—Ma!
—Oi Zo..
A loira bufa, soprando um fio de cabelo para o lado. Ela estava batendo massa, aquela loirinha era mais violenta do que parece, muito mais. Zoe realmente parecia estar se divertindo enquanto “espancava” e amassava aquela massa de pão.
—E o apelido pegou, eu vejo..
—Desculpe, mas combina. —Pego uma maçã e dou logo uma mordida, olhando em volta pergunto. —Precisa de ajuda?
Zoe suspira e me olha com o canto daqueles olhos azuis. Eu sorrio dando de ombros.
—Quando você vai parar de se oferecer pra fazer o trabalho dos outros?
—Eu quero ajudar, você sabe.
—Tsc, é.. e é muito doce da sua parte, Ma.
Meu rosto cora e eu assisto como Zoe vira a massa batendo contra a mesa com força, levantando um pouco de farinha.
—Mas não. Uma das meninas estava me ajudando até pouco. Só preciso terminar isso, não se preocupe.
—Ah..ahem.. e a Alina?
—Provavelmente na sala de ópera. Lady Dimitrescu pediu que ela e outras duas, tirassem as cortinas das escadarias.—Outra bufada e a massa outra vez atingia a mesa com força, me assustando.—Desculpa..! enfim, v-você devia ir procurá-la, depois disso vou dar uma volta com..
—Cassandra?
Zoe apenas acena meio sem jeito, e eu sorrio de leve.
—Uh-hum… eu e ela.. estamos trabalhando em algumas coisas.. —Noto como minha amiga loirinha olhou pra longe. Eu consigo imaginar que coisas são essas.—..certos sentimentos, sabe?
Aceno que sim e então cruzo meus braços, levando minha maçã a boca.
—Acho que vou até Alina. Só vou te fazer companhia enquanto termino essa deliciosa maçã.
—Ora, obrigada, Senhorita Heisenberg.
Reviro os olhos enquanto ela sorri.
…*...
Três dias.
Esses são os dias que passaram desde a nossa conversa no porão. E eu continuo me lembrando de que foi para o melhor. E escrevendo nas páginas vagas do meu caderno.
“Foi para o melhor”
Mas pra falar a verdade? Eu queria muito desligar minhas preocupações e risco de vida e apenas.. ir, sabe?
Agora quando eu olho pra ela no café da manhã ou jantar, eu só me lembro daquele dia no meu quarto. De como eu perdi uma oportunidade que vim instintivamente procurando há sei lá quanto tempo, por medo. Por puro e exagerado medo.
Mas no fim, foi para o melhor.
Para o meu próprio bem.
—É, foi..
Abro as portas para o salão de ópera e dou de cara com duas empregadas um pouco menores do que eu, uma delas me olha e desvia e a outra fica encarando. Suspiro e abro espaço para que passem, só agora percebendo que carregavam cortinas com elas. Pareciam pesadas.
A que me encarava sorri e a outra continua cabisbaixa.
Suspiro baixo e entro, deixando que as portas se fechem.
Haviam tantas empregadas pelo castelo me encarando como se eu fosse um feixe de luz e outras como se eu tivesse uma cabeça decepada. Particularmente eu preferia as que me viam como um feixe de luz, eu me sentia menos aberração.
Elas pareciam malucas fazendo isso, ambos os “tipos”.
Dimi, por outro lado, me olha diferente. É fixamente ás vezes, sim, mas é de um jeito tão sereno e bem feito que eu muitas vezes não tava nem ai, adorava aquela atenção em mim. E às vezes era de canto, quase sem jeito.
Saudade desses joguinhos.
Ugh, que eu nunca ganhava.
—A-Alina? cê tá ai?
Perguntei enquanto passava pelo piano.
—Aqui em cima, Ma!
Com a confirmação corro para subir, encontrando minha amiga tirando as cortinas menores das janelas perto daquela mesa.
—Oi.. o que tá fazendo?
—Descobrimos.. bom, eu descobri, uma mancha interessante nessas cortinas. —Explicou Alina, enquanto finalmente conseguia tirar a cortina, me aproximo ajudando-a.— Certeza que é sangue, nenhuma daquelas duas quis nem pensar nessa possibilidade então saíram, mas é meu trabalho, Ma.
—Aham, então elas te deixaram sozinha?
—Eu não as culpo, sério. Imagino que tenha sido Lady Daniela… outra vez, eu já vi ela limpando sua boca.. su-suja em uma das cortinas, normalmente quando Lady Dimitrescu estava se aproximando.
Coloco a cortina manchadas -de sangue- na mesa ali perto. Ela sempre tem que ser citada, né? acho que sim, era o castelo dela.
—Decidi tirar todas de qualquer forma.
Volto para ajudá-la e ela suspira parando tudo.
—Você não precisa fazer isso, Ma.
—É, eu sei, mas deixa eu ajudar, vai.. já não basta a Zoe.
—Tsc.. Se as outras meninas verem.. vão voltar a fazer comentários de como nós duas somos próximas! —Alina falou dramaticamente, voltando a tirar a cortina comigo. Sorrio de canto. —ciumentas.. é isso que são, elas tem inveja que não tem uma ruiva como você na vida. Consegue ser tanto selvagem e maluca quanto doce.
Solto uma risada nasal o que fez Alina sorrir. O que deu nelas duas pra me fazerem corar hoje? Caramba.
Ela sabe o que rolou no porão? não, mas tem me visto pra baixo. Não era do meu feitio ficar distante tão fácil, mas com Dimi era tudo tão difícil e diferente que era frustrante.
—Bom, essa era a última.. obrigada, minha doce ruiva.
—Para com isso, Alina, se alguém ouvir ai sim que você e eu estamos ferradas.
—É, é, nem me fale, foi um jogo de cartas e tudo estava contra mim. Mas mantenho o que eu disse, chame eu ou Zoe se uma delas se tornar um problema, ok?
Alina pega as três cortinas uma em cima da outra sobre a mesa e pisca pra mim, logo descendo.
Fico encarando o lado de fora por um tempo. Um dia ensolarado e daquela altura e lado do castelo eu conseguia enxergar a estufa, onde Bela ainda trabalhava, contando para sua mãe no café todas as manhãs.
