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História Freedom - Eu disse que seria minha. - História escrita por Viihproject0 - Spirit Fanfics e Histórias
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História Freedom - Eu disse que seria minha.


Escrita por: Viihproject0

Notas do Autor


eae, eh eu sei akdfladkf q tempo
n, eu n mrri ou algo doido do tipo, eu só tirei um tempo pra mim e de Free, acabei me afundando em outro projeto o que, me ajudou com Free. Me resetou digamos, o que ajudou.

Enfim! NAO vou abandonar free <3 mas a demora vai continuar até eu conseguir ter o balanço das coisas

mas eu sei q nmg se importa com os pqs, mas sim com o cap, cá esta! boa leitura <3

Capítulo 37 - Eu disse que seria minha.


Fanfic / Fanfiction Freedom - Eu disse que seria minha.

 Comecei a ouvir vozes, carros, passos sobre a terra. Esperei uma picape, com sacos grandes de trigo, passar e atravesso. Mantive minha cabeça baixa e passos apressados, com um constante pensamento na cabeça.

 

 "Não olha pra cima, não olha pro castelo"

 

Mas eu olhei. 

 

Nada mudou nele de um dia pro outro, é claro... mas muita coisa mudou em mim de um dia pro outro. Imaginei o que aconteceria se eu fosse até ele, até ela. O que diriam, as caras de espanto e provavelmente preocupação. 

 

Imaginei também Miranda me esperando na ponte, agarrando minha garganta e falando “menina tola” aqueles malditos olhos me dominando das piores formas possíveis, antes de me levar pro buraco de onde ela veio.

 

Eu realmente devia ter mantido minha cabeça baixa, mas quando tentei me corrigir já era tarde, e eu trombava com uma senhora em um manto preto e com um estranho cajado.

 

Ela era surpreendentemente firme para uma senhora daquela aparência, fui eu quem caiu. 

 

Ela se vira, e eu sinto meu corpo todo arrepiar e tremer.

 

Tinha olhos azuis quase cinzas e um sorriso largo e excitado, arrepiantemente doce. Dentes amarelos e alguns pareciam podres. Dito sorriso só aumentava à medida que ela se aproximava. Uma mão magra e velha foi se estendendo na minha direção e meus instintos acordam, me levanto apressada e dou alguns passos para longe, cambaleando feito idiota.

 

Ela solta uma risada, apoiando a mão de antes no cajado cheio de caveiras. E eu, sem saber o que era tão engraçado, e assustada além de mim, olho em volta. As pessoas pareciam evitar a mulher risonha, olhando de canto e alguns até com nojo, e isso só piorou o que eu sentia.

 

Dou outro passo para trás e ela baixa a cabeça, risada acalmando e seus olhos vão dos meus pés para o meu rosto. Enquanto me olhava, parecia estar vendo algo maravilhoso, seus olhos brilhavam de felicidade, era quase psicótico.

 

Engulo em seco, odiando que tais olhos fossem tão familiares.

 

—Oh, pobre mocinha, está perdida?

 

A voz dela era um pouco aguda e assim como seu sorriso, doce demais. Engulo em seco e balanço minha cabeça rapidamente. Seus olhos parecem brilhar com algo e ela dá um passo para o lado, afundando seu cajado na terra.

 

—Pois parece..—Diz a velha em um tom sardônico. —...tão perdida, vamos, deixe-me guiá-la.

 

Dou outros passos para trás e finalmente encontro minha voz.

 

—Não, não, você nem sabe pra onde eu estou indo. Eu…—Meus olhos correm pela vila, quase como procurando por ajuda. Em vão, claro.—..com licença.


 

Aceno e me viro rápido, me metendo no meio de pessoas e tentando me misturar, rezando para que a ela não me alcance, mas olhando para trás, nem acho que ela tentou, ela apenas ficou lá, me olhando, com aquela mesma cara. Aquele mesmo brilho nos olhos e…


 

Então eu me apresso.


 

Até eu estar praticamente correndo. As pessoas me olhavam, umas incomodadas, e outras preocupadas. Me perguntei quantas reconheceram meu rosto. "ei é aquela garota ruiva que vivia visitando a Lupu".

 

Lupu.. Daciana.. Mãe.

 

Mas eu estava quase lá, só mais algumas ruas, e eu estaria com Daciana. Com minha mãe. Foda-se o que eu diria, era só..

 

Eu virei em uma esquina, havia menos pessoas na rua, diminuindo minha velocidade o bastante para não cair e foi quando senti um cheiro forte, forte e pútrido que quase me fez vomitar com a repentina aparição, e eu -outra vez- trombei com uma pessoa. Esta pessoa era muito mais firme e me derrubou de vez, machucando.

 

Eu grunhi lutando contra o vômito e a dor, tentei me levantar, não sabendo onde estava ou quem me derrubou. Me levantei aos tropeços e me virei, foi quando uma mão fria e úmida agarrou meu braço, eu gritei, mais de desespero do que de dor e finalmente reconheci o cheiro.


 

Moreau


 

O lorde me olhava com aqueles olhos caídos dele enquanto me puxava, praticamente arrastava pela vila que, de repente, estava vazia.

 

—Me solta! Moreau!

 

—Não..mamãe quer você, mamãe terá você! —Ele me puxa, machucando meu braço e eu tento me livrar desesperada e não pensando direito.

 

Merda..! 


 

Olho em volta em desespero, ninguém, nem uma única alma. Tento me livrar dele outra vez, puxando meu corpo para trás repetidas vezes. Sua mão estava molhada, com alguma coisa melequenta que eu não quis saber o que era, mas que facilitou minha escapada, cai outra vez ao chão, mas não tive tempo de gemer de dor e levantei, disparando na direção da floresta. 

 

Eu corri o mais rápido que pude. Meu traseiro doía da queda assim como minhas coxas e mãos, e deus, meus pés. A dor ardia e subia para minha perna, mas eu continuei, abaixando, tentando desviar dos galhos, pulando dentre raízes e pedras. 

 

Ainda assim eu havia cortado meu rosto e por fim tropeçado em uma pedra. Cai de joelhos, sentindo a pele das minhas mãos rasgar e o calor do meu sangue escorrer. Me sentia tonta, e fraca, meu maldito corpo ainda fraco depois daquela perda de sangue. Eu ofeguei tentando me levantar, mas meu coração batia tão rápido e minha cabeça girava. Eu corri demais... Me virei, olhando para todos os cantos da floresta.

 

Parecia dez vezes maior, era como se eu estivesse correndo por horas.

 

Silêncio.

 

Nem um único sinal de vida. 

 

Me levanto com dificuldade, meus olhos escaneiam cada árvore, cada canto. Ofego sentindo meu peito e garganta queimarem. 

 

Com certeza Moreau não teria me alcançado, não é? Eu corri tanto.

 

Olho para trás e para os lados, girando procurando por qualquer sinal de perigo. Nada.

 

Eu devia estar mais calma, aliviada, mas meu coração só acelerava, cada vez mais, eu só ouvia o bater insistente, alto e doloroso do meu coração contra meu peito.

 

Forte.

 

Levo minha mão ao peito e ofego, o medo tomando conta e folhas pareciam sombras, silhuetas em meio às árvores altas. 

 

Fecho os olhos com força todo o ar em mim parecia demais e não o bastante, e então eu abro meus olhos e era Moreau quem agarrava meu braço.

 

Suas unhas cravando bem em cima da cicatriz que Alcina deixou em mim.

 

Levou alguns segundos para eu assimilar a situação e quando isso aconteceu, eu gritei. Gritei de dor, de medo, de raiva e de nojo. Gritei tão alto que ecoou pela floresta e entre as árvores.

 

—Me solta!

 

A cena na vila se repetia, e eu puxava meu braço com cada vez mais força, mas isso só me machucava, fazendo suas unhas cravarem mais fundo. Eu estava desesperada em um nivel que nem eu sabia que era capaz.

 

—Para!! —Ele praticamente chora me puxando.—Matilda tem que aceitar, vamos!

