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História Feitiços Jamais Esquecidos - Morsmordre conjura coisas sombrias, não o use - História escrita por helwa - Spirit Fanfics e Histórias
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História Feitiços Jamais Esquecidos - Morsmordre conjura coisas sombrias, não o use


Escrita por: helwa

Notas do Autor


Olá! Perdão a demora, ocorreram alguns imprevistos e eu demorei para revisar o capítulo e ter coragem de postar.

Sou muito grata pelos comentários que me deixam muito feliz! E em especial, esse capítulo é dedicado à @Koryanderrr, que me incentivou demais.

Obrigada @squilrrelssi pela betagem maravilhosa e seu incrível feedback.

Boa leitura.

Capítulo 3 - Morsmordre conjura coisas sombrias, não o use


“Entre palavras do Profeta Diário neste início do fim de semana, existem as mais variadas para determinar o estado do fraco serviço de segurança do corpo docente de Hogwarts. Jinsoul e sua equipe de professores não apresentaram provas concretas até o momento sobre aquele, ou aqueles, que feriram um jovem aluno no baile de outono. As aulas continuam normalmente, mas não há confiabilidade dos pais daqueles que estudam na escola de magia e bruxaria mais falada do mundo mágico nos últimos tempos. Será que os esforços de seus professores resultará em alguma coisa relevante?”


III Capítulo Morsmordre conjura coisas sombrias, não o use



A partir do momento em que as chamas sumiram e a biblioteca ficou molhada pela quantidade absurda de varinhas disparando Aguamentis, Chanyeol sabia que de alguma forma estaria ferrado. Seu pensamento provou que estava extremamente correto quando seguiu Baekhyun e Kyungsoo até a sala da diretora Jinsoul, um escritório confortável e minimalista demais. Suas pernas e braços estavam encolhidos como em uma xícara pequena de chá, a respiração saía das narinas acelerada. 


Jinsoul passou com os olhos curiosos pela mesa de mogno, procurando nos três rapazes uma resposta para suas questões. Chanyeol quis muito desvendar quais seriam as perguntas e se ele realmente estaria incluído nisso (temia tanto perder seu primeiro emprego bruxo que os cabelos poderiam ficar brancos mais cedo do que o previsto). Tirou algumas peles mortas dos lábios, erguendo a extensão comprida do braço atrás da nuca, em uma tentativa mínima de relaxar os músculos. Baekhyun que estava ao seu lado, manteve os olhos fixados nas mãos, que desenhavam coisas imaginárias no ar com a varinha azulada, franzindo as sobrancelhas de um jeito que conseguisse expressar o quão entediado estava. 


— Não vou começar perguntando o que aconteceu lá, porque eu sei muito bem e quero poupar o tempo de todos aqui. — Coçou a garganta, prendendo os fios loiros com uma presilha feita de vidro, reluzindo na luz do cômodo. Baekhyun suspirou e olhou o teto, como se dissesse "graças aos céus". — Mas preciso muito perguntar o que viram. Com o máximo de detalhes possível, sem ocultar nada. Só estamos nós quatro aqui, então por que guardar detalhes, olhares, cheiros? Sejam descritivos. Eu preciso que sejam. Pelo bem dos alunos, podem me entender? 


Os três fizeram que sim de um jeito diferente. Chanyeol assentiu na mesma hora, repetindo a afirmação com um movimento dos lábios; Baekhyun deu de ombros e mexeu o queixo e Kyungsoo sussurrou um "sim" rouco e preocupado. 


— Vamos começar por Baekhyun, sim, senhor Byun?


Chanyeol escutava o sobrenome de Baekhyun com tanta raridade que, assim que entrou pelas orelhas, soou muito como um dejavu. Baekhyun ajeitou uma das pernas acima da outra, no joelho, e Chanyeol viu que ele estava usando uma calça jeans rasgada naquela região, uma roupa com certeza imprópria para um professor vestir. Mas não que pudesse julgá-lo muito, a roupa era de fato charmosa. Ou parecia charmosa quando a pessoa usando era Baekhyun, ele não tinha a resposta. 


— Bom, eu estava lendo. Deixei o livro na biblioteca, exatamente na sessão onde peguei — sucinto, Baekhyun explicou, inclinando o rosto para cima como se precisasse se recordar exatamente de mais algum detalhe. De algo mais que pudesse falar na frente de Jinsoul. — Eu tava lá sozinho, até que Chanyeol entrou na sessão como se tivesse visto um fantasma — soltou um riso baixo, fazendo Chanyeol encolher o corpo de vergonha. 


— Eu não… 


Jinsoul encarou os dois com as sobrancelhas levantadas, a expressão um tanto quanto sarcástica aguardando pela resposta deles. 


— Podem continuar a exposição sem parecerem colegas de turma brigando? — Ambos assentiram, com vergonha o bastante para não refutarem a palavra da diretora. 


Coçando o queixo, Baekhyun continuou o relato, falando sobre como Chanyeol parecia de fato assustado quando entrou em sua sessão, e respondeu a contragosto que estava na área proibida. Assim que Jinsoul perguntou o porquê dele estar lendo livros lá, não com muito intuito aparente, já que para Chanyeol não teria nada de errado em pesquisar obras daquela parte da biblioteca; mas Baekhyun respondeu, indiferente, que estava apenas complementando o material de uma das aulas que daria naquela semana. Chanyeol e Kyungsoo fizeram o mesmo, mas o primeiro não teve a mesma sorte que Kyungsoo, já que Jinsoul achou admirável a postura dele em querer ajudar os alunos assustados no meio do incêndio. 


— Mas se me permite dizer, senhorita… Eu e o Park fizemos o trabalho sujo, não? 


— E eu retirei o mérito de alguém, senhor Byun? — Levantando as mãos, Baekhyun exibiu a postura de se isentar de culpa, o famoso "não está mais aqui quem falou". Ela coçou a garganta e continuou: — Estava apenas parabenizando Kyungsoo primeiramente, porque ele foi justamente a primeira pessoa que eu vi ao entrar na biblioteca. Vocês dois também fizeram um trabalho incrível, devo dizer. A escola sempre entra em dívida com os profissionais e alunos que ajudam dentro e fora das paredes de Hogwarts. — O sorriso enorme e orgulhoso que Chanyeol deu, fez Jinsoul achar graça e balançar a cabeça. — Eu só preciso que vocês tenham cuidado. 


— Certo — Baekhyun respondeu, não grosso, mas pensativo. Queria falar algo, retribuir o agradecimento que Jinsoul fez ou talvez até mesmo revelar o que pudesse ajudá-los naqueles tempos difíceis. — Era só isso ou podemos ajudar de mais alguma forma? 


