Certa vez, William Shakespeare escreveu uma história chamada Romeu e Julieta. Muitos acreditavam que aquilo representava o amor, mas será que as pessoas realmente sabem o que é o amor? Eu pensava que sabia, e acreditei fielmente que ele me amava, eu estava duramente enganada.
Aos meus 25 anos, percebia-me totalmente perdida em meio a um processo de separação. Algumas pessoas me olhavam com pena, um maldito olhar que representava o quanto eu era patética. Patética por ainda desejar que ele mudasse, patética por ainda não sentir a raiva que deveria estar sentindo. Mas, mesmo com tudo isso, uma coisa eu também era: forte. Eu era uma mulher extremamente forte.
Deixá-lo foi uma decisão que me corroeu por dentro, durante semanas, senti-me desamparada. Era o certo a se fazer, eu não poderia continuar vivendo com medo das reações do meu marido. Viver com medo do homem que jurou perante a Deus que me amaria e protegeria, que me respeitaria acima de tudo. Mas não foi bem isso que aconteceu.
Três anos atrás, durante uma viagem ao interior, ocorreu uma briga, não lembro como a situação chegou ao ponto de ele levar as mãos até o meu pescoço, enforcando-me até desmaiar. Ou nas vezes em que ele gritava e trancava-me no quarto por horas, simplesmente por eu ter dito algo que o fez se zangar. Por muito tempo, eu me culpei pelas atitudes dele. Pensamentos como "se eu não tivesse falado sobre isso, talvez ele não teria feito nada" repetiam-se na minha mente. Mas eu não sou a culpada, ele quem é. Um homem desprezível, que usava da sua força para oprimir a mulher que ele jurou amar.
Muitas pessoas me alertaram sobre ele. Mas fui burra, e então tampei meus ouvidos para os conselhos das minhas amigas e joguei-me de cabeça. E, infelizmente, esse foi o pior erro da minha vida. Ino uma vez sentou comigo e explicou sobre a diferença de idade afetar muito no relacionamento. Olhando com a cabeça que tenho agora, se quatro anos a mais faz diferença, imagine quinze.
Conheci Kakashi Hatake quando tinha vinte anos, eu havia acabado de terminar um dos melhores relacionamentos que tive por conta da distância que a faculdade proporcionaria, e estava no fundo do poço. Até que um homem belíssimo e educado se aproximou como uma cobra sorrateira e me deu o bote. Um bote certeiro, que fez com que seu veneno corresse até o meu coração. Não foi difícil me apaixonar por ele, difícil era não me apaixonar. Ele era perfeito, educado, gentil e atencioso.
Quando me disse sua idade, minha primeira reação foi me afastar. Um homem quinze anos mais velho atrás de mim seria extremamente problemático, porém não demorou muito para que eu estivesse rendida.
Os meses se passaram, e depois de muita enrolação, nós finalmente oficializamos nossa relação. O que foi uma surpresa negativa para todos os meus amigos e familiares. Ninguém gostou de Kakashi, sentiam algo de ruim nele, e, bom, todos estavam certíssimos.
Meus olhos estavam cerrados, de forma discreta, na direção onde a advogada e amante dele estava. Descobri pouco depois da separação que a mulher que frequentava minha casa e escutava-me chorar de dor por conta das agressões, era a amante do meu marido. Segurei minha expressão de nojo, mantendo-me neutra, encostando minhas costas na madeira da cadeira. Meu advogado, Itachi, segurou minha mão por debaixo da mesa, apoiando-me em silêncio.
Ele era meu melhor amigo há anos. Conhecia Itachi desde o jardim de infância e desde então somos inseparáveis. No dia que sem querer deixei um hematoma exposto, sua primeira reação foi a de desejar espancar Kakashi, mas havia muitas coisas em jogo, e seu emprego era uma delas. Com isso, implorei para ele não fazer nada, o Uchiha não poderia manchar sua reputação com um "homem" desse tipo.
— Ele está chegando, sabe que pode ir embora a qualquer momento. — Itachi aproximou o rosto do meu, falando baixo para ninguém escutar. — Isso aqui deve demorar, principalmente porque ele não parece disposto a colaborar.
