Pov Luana
Castanhos, profundos e quentes.
Não muito grandes e nem sempre atentos, mas sempre brilhantes. E sempre acolhedores, cheios de carinho.
Os olhos de Paola.
Aqueles olhos que, desde ontem, percebi preocupados comigo. Ou melhor, conosco. Com a nossa situação atual, talvez.
A verdade Aline já sabia: eu iria embora em exatos cinco dias. Paola sabia que seria logo, mas não consegui contar pra ela.
Não sei que porra deu em mim, mas eu não consegui. Ela estava claramente cheia de coisas na cabeça e... Acho que ela não quis segurar minha mão. Então eu a pedi que não pensasse tanto. E assim que a vi ficar rígida, percebi que provavelmente foi aquilo mesmo. Que merda.
Claro que eu sentiria falta de Paola. Muita, mas... Queria evitar pensar naquilo por enquanto.
E ela também, eu acho. Por isso não joguei a bomba no buraco.
- Porra, Luana... – foi o que ela disse depois que eu a fiz gozar, com todo o carinho do mundo, sem nenhuma pressa, e apenas com carícias. Suas bochechas coravam e o sorriso relaxado que eu queria nascia em seu rosto. Imediatamente sorri de volta, mesmo que seus olhos ainda estivessem fechados.
- Linda. – os castanhos finalmente estavam de volta aos meus. – Melhor?
- Deu pra perceber que eu não estava bem?
- Sim, estava tensa. – fugi momentaneamente de seus olhos, encostando minha boca em seu ombro.
- Desculpa. – sussurrou.
- Por que se desculpa? Tem a ver comigo?
- Sei lá, eu meio que… Não sei, tem coisa demais na minha cabeça agora. Não é culpa sua, de forma alguma.
- Então não precisa se desculpar. – acariciei o rosto dela. – Tá tudo bem. – falei e selei nossos lábios. – Promete que vai tentar relaxar?
Ela deu um breve sorriso.
- Prometo.
- Eu ajudei?
- Sinceramente? – assenti. – Não muito. – rimos. – Mas o problema sou eu, mesmo.
- Não me vem com essas frases prontas, Paola. Vai terminar comigo? – fiz beicinho.
- Não, longe de mim, bolinho. – ela me beijou a ponta do nariz.
Sempre ficava muito boba com isso, era uma fofura. Paola era um amor o tempo todo, como a Babi a dispensou??
Eu a chamaria de louca, se ainda quisesse estar com a Júlia. E juro que tentaria fazer Paola e Bárbara acontecer de novo. Mas, e ainda bem, não era esse o caso.
Que bom que elas se resolveram, nós nos resolvemos, e uma Paola solteira veio parar no meu colo.
Digo, ao meu lado.
- Sono? – assenti. – Isso não é um colchão de 400 molas, mas se me deixar…
- Eu durmo em qualquer lugar. – ri. – O colchão de 400 molas não é necessário, é apenas um capricho. Vamos dormir aqui?
- Você quer? Será a primeira a dormir comigo no meu apê novo.
- Eu já fui a primeira a incomodar os vizinhos aqui, nada mais justo. Iniciando a fila de várias mulheres que vão ter uma noite de prazer além do que conseguem imaginar.
- É o que te faço sentir? – assenti, ela sorriu e depois fez uma careta. – Não vão ser tantas mulheres. Nem sei se vou trazer mulheres aqui.
- Vai trazer homens?
- Não! – me olhou como se eu fosse doida.
- Então. A Aline mesmo…
- Ah, a Aline. Sim. – riu. – Vamos cozinhar e fazer maratona de filmes.
- Não só de filmes. – maliciei.
- Ah, sobre isso... Andamos conversando, e duvido que manteremos isso acontecendo, as duas.
- Por quê? Achei que estivessem apaixonadas!
- Não mesmo, Lu. Aline agora é tipo uma melhor amiga, sabe? Somos confidentes. Isso é muito importante.
- Vocês moraram juntas enquanto estavam em um relacionamento, como assim melhores amigas?
- Ué, colegas de quarto, não necessariamente algum envolvimento tem que acontecer. Não sei se tem algo a mais, só cuidamos muito bem uma da outra.
- É um bom começo, sabia?
- Sim, é sim. Duvido que tenha alguma coisa além de amizade e carinho, mas ela é importante e eu a amo.
- Por que não é uma opção?
- Não disse que não era. Só não acho que vá virar alguma coisa concreta. Não é o que diz meu coração. – assenti. – É impressão minha ou você está tentando trabalhar de cupido aqui? – ri, sem graça.
- Não é bem isso. Só queria que não perdessem a relação bonita que vocês tem depois que eu for. A gente fez algo bom, aqui. – ela concordou.
