O céu azulado banhado pelo sol brilhante banhava-me enquanto sentado na proa do navio eu os observava, todos eles em um confortável silêncio no qual cabelos se agitavam para os cantos desordenando os fios, todos nós tínhamos a certeza de que morreríamos um dia, cedo ou tarde, um dia ou outro, e esse é um pensamento pessimista eu sei mais do que qualquer um sobre isso, mas é a verdade, quando se é semideus tudo pode acontecer, e por causa disso eu pude aprender algo, o agora é precioso, o antes é história e o futuro, se existir um vai ser banhado com a glória divina, nós seremos banhados com a glória divina, enquanto nossas mãos de mancham com o sangue amigo e inimigo. A serpente nos circula, atenta, incansável, silenciosa, a serpente tenta nos matar na tarde ensolarada, mas eu sei que vou me sujar com o sangue de cada uma delas, essa é a verdade, matamos e morremos, pegamos e somos pegos, lutamos e vencemos, lutamos e caímos, para no fim de tudo sermos heróis em armaduras douradas sentados na proa de um navio tentando não pensar em nada, mas pensado em tudo.
Ele se encontrava sentado em poltronas brancas bem distribuídas pela sala verde abacate com grandes janelas transparentes cobertas por cortinas creme que na ocasião se encontravam abertas, dando a visão dos demais prédios banhados pela escuridão da noite e pelas luzes artificiais que iluminavam os ambientes. A chuva começou de repente na ocasião, tão forte e selvagem, iluminada pelos repentinos raios e tendo o som de suas gotículas densas de água cristalina contra a janela interrompida por trovões altos que faziam as coisas pequenas como vasos de plantas do ambiente retumbar contra o chão forrado com piso de mosaico.
O garoto ali sentado desviou os olhos da janela molhada e começou a encarar a direção atrás de si, aonde na abertura abobadada que levaria ao corredor largo um garoto se encontrava escorado, ele não aparentava ter mais de treze anos, corpo pequeno e magricela, escondido embaixo das grandes blusas de moletom que claramente não lhe pertenciam. Os cabelos feito piche do menino se encontravam na altura dos lábios, vez o outra irrompendo a pequena linha fina e rachada que era sua boca, fios molhados que escorriam por sua nuca e acumulavam na blusa cinzenta. O garoto na poltrona suspirou.
—Vai pegar um resfriado se não secar o cabelo— Disse sorrindo, mas o moreno na abertura nada disse, apenas desviou o olhar para a janela. Suas mãos tremiam ligeiramente.
O garoto da poltrona s pôs de pé, espreguiçando como um gato na janela de apartamento e se pôs a caminhar na direção do moreno que ainda encarava o longe.
—Sabe que precisamos conversar sobre o que aconteceu hoje não sabe? — A pergunta saiu de seus lábios com uma rouca suavidade, o que fez com que as esferas escuras que eram os olhos de Nico o avaliassem por alguns segundos antes de desviar para longe.
—Preferia que esquecesse isso— Murmurou. As mãos ossudas agarrando furtivamente os próprios cotovelos, abraçando a si mesmo como se estivesse na defensiva. O garoto sorriu.
—Bianca, onde ela está? — Mudou de assunto repentinamente, umedecendo os lábios ao final da frase.
O moreno deu de ombros caminhando até a janela e encarando os prédios banhados pela chuva selvagem daquela noite, ele abriu uma parte da janela deixando que suas mãos se molhassem com as gotas de água.
—O que vai acontecer agora? — Perguntou Nico ainda sem encarar o garoto atrás de si— Vai proteger a mim e a Bianca depois vai embora?
O garoto caminhou assim como Nico até a janela e com suavidade o retirou de lá, levantando o queixo do moreno fazendo com que ele o encarasse, o garoto passou o polegar pelas curvas do rosto frio e pálido de Nico, acariciando cada uma das curvas com cuidado até chegar a seus lábios, que era uma rígida linha fina.
—Feche os olhos Nico— Pediu em meio a um sussurro.
O garoto roçou seus lábios contra os de Nico por alguns poucos segundos antes de beija-lo com calma e suavidade, as mãos do moreno foram parar encima das mãos do garoto e pouco tempo depois nos cabelos curtos do mesmo e por fim seus lábios se afastaram dos lábios do garoto.
—Isso acontece agora, soldatino— E as luzes da cidade se apagaram deixando-os na penumbra.