Foi um corvo voando por perto que me fez dar o fora dali.
Aquele efeito e sentimento nunca ia embora. Ainda mais agora.
Abro a porta do corredor que ia reto para o ateliê quando sinto um aperto no braço, meu corpo para, e gira rapidamente, eu tropeço um ou dois passos até bater contra a parede.
Uma terrível mistura de boa e má nostalgia invade meus sensos e quase me faz vomitar. Era muita coisa acontecendo muito rápido, eu pisquei, com força, e só quando abri os olhos meus arredores fizeram sentido.
Na minha frente, segurando meu braço, estava Dimitrescu. Sua expressão furiosa e meu coração disparou. O que diabos era agora? por que diabos?!
—Que merda foi essa?!
—Não se faça de idiota comigo.. roscata.. —Falou meu apelido entredentes, seus olhos percorreram meu rosto.—Achou mesmo que me evitando eu não acabaria descobrindo?! Nada acontece no meu castelo sem que eu saiba.
Ela aperta meu braço um pouco mais, aproximando nossos corpos e pela primeira vez, eu realmente senti o corpo dela contra o meu. Aquele papo de choque parecia piada agora que eu realmente estava sentindo.. tudo. Era como se eu estivesse pegando fogo em cada canto que meu corpo tocava ou roçava no dela e congelasse aonde não.
Uou..
Eu ofeguei com a aproximação, nem registrando a dor que começava a crescer no meu braço.
—Não.. não faço ideia do que tá falando, Dimi! eu acho que você bebeu vinho demais..
—huh.. acha que eu não ouvi? te dou a confiança de uma amizade com minhas empregadas e você começa um maldito caso, Matilda!?! —Caso!? empregada?! que merda ela tava falando?— ..depois de tudo.. gh!
Meus olhos se arregalam e sua outra mão segura minha garganta, apenas segura.
—O que. Deu. Em.Você?!
—Eu..
Não fazia ideia do que estava acontecendo ou do que ela estava falando. Pra falar eu estava ocupada demais digerindo o fato dela estar encostando em mim depois de tudo aquilo.
Eu queria ela. Eu queria muito aquela mulher. Tipo, pra caramba. Aquilo já era evidente pra mim e até mesmo pra ela.. certo? então por que ela estava falando disso?
—Do que você tá falando, Dimi?
—Não me venha com Dimi, agora! ouvi cada palavra entre você e a metida Alina.
Metida? Alina?
Então foi como se um botão tivesse sido apertado dentro de mim. A realização chegou com tudo, e eu suspirei até que aliviada. Mas ao invés de falar algo eu apenas sorri. Descrente e até feliz.
—Oh? e ainda tem o nervo de sorrir assim pra mim..? —Sua língua pálida passa entre seus dentes e aqueles olhos brilham de um jeito até que perigoso. Meu sorriso só cresce.—Não entendo aonde eu estava com a cabeça quando...
Ela parou, seu aperto no meu braço cessou.. por breves segundos, apenas pra voltar com tudo, junto com um firme na minha garganta.
—Ah.. Dimi..
Seguro seu pulso com minha mão livre. Um beiço irritado e adorável formando nos lábios daquela velha imoral. É, ela estava beeem puta.
—Dimi, você…—Suspiro, tentando não rir enquanto olho nos olhos dela.— ..eu juro...você fica muito.. muito sexy com ciúmes... sabia?
Foi coisa de segundos. Olhos verdes se arregalaram. Não sei dizer se de indignação, realização ou raiva. Mas ela apertou um pouco mais, aproximando seu rosto do meu.
—Você é de fato uma peste, sabia?!
Ela falou, tentando zombar de mim, mas aquele sorriso não iria embora, nem se eu quisesse.
—Dimi.
Digo seu apelido outra vez. Parecia ter um efeito nela. Aperto seu pulso e puxo pra baixo, eu não teria feito grande coisa sozinha, então ela apenas suavizou o aperto para ser o bastante apenas pra me segurar, me olhando, nunca deixando meus olhos. Ela estava me ouvindo, ótimo..
—Você ouviu errado, tá? Alina é.. e sempre vai ser minha amiga, apenas amiga.
Um fragmento de confusão brilhou nos olhos da Lady, ela olhou para o chão e lados e de volta para mim, e eu continuei.
—Ela só estava… sabe? sendo legal e tal, tentando me animar. —Dimi comçava a se perder, parecia pelo menos, seus olhos descendo o foco no meu rosto.. —Huh.. E eu aqui, achando que não te importava mais eu-
Uma risada escapa e antes que eu entendesse, o frio da parede encontrava minhas costas, minha risada cessou e meus olhos grudam nos dela. Não desviei quando ela me ajeitou contra o corpo quente e macio dela, mas eu os fechei quando os lábios dela pressionaram nos meus.
Por todos os deuses, eu juro que quase gemi com o contato. Meu peito expandiu e meu coração acelerou.
Eles eram macios e grandes. Assim como eu esperava que fossem e mais. Muito mais. Eu a beijo de volta, desajeitada e curiosa, e um suspiro tão fraco sai dentre seus lábios que eu quase não percebi.. quase.
Achei que talvez a diferença de tamanho fosse ser desagradável.. ou estranha, mas caramba… a boca dela envolvia a minha tão perfeitamente e Alina tava tão certa.
Eu não precisei me preocupar, foi natural.
Quando eu apertei o pulso dela, desta vez puxando-a para mais perto, sua mão no meu braço encontrou minha cintura, e eu me derreti, virando pudim nos braços dela.
Dela, da Lady Dimitrescu. A mesma mulher que eu devia detestar e odiar. Mas que já não era há meses...
Dimi chupa meu lábio inferior. Uma ofegada deixou meus lábios quando ela se afastou milímetros só pra voltar com ainda mais vontade. Os estalos que nossas bocas faziam, meu corpo se segurando pra não arquear na direção do dela. Minha boca, meus lábios confusos seguindo os movimentos gentis e exigentes dos dela.
Posso não entender muito bem o que estava fazendo, mas eu sei com certeza de que aquele era um beijo feroz. Faminto.