 

Moreau dá um puxão e eu tropeço, fraca aos seus puxões, exausta. Ele me arrasta pela floresta, eu caia e levantava, minhas pernas e braços raspando e cortando por tudo. Minutos se passaram até que estivéssemos na frente dos seus portões, e eu voltei a espernear, mas já era tarde e ele já havia me jogado, tropeço alguns passos e me viro para ele. Eu sentia a ardencia dos vários machucados pelo meu corpo e o a umidade do sangue minando. Moreau não se movia e apenas olhava para algo atrás de mim e então abaixava a cabeça...

 

Quando me viro..

 

—Você…

 

A velha de antes. Ela sorri daquele mesmo jeito antes de uma nuvem de corvos cobri-la grasnadas altas e os vários bater de asas me fez cobrir os ouvidos e andar para trás até bater contra Moreau e ele segurar meu ombro.

 

E em um piscar de olhos Miranda aparecia na minha frente, agarrando meu pescoço e me olhando. 

 

—Hm..—Miranda estava em sua mascara e seu sorriso psicopata a vista.—...tola Alcina, quando ela vai aprender a não se apegar… —Miranda olha para meu pescoço, "acariciando" minha cicatriz enquanto analisava.—Não é mesmo, Matilda?

 

Ela pergunta em um tom doce.. doce e arrotante.Nada respondo, mas não deixo seus olhos. Ela apenas sorri, antes de tudo ficar preto.



 

/\

 

Karl larga o lápis e se afasta da mesa, passa suas mãos violentamente pelo rosto e bufa.

 

Estava cansado e honestamente, não sabia o que fazer.

 

Desde que havia visto aquela cicatriz no pescoço da sua filha… não parava de pensar em cenas onde a perdia e nada fazia. Não estava lá quando aconteceu, e agora não sabe o que fazer para..

 

Ele bufa e se levanta, indo até seu charuto e o ascendendo.

 

Por ele, Karl iria agora mesmo até o buraco de Miranda e acabaria com ela. Mas ele não é estupido, sabe que não teria chance alguma.


 

“Alcina pode ajudar”

 

Pode? pode como? ele realmente não acredita nisso. Por todos aqueles anos, décadas..! Alcina nunca questionou Miranda, nunca nem se colocou contra suas escolhas, por que de repente ela mudaria?

 

Mas ela salvou Matilda.

 

Ele odeia pensar na cena que presenciou quando entrou no quarto. Alcina entre beijos intensos com sua filha. Aquela mesma Alcina. Aquela maldita Alcina. Ela odeia pensar no que viu nos olhos de Alcina quando ela olhava para Matilda. Ele odiava ver genuinidade na sua adoração.

 

O homem sopra fumaça e balança a cabeça. Dividido, estava dividido. Mas de nada adiantava tais questões, ele tinha que agir. Fazer alguma coisa, e ficar parado esperando por respostas, não iria fazer bem a ninguém. Ele tinha que agir, salvar Matilda mesmo que isso significasse afasta-la...

 

Karl tira de seu bolso o urso e sorri, melancolico, se lembrando de quando a entregou, da fascinação naquele olhos castanhos e do sorriso que derrubaria todas as barreiras de um velho mal-humorado como ele. O lorde vai até sua mesa de trabalho e se senta, no canto estava o pendande de Matilda, já pronto, mas assim como o urso, faltando oportunidades.

 

Ele acaricia a barriga do urso como costumava fazer antigamente. Pequena Matilda dizia que o urso tinha dor de barriga e ele sempre se perguntava se valia a pena largar seu trabalho por causa daquilo, olhava do seu projeto para a menina ruiva de seis anos ao seu lado, um dentinho faltando, e a resposta era sempre sim.

 

"Ele vai ficar bem, precisa de amor e cuidados, e um tempo, logo vai se sentir melhor, né?” e então, ele cutucava a barriga de Matilda gentilmente, ela sorria com aqueles dentinhos faltando e acena, abraçando ele pelo pescoço.

 

Ele se estica para trás e deixa o urso na frente do seu papel e lápis, a cabeça cai pro lado e ele ajeita com cuidado, voltando ao seu trabalho. Ele tinha que conseguir.

 

Era por ela.

 

Conseguiria algo hoje e faria um jantar com Matilda. Tentaria conversar… colocar as coisas no lugar.


 


 

Alcina nunca achou que a ausência de alguém na sua vida fosse, outra vez, a afetar tanto. Achou que a última seria Anastacia e.. apenas, mas com Matilda era muito pior. É claro que era.

 

A mulher se senta na sua poltrona, cruzando suas pernas enquanto bebia seu vinho, balançando seu pé no ar. No sofá, estava o quadro que pintaram juntas. Juntas. Ela não conseguiu deixá-lo naquele quarto, sozinho e sem ninguém para adora-lo. Mas ela admite que era tolo, bobo..

 

Além de ser piegas,era um constante lembrete da menina. Alcina era e sempre seria uma romantica incurável. E quando tinha Matilda no meio, sentia que piorava.

 

E ali estava ela, metade do dia e não conseguiu tirar seus pensamentos de Matilda. A saudade da ruiva e a ansiedade para o que estava por vir..Ela não sabia dizer qual era pior.

 

No escuro do seu quarto onde cortinas pesadas cobriam as janelas quebradas que sua briga com Karl fizeram. Ela suspira, não havia conseguido nem sentir raiva do homem por isso, não teve tempo pra falar a verdade ou oportunidades, haviam outras coisas que a frustraram mais do que vidros quebrados e algumas rachaduras nas paredes. Ela honestamente não podia se importar menos.

 

Batidas na sua porta a tiram da sua bolha e ela suspira um “entre” irritado. Mas sim, ela estava uma pilha de nervos, e só haviam quatro pessoas que ousariam incomodá-la, mas quem ela viu entrar no seu quarto não era nenhuma destas.

 

E então ela franze o cenho, largando sua taça e se virando para suas duas visitantes.

 

Alina e Zoe. 

 

—M’Lady.—As duas fazem curtas reverências e por um tempo, trocam olhares hesitantes, porém… determinados. A curiosidade da Lady só aumentava.—O que.. vai acontecer com Matilda?

 

Alcina suspira e volta a se virar para o fogo. É claro, devia ter visto isso vindo, mas admite que não esperava que as duas fossem ter essa coragem. Talvez devesse se ofender profundamente com a audácia, mas honestamente, estava com um pouco de orgulho das duas.

 

Porém ela precisava lhes dar uma resposta, não precisava, mas desejava. Desejava pois aquelas duas significavam tanto para Matilda, e foram tantos os momentos em que Alcina se encontrou enciumada e enfurecida pela mera existência de uma amizade entre as três, especialmente Alina. Porém, tudo era diferente agora. E ela lhes daria uma resposta, talvez uma não cem por cento verdadeira, mas que valia sim a pena acreditar e tentar tornar verdadeira. Era pelo menos justo lhes dar uma resposta, depois de tudo.


 

—Irá ficar bem. —Alcina olha pelo chão.

 

—Mas.. 

 

—Alina.. 

 

Zoe fala entredentes e Alcina se vira, curiosa com o tom da loira e vê Alina franzindo o cenho para a amiga, ambas não haviam percebido a Lady olhando.

 

—Matilda disse que era tudo muito complicado, e M’Lady.. com todo o respeito, Matilda parecia muito mais assustada. 


 

Com isso a Lady se endireita sem tirar seus olhos dos de Alina. Talvez fosse seu relacionamento com Daniela, mas a jovem estava muito menos assustada na presença dela. Muito diferente, sem dúvidas.


 

Alcina se vira com um suspiro, desejando outro cigarro, outra garrafa. Matilda.. ao seu lado. Perto o bastante para que ela pudesse mandar esse medo pra longe.

 

—Temo que Matilda já lhes deu suas respostas: é complicado. E grande demais para vocês ficarem sabendo. 

 

Alina e Zoe se olham outra vez. Zoe estava pra lá de preocupada e sua tia também não diria nada, dizia que estava fora da jurisdição dela e coisas do tipo, era irritante não saber do destino de sua amiga e ainda mais saber que poderia -era- ruim. Alina suspira com força e Zoe agradece por estar ali, sabe se lá o que Alina teria dito a Lady.