Seus olhos verde água se abriram no momento que o garoto começou a ser cutucado pelos dedos firmes de Annabeth, ele ainda se encontrava escorado no ombro da garota e a loira ainda prestava atenção nas explicações de Will enquanto o cutucava com pouco cuidado.
—Só tem um problema— Will disse, ele estava tenso e isso era perceptível em seus olhos azulados— Lou me disse que eles vão querer testar a nossa mente, analisar nossa capacidade de escolha e se escolhemos o melhor para nós, segundo ela isso pode acabar jogando uns contra os outros nesse navio se não estivermos todos bem decididos.
—Mas estamos todos decididos— Percy disse, era perceptível em sua voz o cansaço, mas ele se forçou a distanciar do ombro de Annabeth e se sentar ereto na cadeira da cozinha apertada.
—Não exatamente, cabeça de algas— Os olhos cinzentos e tempestuosos de Annabeth o encararam como se avaliasse a alma do moreno.
—Jason, Piper e Reyna seriam ótimos para conversar com os serpentes, mas... — Will suspirou— Claramente eles seriam os primeiros a sucumbir perto daquele maldito grupo de legados e semideuses.
—Então? — Perguntou o moreno bagunçando os próprios cabelos e olhando de Annabeth para Will e vice-versa.
—Nico já ameaçou o Leo, não acho que nessa missão ele não vá fazer novamente, isso sem contar com o fato deles odiarem crianças de Hades— Will brincava com tua tigela de porcelana, o arrastando de um canto para o outro da mesa.
—Mandar Percy e o Jason é péssimo também, assim como Percy e Nico— A loira brincava com mechas soltas de seu cabelo preso em um coque enquanto seus olhos semicerrados indicavam que ela estava perdida em seus pensamentos.
—Eu poderia ir com o Percy— Will disse serio— E apesar dessa desavença toda entre os pais de vocês— Will apontou o dedo indicador para os dois que se encontravam do lado oposto da mesa— Você devia ir também Annie, se não só vai um idiota lerdo e eu para o armazém das serpentes, não vai ser legal se isso acontecer.
—Tem razão— Annabeth pareceu ponderar enquanto Percy encarava o loiro do outro lado da mesa com os olhos semicerrados. Will deu de ombros sorrindo travesso— Então vamos nós três, isso vai ser divertido— Disse ela sorrindo abertamente.
—Ou não— Will murmurou juntamente de Percy.
Não demorou muito para que os outros se juntassem aos três dentro da cozinha, Piper discutia abertamente com um treinador que fazia movimentos exagerados com as mãos, como se estivesse balançando um bastão invisível, o que fazia a garota gargalhar com a voz melodiosa, Jason estava distante dos demais, ele e Nico discutiam sobre algo e a julgar pela seriedade estampada na face de ambos aquela era uma conversa que não deveria ser pausada até se chegar a uma decisão plausível, Reyna estava sentada em uma das cadeiras da mesa, assim como Percy, Annabeth, Will e Leo que explicava para ela a capacidade das novas granadas de fogo grego que ele havia fabricado, a julgar pelo semblante do garoto elfo ele estava orgulhoso de si mesmo e se exibiria pela próxima semana se fosse possível.
—Então... — Annabeth disse chamando a atenção dos demais para si— Como era claro que mais cedo apenas Percy, Will e eu estávamos disponíveis nós começamos a discutir quem é mais provável para ir falar com os serpentes e quem fica no navio, lembrando que não sabemos do que eles são capazes portanto toda proteção é pouca— A garota umedeceu os lábios antes de dar continuidade a explicação— Segundo Lou, e provável que os serpentes queiram avaliar nossas mentes, invadindo-as sem nossa permissão e talvez até nos colocando uns contra os outros até que estejam satisfeitos, por este motivo não mandaremos ninguém com rivalidade natural, Jason e Percy, por exemplo para a missão, assim como não mandaremos o Jason por seus motivos pessoais nem o Nico por eles não gostarem de crias do mundo inferior.
—E quem vai? — A garota de Afrodite se aproximou com braços cruzados na altura do peito.
—Apesar da rivalidade entre Atena e Poseidon decidimos que vamos mandar a Annabeth e o Percy— Will agitou os cabelos loiros— E eu.
—E por que não mandam outras pessoas? — Nico perguntou— Existem outras alternativas, acho...
