Draco POV’S
O som dos talheres caros raspando sobre a porcelana fina dos pratos era tudo o que se ouvia no cômodo. No ar, um silêncio constrangedor pairava. A tensão era tão perceptível, que, duvido que mais um pouco possa ser cortada com uma faca. Porque, afinal, as três pessoas ali presentes sabiam o que estava por vir. E eu, obviamente, gostaria de evitar.
— Desculpem-me a falta de cortesia, mãe, e... — Pausei a fala relutante, engolindo a seco as palavras a seguir. — Pai... Mas, eu creio que não esteja com fome, me alimentei em Hogwats e gostaria de me retirar... — Falei educado. Honestamente, aquele silêncio estava me dando nos nervos, e, por mais que eu estivesse com fome, não conseguiria comer nada. Meu estômago parecia dar voltas sobre ele mesmo. — A viagem foi um tanto quanto cansativa e gostaria de ir para os meus aposentos descansar um pouco. — Completei.
— Ora, mas por que Draco? Achei que gostaria de comentar conosco como foram seus últimos meses em Hogwarts, assim como fazia quando era pequeno... Fiquei sabendo de alguns boatos bem interessantes a seu respeito por lá... — Meu pai comentou com cautela.
— Desculpe-me... Pai... Mas creio que esta conversa ficará para outra hora, estou cansado. — Desconversei com uma calma calculada enquanto me retirava da sala de jantar com passos firmes e decididos.
Andei pelos corredores escuros, subindo as escadas e, por fim chegando ao meu destino. Uma porta de madeira maciça no final do corredor direito do segundo andar. Meu quarto.
Assim que adentrei o quarto e fechei a porta atrás de mim, pude respirar livremente, sentindo aquela tensão se dissipar aos poucos e meus músculos relaxarem.
Corri meus olhos pelo lugar que há tempos não entrava. Tudo na sua perfeita ordem, da mesma forma que deixei da última vez que o vi... Isto é, antes de ir para Hogwarts.
O ambiente era amplo e, mesmo que há muito não houvesse sido habitado, não fedia a mofo. Graças ao trabalho árduo dos elfos domésticos em manter aquele ambiente limpo, fechando e abrindo as janelas de cortinas escuras e pesadas todos os dias e cuidando para que a poeira não se acumulasse sobre os móveis ou pelo chão.
Senti uma onda de nostalgia e angústia me abater enquanto andava pelo quarto, observava cada detalhe naquele cômodo escuro, me relembrando do meu passado e pensando que talvez, em meu futuro, nunca mais viesse a vê-lo novamente.
Os móveis e o piso, todos revestidos por uma madeira pesada e negra como Ônix, davam ao quarto uma áurea pesada. A cama, de dossel, possuía cortinas escuras e no colchão foram colocadas cobertas caras e macias, de coloração esverdeada assim como as cortinas das janelas e a parede do fundo do quarto.
A mesma cor verde muito presente no quarto, que, um dia escolhi por conta da minha amada casa em Hogwarts, hoje, apenas me lembrava à cor dos olhos de meu amado.
Continuei a andar pelo quarto, circundando os móveis e sentindo a superfície plana da madeira sobre meus dedos. Vendo como eu organizara minha escrivaninha milimetricamente para que a caixinha de música que um dia pertencera á minha avó materna ficasse visível sobre a mesa, vendo como o espelho com as molduras pesadas, parecia ter vida própria e como eu deixara desleixadamente as portas do guarda-roupa abertas.
Vi, como o brasão da família Malfoy resplendia em diversos lugares, talhado sobre o meu armário, no criado-mudo, na lareira crepitante de um fogo azulado, nos meus antigos anéis, e em alguns outros detalhes quase imperceptíveis. Vi também, como que na minha própria ingenuidade eu desenhara a árvore genealógica da família em uma das quatro paredes tomando cuidado para que nenhum membro passasse despercebido... Era uma árvore um pouco unilateral é claro... Mas, Uh, não deixava de ser uma grande besteira.