 

Ainda assim, a matriarca estava curiosamente leniente com as duas.

 

—..apenas… entendam isso, as duas. E com sorte, tudo se esclareça com o tempo, em breve, esperamos..


 

A matriarca diz em um tom distante, quase que para si mesma o que outra vez fez as duas empregadas trocarem olhares, entendendo então, que Alcina estava tão afetada quanto elas. E é claro que estava. 

 

Então as duas cedem, sabendo que não tinha mais o que ser dito e/ou feito. 

 

—Sim M’Lady.


 

Elas falam juntas fazendo uma reverência. Alcina olha para elas com o canto dos olhos e acena para a porta. Precisava ficar só, só ela e seus pensamentos, com sorte conseguisse os colocar no lugar, ou pelo menos tirar do caminho do seu raciocínio. 

 

Mas antes.

 

—Vão, e Alina por favor, leve Daniela daqui, sim?

 

—Dani…

 

Do outro lado das portas do quarto da Lady se ouve uma bufada e a inconfundível voz de Daniela gritando "Mamãe!" Alina apenas acena e se vira, indo até a porta com Zoe logo atrás.


 

Alcina assiste as três sumirem no corredor e sua porta se fechar, ela ouve seus corações e conversa até que..

 

Só.

 

No segundo seguinte Alcina franzia o cenho violentamente, seus olhos encontram as chamas desejando que fossem os olhos de Matilda. Que fosse seu calor, e que fosse sua voz falando barbaridades e a irritando da forma mais amável e perfeita, que só aquela ruiva sabia como.

 

E como ela queria apenas se sentir irritada e incomodada pela existência da ruiva, assim como era antes de tudo isso. Era melhor do que não tê-la por perto com certeza.

 

Como era estúpida por amar aquela ruiva, por ter se apaixonado por aqueles olhos e sorriso, por seus charmes e cantadas de quinta. Como odiava que Matilda a desarmasse tão fácil.

 

O que aquela praga fez com ela?

 

Alcina se levanta e praticamente corre até a sacada respirando fundo.

 

Só.

 

Sem empregadas, sem Luiza, sem filhas... Sem Matilda..sem nada. Apenas só.
 


 

Era uma nova manhã na fábrica quando Karl acordou, cabeça caída sobre seus papéis a luz do sol entrando pelas pequenas janelas alto nas paredes e direto nos seus olhos. Ele grunhiu e se esticou bocejando alto. 

 

Coçando os olhos ele coloca seus oculos, se levanta olhando em volta, estava tudo como havia deixado, porém sentiu falta do famigerado cobertor que Matilda costumava colocar nele sempre quando ele cochilava no serviço. 

 

Não pensou muito sobre isso desde que estava mais do que ciente sobre o humor de sua filha e apenas suspirou, um pouco irritado consigo por não ter jantado com a filha na noite passada. Porém deu uma última olhada nos seus vários planos, decidindo não pensar nisso pelo dia e aproveitar o tempo que ganhou com sua filha assim como havia prometido a si na noite passada. 

 

Saiu de sua sala, outra vez bocejando, os sons altos da fábrica mal sendo percebidos por ouvidos já acostumados. Chegando no quarto de Matilda foi quando percebeu sua ausência. De início achou que ela apenas estivesse em outro lugar da fábrica. Vagou por mais de uma hora, nervos a flor da pele e um aperto no peito que o fez parar. Olhou em volta de sua imensa fábrica e correu até a sala de câmeras, retrocedendo algumas horas até..

 

Na entrada, jardim, portões e ponte ele viu Matilda. Caminhava calmamente pela ponte enquanto olhava pela câmera e se virava, entrando na vila.

 

Não poderia listar as coisas que imaginou mesmo que tentasse, eram tantas. Mas apenas rezou para que Miranda não tivesse a abordado. 

 

E resolveu acreditar na opção menos pior. Agarrou seu telefone e girou, digitando os números da megera. 

 

O telefone tocou e tocou. Por alguns minutos que só fizeram o homem perder a cabeça ainda mais, ele olhou em volta esperando ter perdido ela em algum canto do seu escritório mexendo com alguns experimentos, mas não.

 

Nervoso e pronto para correr até o castelo, o homem se afasta, mas no mesmo instante o telefone é atendido.

 

Alooou? 


 

A voz melodiosa da filha mais jovem de Alcina o cumprimenta do outro lado da linha. Karl bufa esperando que aquilo significasse que a vadia só podia estar com sua filha, só podia!


 

—Daniela, passe para sua mãe.


 

—Oh.. e quem fala?

 

O homem revira os olhos se apoiando sobre sua mesa e tentando  se acalmar. 

 

—Você sabe quem é, Daniela! é Heisenberg, passe a Alcina!

 

—Ooh, sim, Papai Heisenberg.. —Ele ouve algumas coisas do outro lado.—Como está Matilda? não devia ter levado-a, agora minha mãe está depressiva, sabia?

 

Ele franze o cenho, o pânico voltando, mas por deus, era Daniela! a mais cabeça de vento das três, certamente haveria um engano e..

 

—Daniela? dê-me o telefone.

 

A voz da Lady ecoa assim como seus passos no quarto, Karl espera, ouvidos bem abertos para a conversa ou qualquer sinal de sua filha.


 

—É o Karl.

 

—Uhum. —Alcina pareceu pegar o telefone.—O que quer?!


 

A mulher pergunta de forma ríspida, pingando veneno. Karl nunca esperaria gentileza no tom da voz da mulher com ele, por isso não se importou e foi logo ao ponto.

 

Onde está minha filha?!

 

Silêncio. Sua esperança só cresceu, “eu sabia” pensou batendo seu pé no chão, precisava da confirmação.

 

—Matilda..?

 

Karl aperta os lábios e bate na mesa.

 

—É claro que Matilda! diabos, quem mais seria, coloque ela na linha, Alcina! Eu sei que ela está aí!

 

—.. ela.. Matilda não está aqui. E eu com certeza saberia se ela estivesse! —O tom da matriarca aumenta um oitavo, preocupada e nervosa, combinando-se com a do outro lorde.—Karl, o que aconteceu com ela!?


 

O homem range os dentes e joga o telefone no receptor. Não levou a palavra da Lady como verdadeira, ele tiraria a verdade daquela vadia a força se precisasse, mas deus, ele encontraria sua filha.


 

Não era todo dia que os moradores viam um dos Lordes na pequena vila, e correndo como louco, ainda mais Lorde Heisenberg. E com tanta frequência nos últimos dois dias.

 

Então vê-lo era deveras espantoso. Carregava seu enorme martelo em apenas uma mão enquanto corria pelas ruas da vila, desviando de moradores que logo quando percebiam quem os passava baixavam a cabeça e gritavam graças, outros murmuravam maldições. Mas Karl pouquíssimo se importava. 

 

Correu por alguns minutos, virando em algumas esquinas, frustrado e com os pensamentos correndo a mil, porém foi quando seu nome completo foi gritado, que ele parou. Congelou na verdade.


 

—Karl Heisenberg!!

 

Espantado e um pouco confuso ele se vira, uma mulher de rosto sério e olhos… olhos que queimavam de terminação o olhavam. Ele teria voltado a correr, ignorando a dona, se um cão quase do tamanho dele não tivesse disparado na sua direção, atacando o braço que segurava o martelo.

 

Pessoas ofegam surpresas "blasfêmia" uma velha grita e a outra mulher a xinga de algo que Karl não pode fazer sentido, ocupado demais lutando contra o cão.

 

—Agh! Solta rapaz! 

 

O cão continuava o impedindo e apertando seus dentes na sua carne, enquanto grunhia. É claro que ele não machucaria o animal, sendo quem era, ele jamais machucaria um cachorro, mas naquele momento ele até teria se não estivesse tão sobrecarregado. Seu martelo vai ao chão com um som alto afundando sobre a terra, e antes que ele pudesse reagir a mulher de antes estava a apenas alguns passos de distância dele.

 

—Karl? Karl Heisenberg?

 

A mulher tinha uma voz ligeiramente agradável quando não estava gritando como louca. Ele a olha, o cão ainda puxando seu braço entre rosnados.