O delineado felino de Jinsoul deu-lhe um ar ainda mais misterioso. Ela concordou, movendo as mãos de forma graciosa até que abrisse a gaveta do escritório. O ruído de madeira contra madeira preencheu o ambiente, irritando Baekhyun e Kyungsoo, que detestavam barulho alto. Tomou nas mãos um papel antigo, o aspecto mole e amarelado revelando ser, em suma, um mapa quando a mulher o abriu e convidou os professores à sua frente para que olhassem mais de perto. 


— Ainda bem que perguntou, senhor Byun — sorriu, se assemelhando muito à uma vilã encantadora de algum filme famoso. — Temos aqui o Mapa do Maroto. Não sei se todos conhecem, mas é um artefato que pertence à escola há boas décadas e que, desde então, nos ajuda a enxergar o que existe de escondido em todas as passagens secretas. Vejam aqui. — O indicador com a unha pontuda mostrou o cômodo onde estavam. 


As letras pequenas em um marrom forte pintaram seus nomes separadamente. Chanyeol arregalou os olhos quando notou que, de fato, "Park Chanyeol" estava escrito ao lado dos nomes de Kyungsoo e Baekhyun, respectivamente. 


— Com esse mapa, podemos encontrar qualquer um. Mas não é assim tão simples, já que a última pessoa que o usou, o trancou com um encantamento de proteção. Sendo assim, apenas uma pessoa por vez pode segurá-lo em suas mãos e visualizar o caminho que desejar — ela prosseguiu com a explicação, atenta. — O que eu quero que façam é que ajudem a mim e aos outros professores. Uma pequena ajuda, eu juro que não é nada complicado. Mas não posso lhes assegurar de que não é perigoso, afinal, estamos falando de um perigo desconhecido aqui. 


Um silêncio reinou pelo cômodo nos segundos que se passaram, quando cada um deles teve que ser ágil o bastante para conseguir pensar. Chanyeol não teve dúvidas, ainda que o medo fizesse morada em si, se recordando de cada um dos gritos apavorados dos alunos na biblioteca e das próprias mãos ao redor da varinha, atingindo o fogo ardente com jatos longos d'água. 


Os três responderam positivamente após o pequeno vislumbre e Jinsoul, satisfeita, disse o que eles deveriam fazer exatamente. Kyungsoo acompanharia Yves, que em poucos momentos apareceria ali a convite de Jinsoul, e ambos iriam dar um tour pelas masmorras em busca de qualquer coisa suspeita que encontrassem. Relatos de alunos que ouviram coisas suspeitas por lá iriam ajudar os professores a ficarem cientes e, então, Chanyeol, junto de Baekhyun, teria de vasculhar a estufa, local também suspeito e pouco vigiado, no fim de semana. Como a escola estaria com poucos alunos — apenas os que não saíram para ver seus pais dormiriam em Hogwarts —, não havia melhor período para que vasculhassem o local. 


...


Sentindo o cheiro refrescante das plantas brilhantes no sol, Chanyeol caminhou até estar no meio da estufa, verificando o horário vez ou outra no relógio de pulso que tinha levado consigo. Como o clima estava gostoso com um pouco de sol naquele sábado, Chanyeol teve que (infelizmente) dispensar o uso de seu sobretudo e colocou no corpo uma camiseta leve e bege nas pontas. Estava precisando tomar um ar e, mesmo que a situação não fosse uma das melhores, estava certo de que apenas a tentativa de se dar bem já valia muito. Porque Chanyeol com certeza não era nada bom em bancar o Sherlock Holmes do mundo bruxo, mas o que poderia fazer se a tarefa havia sido determinada pela sua superior? 


Estava ali para encontrar algum tipo de pista ou chamado estranho que fizesse ligação com os eventos recentes, mas não conseguia parar de pisotear para lá e para cá em busca de algum alívio para a ansiedade na boca do estômago. Mesmo com o sol entrando pelos vidros da estufa, Chanyeol ainda tremia, raspando os dentes no lábio seco e torcendo os dedos na barra da camiseta. Olhou para sua figura no reflexo do vidro acima da cabeça e se lembrou de que mal havia tocado em sua penseira nos últimos dias, tamanha a correria da nova rotina e dos novos mistérios. 


E falando em mistérios e assuntos enigmáticos, os passos que sucederam nos próximos segundos acordaram Chanyeol, que inclinou o pescoço e fitou os ombros largos escondidos em peças cinzas cima da cintura, os braços abertos na camisa solta de coloração preta e as gravuras de rosas e espinhos no centro do peito, em vermelho vivo. Baekhyun balançou as mãos cheias de anéis em cumprimento e Chanyeol levou alguns segundos a respondê-lo, distraído pela combinação dos fatores nervosismo mais beleza alheia. Engoliu em seco e ajeitou os óculos no nariz antes de desencostar da parede, voltando a pegar a varinha amadeirada. 


— Bela manhã, não, Park? — O sorriso de canto estava lá, como das outras vezes. Parecia um déjà vu do melhor tipo. 


— Bom dia, Baekhyun…? — disse e se perguntou na mesma frase, causando um rebuliço em si próprio. Baekhyun balançou a cabeça como se pensasse algo negativo sobre ele mas não quisesse dizer. — Onde vamos… onde vamos começar? 


Baekhyun procurou pelo papel amassado dentro do bolso traseiro da calça jeans, esbarrando os dígitos nas correntes prateadas que seguiam desde a cintura até a extensão das pernas. Assim que o tirou, abriu e mostrou a Chanyeol. 


O papel possuía a descrição exata do que um dos alunos dissera sobre o lugar. 


— Aparentemente, uma estranha presença foi vista aqui. — Baekhyun passou os dedos na nuca, refletindo alguns segundos sobre as palavras no papel.


— O que você acha que… que significa, Baekhyun? — Os olhos de Chanyeol estavam expressivamente preocupados. Não sabia bancar o Watson junto de Sherlock e ver Baekhyun, um professor e profissional veterano, demonstrar um certo nível de insatisfação o deixava perdido. 


— Devemos procurar. — Sacou a própria varinha e fez um movimento simples com o queixo que Chanyeol entendeu como siga em frente


O corredor feito por mesas de madeiras cheias de plantas em cima formava um arco e ele e Baekhyun caminharam por ali fitando cada uma das possíveis pistas. Mais ao lado, três vasos espatifados exibiam terra espalhada pelo chão. De olhos arregalados, Chanyeol cutucou o ombro de Baekhyun com o indicador e este se agachou.


Chanyeol não compreendeu muito bem quando Baekhyun colocou as mãos em uma porção de terra escura e, nas palmas, fechou como uma concha. Ia perguntar o que diabos ele estava aprontando quando recebeu um “venha aqui, Chanyeol” e ele prontamente obedeceu. Ajoelhou as pernas longas no chão, ouvindo alguns zumbidos de prováveis pássaros no céu, rondando a estufa. A manhã ia se aproximando do horário do almoço, e a cor dos cabelos de Baekhyun parecia um tanto como folhas de outono que caíam das árvores.


