S/n-On
Uma semana depois...
Meus olhos doíam... Estava tão escuro que eu não conseguia ver exatamente onde eu estava.
Forcei um pouco a vista, para ela se acostumar e finalmente vi que eu estava em um quarto. Mas não era o meu...
Minha garganta estava seca ao ponto de doer ao dar o goto seco.
Por quanto tempo eu dormir? Meu corpo estava todo dolorido...
Parece que dormir um mês inteiro em uma única posição...
Minha cabeça começou a apresentar algumas dores intensas e alguns flashs do que havia acontecido vieram a tona.
Lembrei da missão, do acidente com aquelas coisas, do comandante me carregando, da casa, de tudo...
Depois que a cirurgia começou, eu apaguei com a anestesia que o Seokjin aplicou em mim.
Lembro que a expressão dele não era nada boa durante o procedimento...
Provavelmente, fiquei um ou dois dias nessa cama.
Que papelão...
Se o meu pai me visse agora, me xingaria por ser tão fraca...
Ou a minha equipe. Viraria motivo de chacota entre eles...
Suspirei me sentando na cama. A agulha do soro me incomodava.
Odeio hospitais. Odeio tudo que esteja ligado a eles...
Olhei ao redor do quarto e estava completamente vazio. Apenas as máquinas, a cama e eu.
O som dos aparelhos era a única coisa que se ouvia ali.
Que horas eram mesmo? Estava de manhã ou de noite? Com essas luzes apagadas, parece até que eu morri e me esqueceram na droga desse quarto...
Arranquei as agulhas dos braços e senti uma fisgada.
Levantei devagar, sentindo uma tontura. Coloquei a mão na cabeça e caminhei até a porta.
Antes que eu pudesse alcançar a maçaneta, ela se abriu rapidamente sozinha, me dando um susto.
Me desequilibrei indo para trás, mas as mãos do homem foram em minha cintura, agarrando-me firmemente, impedindo me de ir ao chão.
Ele me puxou para próximo do seu corpo, colando nossos tórax um no outro.
Seus olhos me encaravam com completo espanto e preocupação.
Ouvia seus batimentos alterados...
Parece que não foi só eu que me assustei.
Jm- Finalmente acordou... – Me olhava surpreso. - O que você está fazendo fora da cama...? – Perguntou preocupado.
- E...eu... – O clarão que vinha de fora me deixou mais tonta.
E toda aquela situação, estava me deixando desconfortável.
Ele percebeu o meu desconforto.
Jm- Venha, eu te ajudo.
Ele segurou meu braço esquerdo e apoiou sua mão livre em minha cintura, me guiando até a cama em silêncio.
Me sentei tentando afastar a tontura. Ele se afastou indo para o canto da parede e ligou a luz.
Fechei os olhos rápido, e xinguei.
Não estava esperando por esse clarão...
Jm- Está bem...? – Perguntou se aproximando e sentando-se de frente para mim, numa cadeira.
Ele cruzou os braços e me fitou esperando a resposta.
Meus olhos se acostumavam aos poucos com a luz. Pisquei incontáveis vezes antes de responder ele.
- Bom, eu acho que sim... – Falei finalmente olhando para ele.
Ele suspirou de alívio, deu para perceber.
Jm- A ferida dói muito ou está melhor?
A ferida não doía como antes. Sentia um pequeno desconforto, mas ainda assim, dava para suportar.
Porém, iria demorar um pouco até finalizar a cicatrização.
- Não é uma coisa insuportável...
Ele revirou os olhos.
Jm- Tá ou não doendo? – Insistiu.
- Só “latejando”.
Jm- Sei... – Estreitou os olhos.
Tossir com a garganta seca.
Jm- Espere aqui. – Se levantou e foi até o filtro de água.
Observei ele encher o copo com água e pegar algo em cima da prateleira.
Jm- Tome isso com a água. – Me estendeu o copo e dois comprimidos.
- O que é isso? – Franzi a testa.
Jm- Remédio para dor e ajudar na cicatrização. – Voltou a se sentar.