Mordi o lábio de leve. Estava cansada dessa pirraça irritante dele. Não ligava de dar o apartamento, não estava me importando de verdade com nenhum bem material; só quero minha liberdade de volta. Por mais que eu já estivesse longe, ainda me sentia presa a ele, por conta desse maldito casamento.
— Se me sentir desconfortável, eu te aviso e vou — respondi, impaciente. — Não acredito que ele está fazendo essa graça, como se realmente estivesse mal com a separação.
— Esse desgraçado só está fazendo isso para manter o papel de vítima — ele pontuou, ainda baixo e perto.
Assim que acordei após uma agressão, fui até a delegacia prestar queixa, onde me encaminharam para fazer os exames necessários. E mesmo depois de apresentar as provas de que ele me agredia, nada aconteceu. Todos os juízes estavam comprados para não me ajudarem. Percebi-me sem rumo, até que Itachi sugeriu que entrássemos em um acordo, porém Kakashi não estava muito contente com isso.
— Para todo mundo eu sou uma vadia mentirosa e gananciosa, que só pensa em ganhar dinheiro em cima do ex-marido rico e bondoso, não fode — falei alto, vendo que Rin escutou e sorriu, em deboche. — E, pelo visto, eu não vou ser a única.
Olhei-a sem desviar. Eu não deveria sentir pena dela, mas sentia. Tinha certeza de que ele reproduziria tudo com ela.
— Não se preocupe, o que é dele está guardado.
Escutei o barulho da porta sendo aberta e todos os presentes na sala olharam em direção ao som, vendo quem estava entrando. Sua pose arrogante me enojava de diversas maneiras. Kakashi entrou no ambiente trajado de seu terno favorito, o cabelo estava muito bem arrumado e o cheiro de perfume caro invadiu minhas narinas na mesma hora. As íris escuras se arrastaram pelo cômodo, parando exatamente onde eu estava, fazendo um sorriso brotar em seus lábios.
Segurei a vontade de ir embora e apenas o ignorei, como deveria ser. Senti o aperto na minha mão aumentar e curvei os lábios, sorrindo para Itachi. Eu não demonstraria fraqueza nesse momento, pois era agora que tudo acabaria.
— Agora que todos estão presentes, podemos dar início — o juiz falou, ajeitando algumas pastas na mesa. — Peço que o senhor se sente.
Direcionou sua fala a Kakashi, que permanecia no mesmo lugar desde que havia chegado. Arranhei a garganta, atraindo a atenção de todos. Eu estava cansada dessa merda, foram meses dedicando minha mente nesse processo de separação, se alguma coisa desse errado, eu não sabia o que faria.
— Sente-se de uma vez, não vamos agir como adolescentes. — Minha voz saiu fria, fazendo-o rir.
— Claro, meu amor. — Um sorriso cínico brotou em seus lábios. — Como você desejar.
Não me deixaria abalar com o seu teatro, seu jogo era muito fácil de ser analisado. Ele vai fazer de tudo para me desestabilizar e me fazer agir como uma louca descontrolada. Era o tipo dele. Manipulador.
— Então podemos começar.
Estava condenada a vagar por lembranças que insistiam em flutuar pela minha cabeça o tempo todo. Meus sentimentos por Kakashi talvez nem fossem verdadeiros como eu imaginava, mas de uma coisa eu tinha certeza, o único homem que me amou e mereceu meu amor foi o meu primeiro namorado.
Nosso relacionamento era perfeito, um casal invejado por todos da escola. Éramos impecáveis juntos, com ele, eu me sentia eu mesma, livre e genuinamente feliz. Durou três anos, até a faculdade me arrancar uma das únicas coisas boas que já tive. Mudei-me de Konoha para Tóquio e depois disso tudo desandou. E agora estou aqui, escutando atentamente o juiz declarar a separação dos bens.
Gritei de felicidade em meu interior ao escutar que o apartamento que foi o palco de todas as agressões que sofri não ficaria comigo. Eu não desejava voltar para aquele local. Parte de mim morreu naquele ambiente, várias e várias vezes. Ele me matou ali em todos os momentos em que me machucou. E ainda busco partes de mim até hoje.
O alívio que percorreu meu corpo ao escutar que em poucos meses eu estaria totalmente livre daquele homem foi indescritível. Assinei os papéis de divórcio sob o olhar orgulhoso e reconfortante de Itachi. Estava finalmente livre de Kakashi Hatake.