Seu nariz encostou no meu rosto, roçando de leve, e eu quase sorri com a sensação. Era frio. Outro suspiro forte do dela e uma quase ofegada minha. Nesse momento eu devo ter me perdido no beijo, minha cabeça girou, de um jeito bom, eu deixei que acontecesse, lento e intenso, sons altos ecoavam por aquele corredor.
Suspiros..pele sendo timidamente acariciada por cima de tecido. Era tão bom que parecia mentira.
Mas foi minha cintura sendo acariciada e apertada, que me fez voltar a realidade, eu logo estava sendo levantada, a essa altura, a frieza da parede nem estava me incomodando mais. Eu só queria ela e aquela boca habilidosa.
Dimi se afastou por alguns segundos, o ar voltando aos meus pulmões, antes que eu pudesse dizer algo e, provavelmente acabar estragando tudo, Dimi volta a me beijar. Eu, uma geleia molenga e confusa, recebendo tudo o que aquela mulher me entregava.
Mordendo meu lábio inferior e puxando o superior. Mesmo sendo quem ela era, Dimi não fazia nada com força ou violência, era loucura como uma mulher como ela conseguia ser tão.. gentil.
Mas ela era insistente. Buscando e provocando. Me fazendo querer perseguir mais daquilo.Me fazendo querer aprender..
Senti o couro de sua luva no meu queixo, gentilmente puxando-o, nos afastamos outra vez. Olho no olho. Os dela dilatados e os meus quase se fechando. Era muita coisa acontecendo, mas desta vez era bem melhor. O clima quente entre e em volta de nós. Minha respiração descompassada, peito subindo e descendo, meu mundo girando, a única firmeza eram os apertos dela que eu talvez estivesse me viciando.
Com um cuidado desnecessário, Dimi separa meus lábios e (finalmente) desliza sua língua entre eles. Eu suspirei com força, outra vez beirando a um gemido, quando senti seu músculo acariciando cada canto da minha boca. Saboreando,com calma e vontade.
Eu deixei que ela liderasse, não fazendo ideia do que realmente fazer, ela explorou tudo o que podia até.. circular minha língua e me fazer fechar a boca. O beijo pareceu duas vezes mais intenso, mais íntimo. O corpo dela. Nossa, eu sentia seus seios contra os meus, era um milagre eu ainda não ter tido um acesso.
Minha curiosidade pode muitas vezes tirar o melhor de mim e me fazer de idiota, mas quando ela murmurou em aprovação… eu sorri, chupando sua lingua e me perdendo no cheiro dela e pressão que ela agora aplicava contra minha garganta.Ela realmente gostava de me “estrangular”. Não sou contra.
Nos separamos logo depois, sua lingua passando pelo meu lábio inferior.. me provocando, mas antes que eu pudesse fazer qualquer ccoisa de volta sua testa encostava na minha e logo caia sobre meu ombro. Seu nariz encostando na pele, o ar quente saindo entre seus lábios.
Eu não sei quanto tempo tinha passado e não me importava.
Dimi solta minha garganta, olhos dilatados focam nas prováveis marcas ali e ela se ergue, comigo.
—Hm.. doce. exatamente como imaginei.
Falou enquanto me apoiava contra a parede, desta vez na sua altura completa. Dimi passa sua língua entre os lábios desta vez, um sorriso malicioso e olhar.. um olhar sensual.
—Eu? d-doce..? —Pergunto, me sentindo meio fora de órbita.
—Hm..
Dimi se aproximou, olhos nos meus, eu acenei sem pensar direito e ela me beijava no canto da boca, bochecha, mandíbula. Toques de lábios gentis, úmidos e diferentes do que pensei: quentes. A gentileza fazia um pouco de cócegas, mas eu não ia reclamar.
—Nunca tinha feito, hmm?—Dimi murmurou contra minha mandíbula. Eu senti sua respiração soprando pequenos fios de cabelo.
—É.. é tão óbvio? —Perguntei de repente me sentindo exposta e um pouco patética. Eu fiz algo estúpido?
—Talvez.. —Ela volta aos meus lábios e me beija, suave e demorado.Meus deuses.. —Ainda assim.. formidável, roscata..
Ela falou com aquela voz arrastada que ela simplesmente sabe que me deixa fraca. Ainda mais do que eu já estava, literalmente nos braços dela. Pisco lentamente e volto a olhar pra ela, um sorriso irritante e arrogante. Eu quis arrancá-lo dela, com beijos... que porcaria, eu quero tanto.
—Conseguiu me deixar querendo mais..
Dimi agarra o meu queixo, um sorriso malicioso se mostra, misturando-se ao seu olhar luxurioso.
Caramba, que velha imoral!
Uma velha imoral pra uma jovem pevertida. Digo que é justo.
Sem pensar duas vezes, eu avanço nos lábios dela, simplesmente não conseguindo mais esconder aquela.. vontade. Suspiramos juntas e seu corpo se inclinou, me prensando ainda mais contra a parede.
Minhas pernas circulando na cintura dela. Sentindo o tecido do seu vestido, por segundos me peguei imaginando como seria sentir aquilo na pele..
Dimi me ajeita facilmente. Ela era forte, a pressão estava ali, suave, me prendendo contra a parede só com o corpo dela.
Me afasto centímetros, a respiração dela estava tão quente. O hálito com cheiro de tabaco de.. aquilo era realmente cereja? A beijo outra vez, só pra ter certeza.
Sim, com certeza era.
Uma das minhas mãos foi parar no seu braço, perto do ombro…e a outra, a outra foi parar na sua nuca apertando, e puxando ela para mais perto. Eu não queria que acabasse. Eu queria ela mais perto.
Por incrível que pareça eu estava no controle daquele beijo. Era só eu não pensar sobre isso que eu não estragava nada.
Deixo minha mão descer e segurar seu rosto, Dimi ofega ainda acompanhando meu ritmo. Aperto meus olhos e me atrevo.
Puxo o lábio inferior da mulher praticamente em cima de mim e suspiro. Quase uma risada. Ela grunhiu, suas unhas arranhando minha cintura.. a sensação de queimação só me instigou, e eu voltei a beijá-la.
Rápido, profundo.
