, Selena?

— Ah... Eu? — Pergunto. Meu olhar desvia-se para Calum, quero sua ajuda. Ele sorri para mim e envolve seu braço em minha cintura, puxando-me para perto.

— Você vai.

///

Estou com um vestido preto totalmente colado ao meu corpo, meu sapato é preto, também, e tem um salto enorme. Minha franja está presa para cima graças à tiara de diabinho que eu peguei de Grace — minha irmã mais nova. A casa está lotada, literalmente, aquilo mais parece uma mansão. Escolhemos uma mesa, apesar de não ter muitas. Michael pegou bebidas e começamos a beber e conversar. Depois de um tempo, Calum avisou que iria pegar mais bebidas e já não voltou mais. Quando vejo, estou sozinha. Não estou me divertindo como pensei que estaria. Quero ir embora, deitar em minha cama e dormir até amanhã. Mas ainda é cedo, no relógio do meu celular, vejo que ainda não passa das onze e quinze da noite. Encaro a pista de dança totalmente improvisada e o único que encontro é Luke.

Malia Garcez é morena e tem um sorriso contagiante. Todos sabem sobre o que ela sente por Luke. Ela costuma participar de tudo no colégio, sejam as festas, ou jogos, ou sei lá. E Luke está com ela agora, mas seu sorriso é tão falso que até mesmo eu percebo. Eles estão dançando e, então, Luke fala algo em seu ouvido que a faz parar. Posso imaginar sua expressão só pela dele — desanimada, culpada, desapontada, tediosa — Malia o empurra com força, o faz cambalear para trás, e então some pela multidão. Ele está parado agora, no meio da pista de dança. Seu olhar é meio perdido, mas o sorriso sacana continua em seu rosto, apesar de fraco. A luz colorida, junto do escuro, faz-me pensar que ele parece ter saído de um quadro. Gosto do que as luzes coloridas fazem com ele. O vermelho se mistura com o azul, com o amarelo, com o rosa e com a escuridão do lugar. E, em um piscar de luzes, não consigo vê-lo novamente por alguns segundos, pois tudo me parecer ter ficado mais rápido. Quando o vejo novamente, vejo seu corpo mexer-se no ritmo da música eletrônica, junto de outra garota. Não gostaria de ser uma Malia. O pensamento me atordoa. — Não quero ser uma Malia. Ficar com alguém que eu gosto e simplesmente ser jogada no lixo depois. Não quero me transformar em uma Malia, não quero ser machucada por pessoas como Luke.

Eu sorrio — a ideia mais louca e, talvez, idiota que eu já tive na minha vida naquele momento parece tão legal quanto parece em minha cabeça. — Uma tabela faria com que a minha vida mudasse completamente, me ajudaria a não cair em joguinhos de pessoas como Luke. Seria separada por cores, com todas elas e seus devidos significados. Cada elas colocadas cuidadosamente em uma categoria de pessoa.

Atualmente.

— O vermelho quer dizer dureza, sedução, tentação, mas também, carinho e amor. — Eu explico. — O vermelho é mentiroso, trapaceiro, manipulador e desonestos. É uma cor marcante, no caso, uma pessoa que marca a sua vida com uma caneta permanente. Você nunca consegue esquece-la, nunca. Combina com Luke.