"Na rodovia JP-678, um jato pousará na estrada abandonada às sete da noite da próxima sexta-feira por exatos oito minutos. Essa é a única chance que terá. Se a perder, eu não poderei fazer nada, muito menos devolver o valor".
Esse fora o combinado de Hashirama com o antigo colega de escola. Ele repetia a fala alheia incessantemente como um mantra, visto que ele não podia perder ou esquecer nenhum detalhe. Mesmo assim, ele fez questão de avisar Obito sobre o acordo; lhe mandando uma mensagem no celular. Assim, os irmãos poderiam relaxar um pouco, visto que os detalhes sobre a viagem deles já estavam determinados.
Parado do outro lado da rua, Hashirama perguntava-se se era uma boa ideia encontrar com Shizune, ele sabia que a amiga era boa de lábia e que provavelmente o convenceria, com extrema facilidade, a ver Tobirama, algo que ele não queria que acontecesse.
Apesar de ter dito que não demoraria, Hashirama resolveu ficar no centro da cidade e deixar que a amiga dissesse o que ela desejasse dizer. O Senju queria acabar com todas aquelas incógnitas e se a história de Tobirama fosse sanar todas as suas dúvidas, então ele, apesar de relutante, ainda estava disposto a ouvir.
Pelo menos era o que ele achava.
O relógio marcava 02:58 PM. Hashirama observava todo o local com muita atenção; nada de viaturas; nada de policiais e nada de carros parados aos arredores que parecessem suspeitos. Não que isso fosse suficiente para dizer que nenhuma emboscada havia sido montada, mas era Shizune quem o convidara. Sua amiga, a única pessoa na qual Hashirama podia confiar em meio a todo aquele caos.
Um suspiro pesado soou de seus lábios quando ele viu a silhueta dela passar um pouco distante de onde ele estava. Shizune estava de calça e blusa social, o look atrelado ao corte de cabelo não lhe dava um ar de feminilidade, pelo menos não a feminilidade estereotipada pela sociedade.
Hashirama prestou atenção nos movimentos alheios e observou quando ela se sentou em um banco próximo, esperando pela sua suposta visita.
Aparentemente, ela estava sozinha.
Com a arma entre os dedos, Hashirama cogitou a hipótese de não levar o revólver consigo, mas também estava relutante com a ideia de deixá-la para trás. Ele não podia se descuidar, não naquele momento, não quando estava sendo procurado pelas forças policiais do seu estado.
— É só a Shizune! — afirmou baixo, tentando manter a calma. — Vai ficar tudo bem — concluiu ao respirar fundo. Ele repousou o revólver dentro do porta luvas e abriu a porta do carro, fazendo menção de sair.
O corpo de Hashirama travou no mesmo instante; não sentir o metal frio tocando-lhe a pele lhe trazia uma sensação estranha, era como estar pelado. Por um momento ele tentou forçar-se a ir, mas logo desistiu da ideia, sentou-se novamente no banco e colocou a arma na cintura de uma maneira que ninguém do lado de fora a visse. Hashirama também colocou uma máscara no rosto, apesar de estar em um local público, ele não queria correr o risco de alguém reconhecê-lo, já que seu rosto estava em jornais e canais de televisão.
Seus pés trilharam o caminho do farol, passando pela faixa de pedestre e indo em direção a mulher. Ele não disse nada quando chegou a uma distância consideravelmente perto, apenas sentou-se ao lado dela observando com atenção todo o ambiente a sua volta, assim como toda a movimentação das pessoas que transitavam por ali.
De início, o silêncio prevaleceu entre eles. Shizune não conseguiu desviar os olhos do grande arvoredo à sua frente e olhar o rosto amigo. Talvez ela não acreditasse que aquele encontro realmente fosse real, ou talvez, ela não tivesse palavras para dialogar com ele naquele momento.
Era possível notar o leve tremor que adornava as mãos dela, o suor frio que escorria no pé da nuca, a respiração descompassada… Aquela não era a mulher que Hashirama costumava conhecer e ele se perguntava o que havia acontecido para ocasionar uma mudança tão brusca de comportamento, uma vez que nada gerava ansiedade e insegurança em Shizune Saito.
— Por um momento, eu pensei que você não fosse vir…
A voz dela estava baixa e fanha, sendo perceptível alguns traços de melancolia e a surpresa que carregava.
Hashirama demorou um pouco para responder.
— Ainda sim, você continuou vindo aqui me esperar! — afirmou, finalmente a olhando.
A carta de Shizune era de dois dias atrás, isso significava que, a cerca de três dias ela ia esperar por Hashirama naquela localidade, na esperança de que ele atendesse o seu chamado.
— Era a única coisa que eu podia fazer — ditou, ainda olhando para frente. — Eu não podia fazer nada a não ser te esperar e torcer pra que você realmente viesse… — uma longa pausa fora feita. — Minha carreira depende desse encontro! — afirmou por fim.
Ela parecia apreensiva, ainda mais com a falta de pronunciamento por parte do Senju.
— Hashirama, eu nem sei o que te dizer a respeito de tudo isso…
— Você disse que precisávamos conversar. Sobre o que, exatamente? — perguntou abrupto, desviando o assunto.
Ele não queria a pena dela, muito menos perder tempo com assuntos triviais. Precisava voltar à residência Umino o mais rápido possível, visto que não gostava da ideia de deixar Madara sozinho, apesar de saber que o Uchiha estava na companhia do irmão.
Shizune apenas gesticulou enquanto se apressava em explicar:
— Seu irmão e toda essa situação.
Por um momento a paranóia tomou conta da racionalidade do Senju, fazendo-o duvidar de valores que há muito tempo haviam sido construídos.
— Você está envolvida com isso? — perguntou, avistando quando o semblante dela finalmente o olhou. — Você está envolvida nos maus tratos de Madara e toda essa merda que eu não entendo com clareza do que se trata?
— Não, claro que não — respondeu de modo afoito. — Como pôde me perguntar esse tipo de coisa?— questionou, tentando não se alterar. — Eu estava lá pra te apoiar quando você precisou de mim, pra te orientar e pra ser o seu ombro quando você não tinha ninguém! Tentei te ajudar quando você quis fazer a quimioterapia no Madara, mas ele não me deixou chegar perto e como você sabe eu não quis forçar a barra pra não estragar a confiança que ele tinha em você.
Fora neste instante que Hashirama percebeu o tipo de coisa que estava perguntando. Sua cabeça estava doendo, ele relaxou a testa franzida e respirou fundo.
— Desculpa, é que… é que eu tô cansado e… acho que meio paranóico!
Shizune suspirou fundo também, à medida que balançou a cabeça negativamente de maneira sútil.
— Sei que está com receio por conta de toda essa situação e eu não estou pedindo pra confiar em mim — esclareceu. — Mas eu não estou aqui somente porque me importo com você, Hashirama, e eu espero de verdade que não me odeie por isso…
Hashirama engoliu seco, prestando ainda mais atenção na movimentação das pessoas ao seu redor.
— Você chamou a polícia? — Questionou, tornando viável a possibilidade de uma traição.
— Não. Eu jamais entregaria você!
Então ele se lembrou da carta.
— Trouxe o meu irmão, não foi?
Por um momento, Hashirama achou que não seria respondido.
— Seria muita covardia da minha parte trazê-lo aqui sabendo que você não quer vê-lo, e com razão. Mas eu tenho uma mensagem dele — afirmou e após uma pausa longa, concluiu: — Ele queria que eu ligasse pra ele e passasse o telefone pra você, pra que vocês pudessem conversar como duas pessoas civilizadas, mas eu fiquei com medo de você se alterar e acabar chamando atenção desnecessária. Por isso eu pedi que ele gravasse um áudio.
Shizune levantou o celular e um fone de ouvido. Hashirama pegou o que lhe fora oferecido e repousou sobre o colo.
Pensativo, ele perguntou:
— Por que está ajudando ele?
Shizune não respondeu de imediato.