 

—E quem diabos quer saber? Olha, minha senhora é melhor afastar seu cão antes que ele vire poeira!

 

Ele diz tentando soar intimidantes, afinal era só mais uma moradora, mas aqueles olhos, aqueles olhos não deixaram os dele e por tudo que era mais sagrado, a teimosia mascarada de determinação neles o fez lembrar de uma pessoa.

 

A mulher porém manteve-se firme,

 

—Mulher você me ouviu!? eu não tenho tempo!

 

A mulher de cabelos castanhos o olha de cima a baixo e suspira.

 

—Sei pra onde a levaram..!


 

Sua expressão irritada se desmancha na hora e ele a olhou incrédulo e esperançoso.

 

—Minha Matilda, vi eles levarem minha.. filha..!


 

No segundo seguinte Karl tirava seus óculos e se erguia dando passos até a mulher até que o cachorro o morder com verdadeira força.


 


 

A casa daquela… moça, era legal. Simples, de todas as formas aconchegantes possíveis. Tinha cheiro de tecido, chocolate e pinho e ele estava na sua cozinha, sentado em uma das cadeiras de uma mesa de madeira enfeitada por um vaso de flores branco cheio de peônias. Olhava para o fogão onde uma fornalha de biscoitos assava e ele descobria de onde o cheiro de chocolate vinha.

 

A mulher estava na sua frente, mexendo com uma caixa de primeiros socorros para limpar e enfaixar um machucado que seu cão o fez, dito cão estava em um canto o olhando.

 

Ele suspira olhando para seu braço, havia tirado seu sobretudo (que estava destruído na manga esquerda pelos dentes do cão) e puxado a manga da sua blusa, havia sangue, e havia bastante.

 

Não estava preocupado com infecções, sendo um dos lordes, mas demoraria pelo menos um dia para se curar e a moça, muito estóica, insistiu em enfaixá-lo.

 

E ele concordou porque por Deus, ela falou de Matilda e a chamou de sua filha.

 

E foi assim que ele se machucou, ele pensou assistindo a mulher limpar e fechar o grande corte que os dentes do cão o fizeram. A agulha entrava e saia de sua pele agora limpa sem ele se importar com a dor. O cão deve ter protegido sua dona quando ele se aproximou daquele jeito, nem ele mesmo sabe o que teria feito com a moça ainda sem nome.


 

—Como se chama?

 

Ele pergunta casualmente, seu braço estava sob uma toalha de um tom de verde claro bem familiar.Olhos castanhos o olham, o aborrecimento, claro nestes.

 

—Daciana.—Ela responde educadamente.


 

—Bom, Daciana..—Karl morde a bochecha,—vai ter que me dizer, quem diabos pensa que é, mulhe-gah!

 

"Daciana” o acerta em um lugar que realmente doeu e ele a olha um pouco incrédulo. 

 

—Perdão, M’lorde.

 

Ela caçoa e volta ao que fazia, ele fica quieto, esperando que ela termine e solte seu braço antes que ele pudesse continuar. Quando finalmente aconteceu ele inspeciona o trabalho, bem feito, feito com cuidado…

 

Ele suspira e se ajeita na cadeira.

 

—Então?

 

—Oh, não. —Ela apoia uma mão na mesa e a outra balança o indicador.—Eu quem faço as perguntas. O que estava fazendo com minha filha no outro dia?! e por que aquele… fedorento levou ela?!

 

Fedorento? filha..? Karl estava começando a perder outra vez,mas ela era a única pista que ele tinha de Matilda.

 

Sua filha? —Ela levanta uma sobrancelha.—Repito minha pergunta, dona, quem diabos pensa que é?

 

—Mãe de Matilda! a garota que levou a sua fábrica há um dia e na tarde passada vi sendo arrastada por Lorde Moreau na multidão, e céus..! o que vocês estão fazendo com ela!?

 

Vocês?

 

Daciana bate com o punho na mesa, balançando o vaso de peônias e fazendo Karl recuar um pouco. Estupido se achou, era um Lorde, poderia evaporar aquela mulher, mas talvez tivesse sido a agulhada que levou, mas ele.. realmente não queria saber até onde ela iria. 

 

Mas não podia esconder sua confusão..

 

—Deixa ver se eu entendi.. se acha mãe… de Matilda?

 

—Diabos, homem, o que ainda não entendeu?

 

Ele se levanta, pegando seu chapéu e o colocando.

 

—Que Matilda não tem uma mãe. Ela tem um pai, que sou eu, mas eu nunca me casei, mulheres só me trazem dor de cabeça se quer saber.

 

Com isso Daciana arregala os olhos e foi a vez dela de recuar, o cão rosna e Karl o olha irritado, rosnando de volta.

 

—Pai? o que..


 

Karl então analisa a mulher com cuidado. E.. além dos olhos que eram os de Matilda escritos, haviam os lábios e o formato do rosto, sem falar nas orelhas. Ele franze os olhos e suspira, se jogando novamente na cadeira.

 

Talvez as coisas tomassem um rumo diferente agora.

 

—Senta, dona, tem muita coisa pra você ouvir..

 

Ele nunca achou que conversaria com os pais de Matilda, nesse caso mãe, e sempre achou que os questionaria feito doido, e diria, “por que a entregou!? seu idiota!”

 

Mas não.

 

Lá estava ele, contando a história de como Miranda trouxe a pequena Matilda até eles e anunciou as boas novas, de como Ele, a salvou e criou como dele. 

 

Ele nunca foi o melhor em ler pessoas, mas Daciana parecia grata, além do arrependimento, vergonha e amargura, ela o olhava com tanta gratidão que era difícil olhar nos olhos dela por muito tempo. Mas ele contou, contou tudo até o momento de Miranda e então era a vez de Daciana.


 

—Minha Matilda.. —Ela acaricia as mãos uma na outra, seus olhos agora na mesa.—Não sabe como me faz feliz saber que cresceu cercada por amor…

—Bom.. eu tentei..

 

—E conseguiu, ela é amável.. não tem muito do pai..d-do biológico. —Daciana corre para se corrigir, um leve rubor no seu rosto.—.. enfim…

 

—Se arrepende?

 

Ele pergunta de repente, se surpreendendo com sigo mesmo.
 

—.. muito.. desde o momento que entreguei minha bebe a Luiza.. eu me arrependi.. foi um erro que eu jamais poderei corrigir, isso sei.. mas nem por isso vou deixar que.. eles a tirem de mim outra vez.

 

Karl cruza os braços e tornozelos, assistindo à mulher, ela parecia ainda mais determinada agora. O som de algo apitando a tirou de seus profundos pensamentos e ela se levanta indo até o fogão. Ele desvia seu olhar de volta para o cão.

 

—Então.. ela te visitava aqui.

 

—De fato.. sempre querendo me ajudar. Ela se preocupava que eu estivesse exagerando no trabalho.

 

Ela coloca a forma sobre a pia e um silêncio curto se estende, Karl tentou imaginar a filha pela aquela casa, não só atualmente, mas quando um bebê, se Daciana não tivesse entregado-a. Imaginou a ruiva correndo por aquele chão, as risadas altas e sapecas que ela sempre teve. Se perguntou se ela seria a mesma, sendo criada por uma pessoa diferente, por um pai e mãe..

 

Viu Matilda aprendendo a andar na sua fábrica, como o coração dele batia rápido pronto para pega-la se caisse, imaginou isso naquela casa.


 

—...como vai ser?

 

A voz da moça cortou o silêncio de repente, alertando o lorde que lentamente voltava à realidade. Pensativo ele piscou, se voltando à dona.

 

—Vou buscá-la. Encontrar-la e cortar a garganta daquele peixe burro se ele pensar em se menter no meu caminho. Vou buscá-la. Trazer-la de volta.


 

Ele termina, com convicção e raiva, muita raiva. Ele, porém, não vê, mas Daciana acena com a cabeça, tendo esperanças nele. Fé em um homem que acabou de conhecer, mas ele era o pai da filha que ela abandonou. Se existia alguém em quem ela deveria ter fé, era ele. 

 

Ela sorri, suavemente..