Aproximei-me de Itachi, quando todos se levantavam, para abraçá-lo. Sou grata a todos os meus amigos e familiares por sempre terem me apoiado, porém, se não fosse por ele, talvez eu nem estivesse aqui.
— Acabou, Itachi… Acabou. — Agarrei sua cintura, enterrando minha cabeça em seu peito. — Obrigada, se não fosse você…
— Não me agradeça por nada, quem realmente merece é você — cortou-me, correspondendo ao abraço. — Sua força diante disso tudo foi o que te levou até aqui, sempre tenha isso em mente.
Absorvi suas palavras, permitindo-me chorar por toda a dor que aguentei durante quatro anos.
Após terminar a audiência, Itachi me acompanhou até o apartamento onde estava morando desde que demos entrada ao processo de separação. Deitei-me no sofá, relaxando meu corpo pela primeira vez no dia. Meu coração se encontrava despedaçado, sentia minha alma esmigalhada toda vez que lembrava como eu era feliz antes dele. O sentimento de que sou um casaco surrado, que foi usado pela pessoa errada e jogado no fundo do armário, estava cravado em mim.
O anoitecer traz com ele muitos questionamentos. Fechei meus olhos, focando nas minhas considerações sobre a vida; sobre a minha, em específico. Dias como esses me fazem refletir sobre as escolhas que fiz durante todos esses anos, como abandonar a faculdade de medicina e fazer jornalismo, envergonhando o meu pai. Mas, com isso, eu fui feliz, e dei orgulho à minha mãe, que sempre me disse para seguir os meus propósitos.
Sobre como deixei o amor da minha vida partir para realizar um sonho que não era meu. Cada parte da minha alma se arrepende imensamente por tê-lo deixado. Mantivemos contato durante pouco mais de cinco meses, até que simplesmente nossas mensagens ficaram cada vez menos frequentes, e quando me dei conta, eu já estava em cima de um altar, casando-me com outro homem.
Péssima decisão, Sakura.
Notei que meu celular vibrava sem parar e já fazia ideia de quem era. Vi a notificação da mensagem de Ino e ri um pouco, deixando a melancolia para trás.
"Sakura, estou orgulhosa da mulher forte que você é! Que tal encher a cara comigo para tirar esse peso de você? Estou no bar perto da sua casa, venha rápido."
O que seria melhor para esquecer um dia conturbado como esse do que cerveja e música alta?
{...}
O som estrondoso rangia no meu ouvido, deixando-me irritada. Não sei onde estava com a cabeça quando pensei que isso seria uma boa ideia. Passei as duas últimas horas chorando por me sentir frustrada e Ino me acolheu e aconselhou. Já estávamos na nossa quinta cerveja quando ela viu um ruivo bonitão e saiu de perto de mim, dizendo que voltaria rápido.
E agora só restava eu, a cerveja e muitas lamúrias. Perdi as contas de quantas bebi até começar a dialogar comigo mesma, em voz alta. Porra, eu preciso de muita terapia pra superar o que aconteceu.
— Talvez, se eu estivesse com ele até hoje — falei, atraindo a atenção do barman, que me olhava com pena. — Qual é, faz anos que ele não me manda mensagem. Nós terminamos, mas o que tem?
Senti que alguém estava se sentando ao meu lado, porém não dei atenção, fosse quem fosse, não deveria querer escutar meu sofrimento.
— Será que ele se casou também? Ele era um gatinho… Duvido que esteja solteiro, aquela puta da Karui deve ter colocado aquelas unhas feias pra cima dele. — Meu tom estava elevado, qualquer pessoa que chegasse perto poderia escutar tudo, e, consequentemente, me achar maluca.
— As unhas dela são realmente muito feias, preciso concordar.
Travei ao escutar essa voz tão doce e marcante de novo. Senti-me ofegante, porém não quis virar meu rosto para a pessoa. Eu só estava bêbada e muito maluca.
— Porra, só posso estar alucinando agora, era tudo o que me faltava — comentei, balançando o copo com bebida. — Vou ligar pra psicóloga.
— Olha, se você estava falando e pensando sobre mim, acho que não está alucinando, meu bem. — A voz suave alcançou meus ouvidos, fazendo-me finalmente encarar o dono dela. — É um prazer te ver de novo, Sakura.