— Park? Park, tire a varinha, por favor. Está em outra constelação? — Chanyeol abanou a cabeça negativamente e Baekhyun bufou, indicando que ele deveria apontar a varinha para aquela porção de terra. — Diga “Accio” e vamos ver se há alguma coisa aqui.


Confuso, Chanyeol fez que sim, sussurrando Accio em um tom trêmulo. O que estivesse escondido nas partículas da terra, aparecia. Mas nada aconteceu, como o previsto. Ao menos, parecia previsível para Baekhyun, que sorriu de canto e pediu para que Chanyeol expandisse o buraco que havia criado entre o espaço de sua palma e a terra escura, como se estivesse criando, naquela concha, uma bolsa, um compartimento. Novamente com as sobrancelhas franzidas em confusão e os lábios bicudos como um cão, Chanyeol repetiu o processo.


— Baekhyun, no que isso vai nos ajudar?


Ele de nada respondeu, apenas ajeitou o corpo e se levantou sorrateiramente, pedindo para que Chanyeol o seguisse, e assim ele fez, mesmo não entendendo bulhufas do que ocorria ou poderia ocorrer.


— Baekhyun… você tá me fazendo de bobo, é isso? — com a varinha na mão, Chanyeol reclamou, claramente descontente. Baekhyun não reagiu às expressões meio infantis de birra que ele soltou, apenas disse para esperar.


Park. Espere e verá, certo? — Baekhyun suspirou impaciente e Chanyeol balançou a cabeça.


Assim que pisou em um dos estilhaços, um esganiçado grito apareceu no ambiente. De qual ave, eles não saberiam dizer. Baekhyun sorriu outra vez e puxou o corpo de Chanyeol junto do seu para o canto da estufa, em um espaço apertado e quente, onde os raios de sol mais tocavam. “O que a gente tá fazendo?”, o olhar de Chanyeol gritou para Baekhyun e, em resposta, ele mostrou um grupo de ratos de pelagem escura que atravessou todo o corredor, saindo direto de um buraco bem feito no solo, como se fosse recém feito por ferramentas ou mãos muito experientes.


— Eu já tive aula aqui. — Baekhyun colou as costas ao vidro quente, reclamando um ai baixinho quando sentiu a temperatura no tecido escuro. — Em uma das vezes, os ratos entraram e comeram todas as plantas. Sem exceção, todas mesmo. Mas a professora disse que isso só acontecia quando os lugares onde eles dormem são perturbados, entende? — Chanyeol assentiu meio incerto, mas piscou os olhos como se quisesse mostrar que estava o ouvindo com atenção. — Ela disse que, no dia anterior, ela mesma havia mexido ali para tirar alguns pertences que os alunos mais jovens tinham escondido no buraco. Então, assim que vi a terra espalhada, exatamente como eles faziam, eu soube. Se alguém suspeito esteve aqui, é porque deixou algo. Ou pegou. Só vamos saber se olharmos.


A boca de Chanyeol estava levemente aberta em descrença. A única coisa da qual pensara ao entrar ali era o nervosismo de acontecer outro incêndio ou coisa pior, como um exército ambulante de plantas andantes. Mas a lógica da linha de pensamento de Baekhyun seguiu por uma rodovia muito mais simples. O consciente de Chanyeol o chamou de lento, mas ele sabia que era questão de perspectiva, afinal, não tivera a mesma experiência que o outro. Ele achava, ao menos.


— Eu nunca… nunca pensaria nisso — admitiu, encolhendo os braços ao redor das pernas.


Baekhyun riu. Uma risada baixa e verídica, mas não foi como se estivesse tirando sarro de Chanyeol. Guardou a varinha dentro do bolso da camiseta preta e fitou Chanyeol.


— Eu só pensei, Park. Foi meio que instintivo para mim, sabe? — Ele concordou, devagar.


— Você fazia aulas com a professora Aurora? — Mordeu o lábio inferior, descansando a bochecha no braço que agarrava uma das pernas. Não queria de jeito algum olhar para os últimos dois ratos que seguiram corredor a fora e que passaram quase próximos de si.


— Fazia. — Limpou a calça dos pequenos vestígios de terra. — E você?


— Eu… eu não peguei as aulas com ela. Porque, sabe, eu sou dois anos mais novo que você. — Talvez Chanyeol achasse que revelar aquilo a Baekhyun fosse besteira demais, que fosse muita exposição.


— Eu sei, Park. Não sabia, no caso, que eram exatamente dois anos. Mas eu lembrei do seu nome e do seu rosto na noite do baile, certo? — Os olhos de Chanyeol miraram no sol atrás de Baekhyun, em uma tentativa de não corar na menção daquela noite.


— É… A gente não costumava conversar antes, né? Na verdade, tô te conhecendo melhor agora. Sinceramente, eu não sabia que você era assim — riu e Baekhyun esgueirou uma sobrancelha para cima.


— Assim como, Park? — Apesar de parecer intimidador, o tom saiu divertido.


— Assim, tão acessível. E não acessível ao mesmo tempo.


— Desse jeito você me confunde, Park Chanyeol. 


— Desculpa, Baekhyun. — Colocou a mão na frente dos lábios, mas Baekhyun o interrompeu antes que pudesse continuar.


— Eu lembro de te ver com o… Kyungsoo, certo? É esse o nome dele?


Chanyeol sentia superioridade na fala, a mesma de pessoas que viam as que estavam ao redor, mas pareciam não se importar o suficiente para se recordarem de seus nomes.


— Sim, Kyungsoo é meu melhor amigo. Como não sabe o nome dele? — A fala impulsiva saiu de uma vez só e Baekhyun, que se ergueu, deu de ombros.


— Eu só esqueci. — A mão se estendeu e Chanyeol levou alguns segundos para apanhá-la e pegar impulso.


Obrigado — tossiu, como se estivesse tímido, batendo as palmas nas vestes, tirando a poeira.


— Nunca vi alguém tão bom em herbologia como ele, deve ser por isso que escolheu ser professor. Eu nunca fui tão bom nisso, ou em adivinhações, coisas que são ligadas à natureza. — Baekhyun soltou a porção de informações e Chanyeol as listou como se estivesse apanhando as primeiras coisas que ele tinha um pouco de liberdade em dizer.


— E como escolheu essa matéria? Eu morro de medo de coisas que envolvem técnica demais, tipo… tipo a sua matéria! Me dá arrepios.


— Você deve ser o único que não gosta de DCAT na Terra. Não, na verdade você é sim o único.


