História From Hell to Heaven - Consequências

 Aquela claridade da luz do sol que invadia meu quarto fez meus olhos arderem de imediato. Fui me acostumando com aquilo até abrir meus olhos por completo. Jenny estava agarrada no meu pescoço com as pernas em cima de mim ainda dormindo. Saí da cama com cuidado e fui ao banheiro, tomei um longo banho e aproveitei pra acordar Jenny, aquela era uma missão quase impossível. Me sentei na cama com cuidado e acariciei aqueles cabelos loirinhos, quase brancos.

— Filha. — Dei um beijinho em seu rosto, ela nem se mecheu. — Jenny, acorda! Já está tarde e você tem aula hoje. — Ela abriu os olhos emburrada com um bico do tamanho do mundo.

— Não quero. — Sua voz rouquinha de sono me dava vontade de apertá-la até não aguentar mais.

— Você tem que ir pra escola Jenny, seus amiguinhos estão lá esperando por você, e a professora Lany também. — Ela deitou a cabeça no meu colo e fechou novamente os olhinhos. A peguei no colo e comecei a levá-la pro banheiro. — Jenny, se você não parar com isso eu vou te colocar no chuveiro com água gelada. — Ela arregalou os olhos.

— Não, mamãe. Credo! — Jenny desceu do meu colo e começou a tirar a roupa. Liguei o chuveiro e ela entrou. Aproveitei e fui ao seu quarto pegar sua toalha e o uniforme da escola.

— JENNY, OLHA O QUE VOCÊ FEZ! — A repreendi assim que voltei. Tinha shampoo pelo chão do banheiro inteiro.

— Eu estava lavando a cabeça, mamãe. — Ela gargalhava.

— A Lucy vai te matar e eu vou deixar. — Tentava passar pelos lugares que não tinha tanto shampoo, quase caí ao chegar perto dela. Peguei a toalha e enrolei Jenny. Peguei a mesma no colo e levei para fora do banheiro colocando-a em cima da cama. — Você nem tomou banho direito, só ficou fazendo bagunça. Depois fica falando que é mocinha.

— Mas eu sou mocinha. — Secava ela enquanto a mesma procurava a frente da calcinha, coloquei seu uniforme e ajeitei seu cabelo fazendo um rabo de cavalo no alto da cabeça. Aproveitei que ela se distraiu vendo TV e fui tomar banho pra levar a princesinha do Bieber para a escola. 

— Vai até seu quarto, pegue sua mochila e desça. Estou te esperando lá embaixo e não demore, estamos atrasadas. — Peguei minha bolsa e coloquei meu celular dentro, ela desceu da cama e correu. Deixei minha bolsa no sofá e fui para cozinha, para minha infelicidade Justin estava tomando café.

— Bom dia. — Ele disse e eu respondi com apenas um sorriso sem mostrar os dentes. Me sentei e pus panquecas para mim Jenny, logo ela desceu pela escada dos fundos e se sentou do meu lado sem trocar nenhuma palavra com Justin. — Minha princesinha não vai me dar um beijo de bom dia? — Ela o olhou enquanto eu colocava suco no copo. 

— Puquê você está em casa? Sempre vai trabalhar e deixa eu e mamãe sozinhas aqui. — Ela ainda estava brava com ele pela noite anterior, mesmo eu gostando do jeito que ela estava o tratando, ele era pai dela.

— Essa não foi a educação que eu te dei. Vá lá e dê um beijo no seu pai.

— Mamãe! — Ela praticamente me repreendeu.

— Jenny, dê um beijo de bom dia no seu pai como você sempre faz! O que aconteceu ontem não é motivo pra você tratá-lo desse jeito. — Ela abaixou a cabeça. — Jenny.  — Ela me olhou como se estivesse pedindo socorro, mas foi até Justin que a pegou no colo e Jenny deu um beijo em seu rosto sem vontade alguma, logo ela desceu e voltou a sentar do meu lado. Comemos em silêncio e fomos até a sala pegar minha bolsa e a chave do carro.

— Deixa que eu levo vocês. — Justin apareceu na sala. 

— Jenny, vai pra garagem que eu já estou indo. — Ela saiu deixando eu e Justin à sós. — Está querendo dar um de pai presente por quê?— Ele levantou uma das sobrancelhas. 

— Não sou um pai presente? 

— Jenny pra você é só diversão, brincar e mostrar pra os amigos o quanto você tem uma filha linda. — Coloquei minha bolsa em meu ombro e peguei a mochila de Jenny que ela havia deixado no sofá. — Mas pra dar comida, dar educação, ser um pai rigoroso quando tem que ser, levá-la pra escola isso não acontece. Mas vamos lá Sr. Paizão, só uma vez não vai matar ninguém. — Dei um sorriso sem vida e joguei a chave do carro na mesinha de centro.

 Fui andando até à garagem e Jenny estava conversando com um segurança, Justin destravou um dos carros da garagem e ela entrou, entrei no lugar do carona e Justin ocupou o lugar do motorista. Deixamos Jenny no colégio no caminho de volta percebi que Justin ia para um lugar diferente, que não era o de casa.