Peguei o copo junto dos remédios e engoli.
Sentir um alívio na garganta com o líquido lubrificando.
Jm- Quer mais?
- Não, valeu. – Agradeci.
Me sentia desconfortável com ele agora, me olhando sem dizer nenhuma palavra.
O que é? Vai me interrogar ou algo assim, ou ficar me encarando?
- Onde estão os outros? Os sobreviventes estão bem? Como foi a missão? – Tentei puxar assunto.
O semblante dele não era bom. E eu entendi perfeitamente a situação.
Jm- A missão foi um fiasco. – Admitiu. – Os sobreviventes que conseguimos trazer, estão se recuperando bem... – Fez uma pausa. – Perdemos quatro pessoas da equipe e três sobreviventes...
Lamentei ao ouvir aquilo. Lembrei da conversa dele na casa, e eu realmente estava certa sobre o acidente com os helicópteros.
O ruim dessa profissão são os riscos fatais...
- Ah, eu acho que vi o Marcos quando chegamos ontem. Ele falou alguma coisa?
Ele me olhou arqueando as sobrancelhas.
- O que foi? Falei algo errado? – Perguntei confusa.
Jm- Ele estava aqui sim, já ouvimos os sermões... – Ele parecia tomar cuidado com o que falava.
Suspeito...
- O que ele disse? – Estreitei os olhos.
Jm- Nada de mais, esse assunto não vem agora. Seu... Corpo não está dolorido? – Perguntou.
- Tá. – Falei entediada. – Eu dormi por um dia inteiro ou dois? Tudo dói drasticamente... – Alonguei meu pescoço.
Pude ver o sorriso aparecer em seus lábios, e logo desaparecer.
E por falar nos lábios, eles estavam levemente machucados...
Aconteceu algo?
- Diz, qual foi a graça palhaço?
Ele ficou sério.
Jm- Eu te entendo, essa dor é normal, você dormiu por uma semana.
Impossível. Eu não dormiria tanto desse jeito...
- Deixa de mentira. Fala logo, dois ou três?
Jm- Tô dizendo a verdade garota, foram exatamente uma semana. – Parecia estar falando a verdade.
- A anestesia não faria tudo isso. Então, como? – Perguntei sem acreditar.
Eu já fiquei em coma, e sei muito bem a diferença do corpo que fica.
Jm- Seokjin está aplicando alguns medicamentos no soro, para você se recuperar melhor. A cirurgia não foi nada bem... – Sua expressão mudou.
- O que aconteceu?
Jm- Teve uma pequena complicação... Além do rim, outros órgãos foram atingidos...
Ele parecia lembrar de algo.
Jm- Porém, deu tudo certo e você está bem, eu acho... – Parecia em dúvida ainda.
Seu olhar transmitia um ar de preocupação profunda. Mesmo eu falando que estava bem, ele parecia não acreditar.
Minha barriga roncou alto, e eu me odiei por isso.
Jm- Acho que alguém está com fome... – Apontou para a minha barriga.
- Eu não estou! É apenas digestão...
O barulho foi mais alto dessa vez e eu quase xinguei o homem.
Ele nem disfarçou a vontade de rir, esse desgraçado.
Antes que eu pudesse falar alguma coisa, a porta foi aberta e Seokjin entrou.
O comandante ficou diferente do nada.
Seokjin – Vejo que a bela adormecida finalmente acordou. - Parecia animado.
Jm- Bom, - Diz se levantando. – Deu a minha hora. Preciso ir.
Seokjin – Já? Mas você semp...
O comandante segurou a boca do homem e sussurrou algo.
Seokjin – Ok.
Jm- Nos vemos amanhã. – Olhou para trás se despedindo.
A porta se fechou, ficando apenas eu e o médico.
Olhei para ele querendo saber o que rolou ali.
Seokjin- Liga não, sabe que ele é esquisito.
Sei...
Tinha algo a mais nessa história...
