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História .ferramentas, livros e provas - IX. a cantina e seus lanches de emoções - História escrita por ryokira - Spirit Fanfics e Histórias
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História .ferramentas, livros e provas - IX. a cantina e seus lanches de emoções


Escrita por: ryokira

Notas do Autor


passamos de 450 visualizações! sério iodjfsifds toda vez que eu venho agradecer só aumenta esse número e eu fico EXTREMAMENTE feliz. de coração.
HABEMOS CAPA NOVA! tá meio cagadinha porque fazia anos que eu não editava e eu não gosto de usar material senão o oficial então né,,,
ok, agora vamos: mil perdões pela demora! eu fiquei resolvendo umas coisas da faculdade, meu bloqueio atacou e, no final, eu acabei dando prioridade pra terminar a minha oneshot do que continuar a escrever esse capítulo e eu sei que a culpa foi totalmente minha. o bom é que agora com isso tudo fora eu vou conseguir voltar com a minha rotina de escrever.
infelizmente não vou conseguir mais atualizar a cada 4 dias :( vou tentar ficar nisso de uma vez por semana e agradecendo que eu não preciso mais ler kant por causa do eadkkkkkkk
mas enfim. vamos com mais um ganchinho pra continuar o caminhar da história <3
espero que gostem!

Capítulo 9 - IX. a cantina e seus lanches de emoções


Ezreal não acreditou no que Jayce disse em um primeiro momento. Na verdade, a sua mente não havia processado a ideia: ele estava tão perdido em seus devaneios que seu primeiro pensamento foi “que exercício?”. Seus olhos seguiram o caminho que o corpo de Jayce fazia ainda que estático: ele fitou seu rosto, depois seus braços e, por último, sua mão e só então ele entendeu o que estava acontecendo: o segundanista apontava com a caneta para sua escrita, destacando o símbolo de “certo” que havia feito após a correção da resposta do mais novo. O primeiranista compreendeu um dos conceitos da aula informal e talvez ele não fosse um caso perdido como dizia ser.

O loiro piscou diversas vezes, como se os cílios claros o impedissem de ler, levantando uma das sobrancelhas na expressão confusa que Jayce tanto se maldizia por achar adorável. O inventor prodígio aguentou um riso baixo enquanto Ezreal verificava o caderno e os escritos, incrédulo. 

— Eu acertei? — ele repetiu, recebendo em resposta um baixo “sim” seguido de um balançar de cabeça. Tudo em sua mente pareceu focar naquele ato e um sorriso cresceu em seu rosto, restaurando-lhe as energias. — Você acha que eu agora consigo gabaritar? Tipo, eu consegui fazer esse e a prova tem exercício assim, né? Talvez eu consiga a pontuação máxima já que eu acertei aqui! — Aguentou a própria empolgação para que Nasus não o encarasse com o olhar mais assustador que possuía. 

— Ezreal, a prova não vai ser só isso. — Jayce destruiu os sonhos do primeiranista, que rapidamente deixou de sorrir para ter uma expressão frustrada no rosto. Claro, ele sabia, no fundo, que aquela não era toda a matéria, mas algo em si o fez acreditar que talvez ele conseguisse finalmente se dar bem na disciplina. — Ainda tem muito para revisar. Não vimos nem metade. 

— Então isso é mais ou menos quantos por cento da prova? — A expressão do primeiranista foi digna de uma série de comédia, com os lábios se curvando demonstrando sua preocupação. Ele queria poder emoldurar aquela pequena vitória, já que acreditava ser raridade acertar uma das questões da disciplina. Não recebendo uma resposta imediata, ele continuou: — Eu só quero passar direto, Jayce, — disse em um suspiro, jogando o próprio corpo contra a mesa de madeira e deitando o rosto ali. 

— Se você entendeu essa parte, vai ser mais fácil de entender o resto. — O mais velho tentou acalmá-lo, tranquilizando-o com a verdade. Ele tinha certeza que o calouro conseguiria ir bem e fazer as pazes com a matéria agora que parecia ter mais familiaridade com os conceitos básicos. — Isso já te garante alguns pontos, se você estiver tão desesperado assim. Mas eu não confiaria só nisso.

