"Se os deuses tiverem o capricho de conceder um filho a Daenerys Targaryen, o reino sangrará."
Varys, A Guerra dos Tronos
***
Dany respirou o aroma da pele de Jon, aconchegou sua bochecha em seu calor e o abraçou mais apertado. Estava se sentindo melhor, mas ainda era difícil ficar no Norte, não gostava do frio e os Outros a feriam como nada no mundo. Ela queria ir embora dali, mas não era uma opção, não para a conquistadora que era, e muito menos deixaria Jon sozinho naquela batalha.
— Viserion ainda não está bem. — O sussurro de Dany aqueceu o pescoço dele — Não conseguiu acompanhar Drogon. Eles ficaram muito tempo doentes, assim como eu.
— Eu deveria ter acreditado em você, Dany. Me desculpe.
— Ando procurando a razão pela qual continuo a perdoá-lo.
Jon respirou fundo e se virou para ela, decidido a conversar tudo o que era necessário, mas esse foi seu maior erro. Ela estava sorrindo e a força que havia nos olhos dela o engoliu. Quando Dany acariciou seu queixo com os dedos, foi impossível não se sentir o mais abençoado dos homens.
— Deve ser porque eu amo você, Jon.
O ar quente que saiu dos lábios dela formando aquelas palavras o fizeram esquecer o que tinha a dizer. Ele tentou se lembrar, mas a boca dela encontrou a sua antes que isso fosse possível. Seria apenas um pequeno beijo, pensou ele, mas quando se deu conta, já estava trazendo o corpo dela para junto do seu. E como poderia ser errado, se era tão bom e se parecia tão certo?
— Mas não é certo... Preciso dizer a ela. — Lembrava, mas a pele dela era macia e ele queria apertá-la cada vez mais contra o corpo. Dany estava tão carregada de doçura que ele só desejava ficar por horas sentindo-a entre os braços. Seu cheiro o impregnava e as mãos carinhosas o amarravam.
Quando sua mente o condenou a ver a verdade, Jon parou e segurou o rosto confuso dela à sua frente. Se lembrou do quanto foi fraco com Ygritte, quebrando os votos da patrulha, e do quanto estava sendo fraco agora com Daenerys. Mas o mundo estava acabando, provavelmente iria morrer lutando naquela guerra, então porque deveria se importar com algo que só ele considerava pecado? Seu pai não estava mais ali para aconselhá-lo, nem seu irmão Robb estava. As pessoas que amava haviam morrido e talvez ele e Daenerys também fosse morrer em pouco tempo. Jon teria de decidir sozinho e rápido.
Ele então pensou que provavelmente nunca seguraria seu filho no colo, que provavelmente nunca veria a primavera em toda sua vida. Ele só tinha certeza daquele instante de felicidade com ela, pelo tempo que teriam de viver. Se ambos morreriam nas espadas dos Outros, por qual razão ele precisava se privar de amá-la até seu último suspiro?
Começou a sentir ódio do jogo dos deuses, do que haviam lhe dado e que logo arrancariam dele. Quando Dany voltou a beijá-lo, ele não viu mais nada além das feições dela, não sentiu mais nada além do calor dela e não ouviu mais nada além da voz de Dany em sua mente.
— Eu amo você, Jon... Amo... — Essa era a música que cantaria em seus sonhos todas as noites.
***
Jon adormeceu por algumas horas, mas ao acordar, não conseguiu ficar na cama ao lado da mulher. Se levantou, sentindo as cicatrizes arderem em seu peito, e sentou-se ao lado da lareira. Havia uma profunda tristeza cortando seu coração. Nunca havia pensado tanto no futuro como agora, mas tudo que conseguia sentir era desesperança. O passado apenas provava a ele que nunca haveria sossego, nunca haveria paz e muito menos um lar para onde pudesse voltar.
Dany despertou pouco depois e estranhou a ausência dele. Ao vê-lo cabisbaixo sentado próximo ao fogo, ela se enrolou em um cobertor e foi se sentar à sua frente.
— Quer me dizer algo, Jon?
Não havia uma forma fácil de começar, mas ele estava decidido a contar a verdade. Dany não o interrompeu durante aqueles minutos, mas não teve as melhores expressões ao ouvir quem eram os pais de Jon. Quando ele terminou de falar, ela também não conseguiu olhar para ele.
— As provas são as visões do seu irmão? — Analisou ela com hostilidade — E um livro velho que seus melhores amigos dizem ter lido?
Jon se levantou e se ajoelhou diante dela, colocando a mão sobre seu joelho.
— É verdade, Dany. Eu sei que é.
Daenerys o encarou como se buscasse reconhecer algo nele. Lembrou-se que desde que viu Drogon farejá-lo, desconfiou que poderia haver alguma descendência valiriana em Jon. Porém, nunca pensou em algo tão próximo assim dela, nunca que era filho de seu irmão. Não sabia realmente o que sentir naquele momento, mas havia aprendido a desconfiar o tempo todo, mesmo de quem amava.
— Não será conveniente que os lordes nortenhos saibam. — Dany buscou ser racional em meio à onda de emoções — Muitos te apoiam como Rei por ser filho de Ned Stark, mas o que diriam se soubessem que é filho de Rhaegar Targaryen? E como os dorneses reagiriam? Eles odeiam meu irmão pelo que fez com Elia Martell e odiarão o filho dele também. Perderíamos Dorne e várias outras famílias poderiam se voltar contra nós.
Jon segurou as mãos dela, tranquilizando-a.
— Ninguém saberá.
Daenerys viu certeza no rosto dele, mas algo ainda a preocupava. Não se importava realmente com o parentesco, afinal, havia crescido pensando que seu irmão Viserys seria seu marido. Todos os Targaryens casavam-se em família e isso não lhe parecia errado. Jon, por sua vez, era um homem muito rígido, dificilmente mudava as tradições e seguia muito conservador.
— O que será de nós, Jon? — Perguntou com medo.
— Nós... — Começou ele, querendo fugir de uma resposta — ... nós temos algo muito importante para cuidar agora.
Dany não entendeu e franziu o cenho.
— Do que está falando?
— Gilly a ajudou quando esteve doente e acredita... na verdade, ela tem certeza... de que você espera um filho meu.
Essa era a última coisa que Dany esperava ouvir. Ela deu um sorriso triste, desconsiderando qualquer chance de ser verdade.
— Eu não posso, Jon. Ela se enganou.
— Eu pensei o mesmo, mas Bran disse ver nossa criança nas chamas.
O rosto sério de Dany se desmontou. Seu coração acordou com uma súbita batida que a fez tremer.
— Nossa criança? — Ela sentiu velhas esperanças acordarem em seu coração, mas balançou a cabeça em negativa ao mesmo tempo — Não... isso é possível?
Jon deu um sorriso a ela, acariciando suas mãos trêmulas.
— Acho que com os passar das luas saberemos.
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