— Não sou, Baekhyun. Muitas outras pessoas não gostam. — Cruzou os braços depois de guardar a varinha.


— Me diga, então, por que não gosta dela. — Movimentou o queixo, aguardando com um sorriso presunçoso. Trilhou os anéis de uma mão com os dedos gentis, as sobrancelhas levantadas como se esperasse uma resposta dele. 


— Todas as coisas que são ligadas às trevas me apavoram, Baekhyun. Eu não gosto nem um pouco de ouvir falar de… você sabe quem, ou daqueles que o seguem. — A expressão do outro ganhou um tom sério, ainda que a fala de Chanyeol fosse um pouco infantil e divertida. Ele descruzou os braços e respirou. — E, sei lá… Só não gosto. Eu nunca gostei muito.


O silêncio que se seguiu foi um tanto quanto constrangedor. Chanyeol pensou que por um momento havia ferido os sentimentos alheios, afinal, havia acabado de falar como se a aula do outro fosse uma apologia a Voldemort e seus seguidores, quando, de fato, era o contrário.


— Eu não quis ofender, desculp…


— Tudo bem. — Fitou Chanyeol nos olhos e o chamou com o ombro. — Nem todo mundo sabe apreciar a melhor aula do melhor professor.


Baekhyun!


E ambos compartilharam de um riso afetivo, confortável. Chanyeol chegou a esquecer o real motivo de estarem lá, mas cessou o riso quando Baekhyun e ele se aproximaram da terra esburacada, se concentrando no ponto focal onde os ratos haviam saído. Ali estava algo que ele não conseguiu enxergar na superfície, mas Baekhyun enfiou os dedos — sem nojo algum, o que fez com que Chanyeol arrepiasse os pelos do corpo, murmurando um eww —, fazendo uma contagem regressiva sussurrada e retirando de lá um colar. No pingente havia um frasco em formato de gota, como uma bola pontiaguda. Com receio de que fosse algo nocivo, Chanyeol o alertou mas ele não deu ouvidos, colocando o vidro no sol para que enxergasse as gotículas azuis de dentro do frasco.


— Poção de petrificação. — A voz de Chanyeol tomou conta do lugar. — Baekhyun, me dê isso.


Assentindo, Baekhyun olhou para os lados como se estivessem sendo vigiados. Limpou as mãos nos bolsos da calça, afastando as correntes do cinto e das canelas.


— Vamos levar isso para a sua sala. Você deve ter alguma coisa que analisa vestígios, certo?


— Eu diria para levarmos à Jinsoul, mas…


— Você é o professor de poções aqui, Chanyeol.


— Mas eu posso derrubar o frasco e perder isso. Aliás, acabamos de tocar nele sem luvas. E se isso implicar?


— Park, relaxa, sim? — Baekhyun inclinou o rosto, levando a mão até o ombro de Chanyeol, Alguns fios caíram acima de seus cílios pretos e as bochechas geralmente pálidas ganharam uma temperatura morna, Chanyeol sabia disso por conta do rubor e da marca úmida acima da orelha, nos cabelos que cresciam. — Você é um professor. Eu… eu entendo um pouco do que é o nervosismo de ser novato, mas, se você está aqui, é porque merece. Certo?


— Eu não tô inseguro ou nervoso… — murmurou, abaixando o olhar. Estava nervoso com o olhar tão próximo do outro e apenas o que queria fazer era desviar a atenção de seu rosto tão charmoso. Droga, por que tão bonito, Baekhyun?


— Sério? — A pergunta retórica e irônica fez Chanyeol olhá-lo com as sobrancelhas retas e o nariz empinado. Baekhyun sorriu, as costas da mão coçando o nariz. — Te acho engraçado, Park. É uma graça.


Chanyeol quis se contorcer inteirinho, mas se limitou a rolar os olhos. Mal sabia fingir que não ficava afetado.


— Vamos logo, Baekhyun… — Indicou a saída da estufa para ele, que assentiu, despreocupado, e fitou o frasco mais uma vez nas mãos de Chanyeol.


— Iremos aparatar? — Chanyeol fez que sim, mas Baekhyun o impediu de dar dois passos para a frente. — Me siga, preciso ver algo antes que encontremos Jinsoul.


— O quê?


— Apenas vamos, ok?


Com uma confirmação breve dele, Baekhyun traçou sua derme e, com a varinha, aparataram juntos.



Chanyeol não tinha ideia de onde iriam antes de segurar de forma frouxa no tecido preto bem próximo ao pulso de Baekhyun. No entanto, ao sentir a ventania parar e dar lugar a uma atmosfera mais gelada, úmida, Chanyeol sabia que tinham aparatado. Não conseguia enxergar nada, o véu escuro que tapava sua visão sendo arrancado pela luz no centro dos aposentos largos fazendo a vista doer. Estavam no subsolo, disso ele não possuía dúvidas. 


Ao abrir completamente os olhos, a primeira coisa da qual sentiu falta foi sua varinha, ao botar as mãos no bolso. Assustado, buscou por algo familiar no ambiente estranhamente esverdeado, fitando a varinha caída a dois passos de si, onde uma poltrona escura abrigava um ouriço de espinhos pretos e olhos como duas jabuticabas pequenas. Chanyeol soltou um grito baixo e assustado, se abaixando para pegar a varinha de volta e tomando cuidado para não esbarrar no animal que o assustava (Chanyeol reconhecia o quão pequeno e totalmente não nocivo parecia ser, mas não conseguia parar de sentir medo), ouvindo o som do riso rouco de Baekhyun. 


“Como ele foi parar lá?”, Chanyeol se perguntou, olhando o corpo de Baekhyun escorado na entrada central, onde a porta estava aberta. 


Uma das mangas estava virada para cima e, na palma das mãos, segurava um objeto oval e esquisito. Chanyeol percebeu que o ambiente se parecia muito com o próprio quarto: além da  janela exibindo o fundo cor musgo do lago, sentia os arrepios que os pelos do corpo apresentavam a cada um minuto pela temperatura amena. Limpou a mão com alguns resquícios de terra, ainda da estufa, na calça, e fitou o grande baú ao lado do corpo de Baekhyun, bem mais largo que toda a extensão de sua perna e com detalhes em dourado que sabia serem de muito valor. 


— Eu tenho certeza que o Morris não vai te machucar, Park — riu outra vez, e Chanyeol percebeu que ele estava falando do pequeno e medonho ouriço acima da poltrona. Quando escutou sua risada, o ouriço virou de um lado para o outro, fazendo manha. Chanyeol achou bonitinho, mas sabia que ele poderia atacá-lo com seus espinhos pontudos. 


— Ele é seu bichinho? — Chanyeol cruzou os braços, sem saber onde colocava as mãos. Sem saber se olhava para Baekhyun e a língua de fora, umedecendo o canto dos lábios, ou se limitava a dar uma boa e tímida analisada no cômodo onde estavam. 