O primeiranista apoiou o queixo sobre os braços cruzados e observou a atenção de Jayce ser fisgada pelo celular, que tocava dentro da própria bolsa. Em um ato rápido, ele o tirou do acessório, pediu desculpas pela interrupção e leu a mensagem que havia recebido. Por um momento, Ezreal sentiu inveja, já que o bibliotecário sequer havia notado o barulho que o aparelho havia feito — e se fosse o loiro naquela situação essa seria a sua segunda advertência em menos de uma semana.

Ele observou a feição do outro garoto mudar enquanto seus olhos continuavam grudados à tela e Ezreal perguntou-se se estava tudo bem com Jayce, que somente deu um suspiro derrotado antes de guardar o telefone no bolso de sua jaqueta.

— Parece que o professor Heimerdinger precisa de ajuda no laboratório de engenharia, — disse, com certo pesar no coração. O primeiranista era realmente uma ótima companhia e parte de si não queria deixá-lo sozinho; eles poderiam facilmente ficar conversando até após o jantar, porém Jayce possuía como dever ajudar em seu clube (e, ao mesmo tempo, ele também não queria perder sua posição como o aluno espetacular da academia).

— Ew. — Uma feição de nojo cresceu no rosto do menor, arrepiando-se só em ouvir o nome do professor. Sua cota da disciplina havia chegado ao limite e ele não queria mais pensar na matéria sem ter o segundanista por perto. Depois de perceber que sua reação poderia ofender o mais velho, Ezreal levantou o corpo da mesa e voltou a sentar-se de forma correta na cadeira. — Ah, desculpa. Não desmerecendo o clube, é só que… eca.

— Você pode ir para tentar pegar alguma noção lá, — Jayce sugeriu, abrindo a própria mochila para pegar a guia de monitoria. O loiro deu de ombros, mostrando os dentes em um sorriso torto e desajeitado.

— Se eu pisar no laboratório é provável que o Heimer tente me expulsar, — respondeu-o e, por um segundo, o inventor mais velho queria que ele tivesse aceitado a proposta. — Ele provavelmente vai achar que eu tô lá pra fazer alguma merda. Desculpa o palavreado.

O primeiranista coçou a nuca e Jayce notou as madeixas loiras soltas, assim como alguns fios que caíam sobre sua testa, não estando mais presos pelo arco que ele havia pegado de Lux. Não demorou para que Ezreal percebesse o mais velho o encarando e, quando o fez, seu olhar procurou pelo papel que o veterano havia retirado da bolsa, querendo impedir que ele visse o leve rubor que crescia nas maçãs do rosto. Ele tateou a mesa procurando a caneta que havia utilizado anteriormente para poder assinar na folha, lendo com cuidado os nomes anteriores ao seu. A última monitoria do segundanista havia sido há três meses e, honestamente, isso surpreendia o atirador; ele jurava que o amigo era um dos veteranos mais procurados para se tirar dúvidas.

— Achei que você nem ia ter tempo para ser meu monitor, — confessou, escrevendo seu nome com uma caligrafia mais arrumada dessa vez e Jayce novamente identificou a falta do sobrenome. Em sua mente, Ezreal havia adotado o segundo nome do tio, em especial ele sendo um renomado professor em Piltover, porém não parecia ser o caso. — Até porque eu não acho que eu sou o único com dificuldade no primeiro ano.

— Eu geralmente passo para outros monitores quando a dúvida não é relacionada ao meu clube, — Jayce disse calmo e o primeiranista perguntou-se mentalmente se ele era tão especial assim. Provavelmente não, ele se respondeu, porém ele gostava de pensar assim. — E a minha reputação não é tão boa no primeiro ano, né. 