— Vamos parar de gracinha, me leve logo pra casa se não minha raiva por você vai aumentar.

— Nós precisamos conversar sobre o que aconteceu.

— O que aconteceu? Ah, lembrei! Você deu um tapa na minha cara. — Novamente deixava minha ironia transparecer.

— Também é isso que eu quero conversar, além de outras coisas.

— Não vou mais discutir. Quer saber? Me leve pra onde quiser.—  Ele não respondeu e depois de um tempo em silêncio o carro foi parado em um pequeno bistrô, subimos até o segundo andar e nos sentamos em uma mesinha encostada na janela.

— Não sei por quê me trouxe aqui se nossas conversas sempre acabam em gritos.

— É justamente por isso que te trouxe, pra termos uma conversa civilizada. — Um garçom veio até nossa mesa e deixou duas taças de vinho branco, tomei um gole e continuei a olhá-lo. — Eu vim lhe pedir desculpas. Você sabe mais que ninguém o quanto sou apaixonado por você e o quanto amo nossa filha, eu sei que depois do que eu fiz as chances de voltarmos são poucas. 

— Poucas? — O interrompi. — As chances que tínhamos não existem mais. 

— Que seja! Você sabe o quanto eu estou arrependido, isso qualquer um vê.

— É mesmo? Está arrependido também de ter ficado com Ashley? Está arrependido de ter levado aquele projeto de puta pra cama que você transava comigo?

— Também! Mas você acabou entrando no jogo, começou a me provocar fazendo um strip na frente daquele monte de gente.

— Você quem começou, Justin! Fez uma festa na sua casa pra me provocar, esperou nossa filha ir dormir pra transformar aquela casa num puteiro sem ao menos pensar nela.

 — Você coloca Jenny em todos os nossos problemas! — Eu sorri e me escorei na cadeira.

— Você mesmo me disse, não somos mais só eu e você nesse mundão. — De repente ele fez silêncio, um silêncio torturante. Meus olhos não desgrudavam dos seus e eu preferia estar discutindo do que ficar naquele silêncio constrangedor.

— Com licença. — Uma menina que aparentava ter no máximo 15 anos se aproximou. — É que eu e minhas amigas somos suas fãs incondicionais! — Elas olharam pro Justin e umas outras meninas se aproximaram ficando junto dela.

— MEU DEUS! — Uma outra garota gritou um pouco alterada ao me ver, eu arregalei os olhos meio assustada sem entender.

— Lay, lay... — Ela tentava lembrar de alguma coisa, eu franzi as sobrancelhas olhando para Justin com um sorriso meio sem graça, logo depois voltei a olhar pra menina.

— Lay With Me! Não agrecito! Você quem canta "Lay With Me"! Como eu não me liguei?! — Uma outra menina afirmou um pouco eufórica e eu continuei sem entender nada, mas aquela frase era familiar.

— Você gravou a música. — Ela suspirou tentando se acalmar. — Lay With Me. — Eu arregalei meus olhos tentando não pensar no pior.

— Como souberam disso? — Perguntei. 

— Tá uma febre no YouTube, redes sociais, até em sites de noticias. Ficamos sabendo até que você irá participar do show da Miley amanhã.— Meu coração acelerou de nervoso. 

— Miley, tinha que ser. — Apoiei meus cotovelos na mesa e afundei meu rosto nas mãos procurando não me estressar com aquela informação. As meninas tiraram fotos com Justin e insistiram pra tirar foto comigo, recusei até o ultimo segundo até porque eu não queria ter essa vida, mas não adiantou.

— Podemos voltar a nossa conversa? — Justin perguntou depois que as meninas saíram.

— Não acha que eu já tenho problemas demais? Sou mãe, acabei meu noivado mais uma vez e agora essa merda que Miley fez. Justin, acho que já pode me levar pra casa.

— Já que insiste em continuar nesse clima chato, tudo bem! — Ele se levantou deixando uma nota de 100 dólares em cima da mesa, eu me levantei e saí logo atrás dele.  

[...]

 Por um milagre Justin se deu o trabalho de buscar Jenny na escola. Estava na mexendo no celular e vendo a repercussão que aquele vídeo que a maluca da Miley colocou na internet. Pattie já havia chego de viagem e estava um silêncio absoluto onde eu estava, Jenny fazia falta até quando estava na escola.

— E aí, como foi o dia sem eu estar por perto? — Pattie perguntou descendo as escadas e sentando do meu lado no sofá, eu parei de mexer no telefone. 

— Ah, mamãezinha! Se eu começar a te contar você vai acabar desmaiando. — Ela respirou fundo e soltou o ar lentamente.

— Pode soltar a bomba.

— Bom, Justin organizou uma festa que parecia mais um puteiro enquanto Jenny estava dormindo.— Ela arregalou os olhos e estava boquiaberta. 

— Por que você não impediu isso?

— Eu estava no shopping e saí de lá tarde, cheguei aqui e ele estava agarrado com a Ashley.

