Essa biblioteca com certeza é bem maior com a presença da minha irmã aqui, mas Ambre resolveu dar uma volta no nosso imenso jardim com a amiga, Melody, me deixando aqui com esses relatórios. O reino está passando por uma pequena crise, por isso meu pai está muito atarefado e eu não pude ir ao jardim com elas, pois estou cuidando das tarefas menores junto com minha mãe. Isso que dá ser o filho mais velho, alguns minutos mais velho. Se não fosse eu, seria minha irmã, e por enquanto eu quero poupá-la de futuros estresses com o rei da França, ou seja, nosso pai.
- Filho.
Ergo a cabeça.
- Oi, mãe. – Ela deixou um jornal em cima na mesa próximo a mim. – O que é isso?
- Notícias de hoje. – Abri o jornal. – As pessoas querem melhores condições de trabalho. Eles acham que os dividimos em patamares. Seu pai não sabe o que fazer. – Olho para o rosto cansado, mas ainda sim delicado, da minha mãe.
- Do que nós precisamos é de uma distração. – A voz do meu pai invade a biblioteca.
- Distração?
- Sim. Um evento grandioso, que possa distrair os súditos para que nós pensemos em algo.
- E como seria isso, pai?
- É sobre isso que precisamos discutir agora mesmo. – Ele mudou sua expressão para mais séria – Faremos uma Seleção.
Pisquei meus olhos repetidas vezes, até que eu pudesse compreender o que ele havia dito.
- Como é?
- Uma Seleção.
Eu já havia ouvido falar, claramente. Seleção é quando o herdeiro, geralmente príncipe, tem que conviver com garotas, e no fim escolher uma delas para se casar. Foi assim que minha mãe casou-se com meu pai. Dentre várias garotas, ele a escolheu. E ela nasceu para ser rainha, minha mãe é bela, delicada, mas também uma mulher guerreira, veio de muito baixo, e agora governa o país.
- Tenho escolha?
- Sabe que não, além disso, só estamos adiantando uma tradição. – Após dizer isso ele me deu as costas – Vamos anunciar isso no jornal de amanhã à noite.
Assim que ele fechou a porta, soltei o ar que havia prendido, encarando minha mãe. Sem dizer nada ela deu um beijo em minha testa e saiu.
[...]
Após algum tempo, eu tive que recorrer a única pessoa em que confiava cegamente, minha irmã, claro. A encontrei em seu quarto segurando um vestido contra o corpo, animada.
- Bem na hora, Nath. – Virou pra, fazendo o vestido dançar no ar. – Esse ou aquele? – aponta pra um em cima de sua cama.
Fui até lá, pegando-o, depois me aproximei de Ambre colocando a peça de roupa ao lado da outra para comparar.
- Para qual ocasião?
- Para o jornal amanhã.
- Vista este. – Apontei para o que estava em sua mão. – Temos um comunicado amanhã então precisa estar linda.
- Como sempre?
- Mais que isso.
- Qual o comunicado?
Bufei ao me sentar em sua cama.
- O que aconteceu? – Ambre veio até mim, pondo uma mão em meu ombro.
- Nosso pai quer fazer uma Seleção.
Ambre pareceu pensar um pouco, tentando buscar na memória sobre o que eu estava falando, para então arregalar os olhos.
- Não acredito!
- Acredite.
- E você não quer?
- De qualquer jeito eu não tenho escolha, você sabe. Ele acha que só a opinião dele importa.
- Eu acho uma ideia interessante, sabe? – a olhei, curioso - Conhecer garotas. Talvez uma delas seja a sua rainha ideal. O amor da sua vida. A metade da sua laranja.
- Chega, Ambre. – Soltei uma risada.
- Você sempre falou em achar uma pessoa por quem se apaixone de verdade. Veja isso como uma oportunidade.
- E se ela não estiver entre as selecionadas?
