(Narrador)
A avó de Louis, Dulce, já o esperava no aeroporto do Rio. A princípio, a mulher estava com uma carranca, mas, foi só ver o rosto do neto, vermelho e inchado, que sua feição mudou.
Era certo que Dulce não aceitava aquele tipo de opção sexual. Mas...nunca vira o neto tão destruído.
A senhora não era igual a Mark. Ela sabia escolher pela felicidade de quem amava.
-Oi, vovó. – Louis disse, baixinho. Isso só fez a mais velha ter certeza de que aquilo o machucava. Desde quando Louis falava baixo, ou olhava para o chão, como agora?
-Oi, querido. – isso o fez olha-la. Louis esperava que a mulher o repreendesse, não que chamasse-o de querido! – Vamos, precisamos conversar.
Louis apenas assentiu. Talvez ela só quisesse mais privacidade para começar a bronca.
Louis seguiu o caminho todo em silencio, olhando a incrível paisagem. O Rio de Janeiro era mesmo lindo. E quente. O rapaz estava suando, apenas por usar uma blusa de lã!
A casa de sua avó dava uma bela vista para a praia. Eram por volta de 10 horas, e já estava lotada.
Eles entraram, e sua vó o pediu para subir e deixar suas malas no quarto, para conversarem na sala. Louis o fez.
Voltou até a sala, e sua avó o esperava no sofá.
-Sente-se, querido. – a mulher pediu, indicando o lugar ao seu lado. Louis se sentou. – Seu pai me ligou a algumas horas. Ele me disse o porque de tê-lo mandado para cá, mas...não contou a história toda.
-Qual história? –Louis não entendia. A mais velha sorriu.
-A sua história com esse menino, querido. Quero que me conte como tudo aconteceu. – o porque daquilo? O menino não sabia. Poderia ser para que ela visse sobre o que cutucar mais, ou talvez para ganhar tempo enquanto pensava em punições.
Porém, Louis contou. Desde o início, explicando quem era Harry, e como esse namoro surgiu. A mulher riu quando Louis concluiu, dizendo que se não fosse pela música, eles nunca teriam gostado um do outro dessa forma.
-Por que me pediu para contar? – perguntou, depois que terminara e a mulher nada disse.
-Para ter certeza.
-Certeza de que, vó? – perguntou.
-De que está feliz ao lado desse menino, Harry. Agora, eu tenho. – disse, sorrindo quando o neto a olhou surpreso.
-E o que pretende fazer?
-Te apoiar. Diferente do seu pai, Louis, eu nunca te proibiria de viver com algo que te faz feliz.
-Mesmo que isso signifique que eu seja gay? – o neto só queria ter certeza, já se preparando para abraçar a mulher.
-Mesmo que você seja gay. – e riu, pois Louis pulou sobre seu corpo, como fez com Jay a um tempo atrás, a abraçando.
-Então, posso voltar, né? – já queria pegar sua mala e comprar a passagem. Não queria esperar se sua avó o aceitava como era, queria voltar para Londres, para Harry.
E o sorriso da mulher murchou.
-Não. Não pode, Louis. Seu pai pediu transferência da sua escola para cá, e meio que impediu que você retornasse até o ano terminar.
-OQUE?! Como assim? Como ele conseguiu fazer isso em algumas horas? Uma transferência assim não demora?
-Normalmente demoraria, mas seu pai, quando está fora de si, é capaz de fazer loucuras. Provavelmente pagou para fazer isso ainda hoje. E, quanto a proibição de retorno, era só inventar algum bom motivo para te manter afastado de Londres por um ano. E, ele é seu pai, pode fazer isso. É como se ele tivesse deixado uma guarda provisória comigo. Não pode voltar agora, Louis.
-Não posso esperar até o ano acabar, vó! Ainda é Abril! – Louis não poderia pensar em ficar 8 messes longe de Londres. Sua vida, praticamente, estava lá.
-Eu sei querido. Posso dar um jeito quanto a sua transferência, mas não sei o que fazer quanto a proibição! Só o seu pai pode cancelar...
-Mas ele não vai. – sua visão embaçou. Não acreditava em como o pai poderia ser eficiente em machuca-lo.
-Sinto muito, querido. – a mulher afagou o rosto do neto, odiando as lágrimas em seus olhos, que faziam as orbes azuis ficarem mais claras.
-Mas... mesmo assim, se puder, já peça minha transferência... fico aqui até o final do ano, se não pudermos fazer nada. – era o melhor plano que tinha.
-Posso falar com seu pai, tentar faze-lo entender. – Dulce propôs.
-Obrigado, vó. – sorriu fraco, mesmo sabendo que nada mudaria a opinião do pai.