O fato de poder observar aquele homem era fascinante. Ele estava tão diferente e ao mesmo tempo parecia igual. Seus cabelos loiros tinham um ar mais rebelde, bagunçados; seu estilo era despojado. Quis afundar a cara na mesa depois de perceber o mico que passei.
— Que surpresa te encontrar assim, não esperava te ver… nunca mais — falei sem medir minhas palavras, dando um gole generoso na cerveja. — Como vai a vida, Naruto? — perguntei, fingindo não estar surpresa e nervosa com sua presença.
Bati o copo no balcão, chamando o barman e pedindo mais uma dose.
Estava me tremendo por dentro. Eu estava falando dele na hora em que o próprio apareceu, depois de anos sem vê-lo, após passar o dia inteiro pensando e lembrando sobre nós dois. Ponderei me afastar e não olhar mais para aqueles olhos azuis, tão intensos e mesmo após anos, reconfortantes.
— Ela vai bem, e a sua como está? Fiquei sabendo que você abandonou a faculdade de medicina. — Suas mãos se arrastaram até a perna da cadeira, puxando-a para perto de mim. — Os boatos voam em Konoha.
— Aposto que foi aquela velha fofoqueira da Anko — falei, melancólica. — Abandonei na metade do segundo semestre. Eu nunca quis ser médica, esse era o sonho do meu pai, não meu. Durante uma crise, joguei tudo para o alto e fui atrás do meu verdadeiro desejo, que sempre foi o jornalismo.
Ele escutava tudo com atenção, dando goles fartos no whisky que bebia. Não sou a maior fã desse tipo de bebida, mas hoje me parecia tão irresistível. Pedi um copo do mesmo que Naruto, sentindo os olhos azulados perfurarem a minha pele.
— Pelo visto muitas coisas mudaram, você nunca gostou de destilado — ele pontuou, arrastado, como se lembrasse de algo.
— E não gosto, olhei você bebendo e me pareceu uma boa pedir também. — Virei o copo, bebendo tudo de uma vez. — Bate mais rápido.
— Não acha melhor dar um tempo da bebida? Quando eu cheguei, você estava falando sozinha, tenho medo do que pode fazer agora. — Ao mesmo tempo que sua voz parecia pacífica, eu conseguia detectar pontas de preocupação. — Ei, cara, chega de bebida pra ela — falou com o moço simpático que me encheu de álcool essa noite.
— Mais um copo de cerveja, por favor. — Ignorei o que ele tinha dito, passando a mão no balcão. — Tenho que esquecer o dia de hoje.
— Se não for muito intrometido da minha parte, o que aconteceu com você? — ele perguntou, cauteloso. Seu corpo estava curvado, os cotovelos apoiados na madeira do balcão, enquanto suas íris desciam e subiam em uma análise silenciosa.
Eu não conseguia dizer isso, nem deveria. Por mais que ele fosse um dos caras mais incríveis que eu conheço, faz anos que não temos contato, e colocar para fora tudo o que meu ex-marido fez comigo estava na lista de coisas para falar na terapia. Não conseguia, e muito menos queria, verbalizar o que aconteceu.
— Assinei o papel do meu divórcio hoje. — Solucei por conta da bebida. — Só isso.
— Só isso? Você está arrasada — ele comentou, pensativo. — Quanto tempo vocês ficaram juntos?
Naruto ao menos queria saber, foi a pergunta mais falsa que já recebi em anos. Notei que os boatos nem sempre chegavam, pois ele não fazia ideia de que passei os últimos anos casada.
— Não estou muito confortável para falar sobre isso — respondi, seca, olhando para o copo à minha frente. — Vamos conversar sobre outra coisa.
— Desculpe, não era minha intenção te deixar desconfortável ou algo assim...
— Tanto faz, eu não me ofendi — cortei-o, sorrindo um pouco. — Só odeio que fiquem me pedindo desculpas.
"Desculpe, foi só dessa vez.”
“Me perdoa, eu não quis te machucar.
“Meu amor, desculpe, perdi a cabeça."
Definitivamente, eu estava cansada de pedidos de desculpas.
— Tudo bem, sem desculpas então.
Nunca pensei que estaria bebendo ao lado do meu ex, depois de me separar do meu marido abusivo. Estava condenada a pensar em como as coisas seriam se eu não fosse tão covarde e tivesse dito que não faria medicina.
