Aquela noite fora horrível. Gaara não havia dormido depois de ter expulsado Matsuri de sua cama. Ele estava deitado, olhando pela janela esperando os primeiros raios de sol rasgarem a noite para ele se levantar.
Matsuri por sua vez, estava contente. Claro que estava um pouco sentida, por ter levado uns berros e ter sido enxotada; Mas nada disso era maior do que as outras coisas que conseguira naquela noite: A sensação do toque na pele dele. Lembrava-se da sensação de subir sobre Gaara e respirar tão perto dos lábios do Kazekage. A luz do luar que entrava pela janela o deixava ainda mais apaixonante. E então, Gaara ainda sonolento a correspondera: Segurou seus braços com firmeza e virou-se sobre Matsuri. Aquele foi o ápice da noite. Ter Gaara sobre ela. Infelizmente Gaara acordara antes de terminar o que faria caso continuasse.
*
Assim que o sol finalmente deu os primeiros sinais de que um novo dia estava começando, Gaara levantou-se da cama e desceu até a cozinha, onde tomava devagar um chá. Ele estava se perguntando se deveria dizer a alguém o que havia acontecido naquela noite. Gaara não sabia lidar com aquela situação. Pensou em Temari, mas imediatamente descartou a possibilidade de contar algo assim a ela.
Foi quando Kankuro apareceu na cozinha, ainda de pijama. Pelo que Gaara sabia de Kankuro, ele tinha entendimento em assuntos daquele cunho.
KAN- Oe Gaara!
Gaara fez um sinal com a cabeça. Estava tão sem graça que não conseguiu dizer “bom dia” com medo de parecer suspeito. Assoprava o chá ensaiando, mas não conseguia dizer nada.
GAA- Kankuro.
Pronto. Gaara começara. Talvez não fosse muito, mas era melhor do que nada. Assim, seria obrigado a prosseguir.
KAN- Diga.
Pigarreou três vezes e tentou parecer relaxado, mexendo o chá com uma colher.
GAA- Sabe... É que aconteceu uma coisa ontem. – Gaara sentiu o rosto quente.
KAN- Hum, o que houve?- Perguntou Kankuro, dando meio de ombros enquanto mordia uma torrada que despejava farelos em sua camisa.
GAA- Sabe... É meio complicado. Eu preciso de ajuda, eu acho.
KAN- Hum... Eu ainda não estou entendendo Gaara, será que você pode ser um pouquinho mais claro?
Kankuro continuava sem dar muita trela para aquele assunto que até então parecia algo corriqueiro. Bebeu um copo de leite em goladas barulhentas.
GAA- Bom sabe. É que...
KAN- É que...?
Gaara pegou o chá e virou todo na boca. Era agora ou nunca.
GAA- KankuroontemaMatsurientrounomeuquartoedeitouemcimademim.
KAN- Eu não entendi nada Gaara! Desembucha logo!
Kankuro viu o irmão apertando a xícara. Ele sabia que poucas vezes o Gaara pedia ajuda sobre algum assunto ainda mais com aquela atitude duvidosa. Ergueu as sobrancelhas esperando Gaara dizer o que havia acontecido. Agora, bastante curioso.
GAA- Kankuro. Ontem à noite eu estava dormindo e acordei com uma mulher em cima de mim. Você já passou por isso?
Kankuro primeiro riu alto. Quando terminou a gargalhada viu Gaara o encarando com um semblante de desaprovação.
KAN- Desculpe Gaara, é que você tem um sério problema em se expressar como uma pessoa normal. Me explica essa história de mulher que eu estou tendo dificuldades de entender.
Gaara achava um saco ter de se abrir com Kankuro. Kankuro sempre parecia mais espertinho em tudo e agora que Gaara era o Kazekage, sentir-se mais bobo que Kankuro era masculinamente desagradável. Mas era isso ou nada. Então prosseguiu sem mais delongas.
GAA- Mas foi isso mesmo Kankuro. Foi a Matsuri, aquela Chunnin que trabalha com Sayo e Chyio.
KAN- Está falando sério quando diz que uma mulher entrou no seu quarto ontem??
Agora Kankuro estava verdadeiramente interessado no assunto.
GAA- Sim.
KAN- Mas vocês...?
GAA- Não!! – Gaara se chocou com a pergunta de Kankuro. A resposta, pelo menos para Gaara, era obviamente negativa.
GAA- Ela entrou no meu quarto, vestida indevidamente e deitou-se sobre mim. Acordei e a enxotei imediatamente. Mas fiquei infeliz com isso. Será que você pode me ajudar sem zombar? – Gaara deu ênfase no “Sem zombar”.
Kankuro notou que Gaara estava mesmo incomodado com a história. Então mudou de postura para ajudar seu otouto.
KAN- Olha Gaara, você é um cara bonito e interessante, embora não perceba.E quando um cara é bonito e ainda tem um cargo como o seu, é normal que muitas mulheres tenham interesse nesse cara. Acontece que no mundo existem dois tipos de mulheres: As que querem paquerar você e até tentam fazer isso, o que é normal; E aquelas que passam dos limites.