E foi quando eu senti, não foi de repente, foi devagar quando ela deixou minha cintura, descendo.. e foi gentil quando sua mão encontrou minha coxa, fechando um aperto cuidadoso, mas…
—Hm..!
É óbvio que me alarmou, eu nunca tinha sentido nada do tipo, meu peito acelerou duas vezes mais. Dimi se afastou no segundo seguinte, me olhando por todo canto.
—Machuquei?
—Ah..? Não.
Era vergonhoso admitir aquilo, eu odiava ser.. inexperiente, ou sei lá. Um suspiro condescendente dela me faz deixar aqueles pensamentos, ela se afasta, me colocando no chão. Me apoio na parede, ainda sentindo minhas pernas como gelatina. Quando consigo me manter, olho para cima. Seus lábios estavam separados de leve enquanto olhos verdes me analisavam cuidadosamente.
Ignorei o comportamento de suas pupilas e suspirei. Ela sabia que aquilo tinha me tirado do meu “podio”, não pode dizer que não tentei..
Meu coração estava batendo alto e com força.
—Hmm…
Dimi desvia seu olhar para suas próprias mãos, analisando, como se houvesse alguma sujeirinha nas luvas.
—Vai ficar ai depois de ter-
—Escolha bem suas próximas palavras, roscata.. —Reviro os olhos e apoio meus quadris na mesinha ali perto.
—Ok.. até parece. Mas ei, você me elogiou, hm..e duas vezes! Dá pra acreditar?!
Ela me olha com o canto dos olhos, semicerrando-os. Aperto minhas mãos, não sabendo o que fazer com elas. Meus lábios estavam latejando, eu estava tremendo um pouco e meu corpo quente.
—Huh..
—E não haja como se não estivesse com ciúmes, Dimi.
—Ha! nos seus sonhos, roscata..
Sorrio de leve, Dimi estava olhando em frente, queixo levantado, eu não pude deixar de notar seu batom, borrado por vários lugares.
—Ah, com certeza.. nos meus sonhos.—Sorrio de um jeito ainda mais convencido.—Apenas admita que estava.. como eu mesma disse Dimi, você fica sexy.. e adorável com ciúmes.
A Lady arregala os olhos e me olha, descrente e nas suas bochechas um tom um pouco mais rosado.
Ah..
—Você.. você me chamou de que?!
Meu sorriso cresce, ela dá um e logo dois passos, em pouco tempo eu estaria presa contra aquela mesa.
—Adorável.
—Gh.. Matilda..!
Passo por baixo dos braços dela antes que ela pudesse me “aprisionar”.
—Enfim! eu vou pro meu quarto me preparar para o jantar. Bye-bye, Dimi!
Deixo a mulher para trás enquanto faço meu caminho em frente. Ouço uma bufada dela quando abro a porta para a biblioteca e logo fecho.
E lá dentro eu sorrio, uma onda de felicidade e adrenalina me chutando para frente e me fazendo pular.
—I-isso! ugh! —Respiro fundo.—..merda, aquilo foi..
Sorrio mordendo meu lábio e volto a seguir meu caminho, com pernas bambas e um orgulho no peito.
Passo no meu quarto para jogar água no meu rosto e quase dou um berro com o que encontro.
Meu rosto estava quase que completamente coberto pelo vermelho do batom dela.
Minha boca,meu deus..
Meu estômago congelou, e eu me aproximei da pia.. eu nunca achei que me veria nesse estado. É vergonhoso ao mesmo tempo que excitante.
Viro meu rosto e vejo minha bochecha e mandíbula, o formato quase perfeito da boca dela em mim, me fez suspirar. Aproximo meus dedos, passando em volta delicadamente. O cheiro era doce.
Era como se… eu ainda conseguisse sentir os lábios dela nos meus, o jeito que ela puxou e beijou. Aquele suspiro contra minha boca, nossa.. que doidera!
Minha garganta se move quando engulo saliva.
As mãos no meu corpo, na minha cintura, na minha garganta...
Com um suspiro longo dou uma última olhada no “trabalho” dela e começo a lavar.
….
—Ugh!
Uma tarefa… difícil. O batom não queria sair!
Quando eu finalmente terminei, estavam batendo na minha porta do quarto. Saindo do banheiro, troco rapidamente de roupa, um moletom com touca que escondia até que bem aquelas marcas avermelhadas no meu pescoço.
E outra vez, meu rosto esquentava.
Não bastava ela ter marcado meu rosto todo, tinha que marcar meu pescoço. E com uma marca que não some com água. Mas do que tô falando, eu adoro!
Mais batidas.
—Tô indo.
Abro a porta e encontro Zoe, a loira sorri pra mim, e eu aceno, ajeitando meus cabelos. Juntas chegamos na sala de jantar. A voz de Bela, como de costume, predominava.
Outra vez falando sobre a estufa, Daniela e Cassandra conversavam em um volume baixo e quando eu me sento, o mais quieta possível, um suspiro.
—Ugh.. mãe, você ouviu o que eu disse?
A voz de Bela me fez levantar o rosto e analisar cada uma. Cassandra olhava para a porta da cozinha, Daniela devorava o que estava em seu prato sem dó nem piedade e Bela parecia um pouco entediada.
—Oh, sim… pode repetir a última parte, meu amor?
Lady Dimitrescu pediu, e eu sorri de canto. Me perguntando o que será que a deixou tão distraída. Eu não quero supor nada.. mas…
—Eu disse que vou precisar descer até a vila em breve.. ugh, aquelas sementes que pedimos para o duque não foram o bastante.
—Descer a vila?—Paro de mover meu garfo, o tom da voz da Lady ficou sério. —Bela, você sabe que iss-
—Posso ir disfarçada, escondo minha testa co-com o cabelo, e vai tudo ficar bem.
—Huh, vai nessa.
Murmurou Cassandra.
—Cassandra. —Dimi avisou de forma severa, levanto meu rosto e olho para a Lady, olhos verdes focados na sua mais velha.
Afinal qual era o problema de ir até a vila?
—E, Bela o que eu falei sobre me interromper?
—Desculpa, Mãe, mas.. Luiza pode ir comigo!
—Bela, Luiza está extremamente ocupada com os afazeres do castelo. —Dimi solta um suspiro.—Eu entendo que reerguer a estufa é… importante pra você, mas não vale o risco.