— É meu amigo, eu diria. — O sorriso fraco que deu arrancou alguns barulhinhos vindos de Morris, que se enrolou todo no próprio corpo e afundou na poltrona. — Gostou dos meus aposentos? 


Ah, então estavam no quarto de Baekhyun. No entanto, era bem maior que apenas um quarto. Tinha mais de um cômodo e móveis que Chanyeol nunca sonharia em ter em seu pequeno alojamento. Bom, parecia pequeno agora, se comparado ao de Baekhyun. 


— Eu achei muito bonito, Baek… hyun. — Engoliu a saliva quando percebeu que ia chamá-lo por algum apelido inventado na cabeça durante seus meros contatos. Baekhyun ergueu a sobrancelha esquerda, indecifrável. — Quer dizer, é… é lindo! Eu não tenho um quarto tão grande assim, sabia? 


— São vantagens de ser um veterano, Park. — A fala pareceu levemente misteriosa no fim, quando Baekhyun virou de costas e balançou a cabeça. —  Você vai saber o que é se ficar um bom tempo aqui. 


Chanyeol o seguiu em passos rápidos para não deixar de acompanhá-lo. Baekhyun achou graça e sinalizou com o queixo, como o usual, para que Chanyeol se sentasse. Estavam no que parecia ser uma pequena cozinha, onde uma mesa grande de pino se estendeu pela visão de Chanyeol, que enxergou o frasco quase vazio da poção de petrificação acima da superfície lisa. 


— O que viemos fazer aqui? E como você aparatou antes de mim? Tipo… Como você conseguiu mesmo todo esse quarto? Até uma cozinha? Não devia ser injusto?  — A voz de Chanyeol saiu esganiçada no fim, e Baekhyun deu de ombros tranquilamente. 


— Muitas perguntas — soprou um riso, sentando-se. — Viemos para cá, porque se levarmos o frasco assim, estaremos correndo o risco de desconfiarem de nós.  — Penteou os fios ruivos da lateral da cabeça com a mão. — O que você disse sobre as digitais foi muito pertinente. 


— Obrigado… Eu acho. — Gesticulou, ao se sentar. "Mas você não respondeu todas as minhas perguntas", mordeu o interior da bochecha. O estômago roncou quando um cheiro doce preencheu o cômodo. — Eu não sabia que existiam ouriços como animais. 


— Me encantei por ele desde a primeira vez que visitei o Beco — riu fraco, pegando a varinha e levando o frasco transparente até o objeto oval. 


— O que é isso, Baekhyun? — Curioso, Chanyeol se aproximou um pouco para que conseguisse enxergar através das luzes submersas que entravam pelas janelas. 


— Um objeto isolante. E… não precisa… — buscou as palavras no ar, tendo a necessidade de mover as mãos para tal, e mordiscou o lábio inferior como não fazia de usual — me chamar pelo nome toda a hora. Pode dizer Baek. — O sorriso que ofereceu a Chanyeol foi, de longe, um dos mais reconfortantes. Chanyeol não quis encarar aquilo como um avanço além do limite na intimidade que não existia entre eles (mesmo que pensasse na troca de beijos constantemente), mas a mente era muito falha e gostava de iludi-lo. 


Chanyeol nunca havia visto um daqueles, apenas nos livros. Se lembrava bem das gravuras feitas como cascos de árvores nas folhas amareladas de enciclopédias, no entanto, enxergar um de perto era deveras diferente. Baekhyun deixou uma expressão apaziguadora no rosto, o convidando a tocar no objeto. Segurando em mãos, parecia um disco de vidro com uma pequena entrada, onde Baekhyun colocaria o frasco transparente. Chanyeol ajeitou os óculos com as costas do dedo indicador e devolveu o objeto a Baekhyun, que sussurrou Wingardium Leviosa para que o frasco viesse até seu destino, adentrando a cavidade do objeto translúcido. 


— Eu nunca tinha visto um desses… Onde conseguiu? 


Baekhyun pareceu ponderar antes de encará-lo e respondê-lo. Chanyeol achou que ele estivesse irritado pela quantidade de perguntas que fazia, mas no fim não concluiu nada da expressão misteriosa no rosto do rapaz. 


— Vantagens de ser um veterano. Algumas áreas restritas da sala de Jinsoul foram vasculhadas por nós, professores mais velhos, há algum tempo. — Fechou o objeto isolante e escutou um click vindo do encaixe. Ali, o frasco nunca poderia ser tocado ou perder os resquícios de líquido em seu interior. — Eles não proíbem os veteranos, Park. 


— Entendi… — Chanyeol moveu os lábios para o lado, bem acomodado na cadeira de grande comprimento atrás das costas. As poucas cadeiras que estavam dispostas ao lado da mesa eram exatamente como essas. Lembravam cadeiras antigas, das obras medievais dos trouxas. Olhou para uma prateleira cheia de troféus dourados, poucos pontos pratas no meio. — Você jogava quadribol! Eu me esqueci disso. 


O sorriso que surgiu no rosto aparentemente cansado de Baekhyun mostrou algo que há tempos não era desperto. Sentiu uma ponta de orgulho de si próprio quando Chanyeol encarou os troféus com tanta admiração no olhar. 


— Isso. — Retirou um dos anéis do dedo médio, que começara a provocar calos no encontro de outro dígito, o largando acima da mesa. —  Já assistiu algum jogo meu?


— Já! Tipo, muitos jogos. Quem nunca viu a casa da Sonserina jogando naqueles anos? Eu não me lembrava mesmo disso, mas… você era incrível, Baekhyun. — Ambos se encararam por alguns segundos que se pareceram minutos. Chanyeol não sabia decifrar muitos dos olhares de Baekhyun, mas não tinha dúvidas de que as bochechas fazendo seus olhos se fecharem em um sorriso fraquinho significava obrigado, Park. 


— Acho que você seria um bom fã meu, se eu te conhecesse naquela época. Um de verdade, não apenas um bajulador, sabe? — Chanyeol concordou, gargalhando. — Existiam muitos desses, mas você tem jeito de ser fiel. Parece um cãozinho, às vezes. 


As bochechas de Chanyeol, seu pescoço e sua nuca ficaram vermelhos como da vez onde havia o beijado. Sussurrou não, não, não como um mantra para esquecer a memória gostosa, porém vergonhosa, e Baekhyun o ofereceu uma porção de queijo assado e pães frescos, já que o horário estava próximo do almoço e ele não podia dar o luxo de ter alguém desmaiando em seu quarto. Aceitou de bom grado e disse que gostaria de uma bebida, se não fosse incomodar muito. 