 

\/

 

Eu estava grogue quando acordei. E estava tão frio.. 

 

Eu ouvia o distinto som de água perto de mim.. acho que embaixo de mim, por todo canto. 

 

E vozes, ouvia vozes distorcidas. Uma chorosa, uma firme e intensa. Conversaram por um tempo, e eu tentava fazer algum sentido da conversa.


 

"Preciso preparar as coisas, só algumas horas, meu bom rapaz.” essa voz tinha um tom falso e doce, claramente enganando com quem falava.

 

“Claro mamãe!"

 

Mas era claro. Moreau e sua bruxa de mãe. Eu tento me mover e foi quando senti as amarras em volta de mim,eu estava em uma maca, presa dentro de uma das cabanas de Salvatore, só pelo cheiro eu já sabia. 

 

Franzi meu cenho tentando não me afogar no meu próprio vômito e foi quando senti mãos frias na minha testa e a ponta de conhecidas garras contra minha pele, não me machucaram, mas faziam pressão o bastante para me avisar que poderiam, então eu gelei e não ousei me mover.


 

—Em breve, Matilda…—A ponta das garras de ferro roçam no meu rosto, como se acariciassem.—Eu disse que seria minha.


 

Ouvi o terrível grasnar outra vez e o conjunto de asas batendo bem perto de mim e ela sumiu. Silêncio se estendeu e uma brisa soprou entre as madeiras velhas e úmidas. Tentei olhar em volta, mas minha cabeça também estava presa.

 

O desespero só crescia e crescia. O cheiro, os sons horrendos de Salvatore vomitando e o líquido chegando ao balde, os seus choros e aquela tv, naquele programa terrivel.

 

Eu grunhi alto, certamente chamando sua atenção e me movi para os lados, tentando me soltar de todo o jeito. O panico estava começando a tomcar conta de mim por completo. Outra brisa soprou e eu ouvi água batendo contra a madeira do lado de fora, meu corpo se arrepiou e eu me movi violentamente.

 

—Me tira daqui!!

 

Sinto sua presença -cheiro- perto de mim e me encolho.

 

—Oh, Matilda.. —Ele parecia em pânico.Eu quis vomitar e não só pelo seu cheiro.—Não pode, vai se machucar e Miranda vai ficar brava. Não, não… Fique quieta…!

 

Moreau, pra mim sempre pareceu como um cara extremamente bruto e burro. E isso era o que mais me assustava. Ele era facilmente o mais instável dos quatro, mesmo que todos fossem instáveis de alguma forma. Sua ignorância e brutalidade em conjunto não eram um bom sinal, ele poderia me machucar e muito sem nem entender ou sentir culpa e isso me deixava em pânico.

 

—Aqui.. a noite é frio na casa do Sal.

 

Salvatore joga um cobertor que fedia a peixe e queijo sobre mim, e eu tive que lutar para não me mover outra vez e de alguma forma irritá-lo. Eu tremia..

 

—Bom.. bom..mãe tem grandes planos pra Matilda.

 

Ele acaricia minha testa, com o intuito de imitar Miranda, mas cem vezes pior. Quase choro com seu toque, desejando ir pra longe, mas acabou rápido e eu respirei aliviada.


 

Só queria sair dali.

 

Acordar..



 

/\

 

Alcina raramente, e com raramente ela quer dizer NUNCA, descia a vila. Além de ser… grande, e facilmente enxergada, os olhares não eram dos mais agradáveis. Os de medo eram os de menos, raiva muito menos, mas os de nojo e repugnancia, eram os que mais a enervavam.

 

E era os que ela mais recebia. A olhavam como se ela não fossem quem era. Um dos lordes, uma Lady. Uma dama!

 

Caminhava pela vila no seu par de calças cintura alta e uma simples gola alta vermelha, sobre os ombros um longo sobretudo. De tudo o que tinha era o que pensou chamar menos atenção para ela, mas que inútil esforço foi aquele.

 

Ela ignorou todo e qualquer olhar que recebia. 


 

Pessoas que passavam por ela abaixava a cabeça, não ousando irritá-la de alguma forma, os lordes estavam muito ativos ultimamente e isso deixava todos na vila atentos e assustados. Porém, assim como Karl, ela não deu atenção, e continuou seu caminho até a fábrica.

 

Logo quando o estupido Karl desligou o telefone na sua cara ela começou a agir, se vestiu o mais rápido que pôde e deixou o castelo, com estritas instruções a Luiza.

 

 “mantenha todas atentas, não permita que ninguém deixe o castelo, se houver qualquer sinal de perigo, você e as meninas fujam.”

 

Talvez tenha sido um pouco extremo mandá-las fugirem, mas pensando em Miranda.. no que ela faria se decidisse dar outra lição em Alcina… parecia o ato mais sábio a se fazer. 

 

Chegando a ponte ela finalmente acalma os passos, longe da multidão de moradores curiosos elas caminha pela ponte olhando em volta, correu até os portões e usou aquele interfone que Karl havia a ensinado na última vez em que esteve ali, quando os quatro formaram aquele simples plano.

 

“É só segurar o maldito botão e falar, sua velha, não é tão dificil”

 

E ela o fez, revirando os olhos com a memória distante, ela aperta o botão velho e abaixa na altura dos quadris, estava quieto nas terras Heisenberg e isso não estava ajudando no seu estresse. Ela respira fundo e por fim fala.

 

—Karl, abra este maldito portão ou eu juro que derrubo-o!


 

E ela faria. Derrubaria aquela cerca se precisasse. Matilda estava desaparecida e tudo que Karl a deu foram mais perguntas. Nem ele sabia onde ela estava e isso só levou a Matriarca crer que Matilda havia saído escondida. E isso já era o bastante para levá-la a loucura.

 

Certamente Karl saberia se Miranda tivesse invadido a fábrica em busca de Matilda e certamente Miranda não faria isso, ela era mais sutil do que isso. Mais esperta.

 

Alcina esperou e esperou, apoiada nos muros da fábrica, seus nervos já instáveis piorando com os constantes sons e cheiro do lugar. Ela estava pronta para fazer o que jurou quando os sons de passos a fizeram virar-se.

 

Ali, na ponte, estava Karl. Casaco segurado por um dedo e jogado sobre o ombro e martelo na outra mão. E quando ele a viu, parou e abaixou a cabeça, olhando por cima dos óculos escuros. 

 

Ele levantou uma sobrancelha mal cuidada e questionou.

 

—O que… o que você faz aqui?

 

—E ainda pergunta!?—Alcina se vira por completo. Queria tanto esbofetear aquele cafajeste.—Me liga pra dizer que Matilda estava desaparecida e simplesmente desliga!? ugh, eu devia..!

 

—Eu não liguei pra avisar, liguei para perguntar sobre ela, sabia que você devia estar metida em algo. —Ele diz irritado, passando por ela e abrindo o portão.—E além disso, mulher, eu não disse para esquecê-la?

 

Parado na frente do portão ele questiona, assistindo a Lady caminhar até ele e levar as mãos a cintura. Era tão.. fora do comum, os dois estarem de frente um do outro, em uma situação "pacifica". 

 

—E eu não disse que jamais faria isso?—Ele balança a cabeça e entra, indo na frente nem olhando para trás.

 

—Eu diria primeiro as damas, mas… você não é uma.

 

—Ora.. seu… ugh! —Alcina para, respira e tenta se lembrar do porquê estava ali.— Como está tão calmo? encontrou Matilda? ela está na fábrica?

 

Alcina pergunta, seu tom gradativamente indo para o seu mandão e levemente desesperado, ela estava visivelmente agitada. Karl apenas revira os olhos e assiste quando ela passa dele, olhando para a fábrica, como se fosse encontrar a ruiva em algum lugar.

 

—Não.. —Ela para e se vira, incrédula, assustada.—... mas tenho uma pista de onde ela tá, mas preciso de um plano antes.

 

Alcina ofega, assistindo o homem passando por ela. Completamente desamparada. Onde estava Matilda? do que ele sabia, por que tão calmo!?
 