Bebi mais um gole e larguei o copo, minha cabeça não estava funcionando como deveria.
— Estou com raiva por pensar nessas coisas. Para começar, eu não deveria ter aceitado o convite de Ino. Agora estou enchendo a cara e afogando meus traumas nesses copos de cervejas, me sentindo miserável toda vez que me lembro de tudo — soltei as palavras, sem ousar olhar em seus olhos. — Você tinha que aparecer do nada, não é?
— Eu não estou te entendendo. Você deveria ir pra casa, Ino já desapareceu com Gaara — ele afirmou, aproximando-se devagar. — Vem, eu te levo.
“Gaara? O que Sabaku no Gaara estava fazendo aqui?”
— Ele veio com você? — perguntei, confusa.
— Sim, quem você acha que me mostrou onde você estava?
Balancei a cabeça. Ino sabia que Naruto estaria aqui, por isso me chamou tantas vezes. As coisas não pareciam fazer sentido naquele momento, por segundos, senti medo da loira ter contado sobre o motivo pelo qual me divorciei.
— Quando cheguei, você estava falando sozinha e agora ‘tá balançando a cabeça sem parar, isso é preocupante — zombou, levantando-se e vindo em minha direção. Senti o toque de seus dedos nas minhas costas, erguendo-me da cadeira. Encarei Naruto sem entender o que ele estava tentando fazer. Ele enfiou a mão no bolso e pegou uma carteira. — Amigão, quanto deu a conta dela? — indagou, não se surpreendendo pelo valor altíssimo. — ‘Tá aqui, por minha conta.
Aquilo deu uma fortuna, não permitiria que ele pagasse por algo que nem bebeu.
— Não! Eu pago minhas bebidas, não será necessário — intrometi-me, alterada.
— Você pode pagar de outra forma — ele comentou, e espantei-me. Naruto estava tentando me levar para cama? Afastei-me um pouco, vendo-o perceber o tom de sua fala. — Caralho! Não é isso que você está pensando — explicou, nervoso. — Você pode me recompensar aceitando jantar comigo.
Suspirei aliviada, já iria chamá-lo de tarado e sair andando.
— Eu não ‘tô em condições no momento, minha vida está uma correria. — Passei a mão no cabelo, colocando-o para trás. — Deveria convidar outra mulher para jantar.
— Eu espero o tempo que for necessário. — O jeito cuidadoso como ele disse me fez entrar em alerta, Naruto realmente sabia de alguma coisa. — E eu não disse que precisa ser urgente.
Cedi, deixando-o pagar a conta. Arrumei minhas coisas para ir embora, mas antes que pudesse dar dois passos, tropecei em meus próprios pés, caindo de cara no chão. Levantei-me rápido e senti uma dor no braço, massageando delicadamente o local.
— Vem, vou te levar pro meu apartamento. — Recuei, gemendo de dor. — Sem segundas intenções, você pode dormir no quarto e eu fico na sala.
— Não é querendo ofender nem nada do tipo, mas o que garante que você não vai me sequestrar e manter em cárcere privado?
Naruto se aproximou de mim, tocando gentilmente onde a dor estava presente. Seu dedo indicador passeou pela minha pele, permitindo que eu relaxasse por segundos.
— Você garante, no fundo, ainda existe confiança em mim bem aqui. — Tocou na minha testa, sorrindo sutil. — Agora vem, ‘tô morando próximo daqui até arrumar um lugar fixo.
{...}
A decoração do apartamento estava me encantando. Não sei se foi o álcool, mas tudo parecia com vida ali. Não era mórbido e cinza. Era claro, com luz. As casas são reflexos de seus donos, pelo visto. Andei avoada até o banheiro, encarando meu reflexo horrendo pelo espelho. Passei as mãos pelo meu rosto, bufando por estar deplorável perto de um homem lindíssimo.
Tive o privilégio de vê-lo sem camisa e essa imagem estava passando pela minha cabeça como slides, perturbando meu juízo. Estiquei meus braços, espreguiçando-me. Entrei em contradição com meus próprios pensamentos, quando o vi, não contei nada porque perdemos contato por anos, e agora estou aqui, no apartamento dele. O álcool, antes de matar, ele humilha.