Enquanto o segundanista guardava seu material e preparava-se para a despedida, Ezreal lembrou que ele quem havia dito ao amigo que a maioria da sua turma sentia dificuldade para se aproximar dele por mais que o inventor fosse conhecido e adorado por seus feitos. Procurando uma forma de como não o deixar melancólico, o loiro suspirou:

— Mas você é popular lá, — o primeiranista retratou-se, apoiando a própria bolsa em cima da mesa para procurar seu estojo; a caneta que havia usado para assinar seu nome era uma das favoritas de Ezreal e ele odiaria perdê-la. — Tipo, mesmo ninguém falando com você a maioria lá baba só de ouvir seu nome. — “E eu incluso”, ele pensou, mas julgou ser desnecessário o complemento. — Eu sei até de umas meninas que parecem gostar de você e que morrem de vergonha de chegar perto de você.

“E eu, também, incluso,” ele voltou a completar mentalmente, querendo bater em si mesmo por imaginar isso — ainda bem que Jayce não possuía nenhum poder de ouvir sua voz interior. 

— A Ahri me diz sobre elas e, honestamente, eu não ligo muito, — o segundanista respondeu sem sequer mudar a expressão e isso voltou a confundir o mais novo. Ezreal não sabia se aquele desinteresse era apenas uma fachada ou se realmente o inventor não ligava para as possibilidades amorosas que vinham com os calouros e o pensamento, de certa forma, doeu mais do que deveria em seu peito. Porém, talvez, Jayce pudesse estar se encontrando com alguém em sigilo e aquele podia ser o motivo para sua indiferença; e o loiro deveria se sentir feliz pelo amigo se esse fosse o caso. — Eu tô indo lá, Ez.

O primeiranista levantou o rosto para encará-lo e observou o sorriso perfeito de Jayce, não percebendo quando a mão do mais velho se aproximou para bagunçar os fios de cabelo do atirador antes de dizer baixo um “até quinta-feira”. Ezreal controlou-se e apenas retribuiu a feição alegre, sentindo seu coração voltar à boca assim que o outro virou as costas. Ele pareceu ser minúsculo naquela biblioteca e o silêncio do local o possibilitava ouvir o próprio batimento cardíaco — ele esperava que não estivesse tão alto assim pois não queria ter que se explicar para o amigo caso ele conseguisse escutar.

Foi preciso mais alguns minutos para que o loiro pudesse voltar ao seu estado normal para encarar todos os outros alunos no corredor sem parecer um tomate em pessoa.

—————

Os sonhos de Ezreal não costumavam significar muita coisa. Geralmente ele sequer se lembrava das imagens que seu cérebro produzia e, quando ele conseguia se lembrar, elas também não faziam tanto sentido. Sempre que ele tentava descrevê-las, os sonhos pareciam uma história que Neeko contaria, sem pé ou cabeça, que arrancaria risos de qualquer um que ouvisse. Luxanna havia o dito que os pensamentos abstratos eram uma metáfora para seus desejos mais íntimos, que ele deveria contar para que ela pudesse tentar decifrá-los e blá-blá-blá, algo que o piltovense realmente nunca deu muita atenção.

Porém, isso era para sonhos abstratos e esse tipo não vinha ao caso na manhã de quarta.

O garoto acordou mais cedo que o seu despertador e do que o de Ekko, com uma mistura de sentimentos. Ele podia jurar que segundos atrás ele e Jayce estavam andando por Piltover, passeando de sul a norte enquanto andavam pela Avenida Sideral, passeando pela rua que parecia ser banhada a ouro — ele podia jurar, também, que por um momento ouviu a risada do mais velho e seu rosto corado. Ezreal precisou de alguns minutos sentado em sua cama para poder perceber que ele não estava na cidade-Estado natal e muito menos com o amigo e, quando o fez, ele quis esconder-se embaixo das cobertas de tanta vergonha. 

Ezreal se sentiu sufocado por um minuto e ele se lembrou das vezes que Lux o zoava e dizia que a queda que ele tinha por Jayce era infinitamente maior do que a que ele teve pela garota. E foi na palavra-chave que ele pensou: queda. Ele sabia que gostava do segundanista e que seus sentimentos ultrapassavam a admiração que tinha por ele, mas foi interagindo durante os últimos dias que ele conseguiu ter uma noção do quanto ele gostava do compatriota. Pelos deuses de Runeterra, ele havia ficado triste imaginando que o garoto pudesse estar com outra pessoa sendo que não existe evidência alguma de que essa “pessoa” existia.

