Jimin só queria dormir. Só queria terminar logo aquele maldito banho, deitar na cama e apagar de vez. O sono iria, pelo menos por algumas horas, fazer ele desligar a consciência de tudo que aconteceu naquele dia. No entanto, seus planos foram por água abaixo quando Kim Taehyung e Min Yoongi apareceram de supetão na porta de seu quarto.
— Cadê o rei do arremesso livre? O pica das cestas enterradas? — Tae entrara gritando, e a julgar pela falta de bom senso, Jimin já sabia que os amigos estavam bêbados.
Levantou-se da cama e observou enquanto os dois garotos entravam cambaleantes.
— Ahh, aí está você! — Tae pulou na cama e abraçou o amigo quase derrubando o líquido que estava dentro de sua garrafa de Budweiser.
— O que caralhos vocês estão fazendo aqui? — Park questionou mal humorado dando um leve empurrão para o Kim sair de cima dele.
— Viemos te buscar para festa, obviamente. Por que infernos o nosso atacante não está na festa pós sermos campeões do campeonato? — Yoongi retrucou sentando-se de forma folgada na cama.
— Eu não vou. — falou direto deitando-se novamente e ignorando a presença dos outros dois ali.
— Como assim não vai? Quem é você e o que fez com o meu amigo?! — Kim dramatizou uma cena de desespero agarrando-se as coxas roliças do Park.
— É, cara, que história é essa que não vai? ‘Tá todo mundo lá, e é praticamente há dois quarteirões daqui. Levanta logo essa bunda de Kim Kardashian e vamos. — Yoongi deu um tapa estalado mas nádegas avantajadas de Jimin. Park preferiu ignorar os toques íntimos demais dos amigos em si, visto que para chegarem a tal ponto, já deviam estar muito bêbados. Mas somente depois de analisar o que o amigo falara que ele levantou-se rapidamente.
— Espera, você disse há três quarteirões daqui? Onde que está rolando essa festa? — Park ergueu as sobrancelhas.
— Na casa da Houston, cara. — Yoongi respondeu.
— É. A namorada do Jungkook. — Taehyung logo disse animado. — Namorada do Jungkook. Jungkook namorando... O quão louco é isso, huh? — Kim continuou balançando a cabeça, ainda incrédulo. — Namorada do Jungkook... — repetiu novamente olhando para o nada com sua maior expressão de bêbado que por muito pouco ainda não perdeu a lucidez.
— Dá pra parar de repetir isso! — Park sacudiu a cabeça e as mãos no ar como se estivesse com uma enxaqueca das fortes ou como se tivesse mastigado um limão muito azedo. Os amigos estranharam a exaltação. — Então a festa é na casa da Loreta. — afirmou suave. — E o Jungkook está lá... com ela. — afirmou novamente arrancando o balançar positivo da cabeça dos dois amigos. — É, não vai rolar não. Boa noite. — deitou-se novamente e desta vez mil vezes mais disposto a não levantar.
— Qual é, Jimin, que bicho te mordeu? — Kim Taehyung praticamente pulou em cima do amigo. — E além do mais, a Kimberly está perguntando por você desde a hora que chegamos. — ele trazia certa malícia na voz. — E cara, ela tá com uma saia preta que... hmmm. — concluiu suspirando e arrancando gargalhadas de Yoongi que concordava com a cabeça. Park Jimin revirou os olhos e permaneceu deitado. — Eu sei que você já pegou ela, e sei também que você gostou. — indagou.
Jimin parou, refletiu, sentou-se na cama e respirou fundo. Provavelmente Jungkook estaria na festa levando todo o mérito da partida como sempre, e Jimin não podia deixar de ouvir a voz irritante do ego ferido invadir sua mente. Não tinha mais nada a perder. E no final das contas, ainda era Park Jimin, e Park Jimin não perde festas e muito menos recusa garotas como Kimberly.
— Quer saber? Que seja. Eu vou pra essa festa. Vocês podem ir na frente, eu chego em seguida. — levantou-se de supetão já parecendo mais animado. Os amigos comemoraram no mesmo instante enquanto Park Jimin já dirigia-se ao armário disposto a vestir sua melhor roupa.
(...)
