"Eu preciso aprender a ver melhor. Quando a Longa Noite chegar novamente, eu precisarei estar preparado."
Bran Stark
***
Bran abriu os olhos quando ouviu a voz de Arya, mas mal conseguiu ver o sorriso dela e logo seus olhos se fecharam outra vez. Estava quase sem vida, completamente frio e doente. Sua mente voou para longe, estava dentro de um corvo, nos olhos da noite. Ele os via por todos os lugares, os vagantes brancos, a própria morte caminhando.
Jon se ajoelhou ao lado do irmão e afagou seus cabelos molhados pela neve. Sentiu-se feliz e desesperado ao reconhecer os traços do garotinho que um dia existiu nele.
— Bran... — Sussurrou — Você está vivo... Pelos deuses!
— Escutem. — Tormund arregalou os olhos e observou o ambiente. Tinha a sensação de que sombras passavam rapidamente atrás das árvores e os espreitavam.
Quando os demais se viraram, notando algo estranho, viram cerca de cem corpos surgindo atrás das árvores e correndo na direção deles com gritos agudos. O coração dos que ainda duvidavam quase congelou e mesmo os que já haviam visto aqueles seres estavam tremendo. Os homens ergueram seus punhais e suas espadas, esperando pelo pior.
Arya encarou o cadáver de olhos azuis que vinha gritando em sua direção e não processou a imagem imediatamente. Há tempos não sentia medo, mas aquilo esfriou seu sangue. No fundo não acreditava realmente que eram reais. Sempre riu de Bran por temer os contos da velha Ama e agora havia sido imprudente ao chamar pelo irmão, subestimando o perigos além da muralha.
— Isso é real. — Seu pensamento foi tão veloz quanto suas mãos. Ela retirou o punhal e a espada, saltando e girando para cortar o cadáver em pedaços — Isso é real.
Gendry olhava para ela espantado.
— Você sabe mesmo o que está fazendo.
Ela correu na direção dele, enfiando a lâmina em um morto que por um milímetro não acertou um punhal no pescoço de Gendry. O rapaz ofegou de olhos arregalados para a criatura caída ao seu lado. Quando se virou para agradecer, Arya o pegou pela gola do casaco e o trouxe para perto. O hálito de Gendry era de conhaque ruim, algo que ele usava para se aquecer.
— Fique vivo. — O rosto dela estava calmo, porém, furioso — Não vou te ver morto hoje.
Ele fez que sim e então ficaram de costas um para o outro, protegendo-se mutuamente.
Fantasma atacava com ferocidade procurando afastar os monstros de Bran enquanto Jon brandia sua espada sem descanso. Quando os mortos daquele lado diminuíram, Jon ouviu algo vindo à suas costas e se virou, dando de cara um enorme urso branco correndo em sua direção. Estava com o rosto parcialmente decomposto pela morte, os olhos azuis violentos e o bafo frio o podre. Quando a fera pulou sobre seu corpo, ele caiu de costas na neve, segurando a cabeça imensa nas mãos com toda a força que possuía.
Os demais estavam lutando com suas próprias criaturas e não podiam ajudá-lo. Apesar de Fantasma vir para cima com tudo, os dentes do urso estavam chegando muito perto dos olhos de Jon.
— Não posso morrer. — Pensou ele, assustando-se com seus próprios desejos. Em nenhum momento, em batalha, havia sentido tanto apreço pela vida e tanto medo de perdê-la. Podia ouvir agora a voz de Dany em seus ouvidos e até sentir seu calor. Ele se via diante dos olhos aflitos dela enquanto se ouvia prometendo que voltaria.
— AHHHH! — O rugido de seus pulmões o deixou alucinado e ele uniu todas as forças para segurar a fera com uma mão enquanto com a outra enfiava a espada nas entranhas cadavéricas.
O urso bateu a pata no ar, cortando seu pescoço e ombros com as garras pesadas antes de cair imóvel na neve. Jon se ajoelhou, exausto, com os músculos vibrando e o sangue escorrendo das feridas que, por sorte, não eram muito grandes. Após aquele ataque, suas forças aumentaram e ele ficou tão feroz quanto seus inimigos.
Quando todos os mortos jaziam imóveis no chão, os vivos ficaram algum tempo observando ao redor, sentindo o silêncio. Não parecia que terminaria tão fácil. Havia uma sensação maligna ao redor deles, algo que entranhava em suas peles e os deixava doentes.
— Vamos embora. — Disse Jon, exausto — Durante a noite os ataques são muito piores.
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