- Ah, quanto a isso pode deixar comigo. Não deixo a Aline fugir. Inclusive vamos amanhã nós duas buscá-la pra tomar café da manhã. Se não tiver compromisso, é claro.
- Não tenho, relaxa. Eu sou toda de vocês. – Paola assentiu e bocejou. – Dorme, linda.
- Durmo. – ela disse e se aninhou a mim, como eu queria. – Boa noite, Lu.
- Boa noite.
E, agora cá estamos indo ao apartamento da Aline. Depois de uma excelente noite de sono, pelo menos pra mim.
O silêncio era bom entre nós, mas eu queria falar alguma coisa. Então, inventei um jogo de elogios. Tínhamos que dizer coisas que a gente gosta uma na outra. E eu queria um pouquinho me declarar pra Paola, sim. Estava gostando de não pensar nas consequências até a hora de ir embora, mas quando acordei, inevitavelmente pensei.
Pensei e meu próximo pensamento foi a Paola em casa me visitando.
Quanto tempo isso demoraria? Argh, estou apegada às minhas meninas.
Mas por quê?
E por que Paola estava na frente disso e não Aline? Ou as duas?
A gente criou algo bom juntas e funcionamos bem, principalmente na cama. Era normal sentir o que eu sentia, acho. Não é? Eu apenas não queria largar assim essa experiência tão boa.
Só que, como toda experiência, acaba e isso é inevitável.
Olhei Paola enquanto abraçávamos Aline, que chorava baixinho. Nós duas a amparávamos juntas, mas naquele momento eu tive a sensação de ter as duas nos braços. Como se ambas precisassem daquilo. De mim.
Os olhos de Paola estavam sem seu brilho característico, e estavam distantes. Ela parecia estar passando por muita coisa, assim como Aline, e eu queria entendê-las.
- Vocês são as melhores coisas que me aconteceram esse ano, sabiam? – sussurrou Aline. – Você, Lu. Nossa, eu ajudei a salvar seu irmão e você apareceu na minha vida assim. Tão repentino…
- É verdade. – concordei, deixando um beijinho em sua testa.
- E você, Paola... Você veio enviada de outro estado, de volta pra vida da Babi, e o seu pai morreu... – Paola assentiu. Eu tinha esquecido desse detalhe, Paola tinha problemas com o pai, e ele faleceu.
Talvez isso explicasse por que ela estava tão distante.
- E você resolveu ficar aqui. Sabe, eu sou uma pessoa de fé. – assentimos, sabíamos disso. Eu também era, com minhas ressalvas, mas Aline era uma cristã. Acreditava no propósito maior de todas as coisas e pessoas. – E só posso pensar que... Vocês foram enviadas pra mim. Aliás, nós estávamos destinadas a estar no mesmo caminho por um tempo, e agora que só temos mais cinco dias das três juntas... – Paola arregalou os olhos.
- Como assim, cinco dias?
- Ahn…
- A Luana não falou pra você, Lola? Luana!
- Perdão, nós nos ocupamos muito. – Paola arqueou a sobrancelha. Sim, a minha desculpa era uma merda. – Eu deveria ter contado, mas fiquei com... Não sei, acho que…
- Medo? Da reação da Paola? Ela é quem melhor lida com toda essa situação! – Paola soltou o ar e riu como quem discorda, mas não comentou isso.
- Então, a Luana está voltando para Paris em cinco dias, é isso?
- É sim. Desculpa não ter… falado. – ela assentiu. Agora seus olhos pareciam ter perdido a profundidade de sempre, mais distantes que nunca. E estavam molhados. – Paola?
- Não, está tudo bem. Fui pega de surpresa, mas está bem. Já esperava, você eventualmente teria que ir, não é? – me olhou com um sorriso de lado que eu senti que não era verdadeiro. – Tudo bem.
Ela discretamente enxugou os cantos dos olhos com os dedos. Mas eu vi, porque estava a observando.
- Lola, você tá bem mesmo?
- Estou, quero saber de você! Por que está triste? Já tomou café da manhã?
- Não…
- Então, vamos providenciar isso e conversar sobre o que está sentindo.
- Boa ideia, Paola. A Paola é muito melhor que eu nisso, mas eu sou boa com abraços. Então... – foi a forma de dizer para Aline que eu não iria embora.
Paola resolveria tudo como ela sabe, e eu estaria segurando a mão de Aline. Ambas fazendo o que sabem para ajudar.
- Você é a melhor. – disse Aline em meu abraço.
- Não, eu apenas tento cuidar das pessoas que amo. Não tem nada de extraordinário nisso. Tirando vocês, que são mulheres sensacionais.
- Assim como você, Luana. – disse Aline, e Paola apenas assentiu, sorrindo sem mostrar os dentes.
Eu queria estar abraçando ela também, porque ela parecia precisar.