— Pelo amor de Deus, desce daí! — já era a quarta vez que eu gritava, implorava, ordenava para que aqueles malditos arruaceiros descessem da mesa de centro da cozinha. — Minha mãe vai me matar. Minha mãe vai me matar. Minha mãe vai me matar. — massageei as têmporas a fim de tentar de forma inútil manter a calma. Não conseguia me recordar onde infernos eu estava com a cabeça quando topei essa loucura toda.
Quando retornei à sala a fim de esquecer por alguns minutos a zona que estava se tornando minha cozinha, me deparei com quatro garotas e dois garotos em cima do sofá dançando macarena.
— Só pode ser sacanagem... — choraminguei já praticamente chorando. Eu não fazia ideia de como todas aquelas pessoas chegaram ali. O que era pra ser só o time de basquete, alguns amigos de Jeon e as líderes de torcida, se transformou em uma caralhada de pessoas que provavelmente se auto convidaram, e que pior, eu sequer conhecia.
Aquilo estava um verdadeiro desastre. Uma zona. Uma confusão. O pior de tudo era que somente eu permanecia aflita, evidentemente.
— Ei benzinho, por onde você andou? — Jungkook me avistou e logo veio pra cima me agarrando pela cintura. — Te procurei por toda parte. — sorriu.
— Agora não, frango. — soltei ríspida afastando ele, já deixando o estresse acumular-se. Jungkook franziu o cenho. — Vando. Eu quis dizer Vando. — me corrigi as pressas. Jeon pareceu mais confuso ainda. — É um cantor brasileiro que minha mãe gosta, e-eu, hã, eu te chamei disso p-porque ele é bonito e... E você parece com ele. — finalmente conclui a sentença enrolada. Jungkook não contestou, mas pareceu engolir a explicação.
— Ok, que seja. De qualquer forma, eu ‘tô te achando muito tensa hoje. Acho que está precisando dar uma relaxada. — murmurou malicioso e mordeu os lábios, me encarando lascivo. — E eu não vejo a hora de ficar sozinho com você. — ele se aproximou de novo deixando um beijo quente na minha bochecha. — Só eu e você. — sussurrou em meu ouvido.
Ok, o quê? Parece que Jungkook começou cedo a depositar expectativas sexuais em mim.
Céus, eu estava ferrada. Definitivamente, gradativamente, extremamente ferrada.
— Ok ok, eu vou lá em cima pegar, hã, uma coisa importante. Até mais. — me desvinculei do frango e fui em direção às escadas gritando com um e outro no trajeto para largar tal objeto ou descer de algum lugar. Eu estava uma pilha de nervos e certamente se visse mais alguma demonstração de vandalismo dentro da minha casa, eu iria cometer um crime de ódio.
Cheguei ao meu quarto já completamente esgotada e estressada. Para começar, um bando de adolescentes bêbados e cheios de hormônios estavam destruindo minha casa, depois tinha Jungkook que com certeza estava esperando partir para os finalmentes naquela noite, e eu, eu estava no meu quarto prestes a ter um ataque de nervos. Sentei na cama e decidi apelar para forças divinas.
— Ok, Deus, eu sei que eu só te procuro quando estou precisando de alguma coisa, mas juro que é caso de vida ou morte. — olhei para o teto para ajudar no contato visual com o criador. — Mande um meteoro, por favor, não precisa nem estragar o universo inteiro, contanto que exploda essa casa já está de bom tamanho. — meus olhos estavam fechados e minhas mãos juntas em oração.
Eu juro que não sou louca. Talvez só um pouco. É o que eu sempre digo aqui: situações drásticas exigem medidas drásticas.
Então um estrondo foi ouvido vindo da minha janela. Deus tinha sido rápido em atender minhas preces pelo visto. Virei-me alarmada e vi a silhueta de um cara vestido de preto invadindo o meu quarto.
— Deus, eu pedi um meteoro, não um ladrão! — exclamei já pulando para trás. Eu não estava afim de ser assaltada dentro do meu próprio quarto. Mas quando estava prestes a pegar o abaju para tacar no suposto ladrão, vi que era só Park Jimin. — Jimin?! — franzi o cenho estreitando os olhos. Ele veio meio confuso pois parecia ter torcido o pé na escalada. — Jimin! — um sorriso espontâneo se abriu em meus lábios, e eu nunca estive tão aliviada em ver alguém. — O que está fazendo aqui? Q-quero dizer, eu pensei que você... Você estava... B-bom, não importa. Que bom que está aqui. — finalmente respirei fundo. O choque passou e com isso eu pude observar melhor e ver que Jimin estava completamente bonito. Ele usava uma jaqueta de couro e uma camisa estampada por baixo. As calças jeans suurradas ficavam ainda mais bonitas naqueles coxas. — Uau... Você... V-você está muito bonito. — segredei. Jimin sorriu fraco, ainda meio sem graça porque provavelmente não esperava me encontrar ali.