Seokjin – Vamos examinar esses pontos... – Colocou as luvas e pegou uma bandeja com algumas coisas básicas para limpeza.
Deitei na cama e ele levantou a camisa.
Seokjin – Parece que está cicatrizando bem rápido, muito bem. – Disse contente. – Vamos limpar e depois eu libero você para comer.
Revirei os olhos querendo me matar. Eu estava morrendo de fome, e a minha barriga não parava de reclamar.
Ainda não sei por que eu disse para o comandante que não estava. Eu era o quê? Uma criança?
Aff...
Para quem passou uma semana vegetando, estou até “controlada”.
Ele começou a limpar os pontos com uma pinça e algodão encharcado com um líquido marrom.
Ardia pra caralho...
Seokjin – A sua cirurgia me deu um trabalhinho...
- Foi mal, não planejei ficar desse jeito.
Seokjin – Fiquei surpreso por ouvir a história do Jimin.
O que foi que ele disse...?
Seokjin – Não imaginei que salvaria ele, mesmo depois de se estranharem como gatos...
- Infelizmente, não penso muito antes de salvar as pessoas.
Seokjin – Quase não acreditei quando ele disse a altura que caiu. – Parecia espantado. – Você é mesmo dura na queda. – Sorriu.
E eu rir também por ouvir aquilo como uma piada.
Seokjin – Ficamos preocupados. – Confessou. - Todos, sem exceção.
Arqueei as sobrancelhas.
- Aposto que ele deve ter ficado um tanto feliz por não ter que me aturar por uma semana... – Me referir ao comandante Park.
Seokjin – Para a sua surpresa, e a de todos, ele foi a pessoa que mais ficou abatido.
Aquilo era realmente, uma grande surpresa para mim. Eu sabia que ele estava preocupado, eu vi no rosto dele quando me ajudou lá na casa.
Só não imaginei que ficasse tanto como o Seokjin está falando...
Seokjin – Pode não parecer, mas ele se culpa por você ter ficado no lugar dele.
Estalei a boca.
- Eu já disse para ele que estava tudo bem, por que ele ainda está nisso?
Seokjin – Se fosse eu, e tivesse as mesmas responsabilidades dele, também ficaria...
- Só porque é comandante? – Ele confirmou com a cabeça. – Ah, para. Isso não tem importância nesses momentos.
Seokjin – Para você não, mas para ele sim. – Disse sério. – No exército, é dever do comandante manter a equipe segura e dar o exemplo.
Ouvia o homem.
Seokjin – Por ele ter se desconcentrado, ou alguma outra coisa que deve ter acontecido lá, fez com que alguém o protegesse. Pode parecer fútil, e até, é. Mas isso feriu o orgulho dele, e afetou no pensamento rígido que ele tem como: “ser capaz”.
Não sei se eu estava entendendo muito bem, mas acho que eu conseguia compreend o que ele tentava explicar.
Seokjin – Então, não ache muito estranho se ele agir de forma diferente da de antes...
- De que forma você tá falando?
Seokjin – Mais amigável e prestativo.
Ninguém merece...
- Odeio quando demonstram pena para mim...
Seokjin – Não é pena. Ele só quer fazer algo que o deixe melhor, já que foi culpa dele você ter ficado assim.
- Na verdade, a culpa foram daquelas coisas e minha. Eu que escolhi entrar no meio. – Falei o óbvio.
Seokjin – Ele também tem culpa por ter se desligado em algum momento da missão. – Disse firme. – Pronto, pontos limpinhos e curativos trocados.
Ele se levantou e pegou o celular.
Seokjin – Jungkook? Trás comida para o quarto três na enfermaria, agora! – Desligou o celular na cara do homem.
Rir do jeito do médico.
Seokjin – Só presta assim, sem ter tempo para inventar uma desculpa.
Esse povo é louquinho da cabeça...
Ele organizava as coisas na bandeja. Olhei para o lado onde o comandante estava antes, e vi um livro.
Ué...
- De quem é aquele livro ali? – Apontei para o local. – É seu?