Observou as paredes bem limpas porém mal pintadas do cômodo, era como se Baekhyun não possuísse muito tempo livre para dar uma segunda mão de tinta no próprio quarto. Talvez ele fosse alguém ocupado, Chanyeol não fazia ideia, mas devido aos inúmeros atrasos que já o viu cometer, possa ser que suas hipóteses estejam certas. 


— O queijo não é bem queijo, espero que não se importe. — Chanyeol movimentou as mãos, negando. 


— Por quê? Não gosta de queijo de verdade? 


— Sou alérgico. 


— Oh, então deve ter perdido uns bons quitutes da festa, né? Tipo, eu comi bastante coisa com queijo lá. — Baekhyun riu da fala e concordou, mexendo os pratos no ar com a ponta da varinha azulada. 


— Não sou um exímio cozinheiro, mas espero que goste, Park. 


Ele não precisava dizer mais nada, o estômago falou por si. Comeram, não silenciosamente como Baekhyun costumava fazer, mas Chanyeol conduziu um diálogo cheio de perguntas e tagarelices. Descobriu que o professor de Defesa contra as Artes das Trevas já venceu mais de dez campeonatos de quadribol e que, a maior parte deles, ele perdera por ser mais novo e não ter tempo de acompanhar os jogos. Chanyeol viveu a metade da adolescência coberto por livros e mais livros, enciclopédias inteiras feitas somente com os estudos profundos dele, de tanto que se esforçou. Ser chamado de nerd por Baekhyun soou como um elogio, ainda que ele tivesse dado um leve empurrão em seu ombro, em uma raiva fingida. 


Um pio bastante estridente chegou aos ouvidos de Chanyeol quando sua mão tocou a cortina prateada, buscando curioso o que era 


Baekhyun despejou alguns jatos d'água com Aguamentis nos pratos utilizados e se levantou. Chanyeol fez o mesmo e de maneira desproposital esbarrou em um dos ombros dele, pedindo desculpas após, ganhando uma breve e estranha bagunçada em seus fios pretos que cresciam cada vez mais atrás do pescoço. Estava começando a esfriar demais ali e ele sabia que a missão do dia estava cumprida e mesmo que não quisesse deixar Baekhyun, tinha que arrumar muitas outras coisas naquela tarde. 


— Bom, Baekhyun… eu já vou indo — sorriu calmo e ele respondeu positivamente. Em um instante de impulso, bateu cauteloso uma das mãos no ombro de Baekhyun. 


Não sabia se podia extrapolar os limites com o professor de DCAT, mas assim que deu dois passos fora do dormitório dele, braços envolveram seu corpo em um abraço confortável e desajeitado. Baekhyun não o fitou, muito menos deixou o abraço durar por muito tempo, mas a temperatura morna que ficou, mesmo depois do ato, fez a barriga de Chanyeol amolecer. Nem mesmo aranhas gigantes poderiam assustá-lo tanto quanto as pequenas aproximações de Byun Baekhyun. 


… 


Ainda que o fim de semana estivesse quase em seu fim, Chanyeol quis aproveitar de uma das melhores formas: explorando Hogwarts pela décima vez desde que tinha entrado lá como professor. Deu algumas voltas em torno da biblioteca pequena exclusiva para os alunos da Corvinal, já que a principal continuava interditada, e decidiu que seria uma boa pegar os utensílios para as aulas da próxima semana. 


Chamou Kyungsoo com o indicador, pedindo a ele que passasse para si o caldeirão mediano junto das varetas transparentes que se usava para misturar poções. O depósito servia mais como uma despensa para todos os professores, incluindo os dois, que tinham acabado de descobri-lo. 


Kyungsoo ostentava uma roupa mais despojada, diferente das vestes que usava no dia a dia; Chanyeol olhou seu moletom cinza e os fios aparados outra vez, tinha certeza que daqui a algumas semanas ele apareceria com a cabeça raspada de tanto cortar os cabelos, mas achava uma gracinha. 


— Você acha que vão liberar a biblioteca em breve? Tipo, será que vai demorar pra arrumar tudo, Soo? 


Kyungsoo fechou as mãos em volta da pasta amarela em cima da mesa, após ter entregue os objetos para Chanyeol, e o olhou por cima dos óculos. 


— Eles já arrumaram, Yeol. Com certeza já arrumaram — deu um riso fraco —, mas creio eu que vá demorar alguns dias ainda, principalmente por estarmos averiguando os locais. 


— É, verdade… Mas eu mal pude aproveitar o lugar! — disse, dengoso e preguiçoso. Descansou o corpo na cadeira confortável e apoiou o rosto em uma das mãos, fitando Kyungsoo. — Aliás, como foi a investigação com a Yves? 


— Você diz investigação como se fossemos algum tipo de… Qual o nome mesmo? Do homem que os trouxas gostam. Que é detetive. — Chanyeol gargalhou contido, causando tremores leves na mesa. 


— É Sherlock Holmes, Soo. Já te disse mil vezes! O Myeon gosta muito dele. 


O rosto de Kyungsoo tomou atenção novamente à pasta, a abrindo e tirando de lá uma folha cor creme com diversas gravuras sobre plantas e animagos. Havia visto em um recorte de jornal, minutos atrás, e a vontade de criar um assunto novo e complexo para os alunos naquela semana, mesmo que tivesse de seguir a cartilha de Hogwarts, o deixou completamente animado. 


— Myeon? — A voz raspou na garganta e Chanyeol achou engraçado, mais uma vez Kyungsoo demonstrando estranheza quando ele tocava no nome de Junmyeon. Seria ciúmes? — Seu amigo trouxa? 


— Isso, Soo. Ele é fã do Sherlock Holmes. 


— Hum. Não deve ter nada demais nesse Sherlock, Chanyeol. — Chanyeol soltou outro riso, levantando o rosto e o encarando. 


— Você parece enciumado, Soo — soltou a confissão, fazendo Kyungsoo arregalar os olhos como se estivesse indignado, perplexo.


— Eu? Com ciúmes do seu amigo trouxa? Não tô não, Chanyeol. 


— Tá até me chamando de Chanyeol… O que houve com Yeol? — brincou, fazendo de conta que Kyungsoo não parecia raivoso de verdade. — Eu tô brincando, Soo. Não precisa ter ciúme. 


Kyungsoo bufou e ele fez um caminho bobo com os dedos no ar, parando bem acima de seu par de óculos. Traçou a ponte de seu nariz e apertou a ponta, em uma velha brincadeira que faziam quando estavam entediados na aula. Chanyeol guardava aqueles momentos como o ouro mais precioso na penseira do dormitório. Certa vez, andando tedioso pelo pátio de Hogwarts após sair de uma aula pavorosa de Adivinhação, Chanyeol decidiu que a melhor coisa a se fazer seria dar uma espiada embaixo da cama de Kyungsoo, onde o garoto sempre passava o tempo lendo páginas e mais páginas de livros técnicos. O interrompeu sem motivo aparente e ficaram, lado a lado, pouco espremidos levando em conta o tamanho das pernas de Chanyeol, e descobriram que apertar bochechas, narizes e fazer feitiços bobos de transfigurações nos cabelos e olhos um do outro podia ser uma boa brincadeira.