Vi meus livros e pergaminhos sendo organizados em ordem alfabética na estante como se isso fosse algo realmente muito importante... Talvez, eu tivesse até um ou dois livros trouxas ali, que eu escondia para que minha mãe não me visse lendo um romance qualquer... Sorri... Uma bobagem...
Entrei no banheiro grande e espaçoso, todo projetado em tons pastéis porque eu achava que um banheiro não poderia em hipótese alguma ter cores escuras. Lá, havia uma grande banheira branca, lisa e simples, como o mármore, e que contrastava com a grande quantidade de espelhos grandes e extravagantes. Na pia, podiam ser encontrados muitos objetos de limpeza pessoal que, por descaso eu organizara de qualquer forma.
Voltei para o quarto e comecei a vasculhar a estante de livros, procurando algo interessante para ler, encontrando, em um canto mais escondido, uma caixa larga, um pouco mais grossa que dois ou três livros médios. Sorri. Dentro daquela caixa havia coisas muito importantes para mim...
Puxei a caixa da estante e corri até a minha cama com ela, me lançando sobre os travesseiros, de forma animada e abrindo-a com cuidado, vendo uma quantidade absurda de tranqueiras, pergaminhos e livros velhos.
Comecei retirando algo aleatório, sem prestar muita atenção mesmo. Era um bloquinho de folhas, dentro deles, havia diversos desenhos que algum dia eu rabiscara, neles era possível ver toda a emoção que eu transpassava, não era muito interessante porque, eu já conhecia esses desenhos demoradamente e não gostava de relembrá-los. Uma vez, que boa parte destes desenhos foram praticados em uma parte ruim da minha vida... Então, logo parti para o próximo objeto.
Puxei um livro fino de capa azulada do fundo da caixa, era um livro de contos que minha mãe costumava a ler para mim quando pequeno, dentro dele, alguns pergaminhos dobrados de qualquer jeito com fórmulas de poções que eu ainda não aprendera quando escrevei. Mais em baixo da caixa, pude visualizar um caderno, era o meu diário. Confesso que eu não escrevia com muita frequência, mas havia ali, material suficiente para que eu soubesse que eu nunca soube muito de mim mesmo. Naquele caderno, tudo o que havia escrito ali, era uma mentira. Todas as memórias descritas ali, só foram feitas por conta da ignorância que o Obliviate de meus pais me causou. Suspirei... Uma droga.
Na caixa, eu carregava algumas recordações de Hogwarts, Algumas fotos e objetos de brincadeiras com Pansy, Grabbe, Goyle e Zambini. Dentre elas, alguns planos para pregar peças em Harry... Ri divertido, na época, eu mal sabia que algum dia podia vir a amá-lo...
Puxei outro livro, este tinha capa dura e me lembro de ter ganhado de Pansy quando tinha por volta dos meus 14 anos. Na época eu estava com alguns receios em relação à minha sexualidade e bem... Pansy achou esse livro na biblioteca de seus pais e me deu achando que podia me ajudar... De fato, me ajudou um pouco... Mas eu o mantinha escondido, com medo que a minha mãe encontrasse-o, afinal, não é todo dia que você entra no quarto do seu filho de 14 anos e acha um livro falando sobre sexo gay e... Bem, acho que dá para entender...
Eu iria continuar mexendo, mas antes que eu pudesse colocar minha mão de volta na caixa a fim de encontrar mais alguma coisa interessante, batidas firmes soaram na porta me fazendo sobressaltar.
— Draco! Abra a porta! — Meu pai falou firme me fazendo correr para atendê-lo. — Vamos, você vai comigo até as masmorras, parece que seu treinamento não vem surtindo efeito. — Comentou frio me fazendo estremecer enquanto o seguia escadaria a baixo, com medo do que estava por vir.
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