Desde que recebera a notícia que seria pai, Gaara se pegava sempre pensando no momento do nascimento de seu filho. Mesmo sem conhecimento sobre o assunto paternidade, Gaara tinha em sua mente, um rascunho de como seria: Imaginava-se atrás da vidraça da sala de parto; Imaginava seus irmãos ao seu lado enquanto assistiam ao procedimento; Depois de algum tempo que Gaara realmente não imaginava como seria, o médico apareceria com o bebê no colo; Um choro agudo seria ouvido e o médico o entregaria a Sayo, que iria olhar para ele e depois acenar para Gaara através da vidraça; E então, depois de alguns minutos, ele entraria e poderia segurar o bebê também.
Mas a realidade estava sendo terrivelmente diferente para ele, destruindo aquela cena pré formada.
Lá estava ele: Atrás da vidraça, Destruído; Sayo em estado grave e intubada enquanto um nascimento forçado e extremamente prematuro acontecia; Tristeza e a possibilidade de perder Sayo e a criança no mesmo dia, ao mesmo tempo. Temari e Kankuro estavam ao lado dele sim, mas sem esboçar muita esperança; Ao contrário: Assistiam a tudo trocando olhares apreensivos, como se Gaara fosse uma criança que acreditasse em Papai Noel e eles estivessem tentando lhe esconder a dura verdade.
Gaara não entendia metade do que acontecia: Ele apenas observava o monitor de sinais vitais muito instável; Observava o médico toda hora pedindo um novo instrumento e tentando encontrar a criança dentro de Sayo. Felizmente, aqueles muito tecidos não deixavam Gaara ver sequer um centímetro de pele, parecia que eles estavam cortando um pano.
Mas, quando Gaara erguia os olhos para Sayo, via seu rosto lívido, abatido e sem cor. Olhos fechados e aquele tubo de aparência desconfortável entrando em sua boca. Aquilo parecia uma eternidade e as luzes sempre brancas junto com o interminável “Pi-Pi-Pi-Pi-PiPi” dos equipamentos, causava uma exaustão psicológica gigantesca;
E então aquela agitação.
Gaara ficou atônito.
Parecia a chegada de seu filho.
Nesse instante, Temari e Kankuro instantaneamente esmagaram os narizes contra a vidraça, ansiosos. Era isso mesmo. Gaara por um milésimo de segundo ficou feliz. Iria ver finalmente o rosto de seu filho. Já poderia imaginar. Esticou o pescoço e ficou na ponta dos pés, as palmas das mãos se apoiavam à vidraça. Gaara estava ansioso.
E então... A pequena felicidade sumiu. Novamente, as coisas não foram como Gaara imaginara. Não era como deveria ser. E foi assim que Gaara o viu: imóvel e pequeno.
Gaara o viu nos braços no médico: Um recém-nascido pequeno, quase desaparecia entre os braços do doutor. Imediatamente enfermeiras correram para enrolá-lo e quando Gaara pôde ver um pedaço de sua pele, percebeu que estava sem cor. Não parecia corado, ao contrário, parecia não ter sangue nenhum. Não tinha movimentos.
Gaara esperava ouvir o choro típico de recém-nascido. Silêncio. Gaara esperou mais.
Silêncio.
Corre-Corre.
Silêncio.
Nada de choro. Imóvel como um boneco.
E então um barulho quebrou o silêncio; Mas não era o barulho do choro que Gaara ansiava ouvir: Ela o monitor de Sayo, que disparou descontroladamente, piscando em vermelho.
- PARADA! PARADA! PARADA!
Gaara assistia desesperado, As pupilas verdes translúcidas se mexiam para a direta e para a esquerda, tentando acompanhar tudo aquilo, em total angústia. Gaara via ao vivo a criança sem vida e a esposa entrando em parada. Desta vez, o desespero foi maior do que quando chegou ao hospital. Era desespero real. Gaara não via nada, não ouvia ninguém; Apenas esmurrava repetidamente a vidraça, gritando coisas que nem mesmo ele sabia o que eram, tentando fazer com que aquela equipe fizesse algo. As duas coisas mais importantes de sua vida, estavam por um fio.
Temari e Kankuro tentaram contê-lo, pois os funcionários pararam para olhar a cena, assim como pacientes assustados, saíam de seus quartos para ver o que estava havendo.
A defesa absoluta não deixou que os pedaços de vidro trincado cortassem a mão de Gaara, que insistia em atacar a vidraça já rachada pela força da areia em seus punhos. Temari e Kankuro não conseguiam se aproximar.
O médico aplicava o peso do corpo sobre as mãos, empurrando o tórax frágil de Sayo, que descia e subia, descia e subia; Gaara estava enlouquecendo ao ver como o parecia um processo doloroso afundar o peito dela daquela forma. Ao mesmo tempo, uma enfermeira com um balão de oxigênio conectado ao tudo de Sayo, mandava ar e o monitor permanecia disparando.
Gaara percebeu que Sayo não estava ali.
Quando pensou que nada poderia piorar, percebeu que a criança estava em uma maca ao lado, sendo reanimada por uma dupla de médicas nin. O tórax de seu filho era tão minúsculo que a médica nin utilizava dois dedos para realizar a reanimação. Gaara ficou insanamente descontrolado ao pensar que aquilo poderia quebrar algum osso do recém-nascido. Os dois estavam parando. Juntos. Gaara estava perdendo os dois, ao mesmo tempo, da mesma forma.