— Não vá deixar meu cabelo cinza outra vez, Park Chanyeol. — O falso tom de irritação os levou a uma onda de risos, onde Chanyeol por fim se levantou e fez cócegas no pescoço dele. 


— Você ficou lindo de cabelos cinzas, Soo… É sério! Ao menos não ficou igual a mim, de cabelo laranja. Jamais vou te perdoar. 


— Só pra deixar claro que eu não fiquei com ciúmes, Yeol. Não fiquei. — Chanyeol levantou as mãos como se estivesse se rendendo. 


Com os utensílios de suas respectivas aulas colocados dentro dos bolsos, literalmente, maximizando o espaço fundo e o transformando em infinito, deixaram o cômodo em busca. Chanyeol era tão grato a todas as vezes em que usava aquele feitiço que se sentia sortudo por conhecer o mundo bruxo e fazer parte dele. Falando em coisas mágicas, foi na conversa de ambos que Kyungsoo acabou se lembrando de que precisava passar na sala de Jinsoul para finalizar o relatório completo sobre o que ele e Yves viram. 


— Mas, você viu o que, Soo? Alguma coisa assustadora? — Os olhos de Chanyeol estavam arregalados, esperando algum comentário interessante que Kyungsoo fizesse. 


Andando lado a lado, eles passaram pela escada fria que levava até o corredor onde os troféus e medalhas por bravura, melhor feitiço do ano por algum aluno e outros prêmios da escola de Hogwarts estavam localizados. 


— Bom, não… Mais ou menos. Yves fez alguns feitiços e pudemos visualizar as plantas que estavam por lá, algumas em vasos. Encontramos dois deles quebrados e um punhado de terra espalhado… — Kyungsoo virou o rosto para Chanyeol no momento em que ele o apertou um pouco mais forte do que o usual em seu braço. 


— Terra? Tipo, terra mesmo? 


— Isso, Yeol — tranquilo, Kyungsoo confirmou e ajeitou a alça da mochila no corpo. 


— Eu e Baekhyun vimos também! Quer dizer, achamos uma coisa dentro dela — sussurrou, os olhos arregalados fitando ao redor. As paredes de Hogwarts tinham ouvidos muito bem atentos. 


—  Acharam algo? Como o que, Yeol? — A curiosidade apareceu nas entrelinhas do rosto de Kyungsoo, que abaixou o par de óculos levemente. 


— Um frasco. Estava quase vazio, mas Baekhyun o isolou em um objeto. 


— Então vocês não levaram à Jinsoul diretamente? — Kyungsoo começou a dar passos mais lentos, virando o rosto completamente para Chanyeol. O fitou fixo em seus olhos. — Ela pediu para que fizéssemos isso, Yeol. 


— Eu sei, mas tipo, ele me disse que seria arriscado. Porque a gente pegou o frasco na mão. Sabe? Sei lá, ele só disse isso e isolou o objeto. Tanto faz, Soo, ela não vai nos repreender. Muito menos o… Baekhyun. Ele é veterano, né? — Deu de ombros, mas Kyungsoo ponderou por um segundo, as sobrancelhas desenhando um arco. 


O Baekhyun. Sei. 


Por que essa cara, Soo? Chanyeol puxou o braço de Kyungsoo para que ele prosseguisse, ainda que desse a impressão de querer ficar no meio do corredor.


Avistaram de longe onde as portas das salas de aula começavam e, por algum motivo, os céus se esverdeavam lá fora, fazendo as sombras encostarem em seus pés. O horário passou em uma velocidade que Chanyeol não pôde prever e, logo no dia seguinte, teria de voltar a trabalhar novamente. Ver o rosto de Jinsoul e dos outros professores como se esperassem uma resposta de si e de Baekhyun. Ele não estava assustado como se fosse culpado, mas o olhar de Kyungsoo era claro e demonstrou que ele não se dava tão bem com Baekhyun quanto Chanyeol pensava.


Eu só não gosto dele, você sabe. Nunca fui muito com a cara dele. Adotou uma expressão diferente na face e demonstrou que estava tudo bem, mesmo que Chanyeol não sentisse isso. Era você quem sempre teve olhos pra ele, não?


Eu? Os olhos de Chanyeol se arregalaram e ele envolveu os dígitos nos semelhantes, em uma mania incessante. Eu não tinha olhos pro Baekhyun. Eu só… eu só olhava, né? Até você admirava os caras de turmas mais avançadas que a nossa.


Acho que tem algo a mais aí, Yeol brincando, Kyungsoo esboçou um sorriso de canto e Chanyeol se viu irritado e vermelho.


Pensou nos beijos trocados com Baekhyun e a confirmação deles no dia em que foram chamados para a reunião. Baekhyun tocou nos livros de capa dura e o fitou, sorriu para si. Kyungsoo teria percebido os pequenos gestos ou seria Chanyeol a jogar alto e claro além do permitido? Balançou a cabeça e largou o aperto nos dedos, sem se dar conta de que estavam na próxima escada.


Tenho que levar esses utensílios pro meu dormitório e falar com a Yves. Nos vemos outra hora, Yeol? Chanyeol afirmou com um aceno, o corpo se virando. Foi interrompido pelas mãos de Kyungsoo que agarraram seus ombros. Vai sair sem me dar um abraço? Ficou vermelho pelo o que eu disse?


Riram baixo quando o silêncio de Chanyeol disse tudo, mas se abraçaram forte antes que Kyungsoo tomasse a direção contrária. Tomou a frente com passos distraídos e rápidos, o coração batendo forte. Até quando coisas nada extraordinárias aconteciam, ele se sentia daquele jeito.


...


Um pássaro de penas grossas e olhos escuros pousou acima de uma coluna e Chanyeol se assustou com o piado do animal. Ele fitou Chanyeol como se fosse um espírito, ou Chanyeol estava divagando pelos recentes delírios que ficavam gravados na mente. Não havia ninguém por perto, mas o vento do final da tarde parecia lhe sussurrar coisas. A nuca dele se arrepiou, mas ele balançou o corpo e os braços, na tentativa de tirar as vibrações ruins e os tormentos das últimas ameaças, e prosseguiu seu caminho. O pássaro continuava voando e pousando, andando pouco a pouco, próximo a Chanyeol. Ele o achou adorável, se lembrando de uma vez em que ele e a mãe adotaram uma coruja perdida no fim da rua de onde moravam.