— Apesar de seu pai estar de volta no país, ele está ocupado procurando por você. Seu irmão assumiu a administração da instituição, então…, agora eu me reporto a ele e por conta dessa mudança de estrutura, a minha carreira depende desse encontro… — explicou. — É foda depender de outras pessoas pra manter o emprego! Pra continuar tornando o seu sonho real…
Aquela frase fora suficiente para que Hashirama se lembrasse da ajuda financeira que deu a Shizune quando eles ainda cursavam a faculdade, em como a amiga se desdobrava de todos os jeitos possíveis para pagar duas faculdades ao mesmo tempo, até onde Shizune havia relatado, a dela de enfermagem e a do irmão de farmácia. “Depender de outra pessoa para tornar o seu sonho real”, era assim que ela se dirigia a ele, mas logo Hashirama descartou a hipótese dela estar se referindo a essa eventualidade em questão, quando ele se lembrou do ser que também estava naquela bagunça, atuando como o principal chefe da instituição, como ela mesmo estava relatando.
— Foi ele quem pediu pra que você viesse?
Shizune assentiu.
— Ele sabia que se fosse eu quem entrasse em contato, você provavelmente viria.
Hashirama apenas suspirou, conectou os fones de ouvido no aparelho e colocou os pequenos objetos no ouvido. Tobirama havia jogado sujo e ele não queria que a amiga sofresse nenhum tipo de punição ou que ela perdesse o emprego por isso, já que instituições privadas não proporcionam nenhum tipo de segurança e estabilidade profissional.
O Senju apenas apertou o play e se pôs a ouvir:
"Sinceramente, eu não sei nem por onde começar. Fiz e falei muitas coisas… e eu tenho certeza que você deve estar extremamente irritado comigo. Mas você precisa saber o porquê de eu ter feito o que fiz! Precisa entender os meus motivos…
Foi o irmão de Madara quem matou a minha noiva…"
Hashirama arregalou os olhos e permaneceu em silêncio, ouvindo uma grande pausa ser feita, como se o albino estivesse se preparando psicologicamente para falar sobre um assunto delicado. Hashirama estava perplexo e de certa forma aliviado, haja vista que sua teoria sobre o irmão de Madara ter matado sua cunhada, estava certa.
"Hashirama, você precisa saber que Madara está do lado errado da história! Ele não tem distúrbios, não tem tumor nenhum e não é alguém que necessite de cuidados psicológicos, pelo menos não os que você prestava a ele e a essa altura do campeonato, você já deve saber disso.
Madara encobriu muitas coisas e até pano para o irmão, no assassinato de Sakura, ele passou! Quero deixar claro que não estou me referindo ao irmão que tem uma cicatriz no olho. Madara foi o álibi daquele outro desgraçado e quando eu consegui levá-lo a julgamento, o seu querido paciente mentiu, omitiu e manipulou o juiz para que o irmão dele fosse inocentado das acusações.
Quando eu vi uma oportunidade de prender Madara na clínica, a raiva e a vingança falaram mais alto e eu cedi aos meus desejos mais obscuros. Eu queria que o assassino de Sakura pagasse e por isso eu peguei o Madara e encontrei uma forma de fazer com que ele fosse internado. Minha ideia era fazer o irmão de Madara sofrer como eu sofri, tirar dele o que era importante pra ele como o que me foi tirado. Essa é a explicação pelas coisas inaceitáveis que você tanto questionou e repudiou.
Eu sei que não concorda, que me acha um monstro e que aos seus olhos eu sou apenas um homem arrogante…"
— E egocêntrico… e manipulador… e extremamente inconsequente — acrescentou.
Shizune o olhou sem entender nada, mas permaneceu calada ao perceber que a fala de Hashirama referia-se ao áudio.
"...Mas todas as minhas ações têm um fundamento por trás; uma causa; uma explicação! E Madara Uchiha é a única forma de eu conseguir viver em paz novamente, de eu conseguir viver a minha vida sabendo que eu fiz o que meu coração julgava ser o certo a fazer."
Novamente, a longa pausa fora feita.
"Eu não estou gravando esse áudio em busca da sua compreensão ou em busca da sua pena. Estou aqui pra te deixar ciente de que eu não vou parar enquanto eu não tiver ele em minhas mãos de novo. Enquanto ele não estiver morto eu não vou parar de buscar a minha vingança e eu espero muito não ter que passar por cima de você. Porque se precisar passar, eu irei!
Hashirama apenas sorriu, aquilo não era novidade.
Eu sei onde você está, acredite! Você tem a péssima mania de falar demais quando não deve…, mas eu não estou aqui pra brigar com você e todo o nosso desentendimento anterior será relevado. Como prova disso, eu vou te dar o prazo para entregá-lo até a próxima sexta-feira, caso não entregue, quando a polícia colocar as mãos em você eu não poderei intervir para te ajudar… Talvez isso seja até bom, assim você pode fazer companhia para o seu querido amigo Iruka, seria uma pena se ele ficasse preso sozinho por ser cúmplice das suas tramas, não é?
Hashirama arregalou os olhos.
“Até às 18h de sexta-feira, Hashirama, nem um minuto a mais!"
Hashirama olhou para a tela do celular, vendo que o áudio havia chegado ao fim. O doutor não sabia o que falar, o que fazer ou como agir e por isso, ele permaneceu do jeito que estava.
Tobirama havia pego Iruka, Hashirama tinha certeza disso porque ninguém do seu círculo íntimo conhecia o Umino, imagina quem não pertencia. Então a probabilidade de ser um blefe era muito pequena, sem contar que Iruka era a única pessoa além de Obito que sabia onde Madara estava.
Hashirama respirou fundo.
"Isso não é bom…" — pensou.
Pensar que Madara estava sendo condenado pelos crimes do irmão, apesar de Tobirama ter deixado bem explícito que Madara era cúmplice do assassino de Sakura, assassino esse que Hashirama não sabia o nome, era perturbador. Hashirama não conseguia raciocinar e nem acreditar nas informações reveladas a si. As histórias não se coincidiam e a grande dúvida agora era saber quem estava mentindo, uma vez que Madara afirmou ao Senju mais novo que não conhecia Sakura Haruno e que nunca teve nenhum tipo de contato com ela e com Tobirama, e a história contada por Obito na clínica reforçava a história contada pelo irmão.
Ao notar a ausência de movimento e manifestação por parte do amigo, Shizune proferiu:
— Você está arriscando muita coisa pelo Madara…
— Ele é inocente! — afirmou abruptamente, não tendo tanta convicção de suas palavras.
Shizune assentiu, como se soubesse ao que Hashirama se referia.
— Mas não é só o fato dele ser inocente que está te motivando a ajudá-lo, não é?
Hashirama não respondeu, ele ainda estava processando aquelas informações e tocar no ponto que Shizune queria tocar, naquele momento, não era relevante.
— Eu te conheço a tempo suficiente pra saber que você gosta dele…
— Assim como eu gosto de você! — afirmou, interrompendo-a.
— Não, não é do mesmo jeito e você sabe disso — proferiu calma com um singelo sorriso.
Hashirama respirou fundo, permitindo-se pensar sobre. Seu sentimento por Madara era genuíno e inocente, não havia maldade, não havia segundas intenções e o fato de não querer falar sobre, era porque ele sabia que Shizune talvez não fosse compreender.
— Não é exatamente da maneira que você pensa — proferiu baixo e calmo. — Eu gosto dele, mas nunca rolou nada entre a gente e eu não estou fazendo o que faço com segundas intenções, faço porque acredito que ele merece uma oportunidade de recomeçar e de ser feliz — tentou esclarecer.
— E você acredita que colocando o seu CRM em jogo e fazendo tudo o que tem feito, vai proporcionar alguma maneira de você ser feliz?
— Não estou preocupado com isso no momento…
E ele realmente não estava, Madara era sua prioridade, a liberdade dele era sua prioridade assim como o bem estar. Hashirama só se permitiria desfrutar de algo bom quando visse Madara Uchiha fora de toda aquela situação caótica.
— E quando você vai se preocupar? Hashirama, se te pegarem você nunca mais vai atuar em hospital nenhum! Nunca mais entrará em uma sala de atendimento, pelo menos não como médico.