— Você também. — foi o que ele disse com a voz baixa enquanto coçava a nuca e desviava seu olhar.
— O que ‘tá fazendo aqui? Aliás, sei que deve ter vindo pra festa... — sacudi a cabeça. Por que infernos eu estava tão desconsertada? — O que eu quero perguntar é por quê você não entrou pela porta?
— Eu... — ele pensou pensou e depois franziu o cenho. — Pra falar a verdade, eu não faço ideia. Isso é realmente assustador, eu definitivamente tenho que parar com essa mania. — ele disse e logo eu sorri. Depois ele sorriu. Depois nós nos olhamos e ambos estávamos sorrindo, mas estava sendo diferente das outras vezes que ríamos da piada um do outro. Então ele ficou sério, e por consequência, eu também. — Bom, eu acho melhor eu descer. — ele indicou a porta com o polegar, já dando passos naquela direção.
— Jimin! — chamei e ele virou-se. — É, bom, o Jungkook... Ele... Acho que ele espera algo de mim agora que somos... namorados. — aquela palavra pareceu causar um certo incômodo no Park, mesmo assim ignorei e dei continuidade. — E pra ser bem sincera eu ainda não estou preparada. — murmurei um pouco ansiosa, mexendo nas minhas próprias mãos enquanto via a expressão de Park ficar mais tensa.
— Quer saber se ainda vamos continuar com a quarta regra. — ele afirmou, simplesmente.
— É... — mordi o lábio inferior. Eu definitivamente sentia que era errado demais fazer aquilo, mas era inevitável, pois eu não estava preparada para encarar Jungkook, e por alguma razão sentia que Jimin se afastava aos poucos.
— Loreta, eu acho que é melhor não... — ele começou a falar, mas nos assustamos com algumas batidas na porta.
— Gata, você ‘tá aí? — era a voz de Jungkook.
Jimin e eu nos entreolharmos e ele parecia tão perdido quanto eu. Todavia, respirei aliviada ao lembrar que a porta estava trancada.
— Eu já vou, Kook. — gritei.
— É melhor eu descer pela janela e entrar pela porta. — ele afirmou simples já caminhando em direção à janela. Antes que ele saísse, o chamei novamente.
— Jimin? — ele virou o rosto, mas já se colocava pra fora. — Você não respondeu minha pergunta. — falei.
— Que demora, Lo Lo! — Jungkook resmungava do outro lado da porta.
— Eu falei que já vou! — berrei tão alto que tive a certeza que me ouviram do outro lado da cidade. Park se assustou com o grito, e eu só ficava mais nervosa. Jimin me olhou uma última vez antes de falar:
— Seu namorado está te esperando. — sua expressão era a mais fria possível, e assim ele desceu me deixando com a maior cara de tacho. E claro, estranhamente magoada.
(...)
Park Jimin entrou pela porta da frente e de imediato já deparou-se com a movimentação frenética da festa que acontecia. No percurso dentro da casa foi cumprimentado e parabenizado pela partida por algumas pessoas que ainda estavam sóbrias o suficiente para reparar em sua presença ali.
Park não vira Taehyung e Min de início, então decidiu ir até a cozinha para começar a beber, e de preferência algo que fosse forte.
Avistou a tijela com ponche e passou a servir o seu copo.
— Não esperava te ver aqui. — Jimin reconheceu a voz de Jungkook, e sentiu-se azarado em deparar-se com ele ali sendo que há poucos minutos antes o garoto estava no andar de cima batendo na porta de Loreta.
— Olha Jungkook, se você veio encher o saco, sugiro que você vá... — Park virou-se para encarar o amigo.
— Ei, calma, cara. — Jungkook sorria. — Relaxa, ‘tá legal? — deu continuidade, mesmo tendo um Jimin irritado e na defensiva em sua frente. — Eu só quero te pedir desculpas.
— Desculpas? — Park riu sem humor, não podia acreditar que Kook estava pedindo desculpas depois de tudo que ocorrera na partida.