Aproveitando os minutos que tinha, ele resolveu juntar seu uniforme e uma toalha, indo ao banho quente para tentar tirar o galã moreno de sua cabeça.

—————

O loiro permaneceu desconfortável durante toda a aula da manhã de quarta-feira.

Primeiro, os tempos de Singed foram extremamente desconfortáveis. O laboratório já havia sido reconstruído após o desastre que Jinx e Talon fizeram quando discordaram em um tempo extra da matéria (Ezreal tinha um pouco de culpa nesse desentendimento já que ele quem havia misturado os elementos e entregado para a dupla o errado) e o professor se aproveitou disso para dar sua bronca quilométrica — a mesma que ele havia dado na sexta-feira. A sala toda encontrava-se quieta; não porque a turma prestava atenção, mas sim porque a fúria do professor era o suficiente para deixar qualquer um assustado.

Em seguida, Camille chegou à sala de aula com o barulho das lâminas quase que sapateando no chão, arrancando arrepios de todos com o olhar mecanizado e irritado. A compatriota parecia possuir uma audição extremamente aguçada pois sua atenção foi a Ezreal assim que o menino começou a balançar uma das pernas em ansiedade — ele obviamente parou por medo, mas sua mente continuava distante. Ele precisava falar com Lux e precisava desabafar antes que tudo aquilo implodisse em si.

Os segundos passavam em câmera lenta e o ponteiro do relógio parecia não se mover e isso somente o deixava mais nervoso. Ele tentava se concentrar ao máximo na matéria, copiando as noções de direito que a mulher grisalha ditava enquanto mantinha a pose elegante em frente ao quadro, mas as palavras no caderno não faziam sentido naquele momento. Assim que ele conseguisse se focar em algo, ele teria de ler todas as anotações que fizera para poder realmente compreender a matéria — que era mil vezes mais fácil que a de Heimerdinger, era válido lembrar.

O toque do sinal indicando o intervalo foi como música para seus ouvidos e o loiro não estava exagerando. Assim que Camille virou as costas para juntar seu material antes de finalizar a aula, ele jogou uma borracha em Lux, que virou para reclamar e recebeu apenas um “me espera antes de sair” em um sussurro, o qual ela teve de ler os lábios do amigo para poder entender. Assim que a professora liberou a turma, ele se levantou e foi até a carteira da amiga, esperando-a arrumar o caderno e o estojo por cima da mesa antes de guiá-la até o lado de fora pelo pulso.

— Cê tá bem, Ezreal? — a demaciana perguntou levantando uma sobrancelha, dando longos passos enquanto o loiro a levava até a fila da cantina. No pátio a poluição sonora era maior, então a chance de alguém ouvir sua conversa com a menina era baixa mesmo na fila imensa do caixa.

— Eu sonhei com o Jayce, — admitiu como um segredo, recebendo um “o quê?” e o piltovense percebeu que talvez ela pudesse entender errado. — Não desse jeito, a gente tava andando em Piltover e conversando e eu no sonho falei algo que deixou ele vermelho e rindo? E você sabe que meus sonhos geralmente não fazem sentido, mas esse parecia muito real. Eu acordei assustado achando que já tava de férias. 

— E você tá desesperado por isso? — Lux continuou com dúvida, inclinando a cabeça para trás enquanto observava o menino procurar pela carteira em sua calça.

— Lux, — ele disse com uma pausa, agradecendo por não ter esquecido o dinheiro dentro da sala de aula, — eu tô gostando dele. — Novamente, nenhuma novidade para a garota, então ela só esperou que o piltovense continuasse falando. — Tipo, eu acho que bastante? Eu nunca sonhei com ninguém e ontem só tinha nós dois na biblioteca e eu quis beijar ele. — O tom de sua voz foi abaixando, em contraste com a vergonha que crescia dentro de si. — E ele não tem interesse em nada.

