— Vamos ver o retorno de Jedi. — Will disse me mostrando dois ingressos.
— Quem disse que eu quero ver? — Eu disse apenas para implicar com ele.
— Você está de pijama escutando alguma música no seu walkman e lendo uma HQ da Marvel, acredito que você não tem nada de interessante para fazer hoje.
— Tudo bem.
Will sorriu e saiu do quarto para que eu me trocasse, quando sai do quarto consegui ver o rosto dele melhor.
Ele estava com os cabelos úmidos, uma blusa branca com a borda das mangas vermelhas, uma calça jeans um pouco larga e um All Star que ele ganhou no natal de 1980.
— Vamos logo. — Will disse abrindo a porta do meu apartamento.
— Precisamos falar sobre você entrar o tempo todo no meu apartamento. — Eu disse sério
Eu fiz a cópia da minha chave para Will, ele era a única pessoa que eu conversava e confiava. Se algo acontecesse ele poderia me ajudar. É uma chave apenas para emergências, mas ele não entende isso.
— Isso não é um apartamento, é um lugar com dois cômodos que você chama de apartamento.
— Eu sou um estudante de jornalismo que trabalha em uma loja de HQ’s eu não tenho muito dinheiro para alugar um apartamento bom! Por isso eu sou o seu amigo, quando se formar em medicina vai me sustentar.
— Você está fazendo faculdade para eu te sustentar no final?
— Sim, quando te vi no ‘campus’ pensei que seria a pessoa certa para me sustentar!
Sobre onde eu morava, Will não estava errado. Era um grande prédio com aparência suja e com centenas de apartamentos, era o típico prédio que apenas pessoas ferradas na vida moravam. Viciados em drogas, em álcool, expulsos de casa, um trabalho que dá pouca renda e estudantes que não tem ninguém para ajudar.
Will não era um super rico que morava em uma mansão, mas ele morava em uma área melhor e o prédio aparentava ser limpo e o apartamento era maior que o meu, mas ainda era um lugar bem barato.
Entramos na caminhonete vermelha e fomos em direção ao cinema, no rádio tocava Billie Jean.
Como chegamos cedo a sala de cinema ainda estava vazia e conseguimos escolher as melhores cadeiras.
— Você vai comemorar o natal aqui?
— Sim, por quê?
— Pensei em comemorar o natal juntos, o que você acha?
— É uma ótima ideia, era esse meu sonho quando era mais novo. Comemorar o natal com amigos.
— Bem, não vai ser amigos no plural, mas é melhor assim.
— Sim.
O filme começou e a sala de cinema estava cheia, Will me entregou uma coca cola e colocou o pote de pipoca entre nós.
O filme começou, aquela escrita em azul me trouxe conforto, logo depois a música começou indicando que o resumo do filme iria aparecer em poucos segundos.
24 de dezembro de 1983
Era onze da noite, nós estávamos comendo macarrão instantâneo enquanto passava um filme de natal na TV, estávamos conversando sobre coisas banais até que o relógio marcou meia-noite.
— Feliz natal. — Eu disse sorrindo.
— Feliz natal. — Ele disse sorrindo maior ainda. — Vamos trocar os presentes?
Eu fiz que sim com a cabeça.
Decidi comprar o livro que estava lendo quando conheci Will, mas uma versão de capa dura.
Estava no ‘campus’ e ele decidiu conversar comigo por que eu estava lendo um livro que ele amava, isso foi em 1980. Tentei ter algo no sentido romântico com ele, mas percebi que ele é hétero. Acho que ainda tenho uma paixonite nele, mas ele nunca soube sobre minha atração por garotos e eu não planejo contar.
Ele me entregou um pequeno embrulho e eu entreguei o livro embrulhado em um papel dourado totalmente desengonçado. Contamos até três e abrimos os presentes.
Will ficou muito feliz com o livro, eu ganhei uma fita cassete.
Ficamos conversando por uma hora, até que ele teve que ir embora porque no outro dia ele tinha que ajudar a mãe a cozinhar.
Quando ele saiu do apartamento peguei a fita cassete e junto dela tinha um papel dizendo para ligar para ele quando acabasse.
Peguei o meu Walkman e coloquei a fita dentro e coloquei o fone de ouvido, ouvi toda aquela fita cassete.
Eram todas músicas sobre amor, algumas falavam sobre corações partidos e outras sobre amor não correspondido.
Poderia ser algo da minha cabeça, mas parecia uma declaração então eu fiz o que o bilhete mandava, fui até o telefone fixo e liguei para ele e depois de alguns minutos ele atendeu.
— Oi. — Eu ouvi a voz dele tremula.
— Eu acabei de ouvir a fita, as músicas são ótimas, mas não entendi porque você me deu uma fita com esse tipo de músicas.
O outro lado da linha ficou silencioso, mas ainda conseguia ouvir a respiração dele.
— Eu gosto de você. — Ele disse rapidamente.
Foi minha vez de ficar mudo.
Pensei em todos os momentos que a risada dele foi o melhor som que eu ouvi no dia, que quando ele me abraçava me sentia a pessoa mais segura e todas às vezes que tive vontade de beijá-lo, mas pensei que fosse normal e que já superado.
— Eu também.
*
O outro dia foi perfeito, ele veio para minha casa, no começo foi estranho. Eu fui o primeiro a tomar atitude, beijei Will pela primeira vez e nunca pensei que seria tão bom beijar alguém.
Mesmo que ficar o dia todo deitado no sofá com Will lendo e conversando, a melhor parte foi a noite quando Will dirigiu para fora da cidade e parou na estada, ficamos sentados na parte de carga da camionete bebendo uma lata de cerveja enquanto observávamos o céu, ficamos calados apenas observando o céu e eu sei que nunca ia esquecer daquele momento.
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