—Não tem não— Will se virou para encarar o moreno— Reyna se meteu em um triangulo amoroso, se mandar ela e a Pipes e capaz delas saírem de lá em macas ou nem saírem, Reyna e Annabeth são filhas de deusas da guerra, outra combinação que daria muito errado, o treinador não vai entrar lá nem se a gente amordaçar ele, porque infelizmente ele não para quieto. Jason e Percy vão literalmente um partir pra cima do outro e você não pode entrar lá dentro, temos poucas escolhas Nico, e o Leo tem entrado em combustão a cada instante, ele vai por fogo no primeiro serpente que aparecer, e lembrado que não queremos nenhum tipo de guerra com eles.
O moreno bufou cruzando os braços, Percy o conhecia muito bem pra saber que o moreno estava no mínimo irritado enquanto Jason por outro lado parecia ter ficado tenso e a todo instante olhava para a porta atrás de si, como se cogitasse a ideia de sair correndo e se esconder em algum lugar.
—Vocês têm alguma objeção? — Annabeth perguntou de repente, mas todos se mantiveram em silêncio o que a fez suspirar— Ótimo.
Se baseando nas informações de Lou o trio partiria em busca de um grupo que se denominava como Os serpentes, pois esse era o sobrenome e o brasão da família de seu líder que era um semideus renegado, eles viviam em um armazém em uma ilha escondida dos mortais pela nevoa, era um lugar bem perto da Itália, mas ainda sim tiveram que desviar o curso um pouco para chegar no lugar, Percy sabia que algo daria muito errado naquele lugar, especialmente por se tratar de semideuses renegados, mas eles precisavam de ajuda para concertar o Argo e eles suspeitavam que o grupo tivesse o que eles precisavam.
Percy desceu do navio meia hora depois da conversa animadora na cozinha acompanhado de Annabeth que entrelaçou sua mão na do garoto e de Will que brincava com uma adaga afiada, passando-a de uma mão para a outra. Não demorou para que achassem o armazém cinza escuro que era guardado por uma figura um tanto estranha.
A mulher escorada contra a parede tinha um moicano laranja berrante, assim como sua pele que era coberta com roupas miúdas, as pernas eram metade escondidas com um coturno de salto fino, algo que Percy suspeitou ser feito pelas próprias pessoas dentro do armazém, a mulher começou a caminhar para dentro do armazém, fazendo sinal com a cabeça para que o trio a acompanhasse, ela às vezes se virava piscando seus olhos de furão vez ou outra para Annabeth que apertava a mão de Percy a ponto de machucar. A mulher laranja os guiou para dentro do armazém depois de uma sequencia bizarra de corredores que pareciam ser eternos, todos com a mesma cor de cinza. Ela chegou até uma porta marrom com uma pequena serpente entalhada e girou uma chave incomum no tambor da porta, escancarando-a e voltando a caminhar. O lugar era simplesmente enorme, paredes revestidas com tinta roxa e prata e brasões de cobra verde cobriam alguns lugares, havia varias pessoas ali dentro, algumas eram apenas crianças pequenas com grandes olhos, outros eram adolescentes como eles, brincando com suas armas, arranhando o corpo de criaturas como a mulher de pele laranja, e muitos outros eram adultos que se encontravam definhando em pufes e redes, os olhos brilhando como se estivessem dopados, eles muitas vezes miravam o teto daquele lugar e sorriam para o nada o que levava Percy a crer que eles estavam presos dentro da própria insanidade. O moreno viu uma menininha passando por eles, pele nos tons de caramelo, preto e branco, como um gato malhado, mas seus olhos eram como os olhos de um cão e seus dentes também, Percy a acompanhou até ela chegar a uma mulher com cerca de dezenove ou vinte anos, a mulher passou a mão espalmada pelos cabelos embaraçados cheios de dreads da menina e ela começou a criar rabo e orelhas caninas.
A mulher laranja parecia não se importar com aquilo, nem com nada naquele lugar, ela apenas subiu uma íngreme escada até uma sala pequena que dava vista a tudo que acontecia naquele lugar, um sofá branco se encontrava contra a parede assim como uma poltrona e alguns pufes alem disso o cômodo de paredes roxas com o brasão de serpente só possuía um jarro com uma flor murcha como decoração. Ela fez sinal com as unhas longas para que eles se sentassem nos lugares e saiu do cômodo fechando a porta atrás de si.