Seokjin – Burro... Não sei como ele me pede algo, e não colabora depois. – Revirou os olhos murmurando.
Fiquei esperando pela resposta mas, nada.
Não entendi muito o que ele murmurou, e deixei de lado.
Depois de um tempo, Jungkook apareceu com a comida e eu fiquei alegre.
Comia com vontade, enquanto os dois conversavam comigo.
Estava tão bom que eu sentia vontade de chorar por finalmente estar comendo.
Me desliguei por um momento do assunto da conversa, mas logo adentrei de novo.
Parece que a situação lá fora piorou. As coisas estavam se espalhando cada vez mais.
E parece que essas estavam se desenvolvendo para algo pior...
Se estiverem pior que aquilo, estamos mais que ferrados do que dá primeira vez...
Equipes estavam sendo mandadas para o local, mas não estavam tendo muito sucesso.
Não entendi o porquê de todos estarem levando apenas as toxinas, e não explosivos.
Toxinas não matam, elas só fazem dormir. Então, por quê?
- Eles querem matar todos?! – Falei indignada, me contendo para não afetar a ferida.
Jungkook – Não tem muito o quê fazer. São ordens de cima. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. – Disse irônico.
- Não faz o menor sentido. Quem em sã consciência vai usar apenas toxinas? Não queremos acabar logo com essas coisas?
Seokjin – Parece que os “cabeças” querem eles vivos... – Pensou por um momento. - Infelizmente, foi como ele disse. Não tem o que fazer. Estamos de “castigo”. Por um tempo...
- É o quê?
Eu não acreditava numa coisa daquela.
Seokjin – Não podemos nos juntar com as equipes, porque desobedecendo ordens.
- De quem foi essa idiotice?! Não me diga que foi do Marcos?
Jungkook – Na mosca.
- Ele é burro ou o quê?! – Gritei alto e a ferida doeu mais.
Seokjin – Se controle. – Me alertou.
Jungkook – Ainda existem pessoas lá, esperando para serem salvas, mas a gente não pode. Que irônico, não?
- Então para quê serve essa merda toda? Para que serve ser soldado se não pode ajudar as pessoas?
Era tudo sem lógica. Por que ele estava fazendo isso?
- Alguém me dá um telefone que eu mesma ligo para àquele filho da puta! – Gritei.
Seokjin – Não vai adiantar todo esse estresse. Só podemos voltar quando ele ordenar. – Se levantou. – Precisa descansar, amanhã veremos se te dou alta ou não. – Disse apontando para mim.
Jungkook – Tchau S/n, durma bem. – Tocou em minha mão dando um soquinho. Pegou a bandeja de comida e levou com ele.
Os dois saíram e apagaram as luzes.
Que porra estava acontecendo? O que o caralho do Marcos está aprontando? Isso não é o normal dele...
Tem algo muito podre aí...
Tomei água e deitei na cama.
[...]
Abrir os olhos e tudo ainda estava escuro. Parece que dormir por uma semana levou todo o meu sono embora.
Eu dormia por um tempo e acordava direto. Até parece que eu estava ansiosa por algo.
Virei para o lado direto da cama e quase gritei vendo alguém no canto da parede com os braços cruzados e cochilando.
- Puta que pariu, que susto do caralho... – Toquei em meu peito.
Estreitei meus olhos tentando adivinhar quem era.
Não conseguia ver muito bem.
Decidir levantar e chegar eu mesma. Vá que eu estava vendo coisas como esquizofrenia.
Depois de tomar tantos remédios por dia, não duvido eu desenvolver isso também...
Me aproximei lentamente da cadeira vendo o rosto familiar.
Eu não acredito...
Não, eu só podia estar vendo coisas uma hora dessas. Não podia ser ele...
Levantei a mão e encostei levemente em seu rosto. A pele quente e macia, comprovava que ele era real.
Arregalei os olhos quando vi os seus olhos abrir e agarrar o meu pulso.
Jm- Garota, o que você está fazendo? - Me fitou profundamente confuso.
Merda...
Continua.
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