— É, cara. Eu sei que fui meio imbecil indo a sua casa naquele dia, e também fui um imbecil na partida. — agora Jungkook estava perto, já sentindo Jimin com a guarda mais baixa.
— Coloca imbecil nisso. — Jimin retrucou dando um gole em sua bebida.
— Eu sei, foi mal, é só que... Aquela professora de teatro encheu minha cabeça com uma história estúpida de Shakespeare... Enfim, esquece. Isso é pura babaquice. Eu sei que você nunca seria capaz de me apunhalar pelas costas, certo? — deu um tapa amigável no ombro de Jimin, mas este não conseguiu proferir nada. Todavia, ao ver que o amigo esperava que ele fizesse algo, Park apenas assentiu em uma balançada positiva com a cabeça. Jungkook sorriu satisfeito, e no mais, aliviado. — E também tem a Loreta, cara... — Jungkook tornou a falar. — Ela me deixa louco. Tão louco a ponto de sentir ciúmes. ‘Tá aí algo que eu nunca senti na vida. — Kook parecia sincero em suas palavras, o que causou um certo incômodo interno em Jimin que não sabia se fingia estar tudo bem perante ao amigo, ou saia correndo dali para o mais longe possível. Jimin não sentia-se nada bem em relação àquilo. Nada bem. — Quem diria, uh? — Jungkook continuava aquela espécie de desabafo barra pedido de desculpa. — É só que... — Kook sorria ainda mais e Jimin perguntou-se se era possível já ter visto o amigo tão feliz. — Ela parece ter sido feita exatamente para mim. Mas exatamente no sentindo literal mesmo. Chega a ser estranho a forma que ela parece ser uma invenção que foi criada perfeitamente sob medida para mim. — Jungkook dizia e Park quase chegou a engasgar com a bebida que entornava enquanto escutava o amigo.
Seu coração deu uma acelerada brusca ao perceber que sim, ela havia sido treinada exatamente para agradar Jungkook, da forma mais literal possível. E era tão óbvio para ele, que chegou a sentir-se culpado pelo amigo está imerso nessa ilusão.
Park sentiu-se mal. Sentiu-se extremamente mal.
— O quão louco é isso, huh? As vezes nem parece real. — Jungkook sorriu. Aquilo fez Park pensar sobre como tudo que Jungkook sabia sobre Loreta era o que os seus quatros amigos tinham planejado. Jimin queria falar, queria entregar tudo. Mas não podia, não quando Jungkook estava ali, mesmo com todas as suas falhas e defeitos, visivelmente apaixonado por Loreta. — Estamos bem? — Jungkook inclinou a mão fechada para que o amigo retribuísse o toque costumeiro que faziam desde seus tempos de meninos. Park sorriu fraco e levantou a mão retribuindo o toque. Aquilo já era o suficiente para saber que sim, estavam bem. Jungkook sorriu para o amigo e quase se retirou, mas antes voltou para Jimin. — Ah, quase ia me esquecendo. A Kimberly tá te procurando. — seu tom era malicioso, e Park sabia que para qualquer homem naquela escola, estar com Kimberly era basicamente sorte das grandes, por isso seu ego inflava cada vez que alguém citava o fato de ela estar na dele. Jimin sorriu e por fim Kook se retirou. Então virou-se novamente para o ponche e decidiu que beberia como se a existência da humanidade dependesse disso. E foi o que ele fez.
(...)
Confesso que depois de ter visto Jimin, consegui recuperar significantemente o meu estado de calma. É evidente que a forma um tanto fria que ele me tratou tenha me deixado abalada, mas só a sensação de saber que ele estava ali presente no meio de toda aquela confusão, era reconfortante.
Desci as escadas, e já embaixo parecia que a quantidade de pessoas naquela casa tinha aumentado ainda mais durante os poucos instantes em que estive ausente.
Fui tentando identificar algum rosto conhecido em meio aquela zona enquanto pedia licença para transitar dentro de minha própria casa.
No entanto, o que eu vi, fez com que eu pausasse bruscamente para melhor observar.
Jimin estava sentado em um dos sofás, parecia bem descontraído e eu diria até que bêbado. Kimberly estava sutilmente sentada em uma das pernas dele enquanto sussurrava algo em seu ouvido; o que estava fazendo ele sorrir muito. Sim, o sorriso de olhinhos espremidos que ele sempre me dava estava sendo naquele momento direcionado a ela.
