Era segunda-feira quando Regina entrou no escritório com um óculos escuro no rosto. Estava com o humor péssimo.
— Bom dia, Rub... — parou de falar quando avistou a recepção lotada de flores — Mas o que significa tudo isso?
— A sra. Delícia está lhe mandando flores desde a hora em que cheguei.
Regina engoliu em seco. Tentou ignorar o coração disparando.
— O que Emma está pensando? Que meu escritório virou uma floricultura? — disse a advogada, fingindo indiferença enquanto caminhava até a sua sala.
Regina havia ignorado todas as suas ligações desde sábado. Quando entrou em sua sala, haviam mais flores. Ela fechou a porta e suspirou. Andou até a sua mesa onde havia um cartão com uma caixa de chocolates.
"Vou lhe encher de flores até que você me atenda.
E."
Regina soltou um sorriso de leve.
***
— Bom dia — disse Andrew, entrando no escritório de Emma — Soube que você esteve com a mamãe.
— Como foi que você soube disso?
— A tia Mary contou para a tia Rose, que contou para a Jacinda.
— As fofocas correm rápido nesta família.
Andrew puxou uma cadeira.
— Como foi?
Emma fechou a cara. Ela estava fula com Ariel e um pouco brava com Regina por ignorá-la.
— O que foi? — perguntou Andrew, vendo a expressão da mãe — Não quero saber dos detalhes íntimos. A mamãe vai contar tudo para a tia Mary e eu vou acabar sabendo de qualquer jeito.
— Onde está o relatório de vendas semanal?
Andrew se retraiu.
— Você quer falar de negócios?
— Nós estamos no escritório, não estamos?
— Mas...
— Como acabou a historia com Liam Lundin?
Aquele caso da falsa alegação de doença a importunou toda a semana. Não que ela quisesse adotar o estilo de trabalho de Regina. Só queria compreender o que havia acontecido e descobrir como evitar que isso se repetisse no futuro.
— Por acaso está querendo me dizer que o fato de eu lhe perguntar sobre a mamãe no horário de trabalho pode ser comparado ao que ele fez?
— Depende de quanto tempo você vai se ater ao assunto. Ele foi demitido?
— Eu vou falar com o RH esta tarde.
— O que lhe diz a sua intuição?
O filho parecia confuso.
— Ora, você já dispõe de todos os dados que pudemos comprovar.
Podia ser, mas ela continuava ouvindo a voz de Regina perguntando-lhe o quanto ela realmente conhecia seus empregados.
— E quanto aos não-comprovados?
— Nada relevante, mãe.
— Existe algum?
— Bem, Liam afirma que estava levando a mãe para uma clínica de oncologia.
— Alguém da equipe checou essa informação?
— Não havia motivo para isso.
— Como não, Andrew?
— Nossos empregados não têm direito a dispensa para levar familiares a consultas médicas.
— E como é que eles fazem, então?
Emma havia saído com Regina várias vezes durante o horário de trabalho. Ela havia encomendado flores para ela durante o horário de trabalho. Se Regina tivesse ficado doente, ela com certeza a teria levado ao médico durante o horário de trabalho.
— A respeito de quê? — perguntou o filho.
— Consultas médicas de familiares. Emergências.
Andrew ergueu as mãos.
— Eu não sei.
— Bem, talvez devêssemos pensar nisso. Você acha que a mãe de Liam está mesmo doente?
— Ele não costuma faltar. Só deixou de vir uma vez no ano passado, e duas no ano interior.
— Vamos deixar isso de lado — disse Emma, guardando a carta que deveria assinar.
— Mas a minha reunião...
— Cancele. Dê uma chance ao rapaz.
— E o que vai acontecer da próxima vez que algum empregado quiser levar um familiar ao médico?
— Boa pergunta, filho.
— Obrigado.
Emma acionou a comunicação interna.
— Belle?
— Sim?
— Nós temos uma cópia do regulamento?
— Temos. Quer que eu a leve aí?
— Ainda não.
— Tudo bem.
Andrew se curvou para frente.
— O que é que você está fazendo?
