História Feitos para matar - 2 - terra

A enfermeira se aproximou  de Kuai, ainda chocada. Já faziam tantos anos que ele estava alí, deitado naquela cama. Vinha todos os dias cuidar de Kuai Liang, trocava seu soro, lhe dava banho, aparava os cabelos, cortava as unhas. Era como um filho.

Caminhou com passos lentos para perto do garoto. Ele olhou a enfermeira pelo canto dos olhos. A enfermeira parou. Seus olhos eram um azul tão bonito, sabia muito bem que ele é mestiço, filho de chinesa com americano, por isso os traços eram mais chamativos que os demais pacientes. Suas mãos brancas iam lentamente ao encontro de Kuai.

Arregalou os olhos, enquanto tentava se soltar de uma tentativa de estrangulamento. Puxava o ar com todas as forças não entendendo o porque do menino estar tentando matá-la.

Kuai mantia firme suas mãos no pescoço da enfermeira, apertando cada vez mais seu fino pescoço, seus olhos transbordavam ódio misturado com confusão e medo.

Viu a porta sendo aberta, mas ignorou. Iria matá-la. Quem eles pensavam que era, para manter ele ali em um hospital que pertencia a Shao Kahn. 
Sentiu uma picada. Virou a cabeça para o lado, viu um homem vestido de medico. Fechou os olhos, se rendendo ao cansaço, pensando se aquele era Shao Kahn.

Desgraçado, pensou, antes de mergulhar em uma densa escuridão novamente.

Acordou assustado, levou a não ao rosto limpando as goticulas de suor que se formaram em sua testa. Engraçado, nunca havia suado antes. Olhou em sua volta, ainda continuava no mesmo hospital, porém agora de manhã, arrancou a seringa do soro que estava presa ao braço direito, pois os pés brancos no chão gelado do hospital. Não iria esperar nem mais um segundo, iria sair de lá imediatamente. Parou ao sentir uma mão o impedir, virou-se se deparando com o medico sentado na borda de sua cama.

- Você não vai a lugar nenhum, senhor Kuai Liang. - Falou um homem vestido com um jaleco branco e um crachá escrito seu nome e seu posto em ideogramas chineses, o que Kuai não conseguia ler. Ele falava em chinês, o rapaz entendia , porém não sabia responder no mesmo idioma.

- Quem é você? - Perguntou Kuai em inglês. O medico franziu o cenho, se perguntando o porque dele não responder igualmente em chinês.

- Eu sou o medico responsável por você, Kuai Liang.

- Você não é nada. Eu quero que me tirem daqui agora! - O mestiço passou a ficar agitado , suas mãos pálidas foram de encontro ao pescoço do medico, em uma tentativa de estrangulamento. Porém o mesmo conseguiu o segurar. De certa forma, Kuai ainda estava fraco.

A enfermeira aproximou-se com a seringa.

-Não faça isso! - Gritou o medico, ainda o segurando.

- Mas doutor, ele quase matou a outra enfermeira com as próprias mãos! 

- Largue essa seringa, senhorita! - Exclamou , passando a olhar nos azuis dos olhos do mestiço. - Eu não quero te sedar, então colabora, rapaz. Após essas palavras, Kuai encolheu um pouco os braços. - Eu não sei o que deu em você, para acordar assim, Kuai. Você quase matou a outra enfermeira que cuidava de você todos os dias... Oras, mas o que deu em você? Ninguém acorda assim após um coma.

- Coma? - Sussurrou com os olhos arregalados, encolhendo os braços de vez.

- Sim, você estava dormindo durante quatro anos.

-Não, eu não estava dormindo!

-Estava sim. - O medico, desviou sua atenção de Kuai e dirigiu sua atenção enfermeira. - Senhorita Mei, vá até a recepção e autorize a entrada do senhor Luo.

- Aguarde um pouco , Kuai, seu tutor logo irá chegar. - Disse o medico ao mestiço, quem se encontrava muito confuso. 

Pois a mão na cabeça em forma de desespero, como assim? Então , tudo o que viveu foi um sonho? Olhou para as mãos. Tudo que aprendeu, pessoas que conheceu. Tudo, tudo mentira. 

Nunca tinha sido Sub-Zero.

A porta foi aberta e um senhor de idade avançada. Possuía cabelos grisalhos e longos, preso em um coque no todo da cabeça, possuía também uma barba longa e fina, os olhos finos e escuro como a noite, usava roupas sociais caras e uma bengala na mão esquerda.

Kuai engoliu em seco, o rosto do velho não lhe era estranho, porém por mais que tentasse forçar a mente, nada lhe vinha a cabeça em relação aquele velho.

- Vejo que você anda dando muita dor de cabeça aos seus médicos, Kuai. - Disse o velho em chinês.

- Quem é você? - Perguntou  frio em inglês. 