- Vai estar. Não confia em mim? – Arqueei as sobrancelhas.
- Tô ferrado.
Ela me deu um empurrãozinho com o ombro e nós dois desatamos a rir.
Mais tarde voltei ao meu quarto e pela noite, na hora do jantar meu pai tocou no assunto, no qual eu apenas concordei com o que ele falava. Não adianta nada discordar, então o que posso fazer?
[...]
Não pensei que fosse precisar recorrer tão cedo a uma seleção para ter uma esposa. Parece piada. Mas de acordo com mamãe, "não é o ideal, mas é o certo". Meu avô teve a sua, meu pai também, e ouso dizer que se não fosse a seleção anterior nem eu, nem Ambre estaríamos aqui. Agora é a minha vez. Não deve ser tão ruim assim.
As câmeras, o divã e o palco do Jornal Parisiense já estavam postos, iria começar em poucos minutos. Ocupei meu lugar ao lado de Ambre.
- Você está perfeito, maninho. Como um noivo deve ser. – sorriu, fiz o mesmo.
- Se você falar besteira de novo, não vou me importar em cortar seu belo cabelo enquanto dorme.
- Nossa, Nathaniel. Eu também te amo.
Nós rimos. Ambre segura minha mão, a encaro.
- Melhor?
- Acostumado com a ideia. Não parece ser tão ruim.
- É assim que um futuro rei fala. Confie em mim, ela estará entre elas.
Assenti e voltei a olhar para frente, onde as câmeras já estavam ligadas. O jornal começava.
O rei falou o que ele tinha que falar, e também acrescentou indiretas para Portugal, mesmo que o jornal fosse transmitido apenas aqui, na França, mas ele ponderava uma futura aliança com o país. Por fim, Peggy, a jornalista oficial do Jornal, tomou a palavra.
- E agora, antes de encerrar o Jornal Parisiense de hoje, temos a honra de chamar aqui, ao sofá, sua Alteza real, o príncipe Nathaniel. Palmas! – o pessoal que não aparecia em frente a câmera bateu palmas.
Me direcionei até o divã e sentei em frente a Peggy.
- Olá, Alteza. – Dei um breve aceno – Estamos curiosos para saber qual o comunicado tão importante.
- Agora mesmo, Peggy. – Mostrei um sorriso – Como sabemos, está destinado a mim, desde que nasci alguns minutos antes que minha irmã, Ambre – olho pra ela que sorri abertamente – o trono da França, assim que meu pai deixar esse posto. E claro, eu não poderei tomar tal poder sem alguém do meu lado para me apoiar. Há alguns anos atrás meu pai passou por isso, e escolheu a minha mãe, agora será a minha vez de escolher minha princesa e futura rainha. Com isso quero dizer, que uma nova Seleção terá início.
Vi a falsa cara de surpresa de Peggy, claro que ela já sabia.
- Uau, isso é profundo. – Ela comenta.
- Nem me fale. Foi uma decisão e tanto, e eu só tenho dezoito anos. – Ela riu, assim como mamãe e Ambre. Mal sabe Peggy que não opinei em nada. – Uma carta será enviada para as moças da França e adjacências. Apenas trinta e cinco garotas serão sorteadas e elas tem duas semanas para decidir se vão ou não preencher o chato formulário que pode trazê-las até aqui. Decidam bem, garotas. – Pisquei – Estou ansioso por isso.
- Com certeza também estamos, Alteza.
Ela curvou-se, dei tchau par a câmera e voltei ao meu lugar.
- Você foi bem. Tenho certeza que muitas garotas irão se inscrever.
Suspiro, me virando para Ambre.
- Obrigado.
- É para isso que eu estou aqui.
O jornal foi encerrado. Nos despedimos todos de Peggy e eu fui ao meu quarto, precisava pensar, e precisava me organizar para essa semana. Já vejo que tenho muitas coisas a fazer, e não vai ser nada fácil.
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