Acredito que aquela tenha sido sua palavra final, pois com sua graça de sempre ela pegava sua taça e calmamente bebia. Caso encerrado. Mas... Bela parecia ter outros planos.
—É, se a Donna não entender isso, ela não te merece, irmã! —Daniela finalmente falou, mas não sei se foi a melhor coisa a se dizer.
—Ugh! Daniela, ninguém pediu sua opinião. Como sempre.
Franzi o cenho enquanto Daniela colocava a língua pra fora na direção de Bela.
—Eu posso ir com ela. —Falei enquanto me virava para Dimi que abria os olhos e abaixava sua taça, claramente surpresa.
—Aha! você? —Cassandra falou. —Se é assim, Bela pode ir sozinha, que não vai fazer diferença.
—Matilda. —Dimi larga sua taça, seus olhos percorrem meu pescoço por meros segundos até voltarem aos meus.—..Você compreende que a razão pela qual Bela não poder ir é o potencial perigo, certo?
—É, queremos alguém que seja capaz de protegê-la e não se ferrar junto.
Outra vez ignoro Cassandra. O som de uma porta ecoou na sala de jantar e eu começo a falar.
—Mas.. que perigo pode haver na vila? pra vocês ainda por cima.
—Hm.. —Olho para Daniela, a ruiva terminou de mastigar e engolir, limpando o canto dos seus lábios.—Você não vai muito pra lá, né.
—Matilda nunca foi à vila, Daniela. —Explicou Dimi.
—Faz sentido. O pessoal de lá não gosta muito da gente do castelo. Sabe, existem várias lendas a nosso respeito, muitas delas verdade.
—Exato. Minha filha não vai descer até aquele pedaço de terra, cheio por ignorantes. Eles podem ser violentos. Como eu já disse, não vale o risco!
—Mas se eu for junto..eles ainda iriam-
—E por que você tá tão investida nesse assunto? —Finalmente olho para Cassandra. Zoe passava por ela, enchendo sua taça.
—Eu só.. sei lá, quero ajudar.
E em parte era isso. Mas em outra eu estava curiosa para descer a vila, admito. Talvez eu só estivesse querendo um pouco de aventura. Mas poxa, ajudar Bela não parece ser um problema.
—Bom, mantenha essa ajuda pra si mesma.
Aperto meus lábios. Cassandra realmente estava colocando todo aquele tal ciúme na mesa. Não literalmente, mas é a única razão que encontro pra ela de repente me detestar tanto. A morena bufa e abaixa o olhar, quando Zoe se afasta dela, aproximando-se da Lady e servindo sua taça.
—M’Lady, se me permite..
Zoe se afasta e encara Dimi. Olho para as duas.
—Vá em frente, Zoe.
—Em meio mês Luiza vai descer a vila, mas estamos com aqueles problemas. —Dimi acenou, seus olhos encontram os meus e logo meu pescoço. —E também precisamos fazer a troca de várias cortinas, cobertores, lençóis e toalhas.
—Hm.. deixe ver se eu entendo. Está pensando em usar a oportunidade para descer até a vila?
—Exato, M’Lady, não seria bem melhor que estas coisas fossem o quanto antes substituídas?
Dimi sorri e aproxima a taça de seus lábios. Encaro o ato como se fosse uma espécie de hipnose e só desvio quando ela abaixa a taça, olhos na Zoe.
—Vejo que puxou a audácia de sua tia... muito bem, Zoe, comece os preparativos. Você, Luiza e Bela vão descer até a vila.
Suspiro derrotada. Não pode dizer que eu não tentei. Cravo meu garfo em uma batata e levo aos lábios.
—Ah, e Matilda irá junto.
Sorrio e levanto meu rosto para ela, o canto dos seus olhos se enrugam levemente quando ela sorri pra mim, descendo seu olhar outra vez pro meu pescoço.
Volto a comer, sabendo que Dimi estava me olhando.
—Aff..se isso der errado.
—Cala a boca, Cassandra.
…*...
De volta no meu quarto, encontro uma empregada saindo,ela acenou suavemente pra mim e continuou pelo corredor. Imaginei que fosse a responsável pelas lareiras.
No corredor, caminhando calma e elegantemente, vejo Dimi. Sua cabeça virada para o lado, escaneando o lado de fora pelas janelas. Cruzo os braços e assisto ela passar por mim e parar, seus olhos analisam minha forma. Ela estala a língua e sorri.
—Tenha uma boa noite, roscata..
—Obrigada.. —O som da porta sinalizou que a empregada havia saido.—..Dimi.
—Hmm..
Dimi se abaixa. A estatura dela nunca ia deixar de ser, você sabe… uau. Uma mão enluvada se aproxima, o couro encosta no início na minha garganta, seu dedo médio sobe, deixando uma trilha de arrepios na minha pele até parar no meu queixo e levantar meu rosto apenas o bastante.
Aqueles malditos olhos me analisando pela centésima vez só naquela noite e aquele sorriso arrogante.. desaforada!
—Tente dormir.. se bem me lembro.. terá um passeio até a vila amanhã de manhã.
Ah, sim. Isso.
Eu achei que ela fosse me beijar de novo, e caramba como eu queria que fosse isso,mas ela apenas me encarou. Estudou cada canto do meu rosto e então.. suspirou derrotada e se afastou, de repente me deixando com cara de idiota no corredor.
Reviro os olhos e entro no meu quarto, depois de fechar a porta me jogo na cama. Ok, essa ela ganhou. E as outras vezes hoje.
Por enquanto..
…
No dia seguinte, me acordo com um zumbido e alguém em cima de mim. Eu não me mexi, talvez por preguiça ou completo choque, mas a pessoa acima de mim me sacudiu.
—Acorda, bela adormecida!
Daniela. Ugh, ainda bem. Nunca se sabe o dia que uma urubu vai estar em cima de você. É cada trauma, um desses com certeza acabaria comigo. Me afasto do colchão, me empurrando.
—Oho.. Matilda, você é fortinha!
—Qual é, você nem é tão pesada, sai de cima de mim, Daniela.
—Huh!