—Eu juro que me sinto em um daqueles programas de TV, aonde as pessoas se alteram fisicamente— Percy disse para ninguém especifico.
—Eles dão drogas aos semideuses e legados mais velhos desse lugar, e criam crianças para serem seus animais de estimação, é doentio— Will disse se sentando ereto na poltrona, seus olhos percorriam a janela aberta que dava para o lugar logo abaixo no armazém.
—Não é doentio criança— Uma voz aveludada soou logo atrás de Percy, fazendo com que ele se virasse de um salto, havia um homem ali parado, devia ter um e setenta de altura, cabelos castanhos anelados tão sujos e embaraçados quanto o de qualquer um no andar debaixo, ele tinha o olho castanho e do outro lado da face apenas um espaço vazio, que normalmente devia ficar tapado pelo pano branco que no momento se encontrava no meio da testa dele o homem sorriu mostrando aos três visitantes sua coleção de dentes podres ou de espaços vagos, o sujeito era no mínimo repugnante ao ver de Percy, com as suas mãos machucadas, corpo imundo, cabelos no mesmo estado, atrás dele a mulher laranja apareceu e lançou outra piscadela para Annabeth que estremeceu atrás de Percy.
—Percy Jackson— Disse ele surpreendendo a Percy com sua voz juvenil que definitivamente não pertencia a aquele homem— Já ouvi falar de você, não foram comentários bons se quer saber— Soltou uma risada mirando Will e depois Annabeth— Digam-me algo— O sujeito tirou o sobretudo imundo que usava e o depositou encima do sofá, terminando o ato coçando a testa— O que três bostas como vocês fazem aqui? — A aura ao redor do homem tremulou, o engolindo em meio a uma nuvem de verde e roxo para de lá sair um adolescente, cerca de dezessete anos, ele ainda continuava imundo e seu cabelo ainda era uma massa sebosa, mas agora ele tinha todos os dentes na boca e o espaço vazio que era o seu olho estava coberto com um tapa olho de serpente, seus braços eram tatuados com caras de cães e gatos, e no pescoço havia um furão e uma serpente.
—Viemos conversar— Annabeth respondeu encarando o sujeito de olho castanho que a media enquanto se sentava no sofá e cruzava as pernas como um grande chefão, a mulher laranja caminhou até ficar atrás do homem e ele sorriu.
—Antes de começar a ladainha quero explicar algumas coisas, sou Alex, filho de Hecate, essa atrás de mim é a minha familiar Perona e aqueles lá embaixo são meus... Subjulgados, um comando meu e eles explodem a cabecinha oca de vocês, e teoricamente isso vai acontecer se eu não gostar do que vou escutar— Alex coçou a nuca com os dedos imundos e limpou a sujeira nas calças amarrotadas— Outro grupo veio nos procurar não tem nem três dias, pessoas que se opõe aos deuses, escolhidos creio eu que esse é o nome que eles se deram... Disseram que vocês provavelmente viriam, então vocês não estão me surpreendendo.
Annabeth pigarreou.
—Não viemos pedir para que virem nossos aliados, devo dizer isso antes de tudo, sei que não deseja isso, sei que renegados não fazem isso, viemos pedir uma ajuda, nosso navio fio atacado pelos escolhidos e se encontra quebrado, mas, Alex nós temos que chegar ao nosso destino e impedir de alguma forma que Gaia retorne...
O semideus soltou uma risada rouca, como se Annabeth tivesse contado uma historia engraçada.
—Acham mesmo que eu vou ajudar? — Sua voz era debochada— Só porque sabem um pouco da realidade da situação? Estão errados meus amores, e só ajudo aqueles que me dão prazer.
—O que quer dizer com isso? — Percy perguntou.
—Sabe como as drogas funcionam, Jackson? Elas agem como entorpecentes em alguns casos, eu tenho meu próprio entorpecente por assim dizer, minha própria droga.
—Sua droga é entrar na cabeça das pessoas, estou certo? — Will perguntou inclinando a cabeça para o lado ligeiramente.
Alex gargalhou, sua gargalhada lembrava Percy um castor com seus gritinhos.
—Exato! Gosto de ver o que tem de escondido na cabecinha de vocês, então faremos um trato, eu os ajudo se gostar do conteúdo que há em sua mente, em suas lembranças, se eu não gostar vocês morrem.
—Tenho um outro trato, você nos ajuda independente do que houver em nossa mente— Percy falou mordendo o lábio inferior. Alex riu
—Claro que não Jackson.