Passamos o resto do dia juntas e tentando melhorar o astral da Aline, com sucesso até depois do almoço, quando fiquei pra lavar a louça e pude vê-las da cozinha.
Paola chamou Aline e ela foi, sentando em seu colo com uma perna de cada lado. Elas trocaram um olhar forte e algumas palavras sussurradas, na verdade a ruiva disse muito em sussurros.
Não sei se era um efeito das antecipadas saudades que eu já estava sentindo, mas aquela foi a primeira vez que me senti sobrando. Elas estavam concentradas em um mundo só delas, trocando confidências e olhares únicos. Falando sobre coisas que eu não sabia.
E então pensei em ontem, como Paola e eu compartilhamos de uma noite especial e de olhares e sussurros e um mundo só nosso, também.
Por isso, estava quase desistindo de me sentir deslocada, até lembrar de como Paola ficou tensa e como, com Aline, ela parecia estar totalmente confortável e aberta. Além disso, o que eu e Paola fizemos ontem não tinha testemunhas. Elas não podem fingir que eu não estou aqui olhando, porque isso seria realmente me deixar de lado.
Por que Aline não estava mais tão triste e Paola não estava mais tão tensa só de estarem na presença uma da outra?
Elas estão claramente apaixonadas, por que Paola quer negar isso? Tá claro aqui, acontecendo bem na minha frente! Tem até um mínimo princípio de ciúmes querendo nascer em mim!
Ridícula, eu não preciso ter ciúmes. Aquilo significava que elas ficariam juntas, o que era até melhor pra mim, que estava indo.
Aline se encaixou em Paola, a abraçando com as pernas e escondendo o rosto em seu pescoço.
Elas ficaram assim enquanto eu terminava a louça. Caladas e grudadas.
Quando fechei a torneira pela última vez e enxuguei as mãos, Aline já estava no outro extremo do sofá, com as pernas sobre as coxas de Paola e falando.
Sentei-me no chão à frente delas e imediatamente Aline se interrompeu.
- Não Lu, vem pra cá. – chamou, sentando direito. – Troca o lugar comigo.
- Não, pode ficar, Aline…
- Eu insisto, senta aqui. – sem alternativa, ela levantou e eu sentei. – Estica as pernas.
- Posso? – perguntei à Paola, que estranhou.
Ué, eu estava sim me sentindo deslocada.
- Claro, né? – fiz o mesmo que Aline e ia me acomodar até a linda sentar exatamente no espaço entre minhas pernas, que teve de ficar um pouquinho maior.
Então, Aline recostou-se ao meu peito, esticou as pernas nas coxas de Paola e suspirou.
Sem poder sair, e sem querer também, fiz cafuné em Aline. Paola observou minha mão no cabelo dela por alguns segundos, atentamente.
Será que é ciúmes, isso?
Eu não preciso ter ciúmes, e nem elas, mas… será que têm?
- Continua, Lica. – foi o que Paola escolheu dizer.
- Lu, eu estava contando o motivo da minha bad. – explicou.
- Claro, divide conosco, Aline. Sou toda ouvidos. Somos, na verdade.
- Somos. – assentiu Paola.
- Então, eu fui com o Fábio ontem, lembra? Vocês sabem de toda a história que a gente tem, de que éramos amigos, mas eu gostava dele mais do que deveria e tudo mais, e ele se aproveitou disso…
Realmente, já sabíamos de tudo.
- Ele era um excelente amigo, pra todas as horas e tal, como namorado eu já sabia que não era bom, mas quis pagar pra ver... E nem percebi que estava em um relacionamento abusivo por tempo considerável, como vocês já sabem. Então...
Eu antes não entendia como isso poderia acontecer de jeito nenhum, mas Paola fez questão de explicar que o Fábio não era alguém ruim pra Aline de maneira direta e aberta, apenas abusivo de maneira sutil.
Como quem diz coisas desagradáveis, que te põem pra baixo, mas usam a desculpa de “estou falando pro seu bem” com a finalidade de mudar algum aspecto que é naturalmente parte de você. Então ela citou como exemplo alguém que critique o seu corpo, ou a forma como você se veste, ou a sua maneira de falar. Ou que usa coisas que você diz contra você para que você pareça e/ou se sinta errada, tirando delx assim a culpa.
E então, Paola me fez pensar num parceiro que fizesse isso, para que eu entendesse o que é uma pessoa abusiva num relacionamento. Ainda foi além, não precisa ser um homem para ser abusivo.
Até me senti meio culpada por coisas que já disse e fiz algum dia.
Porque a mulher é constantemente julgada e apontada e diminuída na sociedade contemporânea, ela definitivamente não precisa de um parceiro que também faça isso. E o machismo é uma mancha que não sai em todo mundo.