-Desculpe, Lou, mas, por hora, é só o que posso fazer. – e a mulher olhou em volta, como se procurasse respostas nos móveis. Então, viu o telefone. – Que tal se ligar para ele?
-Hum? – Louis não entendera.
-Pro seu namorado. Ligue para ele. Irei fazer o almoço. Pode ficar conversando com ele até eu terminar.
Era melhor do que nada.
Louis pulou do sofá e pegou o telefone fixo, discando o número de Harry. Três toques depois e Styles atendeu.
-Alô?
-Harry! – Louis sorriu. Era bom falar com ele.
-Louis? Já chegou no Brasil? Como sua vó agiu? Você tá bem? – Harry disparou as perguntas, não dando tempo de Louis responder.
-Calma, Hazz. Sim, já cheguei. Estou... bem. – ou nem tanto, mas... – E... ah, Harry, minha avó aceitou!
-Jura? Ai que bom! Eu estava tão preocupado...mas...se ela te aceitou, você vai voltar? – a mesma conclusão tirada por Louis. Mas não iria ser o que aconteceria.
-Não posso. Meu pai me proibiu de voltar...até o fim do ano.
-Como? Mas... ele pode fazer isso?
-Sim.
-E a escola?
-Ele conseguiu me transferir. Minha avó vai tentar me colocar de novo no colégio ai em Londres, mas, mesmo que ela consiga, não posso voltar até o fim do ano. – Louis já não sorria a muito tempo.
Harry ficou em silêncio.
-Então... nada de Louis para mim até dezembro.
E, na verdade, não era uma piada. Mas ambos riram.
-Nada de Louis para você. E nada de Harry para mim. Estamos quites. – Louis também brincou.
-Sabe que não importa, né? São só oito messes. Posso esperar isso. – Harry quase sussurrava, como se contasse um segredo. Louis sorriu levemente.
-Eu realmente não te mereço.
-Sempre mereceu, Lou.
-LOUIS! O ALMOÇO! – sua avó o chamou. A mulher estava ouvindo a conversa, e sorria. Seu neto estava mais calmo agora. Harry realmente o fazia bem. Ela se daria bem com o rapaz, podia ver isso.
-Tenho que ir, Harry. Eu te amo.
-Também te amo. – diz. Sua voz, um pouco rouca, como se quisesse chorar.
-Não precisa chorar. Isso não é um adeus. – Louis sentiu sua garganta fechando. Não quer dizer que ele também não estava triste.
-É apenas um até daqui a oito messes, é, eu sei. – Harry estava chorando. Louis sabia.
-Hazz...
-Tudo bem. Eu espero. Posso fazer isso. – diz. Seria mais fácil de houvesse um jeito de se verem durante esses oito messes, mas Harry sabia que não tinha como ele viajar para o Brasil, e Louis não podia voltar. Eles não se veriam, até o fim do ano. Isso parecia uma eternidade.
-Eu te amo muito, Curly. – Louis mordeu os lábios.
-Também te amo muito, muito mesmo, Boo. Até daqui a oito messes. – riram secos, mas riram.
-Até daqui a oito messes. – e desligou.
-/-
-Louis. Acorde, querido. – Dulce acordou o neto no dia seguinte.
-Que foi? – perguntou, meio grogue.
-Você tem aula hoje, querido. Sei que não sabe falar português, mas as pessoas lá na escola só falam inglês. Seu pai conseguiu te colocar no colégio particular. – ela disse, só para tranquilizar o menino.
Louis assentiu.
-Tenho tempo de tomar banho?
-Claro. Ainda tem meia hora, desça quando terminar, seu café já está pronto. – ela lhe deu um beijo na testa e se retirou do quarto.
Louis tomou um banho rápido e pegou sua mala, que não tinha aberto ainda, em cima da cama.
Encarou suas roupas. Olhou pela janela. O sol estava sorrindo. Estava muito calor, e ainda eram seis da manhã. O que ele usaria?
Pegou uma calça jeans fina e a colocou. Enfiou um tênis e pegou uma das regatas que possuía. O conjunto ficou bom, e não era tão quente. Penteou os cabelos e pegou uma mochila que a avó havia lhe dado. Havia ainda alguns cadernos que a senhora saíra para comprar na tarde anterior, e os livros Louis pegaria na escola.
Quando desceu, seu café o esperava, assim como a avó.
-A escola é muito longe? – perguntou, colocando um pouco de leite no café.
-Não, uns cinco minutos daqui. Irei sair também, está no meu caminho, te deixo lá. - a mulher diz, e Louis assente. Não estava nervoso, nem animado. Era como se não conseguisse sentir nada. Queria ligar para Harry, mas o mesmo ainda estaria dormindo.