Uma pequena multidão parava para assistir a desgraça de Gaara e Temari e Kankuro tentavam dispersar as pessoas.
Gaara viu com os olhos embaçados por lágrimas, sua esposa ser levada com uma equipe tentando reanimá-la para outra sala; E o recém-nascido foi levado ás pressas logo atrás. Gaara ficou sozinho vendo a sala agora vazia. Sem filho, sem esposa.
*
Quando Gaara percebeu a sala vazia e sem receber notícias de para onde levaram Sayo e o recém-nascido, Gaara desabou no chão, colocando o rosto entre os joelhos e derrubando no chão branco lustroso as lágrimas de alguém que estava destroçado. A dor era física; Enquanto Gaara soluçava o choro, o fundo do peito parecia doer junto; Como desejou que Shukaku o tomasse de uma vez... Mas não. Como humano ele podia sentir toda aquela dor. E como um humano ele iria sofrer, sem perder a consciência para seu Biju. Sem um minuto para esquecer. Ele ia viver aquilo.
Temari e Kankuro abaixaram-se cada um de um lado de Gaara, tentando fazê-lo olhar para cima. Enquanto Kankuro tentava falar com Gaara, que estava completamente fora de órbita, Temari correu atrás da equipe médica, para saber o que havia de fato acontecido.
TEM- Kankuro cuide de Gaara! Eu vou atrás deles! Precisamos saber o que houve com os dois! Vou descobrir para onde os levaram e como estão.
*
Maturi correu depressa para vila. Ao mesmo tempo em que estava ansiosa para saber o que acontecera com Sayo, estava com medo... Medo de que seu plano desse certo.
Matsuri já estava imaginando numa escala de 0 à 10 quanto doeria morrer pela areia de Gaara.
Matsuri nunca pensou que se pegaria rezando para Sayo estar bem. Os dedos de Sasuke ainda pareciam estar em seu pescoço. E Matsuri sabia que aquilo não tinha sido nada perto do que ele poderia fazer... E ainda sim, Gaara lhe dava mais medo do que Sasuke.
Quando chegou em frente à casa do Kazekage, sentiu um calafrio percorrer as costas, da nuca até o quadril: Haviam shinobis na entrada da casa e um pequeno ajuntamento de aldeões. Matsuri engoliu seco, calculando se daria tempo de fugir antes de Sasuke avisar Gaara quem foi que matara Sayo. O medo de ser morta por Gaara agora era real e pulsava dentro de Matsuri. Ela podia ouvir o próprio coração como se martelasse dentro dos ouvidos.
MAT- Com licença senhor... O que houve aqui? – Perguntou à um shinobi que estava postado na entrada da casa.
- Parece que Sayo teve uma complicação-
A voz que respondeu Matsuri não foi do shinobi, mas uma voz murcha e cansada que Matsuri conhecia bem. Virou apressadamente para trás e encontrou olhos zangados de Chyio-Sama.
MAT- Ch-Chyio-Sama...?
A velha segurou nos braços de Matsuri, afastando-se dos shinobis que cercavam a casa da Gaara.
CHY- O que você foi fazer Matsuri?
MAT- Não sei do que está falando.
CHY- Não me faça de idiota! Você vai morrer, imbecil! Por que fez isso? Acabou de se matar!
Matsuri que até então estava acuada com a situação, decidiu que ou se entregaria de vez ou daria a volta por cima.
MAT- Vai contar pra alguém? Ou será que você esqueceu de que a receita é sua! Abra a boca Chyio, e eu conto de quem foi essa maravilhosa ideia! E aí, morreremos nós duas.
A velha largou Matsuri. Ela não tinha mais nada contra Sayo havia muito tempo... Mas Gaara jamais a perdoaria se soubesse que sua receita estava nas mãos de Matsuri. Com medo da morte, Chyio mesmo sabendo que estava novamente errando, decidiu calar-se.
CHY- Você falhou. Sayo ainda vive.
Matsuri sorriu por dentro. Estava salva.
*
Temari corria atrás de informações, enquanto sentia a garganta doer e os olhos arderem. Temari não poderia sequer imaginar o que seria de Gaara se perdesse sua esposa e filho no mesmo dia. Temari não era de chorar, por isso ela sabia, que sentir a bola de dor na garganta tão nitidamente mostrava que o problema era sério; Se para ela estava assim, não conseguia se colocar no lugar de Gaara.
Temari apertava os punhos com tanta força que as unhas quase perfuravam a pele das mãos a cada passo que dava. “Com o Gaara não; Ele não merece; Gaara não merece;” Pensava repetidamente.
Temari caminhava pelos corredores labirínticos do hospital, tentando por a cabeça no lugar; Já sem paciência para esperar a boa vontade de alguém lhe informar o que houve, Temari começou a procurar por si mesma, embora estivesse com medo do que iria encontrar. Dobrou corredores, subiu rampas e encontrou uma nova ala. Temari engoliu a seco, estava com medo do tipo de notícias que poderia encontrar lá.
Caminhando pela ala, Temari olhava as vidraças dos quartos, procurando respostas.
TEM- Oh Meu Deus! – Temari sussurrou com a visão que teve ao passar pela ala de emergência Neonatal (N/A: Neonatal é um termo que se refere a neonato, ou, recém-nascido)
TEM- Oh meu Deus, eu não posso acreditar.
Temari chorou.
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