Não a vi totalmente, mas tenho certeza que ela estava fazendo bico, quando Daniela finalmente saiu, eu suspiro aliviada e me sento na cama, coçando meus olhos.
—Que horas são?
—Seis, sua molenga, vamos!
—Da manhã? —Me viro na cama bruscamente. Daniela estava de pé ao lado.
—É óbvio! Vamos logo, são quase sete, Bela está te esperando pro café!
—E por que você tá aqui.
—Bela me fez acordar mais cedo. E em parte é culpa sua.
—Ah, isso explica o ótimo tratamento.
Suspiro me levantando da cama. Abro meu armário e pego uma jeans gasta azul e uma blusa de manga comprida vermelha, olho para o lado de fora, não parecia estar frio, mas ainda sim pego um casaco.
Daniela fica com aqueles olhos dourados cuidando cada movimento meu, era meio irritante, mas decidi não falar nada até porque ela já tá um pouco “puta” comigo. Não preciso aumentar esse ódio.
—Eu vou tomar banho, por favor não esteja aqui quando eu sair.
—Owwn, o que foi? é tímida, é? não se preocupe! —Daniela sorri,escondendo suas mãos nas costas.—Não há nada aí para se ter vergonha.
Daniela estava tão segura de si. Bufo enquanto entro no banheiro.
—Fora!
—Ok..ok!
…
Na sala de jantar encontro Bela, a loira estava perto da janela, nenhum prato no seu lugar de sempre, mas havia um no meu então me sento.
—Bom dia.
—Hm..
Me respondeu enquanto praticamente pulava no lugar. Sorrio com as atitudes dela. Bela realmente estava animada com as tais sementes, eu ainda não entendo o motivo,mas realmente parece ser importante.
Bebo um generoso gole de café. Ontem a noite a presença da urubu só me enlouqueceu uma vez, o que é bom, eu consegui dormir depois de recitar aquela conhecida frase da Dimi. Mas o sono ainda estava comigo, eu estava animada, mas evidentemente cansada.
Suspiro antes de falar.
—Por que é tão importante? —Bela continuou olhando pela janela.—Por que não pode esperar que o Duque traga novas?
—Levaria ao menos um mês e meio. Pra ele vir, eu as encomendar e.. ugh.. eu só quero fazer algo bacana.
—Hm..
Franzi o cenho. Eu ainda não entendi, mas eu não precisava.
—Termina seu café logo, mamãe ainda quer falar com você antes de sairmos.
Mordo meu bacon enquanto penso em Dimi e no que fizemos. Por algum motivo o medo de que saibam de repente apareceu. Parece que todo mundo em volta está me julgando, quando na verdade eu sei que ninguém sabe.
..
—Entre..
Falou a voz dela, me fazendo abrir a porta. A encontrei frente a sua penteadeira, ainda usava seu robe vermelho. Mãos ausentes de luvas arrumavam seus cabelos, daquele seu jeito retrô e elegante.
Ainda com os olhos na sua figura, me aproximo da poltrona e vejo ela me olhar pelo espelho.
—Nem preciso dizer que espero o mínimo do seu comportamento. —Seus olhos voltam a ela mesma no espelho, prendendo o cabelo com um grampo. Ela fazia parecer tão fácil.
—Hm.. bom dia pra você também, cadê aquela Lady que me xingava cada vez que eu falava errado? —Me apoio na poltrona, merda, até aquilo tinha o cheiro dela!
—Huh, sim, sim.. bom dia.—Pisco enquanto ela se vira no banco.—Você me ouviu? Está acompanhando minha filha à vila, Matilda. Isso não é nenhuma brincadeira.
Aperto os lábios e mordo minha própria bochecha.
—Ouvi. E vou me comportar, não se preocupa, eu e Zoe cuidamos dela. Eu juro.
Alcina balança a cabeça e se vira de volta para si. Ela…estava realmente tensa. Eu acho que ontem a noite subestimei a preocupação dela. Me aproximo alguns passos.
—Os moradores daquela vila.. se eles verem a testa dela.. gh! Que gentinha!
Sorrio e paro perto de sua cama. O jeito que ela fala dos moradores da vila, até eu acredito.
—O que quero é… apenas tome cuidado por lá.
—É claro que você não confia nos moradores da vila.Ok, Dimi.. anotado.
Ela me olhou e voltou ao seu cabelo, ela ainda parecia apreensiva, preocupada. E foi quando, olhando para sua cama, uma estúpida ideia brotou. Uma que eu tenho certeza que vou me arrepender depois, ou até mesmo durante.
Mordo meu lábio e me descalço, percebo a atenção da Lady sobre mim, mas tento ignorar enquanto com certa dificuldade subo em sua cama. Era alta, falô? bem acima da minha cintura. Ofego e me ajeito. Era tão confortável. Que inveja.
—É melhor você não sujar meus lençóis recém trocados, Matilda..!
Reviro meus olhos e me levanto, até conseguir ficar completamente de pé. Era alto. Olho para a mulher frente a penteadeira e estendo minha mão. Ela me levantou uma perfeita sobrancelha e quando viu que eu não desistiria se levantou, tecido do robe provocando uma visão de suas pernas, eu desvio e encontro olhos verdes.
Dimi estava na minha frente, estávamos quase da mesma altura e só ali eu percebo que ela havia pego minha mão. Uma onda de timidez em mim e sorriso provocativo nela.
Ela estava tentando arrancar uma reação de mim, uma que fosse fazer ela ganhar, mas..
Puxo sua mão, pra frente e acima, de certa forma aproximando ela de mim. Abaixo meu olhar, acompanhando minha outra mão, que desciam pela curva da sua cintura e descansavam nos seus largos, meu coração disparou, eu acaricio com cuidado e deslumbre.
Olhos de volta nos dela, uma surpresa mal escondida, foi um leve puxão que fez ela suspirar e encostar seus lábios nos meus.E aquele incêndio elétrico começar dentro de mim. Os lábios dela, sem o batom, pareciam ainda mais macios, mas talvez fosse coisa da minha cabeça delirada.
Foi um beijo tão suave, eu praticamente só encostei nos lábios dela.
Ainda segurando sua mão, muito maior que a minha, eu a puxo, seu corpo encosta no meu e foi a vez dela.