Não queria ficar lá.
Terminou o café junto com a avó, e ambos saíram.
Como Dulce disse, a escola era bem perto. Logo, podia ser visto o prédio. Que, cá entre nós, não era pequeno.
-Bom, é aqui. Boa sorte, querido. E, não se preocupe. Não é para sempre. – Dulce diz antes de lhe dar um beijo na bochecha e virar a esquina onde estavam. Louis atravessou a rua e parou em frente ao portão.
O pátio estava lotado de adolescente de shorts e camisetas, alguns meninos de calça, até mesmo algumas meninas. Louis se achou um estranho ali. Todos tinham pele morena, ou eram mais escuros. Sinceramente, ele se sentia um fantasma, já que sua pele era branca.
Julgou que esse foi um dos motivos para que as pessoas o olhassem enquanto andava até dentro da escola. Mas, por sorte, ele estava acostumado a ser olhado.
-Ãh, oi! – cutucaram seu ombro. Louis se virou, vendo uma menina o olhando. Ela tinha cabelos curtos, acima dos ombros. A pele não era muito morena, mas não chegava a ser branca. Olhos castanhos e meio baixinha. Uma típica brasileira.
Louis não entendera o que a menina falara, por ter falado em português.
-Desculpe? – disse e a menina assentiu, como se entendesse algo.
-Sabia que não era daqui. – agora, ela falava em inglês, com um leve sotaque. – Só quis conferir. Além disso, parece meio perdido.
-Estou. Quero chegar até a secretaria. – Louis estava um pouco aliviado por encontrar alguém que o ajudasse sem ter que pedir.
-Te levo lá. Meu nome é Clara, a propósito.
-Louis. – diz. A menina sorri para ele, como se aprovasse o nome.
-Combina com você. Vem, Louis. – e pegou a mão dele, o puxando até o final do corredor onde estavam, virando a esquerda e parando em frente a secretaria. A menina bateu na porta, ouvindo um “entre” que Louis não entendeu. – Oi, Sra. Souza. Tem um aluno novo estrangeiro, pode me dar o horário e a sala dele?
-Ah, é mesmo, hoje ele viria para cá. – a mulher, que aparentava ter 30 anos, acenou para Louis, em cumprimento e pegou o número da sala dele. – Ele está na sua sala, Clara, pode passar o horário para ele depois?
-Claro! – a menina responde.
-Que bom. Bem, só precisamos pegar os livros dele. Já volto. – e se levantou, abrindo outra porta a direita, onde era uma espécie de biblioteca.
-Ela foi buscar seus livros. Está na minha sala. – Clara explicou os acontecidos para Louis, que sorriu agradecido.
-Aqui estão. – Sra. Souza voltou com vários livros nos braços, os entregando para Louis. – Tenham uma boa aula!
-Obrigada. – Clara agradeceu pelos dois, puxando Louis novamente. – Nossa primeira aula começa agora.
-Onde é a sala? – pergunta.
-No segundo andar. Vem. – o chama, começando a subir as escadas, as quais Louis não vira até o momento.
Subiu atrás da menina, que andou até a primeira sala a direita, entrando na mesma.
-Clara! Onde estava? - dois meninos dentro da sala, desenhando no quadro, perguntaram.
-Ajudando o novo aluno. O que estão desenhando? – perguntou, chegando perto para ver os desenhos.
O quadro estava preenchido de corações, estrelas, flores e nomes de quase todos os alunos da sala. Seria o primeiro dia depois do recesso escolar que acabou durando um mês. Era como se fosse o primeiro dia de aula. Por isso, desenharam.
Clara sorriu para o quadro, pegando um giz e o estendendo para Louis, que lia os nomes.
-Escreva o seu, Louis. – disse em inglês. Louis sorriu, pegando o giz e procurando um espacinho no quadro. Encontrou um, perto do canto, e escreveu seu nome.
-Britânico? – um dos rapazes perguntou.
-Sim. – Louis respondeu, se surpreendendo pelos meninos aparentarem saber inglês.
-Que legal! Bom, Louis, né? Me chamo Vinicius. E esse é o Lucas. – o menino que perguntara disse. Vinicius era loiro, olhos castanhos e pele morena. Lucas tinha a pele mais escura, sem necessariamente ser negro, cabelos pretos e olhos mais claros.
-Prazer. – Lucas diz, sorrindo.
E então, o sinal tocou.
-RÁPIDO, PRO FUNDO! – Clara gritou, correndo até o fundo da sala. Vinicius e Lucas a seguiram, correndo também. – VEM LOUIS! – chamou, e Louis correu também, se sentando entre Clara e Lucas.