— Então talvez seja melhor eu ir embora — proferiu, parecendo meio desconfortável com aquela cobrança.
Como ele havia imaginado, Shizune não entendia o motivo pelo qual ele estava fazendo tudo o que fazia. Ela não compreendia a culpa que ele sentia e a imensa vontade de fazer o que ele achava ser o certo.
— Seu recado foi dado, não há mais nada que você tenha que fazer por ele, não é? Pelo meu irmão?
Shizune balançou a cabeça negativamente e Hashirama assentiu.
Ele precisava ficar sozinho.
— Foi bom te ver… — proferiu baixo ao se levantar e caminhar para longe.
— Hashirama…
O Senju olhou para ela por cima do ombro.
— Criar afeto por ele só vai piorar as coisas. Não dê ainda mais um fardo pra ele carregar…
Hashirama permaneceu em silêncio. Shizune havia ocasionado mais um questionamento na qual Hashirama teria que se preocupar. Ele apenas ergueu o semblante e continuou andando. Shizune permaneceu sentada, observando o corpo robusto tomar distância.
Apesar de ter falado várias vezes que gostava do Uchiha, Hashirama não esperava ser retribuído ou compreendido pelo mais novo, sem contar que as declarações vinham de forma natural e talvez essa fosse a motivação para falar o que pensava e sentia no momento, uma vez que Madara parecia não o compreender ou levar as declarações na esportiva. Mas o Senju realmente não pensou que seus sentimentos pudessem ser um fardo para Madara, ou até mesmo uma opressão.
— Talvez ele se sinta forçado a retribuir os meus sentimentos por achar que me deve alguma coisa — proferiu a si mesmo ao pensar sobre o assunto.
De todo modo, aquele assunto não importava no momento, Hashirama tinha outras preocupações, tinha dúvidas para esclarecer e histórias divergentes para ligar uma na outra, por isso, ele resolveu recorrer a uma pessoa neutra na história, alguém que não o conhecia e que poderia informá-lo sobre assuntos que para si eram desconhecidos.
Parado na frente do estabelecimento descrito na carta de Tenten Hocat, o Senju perguntava-se mentalmente se era uma boa ideia entrar no local. A casa noturna estava fechada, o que era mais do que óbvio, visto que o relógio ainda marcava 04:05 PM. O Senju certificou-se de que a arma estava carregada, a colocou de volta na cintura por baixo da blusa e saiu do carro. A rua não estava movimentada, talvez o culpado fosse o clima ameno e a garoa fina que caía sobre a cidade cinzenta.
Demorou até que Hashirama encontrasse uma maneira de adentrar o local.
— Estamos fechados — proferiu alguém, assim que o corpo do doutor passou pela entrada restrita.
Hashirama se aproximou do que parecia ser a recepção e disse:
— Procuro por Tenten Hocat.
— A mestiça?
— Eu não a conheço por outro nome! — afirmou.
O homem lhe analisava dos pés à cabeça, reparando na elegância e nos trajes que apesar de amassados, não deixavam de ser finos.
— São 800 pratas, mas como não estamos em horário comercial, vai ficar o dobro do preço.
— Não vim aqui procurar por sexo.
O homem do estabelecimento franziu o cenho. Hashirama estava em uma casa de prostituição procurando por uma prostituta. O que ele queria que não fosse sexo? O homem pensou.
— Quero tratar de outros assuntos. Ela está fora do horário de trabalho?
— Ninguém nunca está fora do horário de trabalho! Se não estão atendendo os clientes, então estão limpando, lavando ou se produzindo.
Hashirama não respondeu, mas desviou o olhar do sujeito e analisou rapidamente o local. Ele nunca esteve em uma casa de prostituição, mas tinha certeza que aquela não devia ser uma comum, até mesmo pelo alto valor cobrado pelos serviços.
— Fica 1.600 pratas.
Hashirama relutou um pouco, sacou a carteira e entregou as notas para ele, fora naquele instante que ele percebeu que o dinheiro estava acabando. O Senju fora conduzido para o andar de cima onde foi posto em um quarto grande, limpo e bem arejado, sendo necessário que aguardasse cerca de trinta minutos até que a moça entrasse em seu quarto.
Ela trajava apenas um salto alto e uma lingerie preta, onde a parte superior lembrava um curto vestido. O cabelo estava solto e não passava do comprimento dos ombros. O perfume doce, logo invadiu as narinas do doutor, mas apesar de ter passado o olhar rapidamente sobre o corpo dela, suas orbes encaravam a face morena tentando reconhecê-la.
— Um cliente VIP e generoso — proferiu ao iniciar os passos na direção do homem. — Não estou acostumada com tanto luxo — confessou.
Hashirama não se mexeu e nem respondeu. As orbes cor de âmbar lhe observavam com intensidade, os lábios fartos e rosas ora ou outra eram mordiscados, transpassando sensualidade e desejo. Hashirama permitiu-se prestar atenção nos traços fenótipos mais afilados do rosto dela, mas nenhuma das características da mulher soou familiar.
— Gosta de brincadeiras? — Questionou manhosa. Hashirama viu quando ela desviou o caminho e parou perto de uma pequena cômoda. Ela não estava o reconhecendo. — Gostaria de ser o dominador, meu senhor?
Ela passou os dedos sobre uma gargantilha em modelo de coleira que já usava.
— Ou prefere ser o dominado?
Tenten agarrou um bastão onde possuía um chicote em sua ponta.
— O que acha de me ajudar em uma investigação? — Hashirama perguntou, tentando cessar aquele assunto, mas a mulher não interpretou a pergunta daquela forma.
— Nunca me senti tão disposta em ajudar! — afirmou, retirando um par de algemas da gaveta e as levantando. — Vamos descobrir o que o garanhão mal andou aprontando… — proferiu, referindo-se a ele.
Hashirama sentiu as maçãs do rosto arderem quando a fala dela se encerrou, ele estava morto de vergonha.
— Porque não descobrimos o que a querida Sakura andou aprontando?
A mulher cessou os passos instantaneamente e sem perceber, soltou a algema no chão ao reconhecer o nome mencionado. Ela já não parecia mais tão interessada nas brincadeiras sexuais.
— Quem é você? — perguntou assustada, percebendo que aquilo não se tratava de um programa.
— Eu que te pergunto? Você deixou o seu endereço no condomínio do meu apartamento. Tentei ligar antes, mas você não atendeu.
— Você é Hashirama Senju?
— Você é Tenten Hocat?
A mulher assentiu, apresentando certa relutância em confirmar a identidade.
— O que você quer comigo e o que pretendia quando me enviou aquele envelope?
A mulher caminhou de modo abrupto até o banheiro da suíte. Hashirama repousou a mão na arma de modo sutil, mas não a sacou. Tenten não demorou para sair do banheiro com o corpo enrolado em uma toalha e sem os saltos finos.
— E eu achando que um cliente generoso havia pagado por meus serviços.
— Desculpa, eu não quero ser ignorante ou estraga prazeres, mas eu não tenho tempo pra ficar aqui ouvindo as suas lamentações. De todo modo, o dinheiro está entregue e você receberá a sua parte, trabalhando neste quarto ou não — explicou, fazendo a mulher se sentar na cama. — De onde me conhece?
A mulher não respondeu de imediato, parecia ponderar as palavras antes de proferi-las.
—Tem a sua foto e uma delação premiada por sua localização no jornal.
— Então é pela delação premiada que estou aqui?
— Não.
Hashirama ficou esperto, aquele “não”, não soará tão convincente.
— Na verdade não tem nada a ver com a delação! — afirmou. — Quero apenas impedir uma guerra.
Hashirama franziu o cenho, o que ela queria dizer com “impedir uma guerra”? O Senju estava com problemas e incógnitas demais para adicionar mais uma em sua lista de resolução, e tendo a certeza de que havia perdido o seu tempo com aquela visita, resolveu se levantar e ir embora.