— E como você sabe disso? — A maga contestou, respeitando o volume de voz que Ezreal havia imposto ao empurrá-lo conforme o andar da fila. A caixa da cantina era até que rápida para a quantidade de alunos, então não demoraria até que a vez da dupla chegasse. 

— Eu falei que tem muita menina na nossa turma que gosta dele e ele disse que sabe disso, mas que não liga. — O loiro forçou a lembrar da conversa do dia anterior para respondê-la com as palavras que Jayce havia utilizado. Ele retirou uma nota dobrada de dentro do porta-níquel e deu para Lux, pedindo para que a demaciana fizesse o pedido.

— E você é uma menina, Ezreal? — disse calma, revirando os olhos antes de mudar totalmente a feição para cumprimentar a merendeira. — Dois sanduíches com refrigerante, por favor, — pediu, entregando a nota e recebendo o troco em moedas logo que imediatamente. Dessa vez, ela devolveu os centavos ao amigo junto da comanda do pedido. — Eu nunca vi ele com nenhuma garota mesmo, talvez ele goste de meninos. 

— Eu duvido. — Ezreal suspirou, seguindo até a fila para a retirada do pedido com a amiga. — E ele me chamou de amigo. Eu não sei se ele iria querer algo com um amigo. — A contestação parecia fazer sentido na mente do loiro, enquanto a demaciana claramente discordava.

— Ezreal, ele ser seu amigo não significa que você não possa gostar dele ou querer ter algo com ele, — repetiu, bufando com a teimosia do piltovense. Os passos curtos aproximavam-nos cada vez mais do balcão de retirada. — Você tem mais intimidade agora para chegar e tentar algo do que você tinha antes. Você já chegava dando em cima dos outros sem ter intimidade mesmo.

— Era diferente, eu não sei explicar, — o atirador murmurou, inflando as bochechas enquanto pensava em uma melhor forma para se expressar. — Eu não quero chegar e ser rejeitado por ele, sabe? Piltover é pequena demais para eu conseguir me esconder dele se algo acontecer.

— Você já tá pensando demais. — Luxanna o encarou e ele só pôde assentir com a cabeça, concordando. A atendente da cantina chamou pelo número de seu pedido e a demaciana pediu ajuda ao piltovense, ao menos para que esse pegasse seu próprio lanche. — Se você não tiver coragem de falar com ele agora, chama ele quando tiver de férias. Sei lá, pro Dia do Progresso. É esse o nome do feriado lá?

O loiro concordou com a cabeça e pensou bem — era uma boa ideia, já que ele poderia acompanhar a aventura do segundanista ao procurar um dos clãs para ser aprendiz. Isso com certeza funcionaria como uma desculpa para poder ver o desfile pelas ruas modernas com Jayce. 

Foi pensando em como seria andar pela cidade-Estado conversando e rindo ao lado do aluno prodígio que Ezreal se lembrou de seu sonho, sentindo as bochechas esquentarem enquanto ele mordia um pedaço do sanduíche em suas mãos.

—————

Jayce não percebeu que havia perdido a hora do jantar.

Claro, ele deveria estranhar que Sylas não estava no dormitório e que toda a ala masculina estava calma demais — o que mais se ouvia no andar do segundo ano era a voz berrante de Sett e as reclamações em seguida para que ele falasse mais baixo. O piltovense assistia mais um episódio (ou melhor, vários episódios) da animação que Ezreal havia o indicado com fones no ouvido, o som tão alto a ponto de abafar o barulho do sinal que indicava as horas. Seu celular no silencioso também não o ajudou — ele só notou o modo de “não perturbe” quando Vi o ligou pela terceira vez seguida, brigando antes de passar o telefone a Caitlyn que começou seu sermão sobre como pular refeições não é bom para a saúde. E, como a compatriota não possuía o coração tão gélido assim, a ligação terminou com ela o chamando até o pátio, onde ela e sua namorada estavam com um sanduíche comprado antes da cantina fechar — a atiradora também não deixaria o garoto se alimentar somente com as guloseimas da máquina automática na entrada do dormitório.