Mas está começando a sair.
Enfim, aprendi muita coisa com Paola sobre a grande responsabilidade de ser uma mulher e de defender certas causas e direitos. Eram coisas sobre as quais eu nem pensava, que passavam despercebidas como passam ainda por muitas outras mulheres.
Mais um motivo para admirar a ruiva que estava diante de mim observando, atenta a tudo o que Aline falava.
Eu já não estava ouvindo faz tempo.
- Mas que filho da puta! – o protesto de Paola trouxe a minha atenção de volta. – Claro que você não tem culpa, ele que cagou o relacionamento todo!
- É, eu concordo agora, mas ele deu bons motivos. Que no fim apenas apontam para o fato de que não éramos compatíveis. Não somos. Pelo menos, não da forma que estamos hoje em dia. E eu tentei ser bem madura, mas admito que ele me magoou.
- De novo. – falei.
- Sim, de novo. Enfim, acredito que eu não vá mais dar ouvidos a nada que diz o Fábio, tão cedo na minha vida.
- Acho bom, Lica. – Paola disse e beijou o joelho de Aline, onde ela antes repousava o queixo. – E vai ficar tudo bem, logo. Ele nem vai fazer a falta que você acha que vai.
Imaginei se eu faria a falta que acho que faria.
Eu não quero sair de perto delas. Eu não quero tirar meus olhos de Paola ou minhas mãos de Aline. Não quero.
- Mas foi horrível, sério. Nossa, que raiva. Fiquei muito chateada, joguei coisa nele, saí de lá chorando muito. Eu não acredito que ainda sou tão vulnerável.
- Não é vulnerabilidade, meu amor, é que você, mesmo sem querer, esperava que algo estivesse diferente nele para que vocês pudessem retomar a amizade. – disse Paola. – Porém ele ainda acha que é seu dono, sinto te dizer, mas vocês não vão ser amigos de novo daquela forma boa de antes. Ele não pode te tratar como se você devesse alguma coisa a ele, porque você não deve. É livre pra ser e fazer o que quiser. E você sabe que não digo isso porque quero entrar nas suas calças. – sorriu e puxou levemente a barra do short de Aline, que riu. – Digo porque amo você, me importo e sou sua amiga.
Amiga? Aham, é amiga hoje, mas quer ser namorada amanhã, aposto!
- Foi bem o que eu disse, sabia? – olhei Aline, com um sorriso enorme no rosto. Paola a retribuía. – Sério, como pode ele achar que é horrível e/ou nojento eu sair com vocês, sendo que vocês são as únicas que me deixam ser livre? Eu amo vocês.
- Também te amo. – falei baixo, ela virou e me deu um selinho rápido.
- Você é a geminiana mais amorzinho que eu já conheci. – ri.
- Não conhece muitos geminianos, né? – Aline riu e negou com a cabeça. Pegou a minha mão e a puxou de volta para sua cabeça, pra que eu a fizesse carinho. Obedeci sem contestar, reparando outra vez nos olhos de Paola que acompanhavam meus movimentos. – E o que você fez pra sair, Aline?
- Eu acabei xingando muito o Fábio...
- Acho que ele mereceu. – cortou Paola. Concordei.
- Foi, e saí de lá debaixo dos gritos dele sobre a minha nova experiência. Eu só contei da gente porque estávamos conversando direito, como amigos, nós dois. Só que infelizmente ele não aguentou escutar que eu estou com mais mulheres do que ele.
- Pau no cu dele, então. – Aline achou graça em Paola.
- É, paciência. Não posso fazer nada. – deu de ombros. – Não é, meus amores? Se fosse ele com duas mulheres eu não podia criticar. E ele nem estaria criticando. Isso aqui não é errado de forma alguma quando somos abertas e sabemos de tudo o que acontece.
Minha língua coçou para perguntar sobre o affair particular delas duas. Mas senti que não deveria, Paola estava com os olhos dela em mim, me intimidei.
Fraca, é o que eu sou.
- Isso é importante. – Aline estendeu a mão e segurou a de Paola, que se inclinou para beijar os dedos dela. – E obrigada por tudo, as duas.
- Não fizemos mais que nossas obrigações, sendo ambas pessoas que amam você. Esse Fábio ainda vai se foder muito. E pena da próxima mulher que passar por ele. Idiota do caralho.
Aline riu e saiu dos meus braços, foi até Paola e a beijou. Mais sussurros das duas.
Eu sei que vou embora, mas não estava preparada para sobrar desse jeito.
Enquanto finalizava esse pensamento, vi a morena levantar.
- Volto já.
E me deixou sozinha com Paola, foi até seu quarto e fez questão de fechar a porta. Ambas ficamos acompanhando enquanto ela ia. Paola, provavelmente apaixonada. Eu só olhei porque não sabia o que falar de primeira.
