POV DINAH
— É isso aí Dinah, hora de trabalhar!
Pego a tesoura para começar a podar o jasmim e fazer os arranjos, mas como nada são flores, meu sossego não dura o que deveria. O cheiro suave e um tanto cítrico, preenche o lugar. Céus, era só o que me faltava.
— Onde a Camila está?
— Oi, pra você também Sara.
— Ela não atende o celular! — e lá vamos nós em mais uma “DR” — Ei! Tô falando com você!
E para o meu azar, eu sei disso!
— Como ela vai atender se deixou o celular com você?
— O que? Ela não deixou o celular comigo! — largo a tesoura na mesa.
— Como não deixou com você? — não faz sentido. Então ela mentiu, por quê?
Sua mão espalma na mesa com força e o som do impacto atinge meus ouvidos em cheio!
— Eu sabia! — a ironia de seu sorriso põe as cartas na mesa, mesmo eu não estando pronta para jogar — Ela está com outra, não é? — eu preciso de um aumento por Camila sempre me colocar nessas saias justas! Vadia do caralho!
Volto a me concentrar no jasmim — Não sei por que se importa, afinal, ela não deve fidelidade a você! — e pelo visto nem a mim, já que mentiu!
— Isso não é da sua conta, alfa! — a encaro.
— Ótimo! Então por que ainda está aqui, beta?
Sua irritação é realmente uma graça!
— Arg! Imbecil! — ela sai em disparada.
— Já vai tarde!
Louca.
Trinta minutos depois e ainda continuo aqui, parada. Suspiro. Por que ela mentiria pra mim?
O que você esconde Camila?
[...]
— Eu conheço você...
— Sim, eu também conheço você — sorrio. Não lembro do cheiro dela ser tão agradável assim.
— Então, você trabalha aqui? — aponto para o crachá com meu nome e ela sorrir.
— Pensei que vestida assim já seria óbvio — ela se faz de ofendida.
— Desculpe se não consigo acertar a profissão de alguém pela roupa, senhorita Jane!
Nos olhamos por um tempo agradável, realmente a única coisa boa que me aconteceu até agora nesse dia frustrado.
— Com licença, mas estou esperando na fila para pagar! — a senhora nos olha irritada e sorrimos.
— Desculpe, já estou indo — ela volta pra fila e olho para a ômega — Preciso voltar...
— Eu espero.
— Certo...
Me afasto dela e vou para o balcão atender os outros clientes e a cada oportunidade que surge olho pra ela, que parece concentrada demais nas prateleiras pra descobrir meus olhares.
Vamos lá Dinah, não a deixe esperar muito.
— Aqui está, obrigada por comprar conosco. — entrego um dos arranjos que fiz mais cedo.
Me abaixo para pegar mais papéis de embrulho e quando volto ela está aqui, bem na minha frente.
— Acho que agora é minha vez. — seu sorriso é sem dúvida o mais lindo que já vi, mas não vou negar que seu decote me cativa fervorosamente.
Meu amigo aqui embaixo começa a se animar, então trato de mudar o foco dos meus pensamentos imorais.
— Gostou? — a encaro confusa — Dos meus peitos! — arregalo os olhos.
— Não! Quer dizer, sim, mas... — ela começa a rir do meu embaraço. Droga.
— Está envergonhada alfa?
Pensa em algo, pensa em algo!
— Não é vergonha! É apenas o calor, que me deixa assim, vermelha — sério? O calor? Eu sou tão idiota!
— Certo... — ela coloca um pequeno vaso com camélias jovens sobre o balcão.
— A flor dos amantes — começo a embrulhar e ela sorrir.
— Sim, são minhas favoritas — as entrego.
— A minha também...
Nosso silêncio é agradável e uma pena não durar muito.
Ela estende as notas sobre a madeira polida, mas as devolvo — Por conta da casa. Afinal, esperou muito para ser atendida.
— Acredite, não foi nenhum sacrifício.
Ela tá me dando bola? Qual é! Eu sou conhecida por ver coisas onde não tem, então me ajuda vai!
— Seria muita cara de pau pedir seu número? — e pela primeira vez me senti nervosa diante de uma ômega.
— Seria! Mas não me importo.
Ela pega uma caneta e começa anotar os números — Lauren disse que você não é uma pessoa muito agradável.
Reviro os olhos, claro que ela falaria isso.
— E o que você acha? — me aproximo dela.
Ela dobra o papel e se curva no balcão. Seu braço estende e sua mão tateia em busca de um bolso, enquanto sua boca fica centímetros da minha orelha.
— Que deveria me ligar... — engulo seco quando ao em vez dela escolher o bolso óbvio de trás, ela escolhe o da frente...
Merda!
Não fica duro, não fica duro...
Tarde demais...
Seus dedos me tocam brevemente e mais uma vez fico envergonhada por ser tão fraca. Ela volta a posição de antes e pega o embrulho enquanto tento disfarçar discretamente minha fraqueza.
— Bom, eu já vou indo — tento acompanha-la, mas lembro que tem algo muito evidente que não pode ser visto. Ela me olha e morde os lábios. — Não precisa vir, eu sei o caminho, até mais Dinah e obrigada.