Senti-me enjoada, como se tivesse acabado de ingerir uma dose de vodka pura.
O som estridente de uma musica com batida sensual passara a tocar no recinto, e foi quando ela levantou-se e começou a dançar insinuante na frente dele, que observava enquanto dava goles em sua bebida.
Um frio preencheu meu interior, e de repente a sensação de segurança que Jimin passava somente com sua presença se transformou em uma sensação de solidão, e aquilo era angustiante.
— Se você continuar sumindo da minha vista dessa jeito eu vou ter que tomar medidas drásticas. — Jungkook colara seu corpo por trás, abraçando-me pela cintura enquanto proferia aquilo em meu ouvido.
Permaneci atônita observando Park e Kimberly naquele momento íntimo demais, o que praticamente me fizera ignorar a presença de Kook.
— Ei... — agora ele havia posicionado-se em minha frente, e foi só então que pisquei algumas vezes para sair daquele transe esquisito.
Olhei para Jungkook e depois mais uma vez para Jimin, que naquele instante pareceu notar minha presença ali. Ele me olhou sério, mas Kimberly levantou o seu queixo para que ele voltasse a assistir aquela dança vulgar. Eu estava irritada. Meus nervos estavam a flor da pele. Meu estômago doía.
— Quer saber? Vamos dançar! — puxei Jungkook pelo braço em direção ao meio da sala. Então minha presença ali se tornou mais que evidente, pois pude ver Jimin observar curioso aquela cena, intercalando o olhar entre a dança de Kimberly e eu ali parada com Jungkook.
Kook estava com um copo cheio de uma bebida que eu nem sequer sabia o que era, mas isso não me impediu de pegar da mão dele e entornar todo o líquido descarga adentro. Jungkook sorriu admirado ao me observar tendo aquela atitude. Comecei a rebolar lentamente ao som da batida sem nunca deixar de olhar para Jimin de soslaio, o que pareceu deixá-lo incomodado porque ele passou a ter dificuldades em olhar para mim e Kimberly ao mesmo tempo.
Foi quando Jungkook posicionou-se atrás de mim passando as mãos de forma gentil pela minha cintura e envolvendo-me em uma dança lenta e sensual.
— Se você continuar rebolando assim em mim eu não sei o que sou capaz de fazer. — sua voz lânguida e rouca murmurou em meu ouvido, e confesso que por um instante um arrepio percorreu toda minha espinha. Eu estava mais do que disposta a continuar com aquilo.
Jungkook dançava bem. Muito bem, pra falar a verdade. Então permanecemos naquele ritmo lento e sensual enquanto eu revezava dar atenção à minha dança e também a Jimin completamente atento a cada gesto que eu fazia, e eu me senti mil vezes vitoriosa por estar tirando a atenção dele de Kimberly.
Mas então Jungkook agarrou-me, me virando de forma súbita pra ele. Selou meus lábios com um beijo ardente e necessitado, pedindo passagem com sua língua. Eu podia sentir que os olhos de Park estavam sob nós, mesmo que eu não estivesse o vendo. Eu estava um pouco imersa à aquilo tudo e o álcool pareceu bater de forma certeira na minha corrente sanguínea, então eu apenas cedi aquele beijo.
Quando desvinculei os lábios sedentos de Jungkook dos meus, imediatamente olhei para onde Park estava. No entanto, ele já levantava-se apressado e sua expressão era tensa. Engoli em seco por sentir que sabia o motivo pelo qual ele estava indo embora, e que eu fora a responsável.
Kimberly, como boa insistente que é, foi atrás dele.
Eu senti-me completamente derrotada naquele momento, e quando vi que ele se direcionava para saída, me senti a própria caçamba de lixo. O que eu estava fazendo? Ou melhor, o que infernos estava acontecendo? Tudo era confuso demais.
— Ei... — Jungkook pareceu perceber o meu momento de distração total, mas não o suficiente para entender por completo a situação. Ele levantou meu rosto pelo queixo a fim de tirar meus olhos. — Que tal se a gente for lá pra cima? — perguntou de forma sexy. Me doía assumir toda vez para mim mesma que Jungkook era lindo como o inferno. E isso ficava ainda mais evidente com ele me olhando daquele jeito tão desejoso.
O pensamento de que eu não tinha mais nada a perder em junção com uma leve tristeza que invadia meu peito gradativamente, contribuiu para que naquele instante eu tirasse a chave do meu quarto do bolso e entregasse para Jungkook.