Ele estava arrumando a cama, distraído. Achei as expressões que ele fazia fofas, isso nunca mudou. Encostei as costas na porta do quarto, ficando em silêncio para não tirar sua concentração. Não achava justo ele precisar dormir no sofá enquanto eu aproveitava sua cama.
Ele finalmente terminou de arrumar os lençóis e virou-se para mim, franzindo a sobrancelha.
— Assim está bom? Você precisa descansar bastante, a ressaca amanhã vai ser daquelas — ela falou, andando em minha direção.— Vou pegar um copo de água e aspirina.
Assim que ele tentou passar por mim, levei minha mão até seu braço, impedindo que continuasse andando. Notei que puxei forte demais quando senti seu corpo colado ao meu, tão próximo que sua respiração soprava no meu rosto. Suas mãos seguiram caminho até a minha cintura, pressionando mais nossos corpos.
Eu não sabia como reagir àquele toque. Meu coração batia em um ritmo acelerado, fazendo cada pelo do meu ser arrepiar. O toque dos seus dedos eram gentis, os quais subiram até meu rosto. Naruto levantou meu queixo, fazendo-me encará-lo.
— Não vou fazer nada que te deixe desconfortável — sussurrou as palavras no meu ouvido, apertando de leve minha cintura. — Só farei o que você quiser que eu faça.
Firmei meus olhos nos dele. Era olho no olho, verde no azul. Não sei como chegamos a isso, e nem me importo. O álcool ainda estava fazendo muito efeito, e tudo ficou mais intenso. Eu queria beijá-lo, eu precisava sentir a sua boca de novo. Eu merecia isso. Recair, cair, não importava. Eu queria.
— Vamos pra cama — falei, afastando-me ofegante após imaginar um beijo nosso.
Naruto respirava com dificuldade, contendo-se, olhando-me fixamente.
— Nós não vamos transar, não mesmo — ele afirmou. — Você está bêbada, Sakura.
Parei de andar para olhá-lo, notando que não havia sinais de incerteza em seu rosto. Ele estava decidido, e o agradecia. Amanhã, eu me amaldiçoaria por agir por impulso. Querer eu queria, mas não estava pronta para dar esse tipo de passo, não ainda. Não depois desse dia.
— Ok, você ‘tá certo… Vou dormir agora, mas vou dormir no sofá, não é justo você deixar de dormir na sua cama por minha causa. — Respirei fundo, envergonhada pelos últimos minutos.
Tentei ir para a sala, porém fui impedida por Naruto, que parecia ambíguo ao o que acabou de acontecer.
— Sério, eu não me importo de dormir no sofá. Amanhã você trabalha, eu trabalho em casa. — Sua voz estava mais calma, assim como ele. — Durma aqui.
— Não vou, Naruto. Não seja teimoso! — Bati o pé, soltando meu braço de sua mão.
— É engraçado como você não mudou nada — ele riu, deitando-se na cama. — Se você não continua com aquela mania de chutar as pessoas enquanto dorme, podemos deitar aqui. — Deixou as mãos embaixo da cabeça, aconchegando-se no travesseiro. — Sem segundas intenções, só para dormir, antes que me ache um pervertido.
Achei graça a sua preocupação, e quase neguei, mas alguma coisa no fundo da minha consciência, incentivou-me a me deitar ao seu lado e dormir, sem sentir medo.
Deitei-me acanhada, puxando o cobertor para mim. Senti-me estranha por estar acomodada ao lado dele após tantos anos, contudo, ainda sim, era prazeroso. Meus olhos pesavam a cada minuto em silêncio que passamos. Notei que ele fazia carinho no meu cabelo e fechei meus olhos, permitindo que o sono viesse.
— Boa noite, Saky — ele desejou, baixinho. E foi a última coisa que escutei antes de apagar.
Acordei indisposta e sentindo minha cabeça latejar. Observei o quarto e lembrei-me de que havia passado a noite aqui, ao lado do loiro, que dormia em sono profundo. Olhei através da janela e atentei-me sobre o horário. Estava muito cedo, o que era bom para mim. Evitei fazer barulho e levantei-me, catando meus pertences pelo cômodo.
Fiquei alguns minutos pensando no que aconteceu e saí do apartamento, desejando voltar. Peguei meu celular, vendo as mensagens que Ino me mandou, mas ignorei.
Acho que preciso contar muita coisa para ela, porém pessoalmente.
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