- Ei. – ela disse. – Poderia ter me contado, né?
- Não consegui. Queria cuidar de você e não achei que deveria soltar que só temos mais alguns dias juntas quando senti que você precisava tanto de mim.
- Eu aguento. Você não precisa me poupar das coisas, Lu. Principalmente se forem sobre nós. Sabe que prezo pela sinceridade e sempre falo o que sinto e não sinto.
- Pra Aline, você fala tudo mesmo. – não evitei esse comentário. Ela riu pelo nariz. – É, eu sei que não deveria cobrar nada. Mas você poderia ter assumido pra mim que está apaixonada por ela...
- O que?
- Você está claramente caída pela Aline, Paola.
- Não estou!
- Está sim!
- Luana, se tem algo que eu sei, são as coisas que eu sinto. Não costumo ignorar meus sentimentos. Posso até não gostar do que sinto, mas se eu sentir, eu sei que sinto.
- E o que você sente, mesmo?
Paola parecia ter mil coisas para dizer, mas assim que eu fiz essa pergunta, ela fechou a boca.
- O que foi? É difícil admitir? – ela não disse nada, apenas se aproximou de mim.
- Não, só é um pouco difícil decifrar. Mas você vai saber assim que eu puder colocar em palavras.
Pra Aline as palavras existem, ok.
- Não precisa ter ciúmes da Aline, Lu. A gente dividiu um apartamento e criamos uma amizade muito importante pra mim.
- Então, naturalmente ela sabe de coisas que eu não sei, já que você gosta mais dela.
- Não…
- No sentido de intimidade. Você tem mais intimidade com ela, eu quis dizer. Mas ela partilha as coisas conosco da mesma forma. E você partilha coisas diferentes com ela. Então, o seu argumento morre. – ela soltou o ar, mas não me olhou. – Sei que não deveria ter omitido a minha partida de você durante essa noite, e até entendo se você estiver chateada por esse motivo, mas com essa forma que eu tô vendo você agora, quer dizer, que eu venho percebendo desde ontem, mas ignorando, só posso pensar que você gosta de mim, mas não me considera importante o suficiente, no nível da Aline. Ou que eu só sirvo pra transar…
Ela me olhou como se eu fosse louca, por um segundo.
- Luana, isso não faz sentido. A Aline apenas estava mais perto de mim quando precisei, você não pôde e eu não reclamo disso. Você tem outras coisas pra cuidar, e tudo bem. Deveria ter me contado quando contou pra Aline, mas tudo bem. Não se ache menos importante, nunca. É como você não querer nós duas envolvidas nas suas discussões com seus empresários. Aline inevitavelmente está envolvida nesses meus assuntos, porque além de tudo, somos colegas de trabalho também. Estou tentando apenas não misturar as coisas, não sei se estou indo bem, mas estou tentando.
- Então o problema é com trabalho?
- Digamos que é. Eu ainda estou me instalando numa nova cidade. Você morou em Paris e agora mora em Barcelona. Sabe como é isso de mudar de cidade. – assenti.
- É só isso mesmo? – ela assentiu. – Vou confiar, ok?
- Me dá um abraço, bolinho. – a abracei. – Não fica se estressando por besteira, e vamos curtir nossos 5 dias juntas.
- Sem mais sussurros particulares de vocês duas?
- Sem mais. Você não merece se sentir menos importante. Além disso, não quero nenhuma fã sua, ou a Júlia Becker, atrás de mim me perturbando porque fiz você se sentir mal. É a última coisa que quero fazer. Dá um sorriso pra mim. – mostrei os dentes. – Ainda não está bom. Deixa-me ver… memes da Gretchen? – ri.
Não dá pra evitar. Memes da Gretchen são atemporais.
- Isso mesmo. – beijou minha testa.
Paola sussurrou algo a mais, mas não foi pra mim, foi pra ela mesma.
Não escutei, mas parecia “vai passar”.
Pov Paola
- Está bem? – Aline perguntou do outro sofá. Luana lavava a louça do almoço na cozinha, olhei pra ela e suspirei reparando em suas maravilhosas pernas expostas, porque ela vestia só uma blusa e calcinha. Tanto eu como Aline vestíamos pijamas, pra ficar à vontade.
- Aham. – foi tudo o que respondi quando voltei a olhá-la. Ela me olhou como quem não acredita. Mas nada disse, voltou a olhar seu celular. Não demorei nem um minuto pra deixar a minha paranoia tomar conta outra vez. Luana estava lá, mas não era para sempre.
Luana estava aqui, e era só por mais cinco dias.
- Lica, vem aqui? – falei. Não consegui ficar sozinha, e sabia que Aline esperava pela minha vontade de dividir o que sentia.