 

As portas de ferro da fábrica Heisenberg finalmente se abrem e Alcina se abaixava, entrando logo atrás de Karl. O cheiro de enxofre era suave, gradativamente aumentando à medida que adentravam mais a fundo na fábrica barulhenta.

 

Alcina havia esquecido de como odiava aquele lugar. Era exatamente o oposto do seu castelo, do qual ela julgava confortável, afinal ele e ela eram duas pessoas completamente opostas.

 

Ela faz careta quando passa por uma sala com licanos trancados, não à vista, mas ela conseguia sentir o cheiro repulsivo daquelas criaturas a uma boa distância. Ela estala a língua e vira seu rosto, Karl olha por cima do seu ombro, tendo ouvido.


 

—Precauções, e não faça essa cara, já olhou pros telhados daquele seu castelo?!—Ele diz e ela apenas da de ombros ignorando-o.— E* eles são úteis... às vezes.

 

—Huh..do que exatamente procura se defender?

 

—Qualquer coisa que ousar, e eles não são linha de defesa, estão mais para uma distração. 


 

Os sons dos saltos das botas de Alcina ecoavam pelos corredores em que passavam. Subiram escadas e entraram em salas que Alcina teve que se abaixar para atravessar. E quando finalmente chegaram no que Karl chamava de escritório ela se ergueu. 

 

O teto era alto o bastante para duas dela ali. Ela olha em volta. Tralhas nos cantos, metais é claro. Ela se move pela sala, o som do martelo sendo largado sobre o chão apoiado na mesa e Karl grunhiu balançando seu braço direito. A mulher suspira, sentia o cheiro de Matilda, por todo canto naquela parte da fábrica e imaginou que fosse onde a menina vivia.

 

E então Alcina olhava em volta desesperada por alguma coisa que fosse ou lembrasse a ruiva.

 

Outro grunhido do homem e ela acordava, se virando para o outro lorde que parecia estar rabiscando algo como louco sobre uma grande folha de papel, seus óculos jogados sobre a mesa e alguns fios de cabelo caiam sobre seus olhos claros.

 

A lady franze o cenho e se aproxima, assistindo-o por cima do ombro. Ele estava cem por cento focado no que estava rabiscando, o que quer que fosse ganhava forma rapidamente, mas o sentido ainda fugia da Lady que apenas assistia em silêncio. Anotações ele rabiscava ao lado, em uma letra quase ilegível para ela.

 

Ela conhecia essa postura de Karl, esse foco, esse método. Ela sabia que ficar em silêncio era a melhor escolha e deixar para fazer as perguntas mais tarde, se lembra do dia em que os quatro decidiram seus planos de “autocuidado” em caso de emergência. Quando a ideia lhe acertou, ele simplesmente foi até a mesa e começou a murmurar coisas.

 

Agora não era diferente, talvez um pouco mais desesperado, mas ainda assim.


 

—Huhm..


 

Karl para, franzindo o cenho e tirando seu chapéu, passando suas mãos sobre os cabelos, tirando-os da frente do seu rosto focado, estalando a língua, pega a folha e se afasta até a iluminação das janelas onde ele suspira.

 

—Uma bomba?

 

Pergunta Alcina já atrás do lorde, seus olhos verdes escanearam o pedaço de papel, havia um dispositivo claramente improvisado, mas facilmente reconhecível como uma bomba. Ela olha da folha para o homem com uma sobrancelha levantada.

 

—Exato, uma bomba. Mas isso é só o começo. 

 

Karl diz e fecha o papel em um tubo, voltando à mesa. A mulher bufa frustrada por ter esperado por nada e sem paciência.

 

—O que aconteceu homem? me ligou em desespero por nada? vamos, diga, Karl!

 

— Ora, acalme-se. Pra começo de conversa não te liguei buscando apoio,já disse, não era para estar aqui. —Ele diz como quem não quer nada, mas então suspira.—mas… já que está. 

 

Ele tira as luvas, às jogando sobre a mesa, se deslocando até as câmeras com uma curiosa lady no seu encalço, juntos eles assistem imagens sendo rebobinados até que..

 

—Matilda?


 

Alcina se aproxima, abaixando-se na altura dos quadris, Karl estala a língua e se afasta. Ele pausa bem no momento em que Matilda olha para as câmeras na ponte e suspira, se lembrando de todos os acontecimentos até ali.

 

—Não sei o que ela foi fazer, mas logo que vi que ela sumiu? Eu corri atrás. Encontrei no caminho esta moça.. ela contou que Moreau a levou.

 

Alcina arregala os olhos. Só de imaginar aquela repulsiva criatura tocando em Matilda, seu sangue já borbulhava. Ela se ergue sem tirar os olhos do Homem, esperando por uma explicação.

 

—É, eu sei bem. —Ele se vira para as câmeras pensando,—Ele a levou para Miranda tenho certeza, preciso agir rápido. Onde é o esconderijo mais próximo dela?

 

Alcina pisca, um pouco incrédula.

 

—Acha que eu sei?

 

—Veja bem, se vai ficar na minha volta, vai pelo menos me entregar a localização, afinal não é sua favorita?


 

Karl zomba e cruza os braços, praticamente desafiando Alcina. E deuses, em outros tempos essa frase teria feito tanto com ela, vergonha por não saber de algo assim por se dizer “ a favorita” raiva por ser falada assim e pela zombaria, mas ela sentiu raiva por outra coisa.

 

—Por que acha que estou aqui, Karl?

 

—Honestamente? não confio em você Alcina, já deixei bem claro. Devia ir embora, antes que Miranda fique brava, não acha?

 

Alcina range os dentes e dá um passo à frente e ele não move um músculo.

 

—Matilda está desaparecida, e provavelmente nas mãos.. dela e você prefere duvidar de mim a aceitar minha ajuda?

 

Karl arregala os olhos e solta uma risada.

 

—Sua ajuda? 

 

—Não vou sair e deixar isso nas suas mãos!—Ela diz gesticulando na direção do homem.

 

—Ela é minha filha.

 

Alcina grunhi, furiosa perdendo o controle. Ele a desafiava, zombava dela quando tudo que ela queria era encotrnar Matilda a salvo, o mesmo que ele! e ele falava aquilo, esfregava na cara de Alcina como se ela não tivesse direito algum de se importar com Matilda.

 

Você não foi capaz de protegê-la, não foi capaz de mantê-la a salvo! Matilda fugiu bem por debaixo do seu nariz, seu asno!

 

Alcina se para, piscando quando percebe o que deixou seus lábios e então relaxando os punhos e desviando para as janelas. Hipócrita. Ela era uma hipócrita. O silêncio que se instalou entre eles foi pesado e desconfortável, nada fora do comum, mas de alguma forma... novo.


 

—Nisso… tem razão, fui um asno… —Karl se vira de costas, se apoiando sobre a mesa onde as telas estavam, seus olhos no rosto da filha.—.. só tentei deixar as coisas melhores para ela, lhe dar um tempo.. e ela..

 

Alcina também olhava Matilda na tela. Amaldiçoando a menina por ter tido outros de seus rebeldes episódios, como se já não bastasse a última vez? A lady balança a cabeça e leva uma mão à cintura.

 

Precisavam fazer alguma coisa e logo.


 

—O que pretende, Karl?

 

—Sem saber os esconderijos? procurar.. —Ele franze os olhos.—Levaria..dias.. quem sabe! não temos esse tempo... ela não tem..


 

Não eles não tinham. Se era verdade que Miranda já tinha Matilda, teriam apenas algumas horas antes que.. o pior acontecesse. Miranda sempre levava um dia de preparo antes de fazer qualquer experimento, não se sabe de nada, se já estava preparada ou não antes de mandar Salvatore sequestrar Matilda..


 

—Salvatore pode saber. —Disse a Lady olhando em frente, para o nada.—ele deve saber…


 

Karl levanta seu rosto e olha pelas telas, ela pode estar certa.


 

—Muito bem..

 

….

Não foi exatamente um acordo mútuo entre os dois, que Alcina ficaria e ajudaria, mas era o que estava acontecendo. Mas nenhum dos dois reconheceu, ou disse em voz alta.