Por um momento, Jayce pensou em não se arrumar para visitar as colegas, mas Blitzcrank já estava com suas garras preparadas para advertir qualquer um que deixasse o dormitório sem o uniforme da escola, a não ser nos finais de semana, e ele não queria estragar seu histórico perfeito.

Bem, quase-perfeito. O piltovense também não era imune às detenções ocasionais e a algumas discussões.

No final, ele decidiu continuar com a calça de moletom — vestir as calças apertadas do uniforme somente para poder ir ao pátio estava fora de questão — e pôs a jaqueta com o emblema de Durandal e de seu clube sobre a camiseta que utilizava para ficar dentro do quarto. O horário indicava que Sylas também estava voltando, então ele teve tempo para sair de seu perfil no laptop e colocá-lo sobre a mesa que dividiam, trancando a porta do quarto enquanto arrastava os pés pelo chão de mármore. Parte de si se sentia como uma criança birrenta, já que ele queria continuar assistindo seu desenho para ter algum assunto com o loiro no dia seguinte.

Mais uma vez ele se pegou pensando em Ezreal e seu cérebro pareceu pesar mais do que qualquer parte do seu corpo. O compatriota estava se tornando uma figura conhecida em sua mente e isso o preocupava; da última vez que algo assim aconteceu, a conclusão não foi nem um pouco bonita. Nem na penúltima vez. E Jayce não se lembrava de ter gostado de mais alguém para poder falar da antepenúltima vez. Gostar era um sentimento novo e o inventor era racional demais para saber sobre ele. 

(“Racional” era a palavra que menos doía em seu ego, já que a expressão “ruim com seus sentimentos” era como um tapa na cara.)

No fundo, ele sequer sabia se estava realmente gostando do atirador; ele só sabia que, assim que fechasse seus olhos, na maioria das vezes, uma das primeiras imagens que viriam em mente seria a do sorriso do primeiranista, que parecia aumentar o tamanho de suas bochechas. Talvez, e para ele, a opção mais provável, aquilo tudo fosse sua mente pregando-lhe uma peça porque Ezreal havia sido uma das poucas pessoas que se aproximou de si sem segundas intenções. Com certeza essa era a opção certa — e ele não estava desenvolvendo nada pelo mais novo, não mesmo.

— Ô, cabeça de vento. — A voz de Vi ricocheteou em sua mente e Jayce percebeu que já estava no ponto de encontro, de frente ao casal. — É sério que você esqueceu do almoço? Tua barriga não roncou, não?

Jayce ainda estava meio alheio à situação, então apenas concordou com a cabeça, sentando-se na cadeira de metal. Os três não eram os únicos alunos pelo pátio, ele percebeu, com algumas duplas de amigos em outras mesas, mas isso já era de se esperar — quase nunca a Academia conseguia ter um lugar como aquele completamente deserto por conta do alto número de alunos e funcionários que circulavam por lá.

— Nós até ligamos quando chegamos no refeitório. — Caitlyn empurrou o lanche embrulhado para o piltovense, retirando-o da sacola de papel. 

— O loirinho até ficou te procurando com os olhos, — Vi provocou. — Ele sentou com a Stemmaguarda lá, mas foi engraçado quando ele olhou para a nossa mesa e deu de cara comigo encarando. — Pela primeira vez na conversa, a garota arrancou um riso baixo da namorada e Jayce se perguntou o quanto da história era verdade. Seu coração pareceu falhar uma batida quando o garoto foi mencionado, e saber que ele havia o procurado o deixou… feliz? Era estranha a sensação e obviamente o piltovense era péssimo em descrevê-la.

— Eu fiquei usando o computador e esqueci do horário, — admitiu, desembrulhando o sanduíche para mordê-lo e ouvindo um som alto da própria barriga. Ele realmente estava com fome e não havia percebido até então. Bendita fosse Caitlyn e seu sexto sentido por ter comprado aquele lanche. — Eu tomei banho depois da aula e fiquei na cama até agora já que não tinha o Sylas para me perturbar. 