— Brigas entre gangues é a coisa mais normal do mundo, Hashirama. É necessário um ambiente predatório para que alguém consiga crescer e evoluir, mas seu irmão está passando dos limites. — Hashirama parou onde estava, parecendo interessado no que ela tinha para dizer. — Não se trata mais do seu irmão atacando os funcionários do meu chefe e vice-versa ou de roubos de mercadoria, se trata de uma importunação desnecessária e totalmente incoerente na qual meu chefe está de saco cheio de receber.
— Do que está falando? Que importunação?
— Não banque o sonso comigo. O que chegou até nós recentemente foi um vídeo. Um vídeo do homem que você sequestrou sendo estuprado!
O semblante incrédulo se fez presente. Hashirama paralisou e permaneceu sem reação, sentindo o seu corpo ficar gelado.
“Como assim um vídeo de Madara sendo estuprado?” se questionou mentalmente.
— Do que você está falando? — perguntou novamente em um nervosismo evidente.
— Dos vídeos! Você é surdo? — pronunciou meio sem paciência.
Hashirama não estava entendendo. E apesar de algumas explicações, vindas do irmão, ele ainda estava totalmente perdido com aquela história que parecia fazer cada vez menos sentido.
— Bom, eu só queria avisar que torturar aquele homem não vai mudar nada. Izuna não o conhece e não fará nada destinado à proteção dele. No entanto, eu gostaria de avisar que o meu chefe está irritado com essa encheção de saco e com a fraca movimentação nos negócios. Acredito que qualquer coisa pode desencadear a ira dele — explicou ao se levantar. — Tenho certeza que seu irmão não gostará de experimentá-la mais uma vez.
Hashirama permaneceu no mesmo lugar, acompanhando os movimentos dela com os olhos.
— Eu não tenho obrigação nenhuma de avisar nada a você, eu só o fiz porque preciso me proteger também. Porque se Izuna está com raiva, nós acabamos sendo os alvos dele; não que você se importe com isso — explicou em desdém. — Sakura era minha amiga, estou fazendo isso por ela também, pela dívida que eu fiz e não tive como pagar antes dela morrer, então, se você quiser evitar a morte de mais um membro da sua família, acho bom arranjar um jeito de parar o seu irmão.
Tenten caminhou até a porta do quarto. Ela havia dado o recado que queria e esperava que Hashirama fosse esperto o suficiente para impedir a implicância infantil do irmão.
— Eu não paguei 1.600 pratas pra você sair deste quarto sem me dar explicações. Transando ou não, sua companhia me pertence pelos próximos quarenta minutos — proferiu indignado.
— Não se preocupe, pedirei ao Brad que devolva o seu dinheiro.
Tenten ouviu um pequeno estalo, como um trinco de porta se fechando atrás de si, mas por estar tanto tempo envolvida em coisas ilegais, ela sabia exatamente o que era aquele som. Seu semblante virou para trás calmamente, avistando o cano da 38 sendo apontado em sua direção. A mulher parou, ainda de frente para a porta e permaneceu ali.
— Não estou interessado no dinheiro reembolsável — fez questão de frisar. — Sério que você vai querer perder a oportunidade de ficar aqui e jogar conversa fora?
Tenten não respondeu, apenas olhou para a arma presente nas mãos alheias.
— Você não tem ideia da merda que está fazendo, se ele souber…
— Senta — ordenou cortando a fala dela, no mesmo instante em que inclinou a cabeça em direção a cama. — Se você não fizer nenhuma besteira, eu não vou precisar fazer nenhuma merda!
A moça caminhou de volta até a base macia e procurando não fazer nenhum movimento brusco, ela se sentou.
— Izuna? — perguntou. — Izuna Uchiha?
A mulher analisou calmamente o rosto de Hashirama, assim como os seus movimentos sutis, mas continuou em silêncio e imóvel.
— O homem a quem você se referiu no quesito do sequestro e do vídeo, se chama Madara Uchiha. Eles possuem o mesmo sobrenome, você não deduz nada a partir disso? — perguntou, ao se lembrar das informações fornecidas pelo irmão.
— O sobrenome é irrelevante. Izuna não o conhece e prefere que permaneça assim.
— Eles são irmãos.
— Quem disse isso? Você? Ou o seu doente mental?
Hashirama estava ficando nervoso e estava se segurando para não deixar as suas digitais no pescoço daquela mulher, ele odiava que se referissem a Madara ou a qualquer paciente seu que tivesse distúrbios psicológicos, daquele jeito. Ele apenas respirou fundo e tentou controlar a ira, mas lembrar de Madara andando estranho, dele se segurando nos cantos antes de se sentar, dos gritos do Uchiha na noite em que chegaram a casa dos Umino pedindo pra que tirasse algo dele…
Hashirama estava passando mal, sentia como se seu corpo inteiro estivesse prestes a explodir e isso tudo se dava apenas por se recordar de lembranças que, agora, soavam-lhe perturbadoras.
— Se eles não são irmãos, porque toda essa preocupação com o Madara? Porque você se importa se ele está sofrendo e coisas do tipo?
— Eu quero evitar sofrer a ira de alguém que não sabe se controlar quando perde o controle! Você não conhece o Izuna, não sabe do que ele é capaz e não tem ideia dos meios que ele usa pra conquistar os objetivos. Enviar vídeos desse tal Madara não irá despertar a fúria que Tobirama espera — proferiu ríspida. — Além disso, eu só quero tirar pessoas inocentes da zona de guerra. Mas talvez você não saiba o que é isso, não é? Sempre deve ter estado em uma posição de poder, sem precisar se submeter a ordens e vontades alheias — alfinetou. — Você não faz a menor ideia do que é ser usado, abusado e descartado quando é conveniente pra pessoas que estão em uma posição superior a sua. Madara é alguém como eu, apenas um peão que está sendo jogado na linha de frente de um jogo de xadrez, na falsa esperança de comer o rei que apesar de estar a frente, permanece a várias casas de distância.
Hashirama entendeu a analogia e percebeu que Tenten Hocat era mais esperta do que parecia ser.
— Se é com um peão que o seu rei acha que dará um xeque-mate, então ele é um rei tolo.
Hashirama pensou por alguns segundos:
“Esperta demais para uma simples meretriz”
— Quem você acha que eu sou nessa porra de jogo pra me chamar aqui e achar que eu posso fazer alguma coisa?
— A rainha!
Hashirama sentiu o arrepio percorrer o corpo por ser intitulado com um cargo considerado alto e importante. Ele não tinha a menor ideia do porque ela achava isso, assim como não tinha ideia do que ela faria consigo por estar tão perto de uma peça que para ela, é considerada perigosa.
— Você errou! — afirmou de imediato, apenas querendo se desvincular do que Tenten acreditava que ele fizesse parte. — Eu não faço parte do jogo de vocês. Até algumas semanas atrás eu não tinha a menor ideia de que alguma coisa estava acontecendo e eu só vim descobrir dessa rivalidade hoje — explicou. — Eu só quero entender toda essa merda. É por isso que eu estou aqui e eu espero que essa informação tenha ficado bem clara pra você.
Tenten não respondeu de imediato.
— A posição de rainha não é porque eu acho que você faz parte do que está rolando! Acredite, se você estivesse metido nisso eu não teria cogitado te chamar aqui, mas duvido muito que você não tenha um conhecimento mínimo sobre o assunto.
O Senju apenas engoliu seco, abaixou a arma e frisou:
— Acredite, eu não tenho.
Hashirama estava começando a entender o porquê dos maus tratos terem ocorrido contra Madara, entendia que os vídeos serviam para provocar Izuna e que Tobirama esperava machucar Izuna através dos vídeos, mas ele ainda não entendia o porquê, visto que Tenten afirmou que Madara e Izuna não eram irmãos, então Hashirama realmente não entendia qual era a motivação de Tobirama pra fazer o que estava fazendo.
— E é justamente por isso que eu gostaria que você me explicasse melhor como toda essa intriga começou — sugeriu, realmente curioso. — Porque essa rivalidade?
A mulher ergueu uma sobrancelha, como se aquele questionamento fosse fútil e a resposta totalmente óbvia.
— Sakura, é claro.
— Foi ele quem a matou? O Izuna? — perguntou, tentando ligar os pontos.