Não deu muito certo o acordo que fizeram com Alex, especialmente depois dele examinar a cabeça de Percy, que foi o ultimo a ser ligeiramente drogado e posto pra dormir pelo semideus. Acontece que o garoto puxou as lembranças mais antigas de Percy, as que envolviam seu passado com Nico e Bianca, as fugas e desafios. Quando o garoto de Hecate quis que Perona buscasse Nico para alguma espécie de joguinho doentio Will literalmente explodiu em uma luz tão quente e desconfortável que fez Percy se sentir a um metro de distancia do próprio sol, ele sentia o próprio corpo queimando enquanto Will queimava com sua raiva tudo que era vivo no lugar, e não era queimar no sentido Leo, era queimar no sentido “Eu sou um grande e ofuscante sol, olhe para mim, vou matar todos vocês com erupções se não passarem protetor solar”. Percy não sabia aonde Annabeth havia se enfiado, só que sua mente começava a ficar embaralhada por conta do calor, sua ultima lembrança nítida foi dos joelhos tocando o chão e depois o escuro.
—E você matou todo eles? — Era a voz de Nico soando a alguns metros de distância.
—Eu juro pelos deuses que não sabia que podia fazer isso, pra falar a verdade ficou tudo um borrão e eu acordei naquela merda de lugar brilhando, pensei que tinha matado o PJ e a Annie também.
Percy escutou a risada de Nico, esboçando encanto.
—Então Will Solace pode virar um próprio sol e matar todo mundo de calor— Era Reyna dessa vez— Pelo menos eles não sofreram... Muito... Pouco... Eu sei lá, só não se estresse solzinho.
—Juro que da próxima vez que tiver uma missão eu vou com Jason, é mais fácil ser atingido por um raio do que morrer de calor— Percy abriu os olhos se sentando no chão imundo e se espreguiçando.
—Foi tão ruim assim? — Reyna perguntou se abaixando e ficando ao lado de Percy.
—Imagine ficar a um metro de distancia do sol, me sentia como uma torrada de Percy, terrível... E isso tudo porque algum Alex queria conhecer o Nico.
O moreno riu.
—Fazer o que— Deu de ombros.
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Naquela noite o moreno decidiu ficar de guarda assim como Annabeth, ambos haviam caído no silêncio após algumas horas de vigia, no qual se encontravam a contemplar as estrelas no céu enquanto o navio avançava pelo mar, Percy retirou sua atenção das estrelas e começou a observar rosto da menina que parecia nem notar, ela se encontrava tão distraída que nem percebeu quando o moreno se pôs de pé. Ele pigarreou, foi ai que ela parou de observar o céu e se virou para encara-lo.
—Sabe dançar senhorita Chase? — Perguntou o moreno esticando um dos braços para a garota que se encontrava logo ali no chão. Ela sorriu.
—Podemos testar senhor Jackson— Disse tocando com os dedos delicados os calejados de Percy e se erguendo do chão empoeirado do navio— Mas não temos música pra dançar.
—Annie, nós temos o som das águas, e o vento, eu tenho a sua voz e sua risada, essa é a melhor música que eu já ouvi— Seus dedos escorregaram até a cintura fina da garota e ali se estagnaram, agarrando o tecido amarrotado de sua blusa laranja, os dedos de Annabeth lhe tocaram firmemente o ombro esquerdo e ali permaneceram trêmulos por causa do frio que começava e invadir a pele de ambos, os dedos da mão disponível da loira escorregaram e entrelaçaram com os dedos de Percy que observava as duas grandes orbes acinzentadas da garota. Eles dançaram ao som da água pelo que se pareceram alguns minutos, ambos em silencio rodopiando pela proa do navio.
—Nós não temos muitas coisas cabeça de alga— Disse ela no meio de um rodopio no qual seus cabelos ondulados permaneceram no ar desafiando a gravidade.
—Aonde quer chegar com isso sabidinha? — Perguntou colando seu corpo contra o dela a ponto de escutar sua respiração ofegante, os olhos cinzentos o miravam com curiosidade.
—Quero chegar ao ponto que nos encontramos agora, acorrentados, morrendo, sendo peças de jogos infernais, e aqui estamos nós dois dançando na proa de um navio, isso não devia ser certo— Os sapatos de Annabeth faziam barulho contra a madeira do navio, em incansáveis toc toc que terminavam em um deslizar.