— Até...
A espero dá as costas para me inclinar e absorver mais do seu cheiro. Pego o papel do bolso e salvo o número no celular.
Normani...
— É isso aí Dinah, ela tá na sua!
[...]
Começo a fechar a loja e Camila nem se quer passou por aqui, aposto que nem foi na fazenda como tinha dito, sem falar que me deixou sozinha na loja e logo hoje que tem muito movimento.
Coloco as coisas no carro e sigo até a casa dela e não vou sair até que seja sincera comigo!
Vamos ter uma conversa, vadia.
Eu comi, bebi, rodei pela sala, dormi e nada dela chegar e já estava desistindo até que escutei a porta se abrir.
Finalmente!
— O que faz aqui?
Cabelos molhados, cara de cansada, marcas pelo corpo, e um aroma exagerado de sabonete. De quem é o cheiro que ela quer esconder?
— Vim saber como estava, você não deu as caras na loja, fiquei preocupada.
Camila não me olha, na verdade ela está evitando.
— Estive na fazenda — ela vai até a cozinha e a sigo.
— Hmm. Sara esteve na loja procurando por você, ela disse que te ligou e que não atendeu, estranho né? Porque você disse que tinha deixado o celular com ela, então ou ela está louca, ou — a encaro — você mentiu pra mim.
Ela coloca o copo no balcão e o silêncio se instala inquieto.
— Por que mentiu? Nós somos amigas Camila! Você sabe tudo sobre mim, por que me ocultar da sua vida dessa forma? Sabe como me senti? Uma tremenda idiota!
Ela curva sobre o balcão e seus cabelos caem pelos ombros deixando o pescoço amostra. Mas que porra é essa?
Me aproximo dela e analiso a marca de perto. Profunda demais para ser de uma beta e com certeza não foi de alfa, o cheiro dela teria mudado. Obviamente ela não se morderia então só resta uma alternativa, não pode ser...
Recuo por um instante — Porra... Você transou com uma ômega?
Camila me olha assustada e percebe que a marca ficou exposta, ela levanta a gola, mas já é tarde. Eu já vi...
— Caralho... então é isso. Na verdade, sempre foi né? Agora eu entendo porque não fica com alfas, você é gay!
Merda! Sempre foi tão óbvio, não entendo porque demorei tanto pra perceber.
— Dinah, eu posso explicar — ela tenta se aproxima, mas recuo tendo seu olhar triste sobre mim.
— Ótimo, sou toda ouvidos — tomo impulso e sento no balcão vendo-a me olhar com alívio.
Camila respira fundo e senta ao meu lado no mármore frio.
— Eu vou contar tudo — e ela realmente contou.
Todo o medo e angústia que teve de passar para se aceitar, toda hora em que pensou ser um erro e até mesmo suja por conta disso me fez sentir tão pequena diante de todo o sofrimento que ela passou. Na verdade, percebi que estava fechada para essa parte do mundo em que só sabia coisas superficiais e agora vendo-a dessa forma, tendo que mentir e se esconder das outras pessoas me deixa tão mal que chorar parece pouco para expressar minha frustração.
— É isso. E sinto muito por não ter falado antes, eu fiquei com medo de você se afastar e...
— Ou! Pode parar! Eu nunca me afastaria de você tá legal? — a empurro de leve com o ombro e ela sorrir — Somos praticamente irmãs e essas nunca abandonam a outra.
Saio do balcão e antes que me esquecesse de perguntar a encaro — Agora me fala, quem foi a bendita que te mordeu assim? — puxo a gola — Ela deveria estar bem louca nessa hora.
Seu sorriso some. Ela desce do balcão e tenta sair, mas a seguro — Por que a pressa Camila?
— Nada.
— Vai mentir pra mim de novo? E esse papo todo que tivemos? Qual é! Acredite, não a nada que você falaria que me deixaria mais chocada.
Ela respira fundo — Foi Lauren.
Espera, o que?!
— Tá me zoando né? — fico esperando ela sorrir ou falar que é brincadeira, mas a medida que o tempo passa e ela não contesta o meu sangue gela.
— Porra, não brinca. Você e a branquela?! Sério?!
Ela confirma e tudo que vejo depois é a casa ficar escura e eu cair dura no chão.
— Dinah! Acorda! — ela me sacode pelos ombros e uma dor atrás da cabeça me atinge em cheio — Ai, graças a Deus. Porra! Não me mata de susto!
— Desculpa.
Fico de pé e vamos pra sala.
— No fundo eu bem que desconfiava sabia, vocês sempre eram íntimas demais.
— Claro! Nós somos amigas!
— Ah, claro! Amigas que fodem e que morde a outra! Realmente é uma ótima amizade.
Ela joga uma almofada em mim e sorrio.
— Idiota.
— Certo, agora que tudo está esclarecido pode me contar.
— Contar o que?
— Como, o que? A transa é claro!
— Nem morta! — ela passa por mim e sai correndo.
— Camila! Volta aqui!
Saio atrás dela e escutar sua risada me deixa feliz. Eu não menti, somos mais do que amigas, somos irmãs e se depender de mim, sempre será assim.
Vê-la feliz, me faz feliz.
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