— Respondendo à sua pergunta.
— Quer ver o relatório de vendas agora?
Emma levantou e relaxou os ombros.
— Não. Você cuida disso. Avise-me se houver alguma coisa que eu precise saber.
— Tem certeza?
— Você é um gerente de vendas muito eficiente. Eu já lhe disse isso alguma vez?
— Mãe?
Ela saiu de trás da mesa e deu um tapinha no ombro do filho.
— Você é realmente muito bom nisso.
— Mãe, você está bem?
— Não — disse ela, conduzindo Andrew até a porta — Mas estou me esforçando para ficar.
Andrew olhou para a mãe com estranheza, porém se deixou levar até a recepção.
Depois que ele foi embora, Emma parou do lado da mesa de Belle.
— Será que você pode fazer uma pesquisa?
Belle pegou papel e caneta.
— Claro.
— Descubra se as companhias do mesmo porte que a nossa, dispensam seus empregados para tratar de assuntos familiares.
— Assuntos familiares?
— Se eles têm direito de faltar quando é preciso levar alguém da família ao médico.
— Isso tem alguma coisa a ver com Liam Lundin?
— Você é realmente muito esperta — brincou Emma.
— Vou tratar disso agora mesmo — disse Belle.
Emma já entrava na sala quando resolveu voltar.
— Como vai a sua família?
Ela estranhou a pergunta.
— Eles estão bem.
— Seus filhos estão agora com...
— Violet tem sete e Gideon nove.
— Certo. Eles gostam da escola?
— Sim.
Emma assentiu.
— Isso é bom.
A editora tamborilou os dedos na mesa de Belle antes de voltar para o seu escritório.
Violet e Gideon. Tinha de anotar isso em algum lugar.
Emma reclinou-se na cadeira e pegou o fone.
— Escritório de Regina Mills.
— Olá, Ruby. É Emma.
— Tenho ordens para não passar suas ligações.
— Eu imaginei.
— Quer me subornar?
Emma riu. Estava gostando cada vez mais dela.
— O que preciso fazer?
— Que tal uma caixa daqueles chocolates maravilhosos que Regina ganhou?
— Vão estar na sua mesa em uma hora.
— Regina pode falar com você agora mesmo — disse ela, transferindo a chamada.
— Regina Mills.
— Sou eu. Não desliga — pediu Emma.
Silêncio.
Regina suspirou, havia sentido falta da voz da ex-mulher.
— Eu segui o seu conselho hoje.
Regina estranhou.
Emma ficou esperando.
— Que conselho?
Bingo!
— Encomendei uma revisão do regulamento.
Regina sorriu.
— Encomendou?
— É, pedi à minha secretária para pesquisar. A propósito, os filhos dela se chamam Violet e Gideon.
— Você teve de ir atrás dessa informação, não foi?
— O que importa é que eu descobri.
— Certo. Eu vou lhe dar um crédito por isso.
Emma aproveitou a deixa.
— Saia comigo de novo, Regina.
— Emma...
— Por favor, meu bem.
— Eu acho que...
— Para onde você quiser. Qualquer coisa.
— Emma, isso não vai dar certo.
O pânico ameaçou tomar conta da loira.
— Você não tem como prever isso. O que é que a sua intuição está lhe dizendo, Regina?
— A minha intuição?
— É, o seu instinto. Esqueça a lógica...
— Esquecer a lógica?
— Deixe-se levar pela emoção, Regina. Você também pode seguir o meu conselho.
A voz da advogada ficou mais suave.
— Isso não é justo, Emma...
A loira usou o mesmo tom que ela.
— E quem foi que falou em justiça?
Regina suspirou.
— Qualquer lugar?
— Qualquer um.
— Um piquenique. Na praia.
— Domingo às seis da tarde.
Ela ainda hesitou por alguns instantes.
— Está bem.
— Eu pego você.
— Nada de limousines.
— Prometo.
***
Regina só especificou que ela não poderia vir de limousine, mas não disse nada sobre helicópteros.