Aline veio com um sorriso de lado e sentou em meu colo. Devidamente encaixada em mim, me olhou nos olhos. Sustentei o olhar, torcendo para ela sentir minha angústia.
- Você está gostando da Luana, não é? – ela sussurrou.
- Não sei, mas acho que pode ser. Não quero pensar nisso.
- Eu acho que ela gosta de você. Com você ela é diferente.
- Não é. Ela é assim com todo mundo, não dá pra comparar. Além disso, vamos nos separar. Eu já sabia disso. Não faz sentido sentir essas coisas.
- Mas você sente, né?
- Lica… não quero falar disso.
- Tudo bem. Mas desfaz a carinha triste ou ela vai perceber também.
- Desfaz a sua também, Lola. – quando Aline se aconchegou ao meu corpo, ficando encaixada, suspirei. – Eu vou ficar bem.
- Eu vou cuidar de você se precisar, Lola. Já é minha melhor amiga.
- Você também. – sorri contra sua pele, e a acomodei ali.
Eu não poderia estar gostando da Luana assim. Era só mágoa por não ter sido avisada de que ela iria embora na próxima semana, não é?
Não. Eu sei que venho tentando ignorar coisas que Luana me faz sentir, mas é complicado. Por mais que eu queira ficar com ela e dedicá-la toda a minha atenção, o meu emocional quer se atirar nisso como se atirou com a Bárbara, e na época eu não fazia ideia de que ela ia embora.
Como eu posso me permitir mergulhar nisso de cabeça sendo que dessa vez eu sei, tenho certeza de que ela não vai ficar?
Dessa vez, eu tenho algo que não tinha antes, que é a possibilidade de que ela volte. A Luana pode voltar, periodicamente, e ficar conosco. Mas eu não quero isso.
Não quero ficar esperando por algo no escuro. Luana pode muito bem encontrar o amor da vida dela em Barcelona, as espanholas são lindíssimas, não é? Por que ela concluiria que o amor da vida dela está no Brasil sendo que não é a Júlia, dona do seu coração por tantos anos?
E por que seria eu? Não sou eu.
Também não posso me segurar nisso porque me impediria de viver algumas experiências. O amor da minha vida pode estar aqui no Rio.
Parte do meu coração ria de chorar da minha idiotice e dizia “o amor da sua vida está logo ali na cozinha, lavando a louça”. Mas Luana não é essa pessoa.
Luana é apenas um caso. Um dos mais ou talvez o mais marcante da minha vida, visto que não ficamos juntas sozinhas, e sim num trisal; e visto que eu não deveria, mas criei sentimentos a mais.
Inferno.
Enquanto a Aline contava sua história, a cada pequena distração minha, percebia Luana muito atenta ao cabelo dela, onde fazia carinho.
Ela estava pensativa, sempre. E parecia distante do que estava sendo dito. Só que não me ative muito a isso porque estava realmente prestando atenção e me revoltando com mais uma atitude ridícula daquele homem.
E então, quando começamos a discutir o assunto, Aline finalizou dizendo que nos amava.
Luana sussurrou “eu também te amo”, li seus lábios. E sem perceber, fiquei chateada por não ser eu ali. Inconscientemente, não gostei nem um pouco de ver Luana sussurrando no ouvido de outra que a amava. Pensei até na Júlia, única ex dela que eu conhecia.
Quando notei isso, me senti uma merda.
Era só a Aline. Alguém com quem dividimos todos os momentos juntas, exceto os de ontem. Não era uma grande ameaça ao relacionamento que eu achava ter com Luana.
Eu estava com ciúmes dela, e me sentia ridícula.
Dado momento em seguida, Aline veio me beijar, e eu queria beijá-la mais, mas ela só foi pra falar algo sem que Luana pudesse ouvir.
- Vocês precisam conversar. – disse, contra meus lábios.
- Agora não. – respondi. Ela sorriu e chupou rapidamente meu lábio inferior.
- Estarei no quarto, qualquer coisa grita. Vá por mim, conversem, é melhor. – selou nossos lábios outra vez e levantou, sem me deixar dizer mais nada. Deixou-me sozinha com Luana, fui seguindo-a com os olhos enquanto ela ia e internamente implorando para que voltasse.
Aline não só foi, como fechou a porta.
Sem alternativas, voltei-me para a mulher que ali estava. Luana ainda tinha sua atenção desviada na porta fechada.
Ela gostava mesmo de Aline, muito. E de mim também, mas eu não gostava daquele clima estranho entre nós mesmo que tivesse coisas entaladas agora.
Então dei o primeiro passo, falei o que me angustiava.
- Ei. – ela me olhou. – Poderia ter me contado, né?
- Não consegui. Queria cuidar de você e não achei que deveria soltar que só temos mais alguns dias juntas quando senti que você precisava tanto de mim.