Dimi segura minha garganta fazendo-me pender a cabeça para a direita, o que eu fiz sem questionar, aprofundando o beijo.
Ofego e solto sua mão partindo, de um jeito quase que desesperado para seus cabelos. Estavam frios, foi a primeira coisa que eu notei antes de agarrá-los, com força. Sua mão agora livre da minha segura minha cintura e quadril, me equilibrando de uma forma que eu de primeira não notei.
—Hmm…
Puxo seus cabelos com força quando ela me beija com uma certa ferocidade, e o que só pode ser descrito como um grunhido deixou seus lábios. Sinto o penteado se desmanchar e um ou dois grampos contra minha mão.Minhas unhas praticamente cravando na sua nuca.
Eu aperto seu quadril uma outra vez, sentido a pele por baixo do robe e camisola, meus olhos tremem quando eu praticamente reviro eles fechados.
Dimi avança um pouco mais, inclinando seu corpo, e eu finalmente separo os lábios deixando que ela fizesse o que sabia de melhor. Era viciante. Um segundo aperto no quadril dela, fez ela murmurar meu nome como um aviso. Isso me fez sorrir e ela se afastar, com um suspiro satisfeito.
—Eu te repreenderia por ter arruinado meu penteado se não tivesse sido tão bom…
Aquilo não podia ter me deixado mais convencida. Eu sorri pra ela e Dimi me revirou os olhos, se afastando, sua mão me deixa, acariciando meu meu corpo e a na minha garganta desce até meu peito e me cutuca.
—Vá, antes que Bela enlouqueça.
—Falô.
Ainda com um sorriso convencido, desço e calço minhas botas. Vejo Dimi praticamente rebolar até sua penteadeira e se sentar, e eu olhando. Dimi analisou seus cabelos e me enviou um olhar fervente. Dei de ombros e me levantava.
—Tenha um bom dia consertando esses cabelos, Dimi!
Saio antes de receber uma resposta, no corredor encontro Bela. Ela estava bufando e um zumbido baixo circulava-a.
—Bela?
—Agh, finalmente! mamãe já terminou, certo?! Vamos logo!
—Ok, ok.. ah, espera aí.
Entro no meu quarto e fuço no meu armário, lá do fundo encontrei uma touca preta, Bela estava na minha porta, irritada. Joguei a touca na direção dela.
—Pra sua tatuagem. —Aponto pra minha testa.—Vai esconder, menos coisa pra se preocupar, né?
Bela pareceu meio cética enquanto colocava a touca, ajeitando-a. Noto que ela estava usando roupas ligeiramente mais simples do que costumava. Provavelmente pra não chamar atenção.
—Hm.. obrigada.. —Bela tira um fio de cabelo da frente de seu rosto e se vira.—Vamos.
…
O caminho pra vila era calmo e animado. Pra mim pelo menos, que fiquei revivendo aquele momento no quarto da Dimi.
É só que é uma doidera, sabe? A adrenalina no meu sangue quando eu tomei coragem o bastante pra “liderar” isso se podemos chamar aquilo de liderar.
Levanto minha cabeça aos céus, as estranhas árvores entre a estrada para o castelo, quase se curvavam, cobrindo o céu, deixando o caminho levemente escuro. Pássaros cantavam acima delas. Estava um dia bom, um sol leve no céu e uma brisa um pouco fria.
Zoe liderava o caminho com Luiza, e Bela estava comigo atrás. Eu conseguia ver que ela estava louca pra sair voando e chegar o quanto antes.
A loira bufou e ajeitou a bolsa que trouxe.
—Então.. por que restaurar a estufa.
—Nem tente conversinha fiada comigo. —Rendo minhas mãos.—Ugh.. e por que você quer saber?
—Ahn.. sei lá, é curioso.
—Huh, sei.
Continuamos a descer enquanto eu olhava para Bela, até começar a ouvir vozes, várias delas e de repente estávamos na vila. Homens, mulheres e crianças andavam pra lá e pra cá, circulando uma estátua enorme de uma moça com um escudo e uma espada.
Uma caminhonete entregava suprimentos para uma vendinha. Frutas e vegetais que pareciam frescos. Ouço animais de fazenda em algum lugar, mas era difícil dizer onde, diante de tanto barulho.
—A venda Lupu é por aqui, vamos.
Luiza instruiu, deixo que Bela vá na frente e fico logo atrás. Difícil era não notar os olhares que Luiza e Zoe recebiam, assim como eu e Bela. Eram olhares curiosos, mas nenhuma das duas estava com os uniformes,o que fazia com que eu e Bela nos misturassemos, a gente podia se passar como empregadas qualquer coisa.
Algumas pessoas cumprimentam Luiza que acenava ou cumprimentava de volta.
Viramos em uma rua pequena e um casal me olhou por tempo demais. Eu ignorei e segui olhando em frente. Talvez fosse o cabelo. Uma das filhas era ruiva, né? Nada a ver, eu não tenho a tal tatuagem, tá tudo bem, Matilda.
Em volta de nós haviam casas, bem perto uma da outra, pequenas, mas pareciam confortáveis eu via cortinas feitas a mão nas janelas. E muito amadas.
Saímos da rua em outra parte aberta da vila,eu enxerguei a fábrica do pai e sorri, como será que ele estava. A essas horas ainda dormindo, ou nem dormir tinha.
Eu estava tão distraída com as casas e pessoas que nem percebi quando paramos até o som de um sino me fazer virar o rosto.Na minha frente uma construção de dois andares, com duas janelas grandes na frente e um letreiro escrito “Lupu’s”
Lupu.
Eu reconheci o nome da conversa que tive com Alina e Zoe naquela noite.
Dou de ombros e acompanho as três, adentrando na loja.
Era grande e tinha cheiro de lavanda e coisas antigas. Zoe começa a olhar alguns tecidos perto da entrada enquanto Bela e Luiza se aproximam do balcão onde uma garota de cabelos castanhos escrevia em um bloco.
—Carla.
—Hm? oh-Luiza! quanto tempo, huh? —Fico pela loja, ignorando o olhar da garota sobre mim.—E trouxe a gangue toda..!