A moça apenas assentiu, percebendo que Hashirama realmente parecia não estar a par da situação. Pelo menos, agora, Hashirama tinha mais do que certeza de que Madara não estava envolvido com o assassinato em si.
— Por que?
A mulher respirou fundo.
— Sakura era uma mulher muito bela. Dentre as meretrizes do Fogosas, ela era uma das mais bem pagas e Izuna lucrava muito com isso. Ele é o nosso cafetão e era óbvio que ele fodia com ela de vez em quando, dizia que era pra avaliar a qualidade do produto — riu em desdém. — Mas Sakura não era besta e sempre dava em cima do primeiro ricaço que desse bola pra ela — explicou. — Seu irmão foi o trouxa que caiu no papinho furado dela; quando ela disse que estava aqui por falta de oportunidades na vida, ele começou a mandar quantias altas de dinheiro pra que ela se mantivesse longe desse lugar e consequentemente, pra não precisasse trabalhar mais aqui — contou. — Na época, Tobirama já mexia com coisas erradas, mas ele era peixe pequeno comparado a Izuna, mesmo assim, Sakura queria sair deste lugar e ter uma vida como uma marquesa, já que era isso que o seu irmão dizia que ela se tornaria ao lado dele.
Tenten se levantou da cama, mas não fez nada que parecesse suspeito. Ela apenas encostou o seu corpo na parede que encontrava-se próximo da janela, observando o lado de fora com uma falta de interesse evidente.
— Izuna negou o pedido dela — fez uma pequena pausa —, o que era óbvio — riu —, mas com raiva dele, Sakura revelou ao seu irmão o trajeto e o local que um caminhão carregado de armas iria descarregar. Tobirama armou uma emboscada e recebeu a mercadoria no lugar de Izuna. Sakura fugiu na mesma noite.
— Então o Izuna foi lá e a matou?
— Não exatamente. Demorou uns cinco anos até que Izuna a pegasse.
Os olhos se arregalaram instantaneamente. Hashirama não conseguiu esconder a surpresa.
— Sakura e o seu irmão ficaram fugindo de um lado para o outro. Izuna até teria deixado pra lá, mas aquela garota era muito vingativa e pensando na melhor forma de acabar com o meu chefe, ela expôs todas as informações que sabia a respeito dos negócios à Tobirama e aos poucos, os planos de Izuna começaram a dar errado. Saky queria que ele caísse, até porque seria uma pedra a menos no sapato dela e dessa forma ela poderia ter uma vida nova, sem perseguição e sem nada que a envolvesse com tudo isso.
Tenten respirou fundo, parecia pensativa sobre o assunto.
— Izuna demorou, mas conseguiu pegá-la. Foi em um momento onde ela achou que tudo já estava bem e que ele já não a perseguia mais.
— E porque ele não matou o meu irmão também?
— Tobirama sofreria com a morte de Sakura. Izuna sabia que ele estava cegamente apaixonado, sem contar que, sem a informante dele, Tobirama já não tinha mais nada e por isso ele deixou de ser um perigo para os negócios do meu chefe. Além disso, ver Tobirama sofrer com a perda dela era mais prazeroso do que simplesmente matá-lo.
Hashirama assentiu, compreendendo todos os pontos da história, mas não deixando de pensar a respeito.
— E o Madara? — perguntou, recebendo um olhar confuso dela. — O que o Madara tem a ver com essa história?
A mulher balançou a cabeça negativamente.
— Eu também gostaria muito de saber…
Hashirama estava ansioso, ele queria respostas, de preferência em uma ordem que as informações fizessem sentido em sua mente conturbada. Mas no momento, ele precisava se apegar a algo que ainda estava vivo, precisava se apegar às necessidades de alguém que ele ainda podia salvar.
— O que tinha… nos outros vídeo? — perguntou receoso, se arrependendo da possível resposta que receberia.
— Sei lá… — Tenten respondeu em desdém. — Eu não assisti todos os vídeos, eram nojentos demais pra ir até o fim, mas até onde eu vi, são vídeos de tortura, maus-tratos, estupro…
Hashirama não conseguia engolir aquela palavra, não conseguia absorver aquela informação. A ideia era tão repulsiva para si, que ele não acreditava que o próprio irmão havia permitido ou elaborado a situação para que tal ato acontecesse.
O Senju estava suando, por isso, ele desabotoou os primeiros botões de sua camisa social, se abanando enquanto caminhava pelo local.
Ele estava confuso. Ele acreditava nas palavras de Madara, acreditava que a história dele era real e a conversa de duas outras pessoas, Obito e Tenten, confirmavam a história do Uchiha sobre nunca ter tido contato com Sakura. Mas a confusão mental não deixou de ser um problema, visto que a conversa de Tobirama não se encaixava nos fatos apresentados.
— Ainda sim são três contra um! — afirmou em um sussurro.
Hashirama se sentou de maneira despojada e inconscientemente, abriu um pouco mais a camisa. O seu corpo estava extremamente quente e ele sabia que aquilo se derivava do nervosismo e da ansiedade que sentia.
— Ainda temos uns trinta minutos…
Hashirama olhou pra ela por cima do ombro assim que a fala suave se encerrou. As orbes castanhas lhe observavam com curiosidade. A toalha em volta do corpo dela ainda estava apertada, mas mostrando muito mais das pernas que antes estavam escondidas. Hashirama não tinha tempo e nem paciência para lidar com aquilo.
— Você quer trepar? — Tenten perguntou, direta e sem qualquer tipo de vergonha.
O Senju virou o semblante novamente para frente, observando pelo vidro da janela que o céu estava ficando escuro, não que ele estivesse ponderando o convite, mas estava com o psicológico desgastado o suficiente para pensar em contra argumentar.
— Eu não fazia a menor ideia das informações que acabou de revelar a mim — proferiu calmo, agora, alisando o chão de madeira. — Tem mais alguma coisa que você ache necessário eu saber?
A mulher analisou o semblante dele com atenção, observando o cansaço, os olhos fundos e as olheiras escuras na face abatida. Hashirama realmente parecia não saber de nada que envolvesse toda aquela história e por um momento, Tenten permitiu-se pensar que o sequestro de Madara era justamente para evitar que o Uchiha continuasse sofrendo com os maus-tratos e as agressões de Tobirama. Talvez Hashirama fosse diferente do que a Hocat havia idealizado em sua mente; um homem de aparências que encobria as cagadas do irmão com muito dinheiro e um lindo sorriso no rosto.
— Seu irmão trabalha com uma ex-farmacêutica do núcleo do meu chefe, ela é bem ardilosa, tenha cuidado — informou, obtendo toda a atenção do Senju. — E mantenha-se longe de tudo isso, talvez a sua cabeça não seja caçada nesse jogo. Acho que esse é o único conselho que eu posso dar a você.
O doutor assentiu meio que no automático, arrumou a postura e as roupas amassadas e caminhou em direção a saída do quarto, mas ao se recordar das palavras proferidas por ela instantes atrás, resolveu perguntar algo que havia lhe deixado intrigado.
— Qual era a sua dívida com Sakura?
Hashirama estava de frente para a porta e de costas para Tenten e mesmo após a pergunta, ele permaneceu assim, não queria pressioná-la ao olhá-la nos olhos.
Pensando que muito provavelmente nunca mais o veria, Tenten resolveu abrir o jogo.
— Sakura salvou a vida de uma pessoa importante pra mim… e essa salvação condenou a vida de Sakura a este lugar.
Hashirama olhou para ela por cima do ombro, ligando alguns pontos da conversa que haviam sido jogados no ar.
— O motivo de Sakura não ter sido pega antes, não foi por inteligência, não é? — Hashirama perguntou retoricamente, vendo o desconforto dela pelo simples fato dele estar apresentando sua teoria sobre os fatos. — Você avisava ela quando Izuna ia caçar-lá, por isso ela conseguia fugir…
Tenten não respondeu, mas lançou-lhe um olhar de surpresa.