Elas pousaram no heliporto da casa de praia de Emma. Era uma praia particular e os empregados já estavam à disposição.
Aquilo, porém, não se parecia em nada com o que Regina tinha imaginado. Ok. Era Emma Swan.
Uma mesa redonda fora posta sobre uma faixa lisa de areia que dava para ver as ondas revoltas batendo no mar.
A toalha branca balançava ao sabor da brisa. A mesa estava decorada com um belo arranjo de flores, lamparinas, cristais e porcelana chinesa, e ao lado dela, um maître esperava para servi-las.
Emma pegou uma das cadeiras dobráveis e fez um gesto para que ela se sentasse.
— Pedi que iniciassem os serviços com o pôr-do-sol.
Regina tirou o óculos de sol e olhou para a loira.
— Isso é um piquenique?
O maître se pôs em ação logo que ela se sentou.
— Nós vamos começar com margaritas — disse Emma, acomodando-se à sua frente, do outro lado.
— Margaritas?
— Se você preferir, podemos providenciar...
— Eu gosto de margaritas. O problema é que...
— Sim?
— Isto não é um piquenique.
— Como?
— Emma, um piquenique significa frango assado, torta de chocolate, toalha xadrez no chão, formigas, vinho barato, uma jarra de suco de laranja e copos de plástico. Muito menos usar um paletó!
— Agora você já está de má vontade. Todo mundo bebe margaritas na praia.
— Nos resorts, mas ninguém leva um liquidificador para um piquenique! Não haveria onde ligá-lo!
— Relaxe. O barman está preparando tudo dentro da casa.
As bebidas foram servidas logo em seguida. Estavam deliciosas, embora não tivessem nada de rústico.
— Vamos começar com um coquetel de camarão.
— Pare de tentar me impressionar.
Regina não tinha ido até lá para ver o dinheiro de Emma, mas sim para se encontrar com ela.
— Mas isto é um encontro. Por que razão eu não deveria tentar impressioná-la?
Talvez fosse hora de dizer a Emma que ela já estava devidamente conquistada. Regina estava determinada a chegar até a verdadeira Emma e fazer amor com ela antes do fim da noite.
— O que foi? — perguntou Emma, vendo seu sorriso.
— Eu estava pensando no regulamento.
— Belle fez um ótimo trabalho. Nós vamos enviar uma proposta ao papai.
— Você vai propor a inclusão de dispensa para tratar de familiares doentes?
— Nós vamos tentar.
Regina deu um gole na margarita.
— O que a fez mudar de ideia?
— Quanto a enxergar os meus empregados como pessoas de carne e osso?
— Sim.
— Você, é claro.
Regina sorriu.
— Obrigada.
— Você tanto fez, tanto fez...
— Você me faz parecer insistente desse jeito.
Agora foi a vez de Emma sorrir.
— Eu diria persistente.
— Assim como você.
— Ah, mas eu cedi.
Era verdade. Emma fez um grande esforço para enxergar as coisas a partir do seu ponto de vista, enquanto ela não tinha feito qualquer concessão.
As ondas ficaram mais agitadas e as gaivotas passaram em bando pelo céu.
Regina arrumou o cabelo e olhou para Emma, admirando a beleza da ex-mulher sobre o fim do pôr-do-sol.
— O que foi? — perguntou Emma.
Regina balançou a cabeça e voltou a sorrir.
— Nada. Conte-me sobre a disputa pela presidência da editora. Você acha que vai ganhar?
Emma deu de ombros.
— Estamos vendendo muitas assinaturas pelo site.
— Ainda faltam quatro meses.
— Mas a Charisma sempre vendeu muito bem em dezembro.
Regina assentiu, brincando com sua taça.
— Você vai ficar muito desapontada se perder?
— É claro. Eu jogo para ganhar.
— Eu sei, mas fora essa questão de ego...
— Isso não é uma questão de ego.
— Ora, Emma! — Regina riu.
Emma parecia genuinamente confusa.
— O que foi?
— Você está querendo me dizer que conseguir o posto é mais importante para você do que vencer?
— Não estou entendendo o que você quer dizer. É tudo a mesma coisa.