— Me espera lá em cima. Eu subo logo. — disse prática e ele sorriu, recolhendo a chave da minha mão retirando-se.
Fui em direção a cozinha atrás de álcool, pois se eu fosse mesmo fazer aquilo, eu precisaria estar no mínimo alterada. Comecei a beber e beber mais. E quando eu lembrava de Jimin com a feição tão desapontada indo embora, eu bebia mais ainda.
— O que está acontecendo aqui? — virei-me tão rapidamente quanto pude ao ouvir aquela voz tão familiar.
— Hobi?! Cris?! — meus melhores amigos estavam ali atrás de mim parados, segurando um bolo de chocolate e trajando pijamas. O que me causou uma certa confusão, apesar de eles parecerem tão confusos quanto. — Que bom que estão aqui! — respirei aliviada, mas eles não estavam com as expressões muito felizes.
— Você tá dando uma festa? — a voz de Hobi era triste, e Cristine ao seu lado também não estava muito diferente. Foi quando me toquei, ali, já alterada e completamente à mercê das minhas melancolias, que eu não havia convidado Cristine e Hobi para festa. Para ser mais justa ainda, eu não os havia convidado nem para ver a partida final do campeonato.
— É-é s-sim. — proferi. — Mas, eu ia chamar vocês, eu só acabei esquecendo. Aqui tá uma verdadeira zona e... O que fazem aqui? — resolvi mudar o assunto.
— É aniversário do Hobi, lembra? Sempre fazemos à noite do pijama do aniversário do Hobi e comemos bolo de chocolate. — ela disse desapontada, e a expressão de Hoseok segurando o bolo de chocolate enquanto trajava aquele pijama fofo do bob esponja partiu meu coração em mil pedaços. Como eu pude ter me esquecido? Aquela era uma tradição entre nós há anos.
— Me desculpe. — foi tudo que consegui falar com a garganta seca e o cérebro virado pelo álcool.
— É, não podemos dizer que estamos surpresos com isso. — Cristine foi sarcástica, o que confesso ter me irritado. — Vamos Hobi. — ela o puxou pelo braço em direção a saída.
— Ah, qual é! Não precisa desse drama, ok? — gritei me aproximando deles novamente. — E Hobi, você não precisa ficar acatando as ordens da Cristine e seguindo os passos dela como um cachorrinho. — soltei sem que percebesse.
— Que?! — os dois responderam em uníssono.
— Isso mesmo que vocês ouviram. — retruquei com prontidão. — Cristine, você só está magoada porque está com ciúmes do Jungkook. Quero dizer, supera isso, segue a vida. — disse em desdém. Cristine e e Hobi pareceram incrédulos, até minha amiga começar a rir fazendo um sinal negativo com a cabeça.
— Você sabe muito bem que isso não se trata mais do Jungkook, e sim dessa pessoa nova que pode ser tudo, menos a minha melhor amiga Loreta. — ela disse simples e calmamente, e ouvir aquilo foi como ter mil facas enfiadas nem no estômago.
Então eles partiram sem olhar para trás.
Engoli em seco sentindo a bile amargar. Meu peito estava apertado, e por um momento senti como se estivesse vivendo o pior momento de toda minha vida. Tranquei o maxilar sentindo o misto de raiva e tristeza apoderar-se de mim.
— Que seja. — disse tentando mentir para mim mesma que tudo estava bem, que eu poderia lidar com tudo e todos, embora meu coração estivesse do tamanho de uma formiga. Dei mais um gole caprichado em minha vodka e resolvi subir para o quarto, pois Jungkook me esperava.
Subi as escadas e minha visão já estava turva. Eu não estava ligando muito para o fato de ter bebido tanto, eu só queria esquecer de tudo por algumas horas. Abri a porta do meu quarto e Jungkook estava lá observando tudo com as mãos no bolso. Ele me olhou e sorriu, parecendo satisfeito em me ter ali.
— É um quarto muito legal. — ele elogiou enquanto eu fechava a porta atrás de mim. Encostei ali enquanto observava ele se aproximar lentamente com um meio sorriso no rosto.
Meu coração palpitava juntamente com a adrenalina causada pelo álcool.
