–Então, por falta de recursos e espaço não vamos conseguir dormir todos no mesmo quarto, tem problema pra vocês? - Shiro diz quando nós quatro chegamos no andar superior.
–Eu não vejo problema, vamos ficar assistindo filme no mesmo quarto antes de dormir mesmo. - Keith diz se sentando no puff que estava jogado aleatoriamente no quarto.
–Entao ok, Allura e Kate podem ficar na minha cama de casal. - ele oferece vendo as duas concordarem agradecendo. –Eu vou ficar num colchão no chão, e acho que o casal não se incomoda em dividir a cama do Keith. - olha para nós dois com um olhar desconfiado. –Já aviso que quero dormir, então sem barulho.
Vejo Keith ruborizar e eu não devo estar muito diferente, mas apenas solto um riso antes de ir até o armário e abri-lo para procurar uma roupa minha.
Escuto as garotas e Shiro indo até a televisão que aviamos trago para cá, provavelmente iriam configurar o DVD para o filme.
Como os três estavam distraídos eu apenas tirei minha camiseta e calça, ficando apenas com uma boxer azul e meias pretas. Olho pra trás e noto o olhar de Keith, ainda no puff, fixado nas minhas costas. Resolvo ignorar, para não deixá-lo desconfortável, e coloco uma regata preta junto com uma samba canção verde musgo. Perfeitamente confortável.
Em um movimento rápido corro até Keith me jogando nele.
–Socorro, Lance! Você vai me esmagar! - Keith agoniza.
–Mas tá tão confortável. - brinco soltando mais peso em cima dele.
–Alguém me ajuda! - dramatiza colocando uma mão tá testa e a outra empurrava meu ombro.
–O namorado é seu, se vira. - Pidge diz.
–Obrigado pela ajuda. - ele desiste e só então me jogo pro lado o "libertando".
Quando ele finalmente acha que está livre eu o puxo pelo braço para cair no tapete onde eu estava, dou risada pelo susto que ele leva, mas logo após o trago para um abraço desajeitado.
–Ou você me odeia ou ama demais, não é possível. - ele cruza os braços.
–Você já sabe a resposta. - sussurro em seu ouvido para que apenas ele ouvisse. Vejo alguns pelos em seu pescoço se arrepiarem e não evito deixar um sorriso escapar no meu rosto.
Eu confesso que estou bem confuso com Keith, as cenas que aconteceram na sala passam pela minha cabeça repetidas vezes e eu apenas me arrepio, porque entender, eu não entendo.
Eu gostei, meu próprio corpo demonstra isso, porém foi tão repentino e sem aviso prévio que me deixou pensativo em relação a isso, por que ele resolveu me deixar duro do nada? Ele nunca tinha feito algo assim propositalmente, mas dessa vez ele certamente tinha apenas isso em mente, e realizou com muita proeza, devo dizer.
Puxo o travesseiro, bem fofinho por sinal, de anime que Keith tinha no quarto e uso ele para me sentar ao lado do puff de Keith.
–Minha Tooru! - ele diz colocando a mão no canto do travesseiro fazendo uma expressão triste forçada.
–Ela ficará bem, pode ter certeza. - rimos um pouco.
–Todos de acordo com o "clássico" Coraline? - Allura pergunta e sinto meu corpo arrepiar.
–Não é aquele de terror? - digo sem deixar minha voz vacilar.
–É sim, por quê? Tem medindo? - ela caçoa.
–Nem de longe. - respondo com um sorriso no rosto e meu coração a mil.
Não é como se fosse o filme mais assustador do mundo, ou um filme ruim, porém desde pequeno eu tenho um pavor considerável em relação a filmes de terror, especialmente esse que passava na TV quando eu era bem jovem, meu pai me dizia que se eu não me comportasse e tirasse notas boas ele me mandaria para o "outro pai" e a "outra mãe" pela porta do disjuntor. Eu ficava sem dormir direito por meses quando fazia alguma besteira com medo de ser jogado pro outro lado, eu me ajoelhava na porta do quarto do meu pai pedindo desculpas, ele nunca percebeu o trauma que tinha deixado em mim com isso, mas não o culpo por isso, não é como se todos os pais não inventassem coisas para doutrinar seus filhos.
Sinto um puxar na manga da minha camiseta e olho para o garoto a minha direita, ele tinha um olhar preocupado no rosto e me chamava silenciosamente para dividir o puff com ele.
Que gracinha.
Keith era o único que sabia dessa história, nós sempre compartilhamos segredos e esse não foi exceção.
–Ta tudo bem mesmo? - ele diz perto do meu ouvido com um tom apreensivo. –Eu sei que não gosta nem um pouquinho desse filme, se quiser eu posso pedir pra trocarem.
–Não precisa, Keith. - sorrio para ele, tão precioso... –Acho que consigo assistir sem precisar sair no meio.
–Mas se precisar me avisa que eu vou com você. - ele diz de prontidão.
–Aviso sim.
Não demorou para que os outros três se acomodassem no colchão e nas almofadas que estavam espalhadas pelo quarto, incluindo o travesseiro da Tooru que eu anteriormente usei, obviamente com Pidge. Allura tinha tido uma ideia para fazer Hunk participar um pouco da noite, mesmo de longe, ela fez uma videochamada com ele pelo notebook de Keith, Hunk já estava acomodado na cama com um pote de pipoca e alguns doces.
O início do filme foi um tanto quanto tranquilo, por serem cenas mais claras e sem sustos, então apenas assisti aconchegado no peito de Keith que de três em três minutos alternava o olhar de mim para o filme e do filme para mim, ele fica tão fofo preocupado.
Estava tão distraído pensando em coisas aleatórias que não notei que o filme começava a chegar nas partes macabras que eu tanto odeio, então, já imagina o susto que levei ao olhar pra tela e ver a maldita porta aberta, a porta que me causou pesadelos quando menor.
Aperto a cintura de Keith assustado, já sentia minha respiração desregular e meus olhos começaram a ficar úmidos. Eu sei que é um medo infantil mas eu entro em pânico com isso, é inevitável.
–Anjo, quer sair daqui? - Keith pergunta no pé do meu ouvido.
–Não precisa. - digo tentando não transparecer o medo na minha voz. –Eu tô bem, relaxa.
Ele me abraça mais forte me fazendo entrelaçar minhas pernas nas dele e esconder meu rosto em seu pescoço.
O cheiro dele me acalma.
Keith começa a fazer um carinho nas minhas costas com as pontas dos dedos, ele os movia em círculos e espirais, era realmente relaxante. Ele subiu seus dedos até minha nuca fazendo um carinho e enrolando alguns fios de cabelo dando um leve puxar.
Tão bom.
Ele continuou com esse carinho por um bom tempo, até havia me esquecido do filme que passava, ele não me assustava mais.
Não sentia medo com ele ao meu lado.
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