— “Foi em um momento onde ela achou que tudo já estava bem e que ele já não a perseguia mais.” Foi você quem disse a ela que estava tudo bem…
— Dá pra falar um pouco mais alto? O prédio inteiro precisa ouvir — debochou. — Foi um descuido, Izuna tinha dito que não iria mais atrás dela e que estava cansado dessa correria de cão e gato. Mas ele mentiu, resolveu ir atrás dela sozinho e quando eu percebi, já era tarde demais.
Hashirama permitiu-se ficar em silêncio por alguns instantes.
— O fato de você ainda estar aqui, é porque ele não descobriu quem a avisava, não é?
O semblante de Tenten recaiu-se ao chão, um gesto que Hashirama interpretou como um grito ensurdecedor de silêncio e por um instante, o Senju sentiu pena dela, ele não conseguia imaginar como era viver cada dia de sua vida sabendo que poderia ser o último. Mas Madara sabia, e era por isso que ele precisava voltar.
— Espero que continue se cuidando — proferiu ao abrir a porta. — Tenha uma boa noite.
Hashirama saiu do quarto e posteriormente, da casa de prostituição. Sentou-se no banco do carro e ali permaneceu. Muita coisa estava confusa, muitas informações haviam sido jogadas em cima de si sem qualquer tipo de organização ou coerência. Apesar de estar exausto e confuso, Hashirama só conseguia pensar em Madara, nas lembranças com o Uchiha e até mesmo nas palavras proferidas por ele, porque agora, elas faziam sentido…
"—Porque quando a situação aperta é em você que eu penso e peço pra me salvar…"
"—... Eu não posso me dar ao luxo de dormir ao seu lado porque eu sinto medo de estar sozinho…"
O peito de Hashirama apertou. Ele não conseguia imaginar o que Madara passará no subsolo, nas coisas que Tenten relatou a respeito dos abusos, das torturas e do estupro. Do estupro. Tentava pensar no singular, tentava pensar que os danos físicos e psicológicos seriam menores se tivesse ocorrido apenas uma vez, mas Hashirama não tinha ideia do quão fodida a cabeça de Madara realmente estava.
Hashirama fechou os olhos por breves momentos, tentando inibir o misto de emoções e sensações que sentia, mas não conseguiu conter as lágrimas que em instantes passaram a escorrer sobre a pele de seu rosto. Em um movimento abrupto Hashirama socou o volante, várias e várias vezes, mas a raiva e a ira só cresciam, seus olhos só enxergavam uma única pessoa a sua frente e o rosto nocauteado naquele carro se resumia a um único ser; Tobirama Senju.
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O breu manifestou-se rapidamente no horizonte. Naquela noite, não fora possível enxergar as estrelas ou a lua no céu, pelo menos não dentro da grande cidade. Conforme o carro trajava o caminho de volta a residência Umino, Hashirama ficava cada vez mais preso entre os grandes prédios da cidade e o engarrafamento rotineiro, e por estar sentado em um veículo sem movimento, resolveu organizar as inúmeras informações que tinha e colocá-las em uma ordem que fizesse sentido para si. Por isso, o Senju passou a anotar os fatos revelados em um pequeno bloco, uma vez que ele queria organizar tudo antes de encontrar Madara novamente.
*Madara possui mais dois irmãos, Obito e alguém que, no momento, Hashirama chamaria de Irmão C;
*Obito e Madara foram adotados, Irmão C sumiu do orfanato antes que a mãe de Madara pudesse adotá-lo também;
*Ambos os irmãos tiveram uma vida estável, tinham dinheiro e estudaram nas melhores escolas do país;
*Madara era bancário, tinha estabilidade financeira e conheceu Veronica no setor de empréstimos do banco que trabalhava;
*Eles tiveram três filhos, a mais velha havia nascido com surdez;
*Madara estava fora do país a uns três anos para conseguir um aparelho auditivo para Mêrcela. Mesmo período em que a garota faleceu com a superbactéria;
*Logo após, Madara adoeceu!?...
Hashirama parou de escrever, pois precisou mover o carro para alguns metros à frente e ainda pensando no que escrevia, deixou as recordações invadirem a sua mente:
“Ao chegar mais perto dos pertences do albino, seus dedos puxaram a primeira gaveta da escrivaninha. Avistando canetas, pequenos blocos de anotações, carimbos, receitas em branco e alguns clipes de papel. Nada diferente por ali, então seus dedos a fecharam de novo. Ele avançou mais uma gaveta, esta estava emperrada. Hashirama puxou, ajeitou e puxou a gaveta novamente até que a mesma abriu. Passou o olho por cima e notou uma pasta cheia de arquivos acumulados. Hashirama a pegou, sentou-se na cadeira de couro e folheou os arquivos. Todos eles eram encaminhamentos e receitas antigas. Hashirama contou cerca de quinze receitas de anfetamina, narcóticos e psicoestimulantes diferentes para um mesmo paciente.
"Verônica Mélis Vaito"”
Outra lembrança se fez presente.
“— …Visitamos constantemente um otorrinolaringologista e descobrimos que ela era surda — Madara respirou fundo. — As minhas paqueras com o médico começaram de modo sutil e no começo eu não me sentia desconfortável com aquilo, mas Verônica se sentiu e como se não bastasse o fato de brigarmos por conta da morte de minha mãe, o médico de minha filha passou a ser mais pauta em nossas inúmeras discussões, assim como a surdez dela.
— Se importaria de me dizer o nome dele? Do otorrinolaringologista?
— Keije Hyuuga.”
Hashirama voltou a anotar, no instante em que o trânsito fez o seu carro parar outra vez.
*Verônica drogou Madara (receitas de psicoestimulantes fornecidas por Tobirama);
*Possíveis motivos:
*Motivo 1: ciúmes de Madara com Keije Hyuuga?
*Motivo 2: privar ele de acabar com o casamento?
Fora neste instante que Hashirama se lembrou:
“— Eu era bancário, fiz o concurso quando era adolescente e desde então eu tinha estabilidade no banco central de Tokyo. Conheci a Verônica lá, no departamento de empréstimos, ela era professora e queria montar um colégio particular. Queria hipotecar a casa que ela tinha para dar de entrada em um financiamento, mas ela queria um valor muito alto e meus superiores não autorizaram a liberação do dinheiro. É uma história, meio que… longa.”
“— As brigas foram porque ela queria tomar uma herança que por direito era minha, e sucessivamente dos meus descendentes. Mas a herança jamais seria dos filhos dela se eu me recusasse a usufruir dela. — Madara pausou a fala para respirar. — Eu não queria aquele dinheiro. Meus pais adotivos lutaram pra conseguir cada centavo de sua fortuna e não cabia a mim tirar isso deles também.”
*Motivo 3: roubar a herança de Madara!
*Meios de conseguir isso? Deixando-o incapaz de falar por si só.
*Psicoestimulantes o deixariam desestruturado, motivo perfeito para interná-lo na clínica.
*Por que Tobirama tinha interesse nisso?
Hashirama respirou fundo, colocou o bloco de notas do banco do carona e deu partida, no entanto, não andou mais do que dois minutos na estrada até parar novamente.
— Isso não faz o menor sentido! — afirmou indignado. — Como Madara teria ajudado nisso estando fora do país? Porque a história de todo mundo bate e se interliga e a sua não? — questionou ao circular o nome de Tobirama várias vezes no papel.
Hashirama pulou do assento no instante em que o som da buzina alheia fora apertada, mostrando que o caminho estava livre para passar. Quando o Senju avançou o sinal, se lembrou de uma rota na qual ele poderia contornar todo aquele engarrafamento e pensando nisso, ele virou na primeira rua à direita.
Se a história de Tobirama era verdadeira, então a história de Obito, Madara e Tenten precisavam ser falsas. Hashirama não conseguia acreditar na hipótese de uma mentira ser tão bem contada por três pessoas diferentes, porque normalmente, alguém sempre deixa algo divergente escapar, alguma informação que possa contradizer a história inventada.