O bichinho era encantador e apareceu no meio da chuva, comovendo ambos. As gotas grossas que caíam no chão morno e abafado não deixavam o animal respirar corretamente, e Chanyeol já tinha os olhos marejados quando o carregou até sua mãe, gritando: “Omma, omma!”. A mulher acarinhou os cabelos cortados de seu menino e com cautela carregou a coruja nas mãos com a ajuda de um pano que materializou do fundo da bolsa que carregava, as bochechas de Chanyeol ganharam volume, chocado com o que a magia dela poderia fazer.


Ficaram por duas semanas com a coruja. Ela até mesmo ganhara um nome, Afrodite. Chanyeol tinha lido muitos contos gregos e romanos quando ficara durante os fins de semana na casa de seu pai, e o bico avermelhado da ave não o deixou escolher outro. A mãe não dera muita importância em cuidar do bichinho, mas não fazia ideia de que ela tinha um dono; uma dona, de forma mais específica. 


Aquela fora a primeira vez que Chanyeol enxergou a fúria de uma bruxa maligna (foi a forma como ele a descreveu), gritando com sua mãe sobre usar magia em um lugar onde o fluxo de trouxas era grande. Aquela foi a primeira vez que ele enxergou a luz verde no céu, o corpo da serpente entrando e saindo dos olhos e da boca; a marca dos Comensais.


A pele se arrepiou com o vento, mas ele não pôde evitar de seguir o passarinho, que o chamava, piava para si e andava, voava em uma direção gramínea. O jardim externo de Hogwarts poderia ser comparado com os que existiam no Olimpo, o manjar dos deuses repleto de flores coloridas e aromáticas, árvores extensas onde os alunos mais velhos gostavam de se sentar debaixo dos fortes raios solares, comendo sanduíches com geleia de frutas vermelhas (como Chanyeol tanto fizera). Os passos mínimos do pássaro aumentaram e ele içou voo outra vez, piando. As duas bolotas pretas fitaram Chanyeol e ele correu atrás do bicho, se assustando com o próprio desespero repentino. Era somente um animal indefeso, por que diabos o seguia? Estava curioso e a curiosidade movia mentes espertas.


Passou o conjunto de colunas e o jardim inteiro, enroscando o par de tênis desamarrados na grama, mas sem se abalar, seguiu o bicho até uma entrada escura, no fim de sua esquerda. Dava direto para o porão e ele não sabia o que pensar. Não tinha ideia de onde daria pois jamais tinha entrado no porão, local proibido para os alunos. Mas já não era mais um aluno, concretizou. Suspirou decidido e caminhou pela pequena escadaria que o levou até uma porta de um tom marrom tão forte quanto seus cabelos.


Um passo. Ele dá apenas mais um passo antes que o pássaro entre pela fresta de uma vidraça suja e empoeirada bem acima da porta. Um passo foi o suficiente para que ele se lembrasse de que estava em um lugar escondido demais e que todos os ruídos causavam um eco enorme. Respirou fundo apenas pelas narinas. Sons se deram atrás da porta, vozes grossas e altas. Mas não propositalmente altas, seus donos tentavam não atrair a atenção alheia, mal tendo noção de que Chanyeol se escondeu agachado próximo dali. Se voltasse da mesma maneira como tinha ido, nada aconteceria, ele sabia disso. Porém o corpo não reagia. Isso só piorou quando ouviu um grito, as palavras claras passando pelas orelhas de Chanyeol:


Você nunca devia ter voltado. Não devia ter voltado há quatro anos.”


Três anos… Três anos! E você nunca se importou. Por que voltar agora? Por que arriscar tudo e colocar o meu nome nisso?”


Um nome fora dito no meio, mas Chanyeol não conseguiu entender. Kim, Min, In. Ele tentou decifrar mas nada fez sentido.


Porque você é ridículo, é arrogante, é prepotente, narcisista. É igualzinho a nossa tia.”


Belo sobrinho ela tem, não é? O que você acha que ela diria se o visse aqui ameaçando meu emprego? Eu já não faço o suficiente pra vocês dois? Acha que eu me enfiei nesse buraco porque eu quis?”


Aquela frase. O jeito como fora dita e o riso no fim. O estômago borbulhou no mesmo instante, seu rosto ficou vermelho e quente. Conhecia bem aquela voz.


Não quero ver seu rosto outra vez aqui, certo? Me ouviu bem? Eu não tenho culpa se de fato sou ótimo no que faço e você sempre foi medíocre, Kim.”


Kim. Kim?”, houve uma explosão de gargalhadas, forçada e chorosa, no fim. Esganiçada. “Tem coragem de me chamar assim?”


Eu não preciso de coragem, sabe? Nunca precisei fingir ser algo que eu não sou. É você quem usa esse sobrenome falso. Escroto de merda, eu não quero te ver aqui. Pare agora de ameaçar a vida de pessoas inocentes. Meus alunos não precisam de você.”


Chanyeol já não tinha noção nenhuma do que se passava ali, mas ele ficou com medo. Se levantou mudo e tremendo, a voz de Baekhyun o deixou atordoado. Ele teria saído, é claro, senão fosse a brutalidade com que fora jogado pelo abrir da porta.


Caiu no chão, confuso e vermelho. A boca estava aberta e o lábio tremia, seus olhos não conseguiam se fechar e se focaram na imagem do homem furioso acima de si. As roupas de cor lilás no corpo, junto de um par de luvas bem decorado e um brinco prateado na orelha. Sorriu quando o fitou e Chanyeol raspou as costas da mão no solo, de tão receoso que estava, atônito. O susto veio de fato quando o homem lhe deu as costas e aparatou ali mesmo, mas antes que o fizesse, dizendo:


Seja inteligente e apague a mente dele, Byun.


Mas quando Chanyeol se levantou em um choque, pronto para correr, fitou os olhos intensos de Baekhyun que procurou olhar em seu rosto, o analisando, procurando em Chanyeol algum traço de ferimento ou surpresa, repulsa. Chanyeol não entendia o porquê, até que em um súbito momento seus olhos foram parar no braço estendido de Baekhyun, a varinha dura colada ao seu pulso. O vento brusco entrou pela escada do porão e os fundos do cômodo onde ele estava. O que parecia ser uma tatuagem de início para Chanyeol, revelou ser algo a mais.


A marca preta e forte como desenho feito com carvão se desenhou, se moveu, a caveira mesclada à serpente, no pulso de Baekhyun. A voz abafada dele ecoando em seus ouvidos antes que desmaiasse, atordoado demais para pensar no que quer que fosse. Atordoado demais para se lembrar. 

 



 




Notas Finais


O que acharam? Espero que tenham gostado! Perdão se algo passou fora da revisão; aceito apontamentos nos comentários.

Até a próxima!


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