 

Era início de tarde quando desceram de volta a vila, havia menos pessoas desta vez, mas os sussurros estavam acabando com os nervos da Lady. Era um pesadelo. E a última coisa que ela queria era causar uma cena e chamar atenções indesejadas.

 

Afinal, o que Miranda faria se soubesse o que Alcina e Karl tinham em mente? que neste momento faziam seu caminho até o reservatório na inteção e tirar respostas de Moreau. Com violencia ou não.

 

Ela abandona esses pensamentos seguindo Karl que jogava o martelo sobre os ombros, levantando o queixo rapidamente para alguns moradores, assustando-os. Ele nunca foi um bom lorde, nem ela, Alcina sempre preferiu revirar os olhos e ignorar, agradar Miranda com isso. Todavia a difícil personalidade de Karl estava ajudando a mantê-los longe e sem perguntas ou bajulações falsas. Se ela tivesse que ouvir outra presse ela jura que arrancaria a cabeça de alguém.

 

A Lady revira os olhos olhando em frente. Não fazia nem uma hora em que brigavam (novidade) e agora estavam um ao lado do outro, é claro era por uma causa maior, mas quantas vezes ela podia dizer que fizeram isso? 

 

Pensando nisso e nas razões da discussão Alcina só conseguia sentir… culpa e como seu orgulho doía só de admitir isso em pensamento. Mas ela sentia culpa, um pouco, por ter dito o que tinha dito. Como poderia ser tão hipócrita e cruel dizendo ao homem que a culpa de Matilda ter sido sequestrada era toda e completa dele? 

 

Alcina com certeza sentiria dor pior do que um corte da adaga das flores, caso alguém lhe dissesse isso…

 

Mas ela manteve para si mesma. Assim como o outro lorde a sua frente mantinha para si mesmo, suas dúvidas sobre a mulher. 

 

Karl vira na esquina para os portões de Moreau e aperta seu martelo. Estava com raiva do outro lorde, nunca fora um problema direto a ele ou um estresse, como Alcina era, mas agora ele sequestra sua filha com o intuito de entregá-la a Miranda, e bom, agora era bem pessoal.

 

E, olhando para a mulher atrás dele, que abria e fechava suas massivas mãos, o sentimento era mútuo.

 

Ver isso só o fez pensar ainda mais afundo sobre o que já se foi discutido e ele novamente se questionava, ainda estava dividido afinal. Acreditar ou não acreditar em Alcina, na mulher que tinha só desdém por ele e até um tempo atrás, sua filha... e que agora Alcina estava aqui, a sua procura dizendo que jamais desistiria dela. 

 

Classudo, exagerado e extremamente meloso. Bem a cara daquela mulher. 

 

Dividido e com o orgulho machucado em pensar que.. Alcina realmente queria o bem de Matilda e que ele estava errado sobre ela. Ele sopra o resto da fumaça e joga seu charuto no chão logo pisando sobre ele. Alcina foi na frente, empurrando o par de portas de madeira fazendo um som enferrujado irritante. O som do lago ficou mais alto, assim como o suave dos moinhos.

 

—Tsc.. peixe estupido.

 

Karl se aproxima da entrada ficando ao lado da Lady que olhava em volta, seus olhos verdes atentos, escaneando rapidamente seus arredores e então, mirando o chão, seguindo um caminho como se estivesse assistindo alguém.

 

Ele espera olhando em volta, tentando encontrar algum sinal, porém.. nada. 

 

Frustrado ele se vira a ela.

 

—E então?

 

—Ela esteve aqui..—A Lady diz em um tom firme e volta a andar, passando o lorde e seguindo o caminho que criou com os lhos.—..sinto.. —Alcina olha para o céu respirando fundo.—.. sinto o cheiro dela.


 

Karl resiste a vontade de revirar os olhos e a segue, honestamente tudo o que ele conseguia sentir era o cheiro de água e peixe podre. Porém,e outra vez odiando admitir, Alcina tinha ótimo sentidos. Como um predador, exatamente como um já que ela muitas vezes dependia desses sentidos para se alimentar.


 

Ela outra vez olhava em volta e em frente.


 

—..Moreau a levou por aqui.—Ela faz careta.—Sinto seu cheiro repulsivo em volta do dela.Ugh..! 

 

—Muito bem, cão de guarda.


 

A mulher range os dentes e segue na frente.Francamente, quando ela achava que ele poderia ao menos segurar seus comentários desrespeitosos e ignorantes, ele a surpreende fazendo oposto. Ela não conseguia aguentar aquelas atitudes.

 

E lá a Lady ia, toda pomposa, bufando xingamentos que ele não era muito fã de ouvir. Ele revira os olhos com a sensibilidade e o temperamento forte desta e a segue, logo bufando.


 

No caminho fazendo a volta no lago os dois pensam:Era por ela, por Matilda. 



 

\/

Me acordo.. grogue, pra variar, meu corpo doía de ficar deitada por horas, sabe se lá quantas. 

 

Eu ouvia música e vozes.

 

Movi minha cabeça com dificuldade pois ainda estava amarrada e lentamente leio meus arredores, meus ouvidos compreendendo os sons.

 

Estava frio na cabana, e a água havia acalmado, dali eu não poderia ver a luz do dia então não fazia ideia de que parte do dia estava, ou em que dia. 

 

Eu grunhi e movi minhas mãos, mal sentia-as. No canto à minha direita ouvi choros.

 

“Tsc, ah, ora! você não passa de um leão covarde!" gritou uma voz feminina e mais choros, eu só pude imaginar que era Salvatore, assistindo sua tv pois em seguida o ouvi vomitar e choramingar assim como a pessoa na tv.

 

—Ah, pobre leão.. ah..—Fungadas altas.—.. pobre, leão

 

A única coisa que o fez parar de chorar foi o som alto de um telefone, o volume da tv foi baixado e eu olhei para o lado, apenas vendo a sombra de Salvatore correndo para outra sala.


 

—Mãe?!

 

Silêncio. Ele estava no telefone com aquela..

 

—Sim, ela está bem. N-não! eu… eu… sim mãe Miranda, já está feito, Mãe Miranda. —Mais silêncio e foi quando eu senti o cheiro terrível sobre mim, o cobertor.—.. já está a caminho!?

 

Ele pareceu tão esperançoso e feliz que quase senti pena, quase.

 

—Oh… claro, claro, Mãe Miranda..


 

Ouço o telefone ser solto e os passos de Salvatore voltando e se aproximando. De fundo ouvi a tv, mas não fazia muito para me distrair. Ele praticamente arranca o cobertor de cima de mim, e eu percebo como estava frio, meu corpo por extinto tenta se encolher mas de nada adianta.


 

—Mãe Miranda está vindo, Matilda tem que se comportar. Hm.. —Entro em pânico quando seus olhos me analisam, procurei minha voz mas tudo que saiu foi uma ofegada, como eu estava com sede.—É melhor se sedada..


 

Ele era outra vez some da minha visão e eu começo me mover, tentando me soltar, eu tinha que tentar, não podia ser assim. 

 

—Ugh!

 

Puxo minhas mãos e cabeça, tentando me livrar das amarras. Me apertavam e machucavam cada vez que eu tentava, mas eu continuei. Eu sentia o couro cortando a pele dos meus pulsos.

 

—Merda.. 

 

Ele volta e eu tento com mais força, sem me importar com os resultados que isso me traria. 

 

—Não, Salvatore, por favor, não! por favor.. e-eu.. 

 

Tento outra vez e ele põe uma de suas mãos sobre meu peito, vejo na sua outra mão uma seringa. 

 

—Matilda não vai nem sentir…

 

Ele aproxima a seringa do meu pescoço, eu grito e me movo feito louca e ele só faz mais pressão no meu peito.

 

Tudo o que eu pensava era no meu pai, onde ele estava? e Alcina? ela disse que nunca ia deixar Miranda me fazer..

 

Senti o beliscão da agulha e meu corpo para, sinto meu consciente me deixar lentamente e ouço Moreau, murmurando feliz, orgulhoso de si mesmo.


 

A próxima vez que me acordei.. foi em outro lugar. Silencioso. Vazio. E branco. Tão branco que machucou meus olhos e eu os fechei outra vez, somente para abri-los e olhar em volta, encontrando aqueles olhos azuis, encarando diretamente a mim. 