Meu coração se aqueceu com aquilo. Por que ela tinha que ser uma mulher tão preciosa? É fácil demais se apaixonar por ela.
Será que eu tô mesmo apaixonada? Não é possível que consegui essa façanha em tão pouco tempo, pra quem não se apaixonava por ninguém.
Ignorando totalmente os pensamentos que vieram e sumiram em frações de segundo, continuei a conversa.
- Eu aguento. Você não precisa me poupar das coisas, Lu. Principalmente se forem sobre nós. Sabe que prezo pela sinceridade e sempre falo o que sinto e não sinto.
- Pra Aline, você fala tudo mesmo. – ri pelo nariz, tentando não demonstrar minha surpresa.
Enquanto eu quebrava minha cabeça por ter ciúmes da Luana, ela estava com ciúme também, mas da relação que eu tenho com a Aline.
Por quê???? E meu coração queria se iludir.
- É, eu sei que não deveria cobrar nada. Mas você poderia ter assumido pra mim que está apaixonada por ela... – o que?
- O que?
- Você está claramente caída pela Aline, Paola. – ???
- Não estou!
- Está sim! – a partir daí não me senti confortável, porque ela queria me convencer de que eu estava sim apaixonada pela Aline. Enquanto eu vivia um grande conflito sobre o tamanho dos meus sentimentos por ela.
- Luana, se tem algo que eu sei, são as coisas que eu sinto. Não costumo ignorar meus sentimentos. Posso até não gostar do que sinto, mas se eu sentir, eu sei que sinto.
- E o que você sente, mesmo? – ela retrucou essa sem nem respirar. Eu tinha muita coisa pronta pra dizer, mas assim que escutei isso, minhas palavras sumiram. – O que foi? É difícil admitir? – me senti levemente atacada, mas não fiquei chateada. Ela estava se sentindo de lado, e isso realmente é uma merda.
E pode até ter acontecido mesmo, mas não porque eu e Aline estávamos apaixonadas. Infelizmente, foi sem que pudéssemos perceber.
Como eu estava mesmo vivendo um conflito, não menti pra ela.
- Não, só é um pouco difícil decifrar. Mas você vai saber assim que eu puder colocar em palavras. – a depender do que eu vier a descobrir, sim. – Não precisa ter ciúmes da Aline, Lu. A gente dividiu um apartamento e criamos uma amizade muito importante pra mim.
- Então, naturalmente ela sabe de coisas que eu não sei, já que você gosta mais dela. - eu não gostava daquilo de Luana transformar, ainda que levemente, coisas que são ditas pra ela. Porque ela termina fazendo alguns julgamentos meio sem cabimento às vezes.
- Não…
- No sentido de intimidade. Você tem mais intimidade com ela, eu quis dizer. Mas ela partilha as coisas conosco da mesma forma. E você partilha coisas diferentes com ela. Então, o seu argumento morre. – mas agora ela estava certíssima, e me fez ver isso que eu não tinha percebido. Me repreendi um pouco internamente por não ter pensado no lado dela nem por um segundo.
Tão linda, tão amorzinho… Eu sou um monstro por ter feito esse bebê só pensar em sofrer.
- Sei que não deveria ter omitido a minha partida de você durante essa noite, e até entendo se você estiver chateada por esse motivo, mas com essa forma que eu tô vendo você agora, quer dizer, que eu venho percebendo desde ontem, mas ignorando, só posso pensar que você gosta de mim, mas não me considera importante o suficiente, no nível da Aline. – isso apertou meu coração ainda mais. – Ou que eu só sirvo pra transar…
Já isso me fez ficar ??? novamente. E fazer um textão em defesa.
- Estou tentando apenas não misturar as coisas, não sei se estou indo bem, mas estou tentando. – e foi como terminei. Ela ficou claramente mais tranquila.
- Então o problema é com trabalho? – sim, o trabalho que eu estou tendo pra decifrar o caso Luana na minha cabeça.
- Digamos que é. Eu ainda estou me instalando numa nova cidade. Você morou em Paris e agora mora em Barcelona. Sabe como é isso de mudar de cidade. – ela assentiu.
Essa foi uma boa desculpa, mas nem é bem desculpa, porque realmente, foi muita coisa pra assimilar em pouquíssimos dias.
- É só isso mesmo? – confirmei – Vou confiar, ok? – muito linda.
- Me dá um abraço, bolinho. – ela me abraçou com certa força, eu amei. – Não fica se estressando por besteira, e vamos curtir nossos 5 dias juntas. – esse foi um recado pra mim também.