Hashirama respirou fundo e ergueu o olhar para o retrovisor preso acima do parabrisa, seus olhos semicerraram. Um carro vinho estava atrás do seu. De início, Hashirama achou que fosse coincidência, pensou que o carro deveria estar apenas fazendo o mesmo caminho que o seu, mas já fazia cerca de trinta minutos que o veículo o perseguia. O leve amassado no capô e o grande arranhão do lado esquerdo não deixavam que o carro passasse despercebido e se misturasse na multidão. Hashirama não tinha dúvidas de que a perseguição passiva era apenas para descobrir a localização de Madara, de todo modo, ele não ficaria ali para descobrir.
Hashirama trocou de marcha e acelerou, agora que ele não estava mais na avenida principal e longe de tantos carros, ele podia correr um pouco mais. E como ele tinha previsto, o carro atrás de si acelerou também. Ele não podia voltar a residência Umino naquele momento, estaria fazendo exatamente o que as pessoas que o perseguiram queriam, mas ele também não poderia ficar correndo de um lado para o outro, ele não tinha tempo e nem gasolina para isso. Ele precisava pensar e precisava ser rápido.
Hashirama virou na rua a sua esquerda abruptamente, o carro derrapou no asfalto e levantou fumaça. Ele não queria chamar atenção, mas o motivo de ter virado tão repentinamente era porque ele não se lembrava do caminho que precisava ir com clareza e por isso, quase perdeu a entrada. Não demorou para que o veículo vinho fosse avistado novamente atrás de si. Hashirama abriu o porta-luvas desengonçadamente, retirou a arma e os envelopes que Chiyo havia lhe entregado e os jogou no banco do passageiro.
Ele só tinha uma ideia em mente e ela envolvia barulho, gritaria e muita correria.
Hashirama virou o volante e entrou em uma avenida larga, avenida essa que dava acesso a uma grande praça de exposição e apresentação. O Senju estacionou o carro próximo a localidade, uma vez que o ambiente estava cheio de carros e pessoas devido a um show beneficente que estava prestes a acontecer. Hashirama pegou a mochila no banco de trás, guardou as coisas que estavam no banco ao seu lado e saiu do carro. O veículo vinho logo parou próximo a ele, mas o doutor conseguiu sair de perto e correr em direção a multidão. Hashirama não fora muito longe, as pessoas que estavam perseguindo-o encontravam-se a cerca de quinze metros de distância, por isso, o Senju não pensou duas vezes antes de executar o que tinha em mente.
Ele não tinha tempo para ficar nervoso, não tinha tempo para sentir medo e nem para pensar em outra coisa que não envolvesse um escândalo. Olhar para os homens atrás de si lhe geravam a certeza que não se tratava de policiais e sim de alguém do ciclo privado de serviços do Tobirama, caso contrário, Hashirama já teria recebido voz de prisão.
O Senju puxou a mochila para frente, abriu o bolso maior e retirou a arma de dentro. Todos os homens olharam para ele espantados, por tamanha ousadia de se expor daquela forma. Hashirama apontou a arma para o céu e descarregou o cartucho da arma atirando. Todas as pessoas à sua volta gritaram, algumas se abaixaram, outras correram e a grande confusão começou. Hashirama correu e quando os homens tentaram ir atrás dele, foram impedidos pelo mar de pessoas que corriam na direção oposta, nenhum deles conseguiu avançar e aos poucos, Hashirama sumiu em meio ao caos que ele mesmo havia criado.
— Cerquem o perímetro, não deixem ele sair daqui! — ordenou, aquele que parecia ser o chefe. Todos eles se dispersaram e vasculharam o local minuciosamente.
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— Ei — proferiu na intenção de chamar atenção. — Quanto quer pela bicicleta?
O garoto à beira da orla olhou para ele confuso.
— Não está à venda! — afirmou.
— O que disse? Duzentas pratas?
— Duzentas pratas? — O menino questionou alto, evidentemente incrédulo.
— Fechado — O Senju respondeu com um sorriso, sem esperar pela resposta alheia.
Hashirama deixou as notas na mão do garoto, montou no veículo e saiu. O adolescente de fios vermelhos ficou parado no meio da calçada, observando o doutor tomar distância.
Apesar da situação não mudar, o doutor pensava em qual das duas figuras femininas havia lhe traído. Ele não sabia se os caras estavam seguindo ele desde o encontro com Shizune ou desde a casa de prostituição. Mas ele sabia que para chegar ao seu destino, agora, ele ia precisar pedalar por umas três horas de relógio.
O tempo passou rápido quando Hashirama se pôs a pensar em Madara e nas inúmeras maneiras de pedir desculpas a ele. Apesar de não ter nenhum tipo de envolvimento com todas as coisas ruins que aconteceram com o Uchiha, Hashirama ainda se sentia culpado pelo simples fato de ter uma ligação sanguínea com o homem que havia programado tudo aquilo e por isso, o Senju sentia que não dormiria naquela noite sem antes perdia desculpas a quem realmente merecia ouvi-las.
— Me desculpa, Madara. Eu realmente sinto muito — sussurrou em um fio de voz, como se o Uchiha estivesse ali para ouvir as suas lamentações, mas no fundo, ele sabia que pedir desculpas nunca seria suficiente, nunca apagaria o que aconteceu e nunca faria com que o Uchiha se esquecesse do trauma que sofrerá.
Hashirama apertou o passo.
A brisa fria trouxe consigo uma leve garoa que aos poucos, se tornou uma chuva forte. Hashirama conseguia ver a silhueta do sítio escondida pelo breu da noite, mas não conseguia achar a entrada da extensa posse, por isso, ele passou a bicicleta por cima da cerca e a pulou. Pensando na possibilidade de cair em algum poço e coisas do tipo, resolveu que seria melhor traçar o restante do caminho a pé.
Conforme Hashirama caminhava em direção a residência, pode notar que a respiração estava descompassada, seu coração acelerado, sua garganta seca… Ele tentava culpar os esforços físicos, mas sabia que tudo não passava de sintomas do nervosismo que sentia pelo simples fato de encontrar novamente alguém que para si, era especial.
Hashirama se aproximou mais do local e pode ouvir a melodia baixa e suave que emanava do lado de dentro. Ele estava todo encharcado e para não molhar o carpete da residência ele não quis entrar pela porta da frente, deste modo, ele contornou o casarão pelo lado de fora. A melodia começou a ficar gradativamente mais alta, mas como estavam a quilômetros de distância de qualquer outra residência, Hashirama não se incomodou tanto com o barulho que Madara supostamente fazia.
Quando ele chegou no hall de entrada da parte de trás da residência, não demorou para que seus olhos encontrassem a silhueta de alguém, dançando ao som de “I wanna be yours” enquanto tomava banho de chuva e uma taça de vinho.
Hashirama paralisou.
Ele havia tido um dia cheio de informações e a última coisa que esperava era encontrar Madara assim, leve, descontraído e totalmente inerte em uma sensação profunda de relaxamento. Mas apesar dos pesares, Madara parecia estar feliz.
Hashirama avistou ele rodopiar, balançar e até pular ao som da melodia.
Não podia mentir, o Senju estava extasiado, sua mente literalmente parou para observar algo que ele jamais imaginou presenciar e por estar tão despreocupado com tudo o que lhe cercava, não percebeu que encarava o moreno de uma maneira totalmente descarada e invasiva. De início, Madara se assustou ao notar a presença dele, mas logo relaxou novamente. Sua mão fez um gesto amigável, chamando o Senju para mais perto e tudo o que Hashirama se dispôs a fazer fora sorrir.
Hashirama não se moveu de imediato, continuou exposto a céu aberto, permitindo que a chuva continuasse molhando-o sem pudor algum. Fora somente no momento em que Madara passou a dançar novamente que ele caminhou de encontro ao Uchiha. Ele não queria pensar nas coisas que descobrira, ele só queria admirar o homem alheio e desfrutar o momento da melhor forma que ele conseguia naquele instante e isso não envolvia pensar nos problemas externos.
Quando o seu corpo se aproximou do Uchiha, Madara se curvou para o Senju, como em uma dança clássica. Hashirama entrou na onda e retribuiu o gesto, mas quando ergueu o tronco para cima novamente, avistou quando o Uchiha caminhou até si e estendeu-lhe a mão, convidando-o para uma dança a dois.