— Cê não ficou assistindo desenho, né? — A careta no rosto de Vi expressava seu descontentamento e o silêncio do amigo sobre a pergunta foi o suficiente para dedurá-lo. — Eu achei que ele tinha parado, você enviou mensagem reclamando sobre e tudo.

— O que eu gosto entrou em hiato, eu estava assistindo um que o Ezreal recomendou—

Assim que o nome do mais novo saiu de seus lábios, o sorriso malicioso de Vi cresceu e Jayce se arrependeu amargamente de tê-lo mencionado. Ele mordeu mais um pedaço do próprio lanche, tentando esconder o rosto pela vergonha que sentia — aquilo seria material o suficiente para que a zaunita o zombasse a semana toda.

— Ok, lembra que o que eu disse? — A garota apoiou o rosto em uma das mãos enquanto a outra contornava a mesa, traçando um plano invisível sobre ela. — Que você não precisa gostar de alguém para beijar? Eu retiro isso sobre esse caso porque você tá gostando do Ezreal. — O olhar de Jayce foi até a piltovense como se pedisse ajuda, mas Caitlyn somente deu de ombros e continuou a beber seu refrigerante com um canudo:

— A Vi tá certa, — ela se pronunciou e observou o colega revirar os olhos. Jayce não estava disposto a ouvir, mas o casal achava necessário falar sobre aquilo no momento. — Nós te conhecemos, Jayce, e você não ficaria tão inquieto assim se não fosse nada. 

Antes que ele pudesse contestar, Vi completou a fala da namorada:

— Você tem estado num mau-humor horrível, mas quando você encontra ele você até parece que tem um coração, — zombou e o piltovense mostrou sua irritação e dor com a brincadeira. — Eu te recomendei um filme no primeiro ano e até hoje você não assistiu e ele com certeza demora menos que o desenho. Isso lá em Zaun a gente chama de “estou tentando impressionar a pessoa que eu gosto”, não sei se é diferente em Piltover. — Fazendo as aspas com os dedos, ela continuou perturbando o amigo, que mordiscou o próprio lábio antes de se dar por vencido. As namoradas conheciam seu jeito de ser, então mesmo que ele continuasse negando a verdade seria exposta logo, logo.

— Eu estou assistindo porque parece ser interessante, — completou e, bem, não era totalmente mentira, mas tanto Jayce quanto as garotas sabiam que esse não era o ponto principal da discussão. — Eu não tô gostando dele, eu só acho que eu tenho uma queda—

— Por deuses, Jayce! Eu vou ter que te dar um dicionário de sentimentos? — A lutadora irritou-se, brevemente atraindo a atenção dos demais alunos e recebendo um olhar de reprovação por meio de Caitlyn.

— Gostar não é amar, Jayce, — Caitlyn continuou seu pensamento enquanto o jovem terminava o sanduíche. — Para poder amar você tem que conhecer melhor ele e não tem problema admitir que está gostando dele. Não é tão ruim quanto você faz parecer ser.

As palavras da atiradora rodearam por sua mente e ele tentou confessar para si próprio que gostava de Ezreal, sem colocar um condicional no meio, mas sua cabeça ainda doía só em pensar em fazê-lo. Ele tinha jurado para si que não deixaria que aquelas emoções tomassem seu tempo novamente e, no fundo, aquilo o enchia de incertezas, inseguranças e outras questões; e o piltovense odiava não ter resposta para nenhuma delas.

Assim que eles se despediram para voltar ao dormitório, Jayce realmente quis que o dicionário de sentimentos que Vi havia mencionado existisse e que ele tivesse uma edição própria.

 


Notas Finais


espero que tenham gostado!
na metade da fanfic eu finalmente fiz os personagens confessarem. não pro outro, claro, mas né, passinhos de formiga. isjdiasdsdfs
desculpa mesmo pela demora pra esse capítulo meia-boca, novamente.
obrigada por terem lido. sério. o feedback que vocês dão é simplesmente incrível.


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