 

—Preparada?

 

Miranda.

 

Me arrepio toda e como sempre tento me soltar, Miranda sorri e se afasta do balcão azul, se aproximando de mim. 

 

—Achei que sim. 

 

Ela para ao lado da maca e apoia as mãos paralelas ao meu corpo, eu usava apenas um cobertor fino sobre meu corpo, e sentia que estava nua. Seus olhos azuis analisam meu rosto com cuidado, expressão fria e olhos penetrantes.

 

—Não lute.. não há porque lutar… já está aqui, como foi escrito, Matilda. Não importa quantos anos tenham passado, quantas vezes o tolo do seu.. pai.. —Miranda para de falar apenas para rir de uma maneira venenosa e preguiçosa, como se fosse a maior piada.—.. tenha achado que me enganou.. você cairia nos meus braços uma hora ou outra e oh.. era tão divertido assisti-lo, e aquelas tentativas pobres de te criar.. te salvar? 

 

Miranda pisca e se aproxima, eu seguro minha respiração, querendo recuar, mas sendo impedida pela maca. Eu ofego, impossibilitada de encontrar minha voz.
 

—Hm.. e então Alcina, como se o ocorrido com Ana não tenha sido o bastante.—Miranda revira os olhos como se estivesse falando das travessuras de uma criança, e eu só consigo olhá-la… como eu queria arrancar aqueles olhos da cara dela. —Ora, não me faça essa expressão, roscata..

 

Ofego surpresa e ela sorri vitoriosa. É claro que ela sabia. 

 

—Mas ela vai superar. —Miranda diz se erguendo. Tão cheia de certeza.—Quando perceber que você se foi.. ela vai ganhar senso e voltar rastejando, pedindo perdão de joelhos.. e se Karl se opor.. bom, será esquecido assim como você.

 

Eu estava furiosa, assustada e tremendo mais do que tudo, mas furiosa. Com a forma que ela falava de Alcina, com a falta de respeito que ela tinha com Alcina, ela tinha tanta certeza que controlava Alcina e Karl..

 

—Você se acha, sabia?

 

Miranda me olha com o canto dos olhos, entediada.

 

—Acha que conhece Alcina.. que controla ela.. 

 

Mesmo que presa, e sob o olhar e mercê daquela mulher eu sorri. Sorri pois me lembrei do que Alcina me disse, do que sussurrou pra mim, da promessa que ela me fez. Eu sorri porque sabia que era verdade e que Alcina me amava. Por mais arrogante que talvez fosse, Alcina amava a mim, não a Miranda.

 

—Mesmo que eu morra aqui.. eles não vão abaixar a cabeça pra você, pode acreditar nisso, sua brux-agh!

 

 

Miranda me acerta, com força o bastante para ter me derrubado caso eu estivesse de pé. Com meu rosto queimando e cabeça girando eu grunhi.

 

—Eu não lembro de ter te mandado falar..

 

Miranda diz calmamente enquanto eu tento me recuperar, foi tão forte.. ela se move, seus robes deslizando pelo chão de azulejos. Quando voltou eu vi outra seringa na sua mão.

 

—Agh.. vá se fuder, sua loira aguada!

 

Começo a espernear e ela se aproxima, colocando seu antebraço sobre meu peito, era o bastante pra me fazer ofegar.

 

Tsc.—Eu continuo como louca e seus olhos vão dos meus a minha cicatriz. —..doeu não doeu? Alcina demorou mais do que imaginei para agir..

 

Paro, e ela sorri.

 

—Fez de propósito.. —Digo alternando entre suas íris.—...você queria saber até onde ela iria..

 

—Hm… é realmente mais inteligente do que parece, porém como é estúpida.

 

Foi uma chance em um milhão, quando ela pareceu baixar sua guarda e eu agi, movendo meu corpo inteiro de repente, ela perdeu o equilíbrio me dando liberdade para separar meus lábios e morder seu braço fazendo ela derrubar a seringa no chão, partindo-a em dois. 

 

Ela se afasta de repente, expressão incrédula e com um pouco de nojo, Miranda range os dentes. O líquido jazia no chão branco e no meu rosto, um sorriso sacana. 

 

Tsc

 

Ela estava em mim em segundos, segurando minha mandíbula e forçando meu rosto contra o couro da maca. Eu grunhi e ela apertou mais me levando a terríveis memórias.


 

—Alcina falhou em te ensinar bons modos..Ana era bem mais comportada.—Grunhi outra vez me movendo violentamente, mas desta vez ela estava preparada, guarda alta e aperto forte.—Sem anestesia pra você..


 

Ela diz casualmente, eu estava tão focada nos seus olhos, prendendo os meus com tanta força que eu não vi, não percebi onde sua outra mão estava, mas quando a senti na minha perna, já era tarde.

 

Começou com uma pressão e em uma fração eu sentia meu osso se partir ao meio.

 

Eu gritei, senti minhas cordas vocais arderem, tremerem com o tremendo som que saiu de dentro de mim e quando olho nos olhos daquela maldita tudo que vejo é deleite.

 

Mas não acabou por ali, sua mão se arrastou pela minha perna, quase como se acariciasse e outra vez ela pressionou. Eu assisti quando apenas um empurrão de sua mão fraturava outra parte de meu osso, e eu gritava outra vez. Chorava.

 

Embora bem mais rouca e quase perdendo minha voz. 

 

Miranda me solta e eu ofego, tossindo enquanto sentia lágrimas descendo pelo meu rosto. Raiva, medo e dor me consumindo e minha razão me deixando Miranda outra vez se afastava. Xinguei mil e um xingamentos para aquela mulher. Eu a ouvia em volta de mim, preparando coisas.. sons de plástico e metal. Ela empurrou um carrinho repleto de apetrechos de cirurgia e tudo que fiz foi engolir em seco.

 

—Ah.. aí está, o medo. —Ela coloca as luvas, puxando até os pulsos.—A assimilação,o sentimento terrível e assustador de perceber que não tem mais volta.. ou o que fazer.

 

Miranda pega um bisturi, girando-o contra a luz. Me provocando.

 

—Huh..—Ela se vira para mim, um olhar excitado naqueles olhos sempre frios.—Porém nunca fui orgulhosa, seu experimento.. e explicação sobre aquela moça.. foram surpreendentes.Meus parabéns, Matilda.


 

Não. Aquele parabéns não foi nenhum pouco satisfatório de ouvir. Na verdade foi como ouvir aproveite a morte, Matilda.

 

Fecho meus olhos com força, tentando não focar naquela dor pulsante na minha perna. Eu sabia que o pior ainda estava por vir quando a vi pegar o bisturi 

 

E quando aquele bisturi chegou no meu peito, quando a ponta tocou o meu peito e ela arrastou para baixo, eu gritei.

 

Gritei não só de dor e agonia, mas de tristeza, medo e raiva.

 

Aquela mulher me tocava e me machucava e eu não podia fazer nada senão olhar e sentir. E ela iria até o fim.

 


 

A última vez que acordei, após ter desmaiado de dor pela centésima vez, eu vi pouco. Vi Miranda lavando coisas, vi meu corpo nu e a nova cicatriz no meu peito, eu senti.. eu me senti diferente, me senti tão fria, minhas mãos formigam.. e se eu prestasse bastante atenção.. eu conseguia sentir algo pulsando no meu peito e não era apenas meu coração. 

 

Tento mover minhas mãos e um beliscão forte, meu corpo todo pareceu entrar em chamas, a dor.. a dor era tanta e em todos os cantos do meu corpo. Eu gemi de dor, sem forças pra gritar. A tontura.. o mundo girou, vi borrões e cabelos loiros e foi quando minha cabeça caiu de volta na maca.

 


Notas Finais


oi de novo, se tiverem perguntas sobre qlauqer coisa sintam-se livres para faze-las nos comentarios, n prometo poder respodner todas, mas tentar. Obg pelo apoio mesmo com a demora e por todo o resto!

ateh breve e desculpe qualquer coisa! bjos amores <3
fé que vão me ver novamente em breve <3


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