Então ele parou de frente para mim, alisando meu rosto com seu polegar enquanto me observava lascivo. Colocou o braço na parede em que eu estava encostada, apoiando a mão ao lado da minha cabeça. — Enfim sós. — sorriu descarado.— Desvenda para mim uma curiosidade que eu tenho desde que nos beijamos pela primeira vez.... — ele começou começou a falar enquanto alisava os meus lábios com seu polegar sem tirar os olhos da minha boca. Então ele se aproximou do meu ouvido para falar enquanto agarrava os cabelos da minha nuca com lentidão e firmeza. — Você gosta com carinho ou com força? — complementou em um sussurrou rente ao meu ouvido. Sua voz baixa, o timbre grave. Os orbes negros agora estavam fitando-me aguardando por uma reposta ou até mesmo por qualquer reação minha que respondesse aquela pergunta suja. Eu simplesmente congelei.
— E-eu...
— Você...? — ele estava ansioso e sorria descarado por me ver tão perdida em meio aquele olhar escuro.
— Eu...
— Você...? — ele colocou seu corpo no meu.
— Eu acho que eu quero vomitar. — falei de uma vez empurrando o galo, e depois sai correndo para o banheiro o mais rápido que pude.
E foi depois disso que eu não me lembro de mais nada. Talvez tenha alguns flashes que resumiam-se basicamente em mim vomitado durante alguns minutos. Também lembro de algo relacionado a Taehyung nadando pelado na piscina e os vizinhos chamando a polícia. Ah, também tenho quase certeza que vomitei no sapato de um policial, mas não tenho a memória muito clara quanto a isso. Pela manhã recebi algumas mensagens de Nicole contando como Jungkook conseguiu convencer o policial a não levar todos nós para a delegacia, e eu juro que continuava a não acreditar na capacidade de sedução e convencimento daquele galo exibido, mas tenho que confessar a minha admiração.
O pior da ressaca no dia seguinte não foram os sintomas em si, e sim ter que ir pra escola no dia posterior à uma bebedeira daquelas.
Adentrei o campus enjoada, minha cabeça doía, e só de pensar que quando eu voltasse em casa teria que enfrentar minha mãe pagando o maior sapo pela bagunça que haviam deixado em minha casa, eu já tinha vontade de partir dessa para melhor.
As aulas se passaram arrastando, e somente quando o horário de almoço se aproximou, meu estômago revirado resolveu dar indícios de quem precisava de alimento.
Me arrastei até o refeitório cheio de gente e principalmente pessoas que estavam na festa na noite anterior. Era estranho, pois a maioria me cumprimentava e a maioria sabia o meu nome. Todos me olhavam e comentavam enquanto sorriam e parecia me admirar. O que era ainda mais esquisito.
Quando avistei Cristine e Hobi sentados na mesa em que costumávamos almoçar juntos, parei e hesitei. Observei enquanto eles fingiam não me ver. Bufei derrotada ao recordar da noite anterior e do aniversário de Hobi que acabei por esquecer.
Olhei mais além e lá estava Jungkook em uma das mesas acenando para que eu me sentasse lá. Jimin, Kimberly e Bryan também estavam sentados, o que era estranho, pois eu estava indo sentar na mesa dos populares, e pior ainda, pra almoçar com eles.
Eu não tinha mais ninguém e nem mais nada a perder. Então simplesmente fui.
Sentei-me e fui recebida por um sorriso enorme de Jungkook e depois um beijo. Olhei para Jimin que no mesmo instante desviou o olhar.
— Deixa eu adivinhar... Ressaca? — Kook riu, e eu apenas assenti, não estava vendo graça naquela ressaca avassaladora e não via o por que da risada. Olhei para Kimberly e Jimin sentados à minha frente. Ele estava comendo normalmente enquanto ela fazia de tudo para ficar entrelaçada ao seu braço grudada feito um carrapato. No mínimo patético, eu pensei.
— Animada pra saída de campo amanhã? — Jungkook falou só pra que eu ouvisse enquanto alisava meu cabelos de forma carinhosa.
Eu quase havia me esquecido da saída de campo que o professor Stuartt faria conosco. Como professor de biologia, ele sorteava todos os anos turmas para irem para a saída de campo, que consistia basicamente em um acampamento no meio de uma floresta qualquer para exploramos a natureza. A ideia era boa, mas na prática os alunos costumavam usar aquelas saídas apenas como pretexto para beber e se pegarem nas barracas enquanto o pobre professor imaginava estar acrescentando conteúdo em nossas vidas. Neste ano a nossa turma foi sorteada, e era obrigatório comparecer, pois posteriormente a isso, éramos obrigamos a fazer uma resenha dissertando sobre o que aprendemos durante a noite em que passamos no meio do mato.