- Sem mais sussurros particulares de vocês duas? – que linda o bebê
- Sem mais. Você não merece se sentir menos importante. Além disso, não quero nenhuma fã sua, ou a Júlia Becker, atrás de mim me perturbando porque fiz você se sentir mal. É a última coisa que quero fazer. Dá um sorriso pra mim. – me mostrou os dentes. – Ainda não está bom. Deixa-me ver… memes da Gretchen? – ela riu, agora sim. – Isso mesmo.
Beijei sua testa, lembrando do mantra: “vai passar”. E tudo bem, vai passar, ok.
Afastei-nos, ela ficou me olhando com um sorrisinho de lado. Tive muita vontade de beijá-la, mas sabia que ia querer mais do que um selinho ou um beijo rápido, então fiquei quieta fazendo muito esforço pra conter meu impulso.
Merda, eu só precisava me inclinar pra estar beijando aquela boquinha… que vai estar no outro hemisfério em alguns dias…
Foco, Paola!
- Então… o que você acha de usar esses bracinhos fortes…
- Lá vem. – me olhou desconfiada, a sobrancelha lindamente arqueada.
- Sem forçar muito o ombro, porque eu te quero de volta aos campos…
- O teste do meu ombro foi ontem à noite, você lembra. – riu, maliciosa. Meu pai... – E ele ainda não está cem por cento, mas quase. Pode ficar tranquila que eu vou voltar aos campos. E fazer gol pra você. – eu não posso ficar boba eu não posso ficar boba eu não posso
- E como eu vou saber que foi pra mim? – a bobeira.
- Eu dou um jeito de você saber! – sorriu enorme.
- Aguardo ansiosamente, bolinho. – ficamos sorrindo uma para a outra e Luana se inclinou pra mim devagarinho.
Eu completei a distância num segundo, sedenta, e nossas bocas se chocaram. Beijei-a como se nunca tivesse provado seus lábios, e como se não fosse ter outra chance. E minha mão segurava no cabelo dela, forte.
Luana gemeu e me puxou para mais perto, deitando no sofá apoiada nos cotovelos.
Nossos lábios desgrudaram-se, olhei pra ela. Ofegante, excitada, linda. Engoli seco, continuando a observar. Seu pescoço, colo, seios cobertos pela blusa, seus braços com as veias levemente saltadas.
Luana soltou o ar de vez, e deitou, claramente lamentando o fato de que eu não tinha continuado.
- Droga. – falou baixinho.
- O que foi?
- Você me deixa molhada muito fácil. – não me olhou quando disse, mas mesmo assim me arrepiei quando escutei isso.
Luana voltou a me olhar e eu estava mordendo meu lábio, contendo a vontade de grudar nossos corpos nus até parar de sentir aquilo, aquela vontade.
- Então, Paola… por que precisa dos meus braços?
Agradeci a todo mundo que pude por ela não continuar no mesmo assunto, até respirei aliviada.
- Ah, pra… Pra carregar algumas coisas da minha mudança.
- Claro que carrego, linda. Fico feliz em ajudar.
- Obrigada. É pra ajudar mesmo, ok? Não me olhe assim.
- Assim como? É que ainda não estou no total controle de mim mesma, você me desestruturou. – disse, se aproximando. Olhei para o outro lado. – Eu quero reclamar, mas estou gostando um pouco de você assim.
- Assim? – voltei a olhá-la e ela estava muito perto.
- Assim, fugindo de mim.
- Porra. Eu não... – ela me interrompeu com um selinho.
- Você já me explicou, lembra? Tá tudo bem. – assenti. Também precisava de alguém que dissesse que tudo estava bem. – Não esquenta. – selou nossos lábios outra vez.
Eu não pude ignorar que aquela proximidade de Luana fez meu coração acelerar. E lá vinha mais coisas que eu tinha de analisar depois.
Ela sorriu, não deixei de retribuir.
- Vamos lá pegar as coisas? Ou quer ficar aqui mais um pouco? Eu ficaria aqui pra sempre. – sorri e acariciei o rosto dela.
Meu Deus, eu não acredito. Eu estava muito apaixonada.
- Ai Lu… Não dá nem pra fugir de você. – ela sorriu, beijei sua bochecha. – Tão linda, Bolinho.
- Eres maravillosa, Paola.
- Não fala espanhol comigo.
- Tu es merveilleux mon amour.
- Inferno. – ela deu uma gargalhada.
- Só quero te ver sorrindo. E à vontade, como antes. Não tô aqui pra te intimidar. E sim pra fazer você se sentir melhor.
- Você é tudo, Luana. Tudo.
Seu olhar grudou no meu, mas eu desviei e levantei.
- Vem, vamos no quarto pegar as coisas. – e estendi a mão. Luana tinha cara de que queria me abraçar por horas no sofá.
Não pensei muito nisso, ou deitaria lá novamente.
Melhor eu pensar quando for deitar a cabeça no travesseiro, como de praxe.
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