"— ...eu não sei dizer se é por conta do tempo em que estive distante, mas Madara não é assim! Ele é caloroso, gosta de contato..."
Hashirama engoliu seco.
— Não me diga que o incrível Hashirama Senju não sabe dançar?
Hashirama sorriu e meio relutante, ele segurou a mão de Madara e o trouxe para perto de seu corpo. A música ainda tocava, a melodia não era exatamente o tipo de canção que se usava para executar danças como aquela, mas era calma o suficiente para manter um ritmo lento e tranquilo.
— Demorou tanto que eu pensei que você fosse voltar hoje — confessou baixo. A voz de Madara estava suave e arrastada.
Hashirama aproveitou a distância relativamente curta entre eles para inalar o perfume que os fios molhados do moreno emanavam.
— Sentiu a minha falta? — perguntou no mesmo tom, rente ao ouvido do menor, no entanto, a pergunta veio carregada de curiosidade e uma pitada de provocação.
— Digamos que Obito não cozinha muito bem — confessou rindo, afastando-se para olhar o doutor nos olhos. Ele não queria inflar o ego de Hashirama ao responder a pergunta, porque ele havia sentido falta.
"— Muita, pra falar a verdade — confessou mentalmente."
Hashirama sorriu e o girou. Madara usava uma camiseta branca, camiseta essa que se tornou transparente por conta da chuva que a lavou. Hashirama conseguia ver o tecido leve totalmente grudado no corpo magro; o cabelo preso em um rabo de cavalo não conseguia conter alguns fios de se prenderem no rosto pálido. Madara estava mais bonito do que Hashirama acreditava ser. Ver o sorriso genuíno e a felicidade momentânea, só ocasionava um sentimento que Madara não queria que Hashirama sentisse, o de cuidado e o de proteção.
Hashirama o puxou novamente para perto de seu corpo, a dança se tornou ainda mais lenta, ainda mais calorosa e cheia de contato, porque Hashirama queria sentir Madara em seus braços de novo, queria poder ter certeza e dar a certeza de que mais nada de ruim aconteceria com ele. Hashirama queria arrumar aquela bagunça, queria que Madara fosse livre e acima de tudo, feliz! E pensar por essa perspectiva deixava o Senju disposto a se tornar qualquer coisa para beneficiar Madara Uchiha.
— I wanna be your vacuum cleaner (Eu quero ser o seu aspirador de pó) — sussurrou. — Breathing in your dust (Inspirando a sua poeira) — suspirou.
Madara não respondeu, mas continuou ouvindo a voz suave acompanhar a letra da música.
— I wanna be your Ford Cortina (Eu quero ser seu Ford Cortina) I will never rust… (Eu nunca vou enferrujar) — proferiu no momento em que se afastou e o olhou nos olhos. — I just wanna be yours (eu só quero ser seu) — proferiu.
Madara sentiu o seu corpo inteiro arrepiar, mas não deixou de dizer também.
— I just wanna be… yours (eu só quero ser… seu).
— I just wanna be yours — Hashirama voltou a proferir, no momento em que a melodia havia chegado ao fim.
Os pingos de chuva escorriam por ambas as faces, os rostos estavam próximos um do outro e apesar da tensão, Hashirama não tinha coragem de tomar a iniciativa, mesmo assim, ele encostou a testa na de Madara de maneira sutil. O Senju queria que Madara cedesse, mas o clima logo fora cortado por uma lembrança intrusa e invasiva que Hashirama desejou muito esquecer.
"— Criar afeto por ele só vai piorar as coisas. Não dê ainda mais um fardo para ele carregar…"
“Ele só está retribuindo por achar que não tem escolha, não posso forçá-lo a fazer algo para retribuir o que eu estou fazendo de coração” — proferiu, mentalmente, a si mesmo.
O pensamento inoportuno se fez presente, fazendo o seu coração bater com força. Hashirama avistou a respiração descompassada, avistou quando Madara fechou os olhos e continuou mantendo a testa colada na sua. Por um instante, Hashirama pensou que Madara poderia ceder por achar que deveria, de alguma forma, pagar pelas coisas que o doutor estava fazendo para si e por isso, ele repousou as mãos envolta do rosto pálido e depositou um delicado e demorado selar de lábios entre as sobrancelhas do mais novo.
Madara não se moveu, apenas continuou sentindo o toque afetuoso e posteriormente, observou os movimentos de afastamento. As mãos do Uchiha repousaram nas de Hashirama, pedindo para que elas não se afastassem de sua face. Os movimentos do Senju se cessaram no mesmo instante.
— Não faz isso… — Madara pediu em um sussurro. — Não me dê sinais e depois aja como se nada demais tivesse acontecido — explicou. — Por favor, não me deixe confuso.
Hashirama engoliu seco, sentindo-se péssimo.
— Eu só não quero machucar você… — proferiu em um fio de voz.
— E de que forma você me machucaria?
— Fazendo você retribuir um sentimento que não sente!
Madara não respondeu de imediato, estava tentando processar a resposta alheia.
— O que?…
— Madara, eu gosto de você, já te disse isso diversas vezes, mas eu quero que entenda que as coisas que eu estou fazendo não é pensando na falsa esperança de que meu sentimento seja recíproco. O fato de eu sentir algo por você só me deixa ainda mais focado em te ajudar, mas se esse sentimento fosse inexistente, você precisa saber que eu te ajudaria do mesmo jeito!
— Por quê?
— Porque a minha família destruiu a sua vida — respondeu, tendo certeza de sua afirmação. — E porque você merece um novo recomeço e uma oportunidade de ser feliz.
Hashirama notou as lágrimas rondando as orbes escuras.
— Sei que não está me pedindo pra fazer nada; sei que você tem uma vida aqui e seria muito egoísmo da minha parte te pedir isso, mas eu queria que essa nova oportunidade fosse com você… — Hashirama arregalou os olhos. Madara estava sendo mais específico do que ele mesmo havia sido. — Ou pelo menos o início dela.
O doutor sentiu quando o Uchiha tentou se desvincular dos toques e justamente por isso, o Senju o segurou, sentia que se não fosse naquele momento, ele não teria outra oportunidade.
— Eu não quero que você se sinta forçado…
— Hashirama, eu não me sinto forçado quando estou com você. Você é a única pessoa que me pergunta se eu estou de acordo, se eu quero fazer, o que eu acho da situação. Se você me força a fazer algo, eu não sei o que o seu irmão fazia então…
Hashirama não queria pensar em Tobirama, não naquele momento.
— Se eu entendi direito todos os seus sinais, que inclusive foram muitos — Hashirama riu. — Eu gostaria que você soubesse que é recíproco e que eu nunca disse nada antes porque eu fiquei com medo de confundir os sinais com a sua gentileza.
Madara o olhou nos olhos e percebeu quando o corpo robusto se aproximou mais do seu. A mão de Hashirama repousou sobre a sua nuca e a outra mão agarrou sua cintura com destreza. Madara sentiu o afilado nariz acariciando suavemente o seu, o ar quente e a respiração ofegante próxima a sua boca. Seu coração disparou.
— Você tem certeza? — Hashirama perguntou.
— Essa é a única certeza que eu tenho.
Hashirama parou de pensar e beijou os lábios fartos de uma maneira necessitada e profunda. Madara ergueu as mãos para cima e as depositou no semblante do Senju, envolvendo-se em um beijo volupio e quente. Seu corpo relaxou em meio aos toques do doutor, por outro lado, seu coração continuou a disparar cada vez mais, cada vez que Hashirama adentrava a língua em sua boca, cada vez que o Senju mordiscava seu lábio inferior, Madara sentia-se cada vez mais sedento, sentia cada vez mais vontade de continuar com os passos seguintes e esquecer de uma vez por todas os motivos de suas limitações.
Ambos os corpos encontravam-se em uma conexão que há tempo eles esperavam sentir. Era por isso que Hashirama pensou muito antes de ceder, porque ele não queria ficar ainda mais apaixonado do que já estava por alguém que ele claramente não podia ter…
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