— Não, senhora. São duas coisas diferentes.
— Como assim?
— Tire o paletó, Emma.
— O quê?
— Você ouviu muito bem.
Ao ver que a loira não se mexia, Regina se levantou e se aproximou da loira. Ela estava com as mãos na lapela do paletó branco de Emma quando um prenúncio de chuva se fez.
Emma abriu as pernas, deixando Regina entre elas.
— O que você está fazendo? — perguntou, admirando o decote generoso de Regina.
A advogada começou a baixar-lhe o paletó.
— Estou tirando as camadas.
— Que camadas?
— Aquelas que mascaram a verdadeira Emma.
— Mas eu sou a verdadeira Emma.
— Como é que você tem tanta certeza? — retrucou Regina, puxando sua manga.
— Porque eu tenho sido verdadeira sempre — disse a loira, olhando Regina nos olhos.
Regina sustentou o olhar e depois voltou sua atenção ao paletó de Emma.
— E o que é que o seu verdadeiro eu quer?
— Você! — respondeu Emma, passando os braços em torno do quadril da morena.
Aquela era uma bela resposta.
Regina não se aguentou e sentou de lado no colo da loira.
— Eu quis dizer profissionalmente.
— Quero ser a presidente da Editora Swan. Não entendo por que acha tão ruim que eu deseje estar no topo de uma firma na qual trabalhei a vida toda.
Regina a puxou pelo colarinho.
— Porque eu acho que a sua família andou colocando coisas na sua cabeça durante todos esses anos, fazendo você acreditar que queria aquilo que, na verdade, eram eles que queriam que você fizesse.
— Como o quê por exemplo?
Regina jogou o paletó sobre a mesa.
— Eu!
Emma olhou para ambos os lados.
— Eu não estou vendo ninguém aqui da minha família me obrigando a ficar com você.
— Mas eles a induziram a se casar comigo.
— Você estava grávida.
— Eles a convenceram a ficar na editora.
— Nós precisávamos do dinheiro.
— Eles lhe disseram para permanecer no país.
— Eu fiquei aqui por sua causa.
Emma pegou uma flor da mesa e colocou atrás da orelha de Regina.
— Ficou aqui porque eles lhe disseram para ficar. De quem foi a ideia de você se casar com Ariel?
— Minha — respondeu a loira, vacilante.
— De quem foi a ideia de você disputar o cargo de presidente da editora?
Emma ficou olhando para ela.
— O que é que você quer, Emma?
Emma queria lhe dizer que desejava passar o resto de sua vida ao lado de Regina.
Os trovões ecoaram mais perto desta vez. Raios riscaram o céu que já havia ficado escuro, enquanto as primeiras gotas de chuva molhavam a areia.
Emma voltou-se para o maître.
— Diga-lhes para trazer o toldo, Bob.
Regina pulou de seu colo.
— Não!
— O quê?
— Nada de toldos.
— Por quê não?
— Camadas, Emma, camadas...
Emma olhou para ela.
— Você por acaso perdeu o juízo?
A advogada se aproximou novamente da loira.
— Pode mandá-lo embora? — a morena apoiou as mãos no ombro de Emma.
— Acha que estarei segura aqui com você?
— Talvez.
A editora hesitou ao ouvir outro trovão.
— Pode entrar, Bob. Está tudo bem.
Bob fez um meneio e seguiu para a casa.
— Então, vamos ficar aqui fora e nos molhar?
— Isso mesmo. A vida não é organizada, Emma. É melhor ir se acostumando.
— Posso ao menos recolocar o paletó?
— Não.
— Você quer usá-lo?
— Não.
A chuva começou a engrossar, e Regina a recebeu de braços abertos.
— O jantar está perdido — disse Emma.
— Nós podemos pedir uma pizza depois.
— E o que é que nós vamos fazer agora?
— Agora? — disse a advogada, pulando de novo em seu colo de frente para ela, tirando o cabelo loiro molhado do rosto de Emma e passando os braços em torno de sua camisa molhada — Agora, nós vamos fazer amor.
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