— É, acho que vai ser legal. — respondi baixo e em seguida dei um gole no meu refrigerante. Jungkook sorriu para mim.
— Sabe... — ele se aproximou e depositou um beijo na minha bochecha, depois levou seus lábios até o meu ouvido. — Acho que vai ser uma ótima oportunidade para ficarmos sozinhos. Você pode dormir na mesma barraca que eu, se quiser. — ele sussurrou. Engoli em seco no mesmo instante, me afastando um pouco dele.
Olhei para Jimin que novamente desviou o olhar, como se eu fosse estupida o suficiente para não saber que ele estava olhando para Jungkook e eu.
— Pode ser. — disse por fim, dando início ao meu almoço. Jungkook sorrira satisfeito e logo voltou a focar em sua comida.
— Jackie Chan, me passa o sal? — pedi em automático ao ver que o saleiro estava à frente de Jimin. Todos me olharam confusos e só depois de instantes em me toquei.
— Jackie Chan? — Kimberly questionou risonha. — O que é isso? Um apelido? — ela parecia caçoar da situação.
— É, é só um apelido. — respondi simples desviando dos olhares questionadores de Jungkook.
Park parecia tão tenso e receoso quanto eu, mas também disfarçava focando nas garfadas em sua comida.
— Eu adorei esse apelido! — Kimberly afirmou escandalosa e sorridente. — Posso te chamar de Jackie Chan também? — ela perguntou doce enquanto alisava o rosto de Jimin.
— Não! — praticamente gritei, trazendo todos os olhares daquela mesa para mim. Eu mal senti quando a raiva apoderou-se de mim, fazendo eu não conseguir pensar direito naquele instante. Quem ela pensava que era? Quero dizer, Jackie Chan é o apelido que eu dei pra ele. Era nosso segredo. Era nosso. Só meu e dele.
Meu estômago doía. Minhas entranhas congelavam. Minha garganta se fechava seca.
— Por que não? — Kimberly logo perguntou curiosa.
Jimin olhava para mim, ao mesmo tempo que parecia curioso e preocupado não só com a situação, mas com a forma que eu reagi aquilo.
— É, Loreta. Por que não? — agora Jungkook também questionava curioso.
— P-porque... E-ele não gosta desse apelido. É por isso. — menti tentando sair daquela situação o quanto antes.
— Ele não pareceu incomodado quando você chamou. Você se incomoda, baby? — ela agarrou o braço dele e passou a alisar sua pele. Eles estavam íntimos demais e eu não conseguia entender quando que tudo mudou tão de repente. Kimberly se jogava para cima de Jimin o tempo inteiro, e embora ele não parecesse dar tanta atenção a ela, eu me sentia extremamente incomodada.
— Não. Não me incomodo. — ele respondeu para ela, e depois olhou para mim. Seu olhar estava triste, e provavelmente o meu também.
— Ok, Jackie Chan. — ela sorriu dando um beijo na bochecha dele.
Eu estava enjoada novamente. Não era mais a ressaca, não era meu organismo lutando contra o álcool ingerido na noite anterior. Era mais que isso. Era mais intenso, e doía.
— Eu não estou me sentindo bem. Com licença. — recolhi minha bandeja e sai dali o quanto antes ignorando quando Jungkook me chamou.
Eu só queria correr pra bem longe daquela situação horrível, e foi exatamente o que fiz.
Quando cheguei em casa naquele dia precisei encarar aquela verdadeira bagunça em minha casa, assim como tive que encarar a verdadeira bagunça que estava os meus pensamentos.
Mamãe, claro, por pouco não me manda para lua com um ponta pé bem no traseiro. Mas tudo ficou bem quando me comprometi a arrumar a casa toda, e fora tudo que eu fiz naquela tarde; arrumei todos os cômodos, limpei tudo que precisava, organizei o que estava fora do lugar.
Me lembrei vagamente de quando Jimin me ajudou com a faxina da casa no final de semana que meus pais viajaram. A lembrança me fez sorrir, mas logo o meu sorriso se desfez assim que me recordei das circunstâncias atuais.
Então no fim daquele dia, após deixar a casa impecável, a única bagunça que eu não conseguir organizar, foi a que estava em minha cabeça.
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