—Carla, quantas vezes eu tenho que falar pra respeitar os outros, menina!
Uma outra voz se juntou à conversa, não vi quem era pois estava investida em globos de neve. Havia um com a mesma estátua da moça no centro da vila.
—Luiza, como é bom vê-la.. veio buscar os tecidos, eu imagino.
—Sim, Daciana. —Daciana, nome bacana, qual será o significado eu me pergunto.—Imagino que esteja tudo de acordo com o que Lady Dimitrescu pediu?
—S-sim, Luiza, está. Tive certeza de adicionar cada pequeno detalhe.
Então ela era tipo uma costureira. Devia ser um saco trabalhar criando algo pra Dimi. Penso enquanto me afasto da prateleira e me aproximo das duas.
—Ótimo, vamos levar hoje. —Luiza se virou para mim, e eu já me preparei.—Ei, vá e ajude Daci aqui com as sacolas,sim?
Olho para a empregada e ela me levanta uma sobrancelha.
—Ora, não foi você quem me disse que era forte, vamos!
Virei burro de carga, maravilha. Maldito dia que fui dizer que “sou mais forte do que pareço, bla-bla” Mas até que não é tão ruim, dando uma olhada na moça diria que ela tem uns quarenta e tantos, ajudá-la não seria tão ruim.
—ok..!
—Por aqui.
Disse a moça, passo pelo balcão sentido olhos em mim e ouvindo a voz de Bela.
—Eu tenho uma lista de sementes,vocês as tem?
—Hm.. sim, temos.
Nos fundos da loja haviam mais três grandes janelas,tecidos de vários tipos espalhados e utensílios de costura. O cheiro ali era gostoso de incenso talvez e chá de amora? Confirmo quando vejo uma mesinha com um bule e uma solitária xícara, saindo vapor.
—Aqui estão.
Mãos meio envelhecidas me apontam quatro sacolas grandes. Dentro delas eu vi cortinas, lençóis e toalhas bordadas com um “D” em dourado. Então é com ela que Dimi pede esses tecidos personalizados. Os bordados e detalhes foram feitos com tanto cuidado.
—Uau.. elas são bonitas.—Falei pegando três das sacolas,estava para pegar a quarta quando ela falou.
—Oh, obrigada querida.. vamos eu lhe ajudo.
Vejo-a pegar a última. Eu finalmente me erguia e encontrava os olhos da mulher, Daciana. Castanhos, extremamente parecidos com os meus.
Quando ela me viu, os ditos olhos se arregalaram levemente e seus lábios torcem de uma forma sutil. E foi assim que me encontrei em um desconfortável silêncio com aquela mulher, que me encarava em uma mistura de curiosidade, choque e tristeza.
Eu estava muito confusa e começando a ficar preocupada.Será que ela realmente achou que eu era uma das filhas?
Ela pisca e seus olhos brilham agora em.. esperança?
—Lupu..!—A voz de Luiza atrás de mim me acordou, um tom de advertência bem óbvio que fez Daciana olha-lá.
—Luiza? oh, per..perdoe-me… —A mulher desvia, parecendo nervosa.—E peço perdão a você também…
—Ah, Matilda.
Me apresento ajeitando as sacolas e por um milésimo aquele olhar voltou aos olhos dela, e acabo de me lembrar… essa mulher perdeu o esposo há pouco tempo, não era? “ela deve estar devastada” é, com certeza. Devia ser por isso, e eu sendo uma.. insensível. Luiza outra vez falava.
—Vamos, Matilda, não queremos deixar a Lady esperando.
—Ah, eu odiaria isso. —Falei ainda virada para Daciana.—Imagine deixar a diva esperando, né?
Falo enquanto reviro os olhos de forma brincalhona e sorrio para Daciana, talvez eu conseguisse fazer ela sorrir, ela parecia tão triste de repente. A mesma então sorri suavemente, me olhando nos olhos. Já era algo.
—Vamos, Matilda!
Suspiro e me viro, sendo seguida pela moça e Luiza. Daciana larga a quarta sacola perto do balcão, vejo Bela pagando algo e Zoe logo estava ao meu lado.
—Senhora Lupu!
—O-oh,Zoe! —Daciana desvia de mim e se aproxima de Zoe, a loira a abraça de um jeito apertado.—Oh, querida.
—Sinto muito..
—Está tudo bem, essas coisas..acontecem.. devemos seguir a vida com mais força do que ontem, sim?
Vejo Zoe sorrir suave e ternamente. Me perguntei qual era a relação entre elas.
—Muito bem meninas,já temos tudo. Vamos partindo, Lupu. Obrigada e tenham um bom dia, Ladies.
Daciana juntou as mãos à frente do corpo.
—Até…e foi bom conhecê-la, Matilda..
Na porta me viro e aceno.
—Igualmente.
Com isso saímos, o sino soando outra vez e os ventos da vila encontrando meus cabelos.
—Matilda, deixe que eu te ajude com uma dessas.
—Tá tudo bem, não é tão pesado, leva essa.
Falei me referindo a que ela já segurava. Pra falar a verdade, a que mais pesava era a das cortinas e talvez os lençóis.
Ainda assim seguimos o caminho de volta para o castelo assim como antes, desta vez com uma Bela muito mais relaxada.
Eu e ela continuamos atrás, notei ela fuçando na bolsa com um sorriso.
—Comprou as sementes?
—..sim. —Ela bufou e fechou a bolsa.—Obrigada por ajudar a convencer.
—Hm.. não é exatamente a mim que você devia agradecer, sabe? —Falei ajeitando as sacolas e acenando com a cabeça na direção de Zoe.
—É.. obrigada, Zoe.
—Não há de que, Lady Bela.
Bela aperta os lábios, focada no caminho.
—Mas você tentou antes, então valeu, Matilda.
Dou de ombros.
—E então? é pra.. ela?
—Donna? sim. —Huh, o que ela pretendia? —Donna.. ela gosta dessas coisas, plantas e botânica, é extremamente talentosa criando marionetes..tsc, eu só queria impressionar ela, sei lá.
—Então você reergueu uma estufa inteira,praticamente sozinha por ela? eu acho que ela vai curtir.
—É.. ela vai curtir..
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