- Não me reconhece mais Kuai? Ta certo que ganhei alguns quilinhos e também fiquei mais velho, mas não são motivos para não me reconhecer! E porque está falando em inglês?

O velho Luo abraçou forte o jovem Kuai.

- Você me deu muita preocupação, reagia completamente ao tratamento, apenas não acordava. Olha para você, está uma mistura perfeita de seu pai e sua mãe. -O velho passou a mão aos olhos, limpando as finas lágrimas de felicidade. - Com quantos anos está? Dezoito? 

- Dezoito? 

- Sim, está um rapaz. Senhor e senhora Wang deixaram você e seu irmão sob a minha guarda, faleceram muito cedo , coitados. Tem que ver Bi Han , estudando nas melhores faculdades dos estados unidos, logo vai se formar e seguindo os passos de seus pais, vai virar um grande medico.

- Quem é Bi Han? 

- Seu irmão mais velho.

- Eu não tenho irmãos. 

- Tem sim, Kuai . Bi Han vem sempre te  visitar, quando pode. Ele está vindo, tratou de providenciar a passagem assim que soube que acordou do coma.
Kuai franziu o cenho. Não estava entendendo nada.

- Em que ano estamos? - Perguntou, assim que se lembrou que não enchegava de longe o calendário.

- Ano de 2013. 

Arregalou os olhos não acreditando. Tinha voltado dois anos, pois em Edenia estavam no ano de 2015. O velho saiu do quarto quando acabou o horário de visita. Kuai soube que estava em Xanghai, uma cidade da china, soube também que logo teria alta e iria embora para casa, para ver seu irmão e adaptar a vida que tinha agora. Cada dia que passava daquela semana, Kuai ficava mais raivoso com essa confusão. Tentava o máximo ser frio como antes, mas muitas vezes não conseguia. O velho Luo lhe mostrava fotos e mais fotos das pessoas de sua família, sabia que as conheciam, porém não se recordava de nenhuma delas. Porém uma foto lhe chamou a atenção. Sabia que a tinha visto antes.

- Usaram essa foto no jornal, para anunciar a morte de seus pais, Kuai. Ofereci uma que havia nela todos vocês, porém o jornal quis essa.

Já tinha visto essa foto em Edenia, Smoke havia lhe mostrado antes. Então era isso, estava no planeta terra? Tinham se livrado de vez do plano de ser vendido por Shao Kahn como assassino.

Era disso que tinha medo, da realidade e aqui estava ela, lhe assustando da pior maneira possível.
O velho Luo veio no fim da semana para buscar-lhe e irem para casa. Kuai dava seu máximo para não transbordar desespero, não queria ficar nesse mundo. O velho Luo deu ordens ao motorista em chinês. Seguiram pela cidade de Xanghai  até chegarem a uma casa com decoração européia. A casa era extremamente linda, grande, parecia uma mansão.

- Bem-vindo a casa dos Wang, jovem Kuai, bem-vindo a sua casa.

Kuai Liang saiu do carro junto ao velho Luo, enquanto o motorista levava uma mala sua para cima, apesar de Luo dizer que irá levá-lo para as compras no dia seguinte.

Um rapaz que aparentava ter uns vinte e cinco anos ou menos entrou na sala de estar, chamando a atenção de ambos. Era da mesma altura de Kuai, possuía igualmente olhos azuis gelados e mistura de americano com chinês em seu físico, possuía cabelos longos escuros, brilhantes e a barba feita.

- A quanto tempo Kuai. - Disse o homem.
Kuai arregalou os olhos. Era como um flashback do torneio Mortal Kombat. Com sua mão esquerda , empurrou o velho Luo atrás de si, se pondo em posição de defesa. " Que p***a Noob Saibot estava fazendo aqui, em minha casa?"

A voz do homem era idêntico ao Noob Saibot, o jeito de andar, tudo.

Kuai esperava Noob Saibot atacar, porém ele não se moveu, nem atacou, ao contrário, gargalhou.

- Soube que acordou biruta. - Disse antes de gargalhar novamente. Kuai teve que controlar sua raiva, pois estava muito chateado com tudo.

- Não diga essas coisas ao seu irmã, Bi Han! -Repreendeu Luo. 

- Estou brincando, vem cá maninho.- Bi Han abraçou desajeitadamente Kuai, que não reagiu ao abraço do irmão.- Senti sua falta, já faz quatro anos, sabia? - Você só tinha quatorze anos, quando sofreu aquele acidente e ficou de coma.

Kuai não sentiu nenhuma emoção vindo de seu irmão ao não ser ironia. Se manteve todo o tempo sério, sem achar graça de nada.

Quando finalmente ficou sozinho em seu quarto improvisado, refletiu em tudo que estava acontecendo ultimamente, era um pesadelo! Iria dormir é quando acordasse, tudo voltaria ao normal e estaria em Edenia. 

Ainda seria Sub-Zero.