—Por que não? — Percy juntou as sobrancelhas.
—Porque deveríamos estar protegendo os outros, mas ao mesmo tempo essa é uma coisa boa, isso prova que podemos não ter muitas coisas, mas as que nós temos são suficientes para que nos mantenham vivos. É como fogo... Uma pequena chama crescente que nos inunda com seu calor e sua vivacidade
—Você gosta disso? — Novamente estavam muito próximos, agora as duas mãos de Annabeth se encontravam nos ombros de Percy e as duas mãos do garoto se encontravam na cintura dela.
—Receio que gostar seja pouco para descrever o que eu estou sentindo. — Murmurou ela.
Percy se adiantou roçando seus lábios contra os macios da garota antes de beija-la com ternura apertando mais a cintura da menina enquanto os dedos dela acariciavam os negros cabelos dele. Quando se separaram ela reencostou a cabeça no ombro de Percy e inspirou profundamente enquanto ainda dançavam lentamente.
—Promete para mim que você não vai morrer cabeça de algas— Disse em meio a um lento piscar.
—Eu prometo— Foi à resposta.
Eles têm razão, nossa busca é tola, nossa esperança é vaga, nossa coragem e pouca e nosso exercito está morrendo, eles nos usam e nos matam e nós os matamos em nossa gloria divina. Somos banhados no sangue da serpente e vivemos em meio a lembranças tardias. Eu fecho os olhos e vejo duas cores, o cinza intenso da inteligência e o negro da morte, eu fecho os olhos e posso perceber cada vez mais, posso perceber que não estamos esperando que termine tudo bem... Não existe otimismo nos dias atuais, até o mais caloroso de nós é pessimista, nos dias atuais se nos não matarmos nos morremos. Nos dias atuais nós não temos quase nada, nós não temos nada... Não, nós temos tudo diante dos nossos olhos, mas estamos cegos, estamos machucados, estamos desistindo e morrendo por causa disso, mas que seja, mas que seja... Ainda vivo por mais uma noite, ainda posso ama-la por mais uma noite, ainda posso salvá-lo por mais uma noite, ainda posso morrer na próxima noite.
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Para aqueles que a nossa senhora escolheu,
Aviso.
Caros senhores e senhoritas, temo dizer a vocês que nosso projeto foi ao chão junto aos serpentes, infelizmente eles (o grupo do qual procuramos, filhos renegados dos deuses) queriam ouvir o lado daqueles que precisamos matar, por infeliz contradição, Percy Jackson acompanhado de Annabeth Chase e Will Solace se postaram no armazém no qual se encontravam os serpentes, houve uma pequena desavença entre ambos os grupos e certas acusações segundo nossos informantes que estavam naquele local, e essas acusações levaram todos os serpentes a suas prematuras mortes, não sabemos exatamente o que aconteceu e nós temos menos um grupo aliado para destruir o Olimpo de uma vez por todas, esperamos que não haja contradições nem especulações dentro do nosso refugio, e esperamos também que cada um de vocês entenda que abrigaremos dois serpentes fugitivos (que não estavam no lugar na hora do ocorrido) aqui em nossas instalações, espero que não tenha nenhuma espécie de desavença para com eles ou serão todos punidos.
Atenciosamente, Luke C. e Bianca Di Angelo
Os primeiros escolhidos.
A garota de cabelos negros e ondulados pregou o pedaço de pergaminho bem colado na parede com um suspiro pouco atraente e se pôs a caminhar encima dos lustrosos saltos negros, colocando na face uma máscara negra e prateada, tão elegante quanto o vestido que ela em seu corpo esguio usava, deixando a mostra os seios agora fartos. Luke estava mais a frente esperando-a, usava um terno branco e sapatos de mesma cor, e seu rosto a mascara dourada cobria sua cicatriz e boa parte da pele agora pálida.
—Pronta bela dama? — Perguntou ele sem encara-la. Bianca sorriu.
—Silena ainda sabe usar seu conjunto de maquiagem Luke, mas no e tão rápida quanto antigamente— Suspirou— Como entraremos no reino de Zeus meu escolhido?
O loiro mirou os lábios cobertos com batom escarlate da garota.
—Nossos informantes nos colocarão lá dentro antes que Hera possa dizer “vaca”
E começaram a caminhar pelo corredor escuro, em direção à saída daquele lugar.
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