— Pera aí! Ashley é quem eu estou pensando? — Ela perguntou e eu assenti. 

— Mas não acabou por aí, eu quis provocá-lo e acabei ficando com o Chaz. — Sua cara era de quem estava ainda mais confusa.

— O Chaz?

— Isso não é o pior de tudo. Quando nós estávamos conversando ele me deu um tapa. — Ela se levantou ainda com os olhos arregalados. 

— UM O QUE? — Pôs a mão na testa e voltou a se sentar, parecia que não estava passando bem.

— LUCY, TRÁS UM COPO D’ÁGUA, POR FAVOR? — Gritei e enquanto isso tentei ajudar Pattie a se recuperar dando sopros leves no seu rosto.

— Mamãe, puquê você não foi me buscar na escola? — Péssima hora de Justin trazer Jenny para casa. Lucy chegou com um copo d’água e entregou para Pattie.

— Seu pai disse que ia te buscar. — Ela correu para o meu colo me dando um beijo melado no rosto.

— Vovó ta passando mal? — Ela olhou para Pattie.

— Ela só está um pouquinho nervosa, vamos subir e trocar de roupa pra brincar. — Me levantei com ela, subi as escadas com ela no colo e fui até seu quarto, enquanto Jenny tirava a roupa eu escolhia uma muda de roupa para ela vestir. A ajudei a vestir a roupa e depois descemos com Jenny cheia de brinquedos nas mãos. Assim que chegamos na sala o assunto de Pattie e Justin acabou, aproveitei e liguei a TV, Pattie saiu da sala e Justin sentou do meu lado olhando Jenny brincar.

— Você não vai me desculpar? — Ele me perguntou mas eu continuei olhando para TV. Justin puxou meu rosto pra olhá-lo e eu o empurrei.

— Ponha as mãos em mim de novo e eu esqueço que você tem uma mãe e uma filha! — Sussurrei para Jenny não ouvir e me afastei dele.

 O filme que passava na TV era tedioso, mal prestava atenção na TV. Me mexia toda hora e tentava ao menos tirar um cochilo mas era impossível com Jenny me chamando toda hora. Aproveitei e arrumei meu quarto e o quarto da Jenny para ver se o tempo passava, só que Jenny era praticamente minha sombra, tudo o que eu guardava ela colocava novamente para fora e fazia uma bagunça pior do que já estava. Estava na cozinha comendo algumas besteiras com Jenny quando Lucy entrou.

— Suas formiguinhas! Uma hora dessas e vocês fazendo farra na cozinha da Jasmin? — Ela olhava a bagunça que Jenny fazia com os doces na bancada.

— Jenny. — Comecei a rir ao olhar pra ela. — Sua boca está toda suja de chocolate. — Dizia enquanto ela tentava chupar, sim, hupar um morango.

— Ah, mamãe! Tava gostoso demais. — Quando ela ia colocar aquelas mãos sujas de chocolate e morango no pote de biscoitos recheados eu impedi.

— Chega, já está tarde e você precisa dormir, amanhã você tem aula e depois vamos pro show da tia Mily. — Peguei a mesma no colo.

— TIA MILYYYYYYYYYY! — Ela deu um grito que eu me assustei. Dei um banho em Jenny e depois tomei um banho, ela já estava deitada na minha cama pronta para dormir, parecia até que ela não tinha quarto naquela casa. Justin por todo esse tempo desapareceu. Não o vi na casa, deixei Jenny assistindo TV no meu quarto e fui buscar meu celular que tinha ficado na sala. A casa já estava um breu, tudo escuro, peguei meu celular em cima do sofá e quando estava subindo as escadas escutei um barulho, barulho de risadas. Foi quando aporta foi aberta Justin entrou com duas mulheres. Ele acendeu a luz, lógico que eu não iria me esconder. Subi as escadas lentamente. 

— Sofia? — O olhei indiferente. — Achei que já estava dormindo.

— Pra sua infelicidade eu não estava. — Sorri e continuei subindo a escada. — Ah, Justin! Tente fazer o máximo de silêncio possível, preciso pôr sua filha pra dormir. 

Terminei de falar e entrei no quarto, Jenny já estava quase na porta do quarto pronta para ir me procurar. A peguei no colo e fechei a porta, me deitei com ela na cama e comecei a dar tapinhas leves no seu bumbum pra ela dormir. Eu não poderia negar a raiva que estava sentindo naquele momento, eu só conseguia ter nojo dele. 

— Mamãe, ta doida? — Jenny me repreendeu falando meio embolado por conta da chupeta.

— O que houve?

— Está dando tapas fortes, você vai acabar me machucando! Está com raiva? — Dei um sorriso sem vida e neguei com a cabeça.

— Desculpe, só estava pensando em umas coisas! Isso não vai mais acontecer. — Puxei Jenny pra mais perto e ela me abraçou colocando uma das suas pernas em cima de mim. Dormir com ela desse jeito me trazia paz, me lembrava que eu ainda estava nesse mundo só por causa dela.