-Pra que isso? – pergunta, sem entender.
-Gostamos de sentar no fundo. – responderam os três, como se fosse normal.
Acabou que não foi tão ruim. Todos – todos mesmo – sabiam falar inglês, assim como os professores, e as aulas eram em inglês. Clara explicou que, para poder entrar na escola, teria que ter pelo menos dois anos de curso na língua, e os professores também entravam nessa.
O almoço foi muito mais engraçado que Louis previra, já que Clara, Vinicius e Lucas eram comediantes. E Louis descobriu que ambos os meninos eram namorados. Lhes contou que também era gay, o que fez Clara quase gritar de alegria, dizendo que era uma sortuda por ter melhores amigos gays. Louis sorriu para ela nesse ponto, e a menina devolveu.
Quando perguntaram o porquê de ser transferido para o Brasil, Louis contou a verdade, até porque não tinha ração para mentir.
Lucas e Vinicius xingaram o pai de Louis em português, para que Louis não entendesse, mas pelos seus tons, Tomlinson deduziu o que seria.
Quando as aulas acabaram, Clara perguntou onde era a casa de Louis, e ambos descobriram serem “vizinhos” já que a menina morava no fim da mesma rua.
-Até amanhã, Clara. Até amanhã, Louis. – Luca e Vinicius se despediram, mandando beijos para os amigos, fazendo os dois rirem.
-Vocês são uma comédia. – Louis comentou enquanto ele e Clara andavam até suas casas.
-Sei disso. Por isso me amo, e amo eles. – riram.
Louis ficou quieto depois disso.
-Hey, no que tá pensando? – Clara pergunta depois de um tempinho.
-No meu namorado. – responde, simples.
De repente, a menina pareceu brava.
-Desculpe falar isso, Louis, mas, eu acho que o seu pai é um belo idiota! Ele não vê que isso te machuca? Não tinha nada que te mandar para o outro lado do mundo só porque você é gay! – a menina parecia irritada de verdade.
-Eu sei. Mas, ele não entende.
-Deveria! - bufou, irritada.
Eles se olharam. E então, riram.
-Desculpa, é que fico indignada com facilidade.
-Percebi. – Louis respondeu. Chegaram até a casa de sua vó. – Chegamos. Até amanhã, então, Clara.
-Até, Lou! – deu um beijo na bochecha de Louis, começando a andar até sua casa, enquanto Tomlinson entrava na da avó.
-Vó? Já chegou? – chamou. Nenhuma resposta.
Subiu pro quarto, jogando a mochila no canto e entrou para o banho.
Sai do mesmo, se enfiando no pijama usado na noite passada e deitou na cama, dormindo.
-/-
O mês se arrastou, mas não tanto quando esperava. O “Trio de patetas” como Clara, Vini e Lucas eram conhecidos, se tornou um quarteto. Louis já conquistara todos naquela escola, assim como seus novos amigos o tinham conquistado.
Falou com Harry, e os outros meninos ao longo do mês. Na primeira fez em que falou com os amigos, pelo novo telefone que sua avó o dera, Niall e Theo quase juraram que iriam busca-lo, mesmo sabendo que não seria possível. Liam exigiu que Louis ligasse todos os dias, mesmo que fosse de noite. E Louis o vem fazendo.
Harry ainda tentava fazer graça, mas a cada dia, ao invés de ficar fácil, estava difícil. A falta de Louis era vista por ele em todos os momentos, todos os dias, em todos os lugares. Não era diferente para Louis.
Sua avó ainda tentava convencer seu pai a deixa-lo voltar para Londres, mas estava difícil, já que Mark não entendia o que estava causando, e agora estava com raiva da mãe por aceitar, em suas palavras, essa barbaridade.
Quanto a sua transferência de volta para a escola de Londres, esse assunto ainda precisava de alguns detalhes, mas logo aconteceria. E depois, era tentar convencer Mark que não adiantava isso. Louis ainda amava Harry.
Dayse e Phoebe ligavam para a avó quase todos os dias, querendo falar com o irmão, e sempre acabavam chorando. Jay não agia diferente e Mark nunca ligava.
Louis com o tempo, se acostumou com a rotina da nova casa, mas ainda preferia Londres.
Sentia falta de tudo em Londres. Do frio. Dos restaurantes. Da escola. Das ruas. E da neve que caia no inverno.
E, sobretudo, sentia falta de Harry.
Mas, por hora, não podia fazer nada para acabar com isso. Só...se distrair com os novos amigos patetas, os deveres e as piadas antigas da avó que sempre o faziam rir.
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