KAN- E quando eu digo passar dos limites é fazer algo assim com um homem que já está casado e pior: Com a esposa extremamente adoecida e que acabou de ter um bebê.
KAN- Eu estou surpreso de verdade que Matsuri tenha feito algo assim. Uma coisa é uma mulher gostar de você, outra coisa é tentar algo baixo assim quando você não está mais disponível. Eu sinto muiito que logo com você tenha acontecido algo assim. Mas Gaara, não se sinta culpado: Você não teve culpa e a enxotou assim que percebeu. Eu não entendo qual o problema.
GAA- Acha que devo contar à Sayo? Ah... E o que devo fazer com Matsuri agora?
KAN- Um conselho sincero: Sobre a Matsuri, não faça nada. Ignore. Deixe-a mais frustrada mostrando que ela foi completamente irrelevante. Pois é isso que ela quer: Ter algum assunto.
KAN- Agora sobre Sayo eu vou te contar algo: Se o que aconteceu com você acontecesse comigo, eu provavelmente teria me aliviado na Matsuri e no dia seguinte a dispensaria como se nada tivesse acontecido. Matsuri tentou mexer com algo que para a maioria das pessoas é quase uma necessidade fisiológica. Você agora já sabe do que estou falando, certo?
Gaara assentiu.
KAN- Ela sabe que você está sozinho há meses. Sabe que está estressado e vulnerável e tentou no lugar mais fácil de pegar uma pessoa nessas condições. Mas mesmo assim, não conseguiu. Quando um homem não se interessa por oportunidades como essa, isso mostra que verdadeiramente encontrou alguém. E essa pessoa merece saber tudo. Não esconda nada de Sayo.
Kankuro limpou o bigode de leite com a manga da blusa enquanto se levantava da mesa, deixando Gaara a sós.
KAN- Ah, Gaara. Sabe a diferença de nós dois? Eu tenho histórias de mulheres para contar, porque não achei uma como você achou. Então, eu estou em enorme desvantagem. Na verdade, eu trocaria todas essas coisas que eu já vivi, por algo como o que você tem. Fui.
Gaara ficou abobado na mesa do café da manhã. Ele estava feliz, pois teve a confirmação de que estava no caminho certo e assim iria permanecer o tempo que fosse preciso.
***
Cinco meses depois
Naquele dia, Gaara acordou pela manhã e enquanto Temari arrumava Sayuri, ele se preparava para trabalhar. Desde sua conversa com Kankuro sobre Matsuri, ele estava com mais energia e forças para esperar os dias.
Quando estava devidamente vestido para ir trabalhar, passou no quarto para pegar Sayuri e teve uma ideia. Foi até o guarda-roupa branco de trincos dourados da menina e pegou um vestido cor-de-rosa claro com chapéu de babados.
GAA- Temari, vamos vesti-la assim hoje?
TEM- Ah Gaara... Mas essa roupa não é bonita demais para ela ficar com você no escritório?
O cestinho já era pequeno demais para Sayuri, que agora ficava num cercadinho feito por Kankuro, brincando com pequenas bonecas de marionetes, enquanto Gaara trabalhava.
Gaara pensou um pouco e olhou com os olhos verdes suplicantes para Temari, que não negava algo para seu irmão quando ele lhe fazia aquela expressão.
TEM- Está bem Gaara. Vamos deixá-la linda hoje!
Temari ajudou Gaara a vestir Sayuri no vestidinho rodado. A menina estava muito esperta e se remexia, sempre curiosa para conhecer o mundo. Depois de vestir Sayuri, Temari prendeu o canguru em Gaara e colocou Sayuri bem acomodada no peito do pai.
Gaara segurou as mãos de Sayuri acenando um tchauzinho para Temari. Depois subiu para seu escritório conversando com Sayuri. Deu tempo de Temari ouvir a voz de Gaara ecoando pelo corredor “Vamos trabalhar muito hoje não é Sayuri?”. Temari riu.
Assim que Temari ficou sozinha no quarto da garotinha, suspirou profundamente. Era muito gratificante cuidar de um bebê como Sayuri... Mas ao mesmo tempo, era doloroso para Temari saber que Sayo é quem deveria estar tendo aqueles momentos junto de Gaara e não ela.
Temari estava de licença das obrigações ninjas, pois era quem mais ajudava Gaara com Sayuri e com Sayo. E pensando em Sayo, Temari olhou para o relógio assustada: Era hora de visitá-la.Todos os dias, Temari fazia uma visita para Sayo e cuidava de suas roupas, cabelos, pele, etc. Antes de Gaara. As visitas de Gaara eram sempre no final do dia e Temari deixava Sayo em bom estado para receber seu otouto.
*
Temari chegou ao hospital e caminhou até a UTI. Todas as semanas, as pessoas dos leitos eram diferentes, exceto uma: Sayo. A mais jovem, a com mais vida pela frente era também a que mais insistia em dormir naquele local, sem sinal algum de consciência.
Os médicos nin costumavam deixar a família de Gaara em paz quando visitavam Sayo, então Temari sentia-se à vontade para demonstrar seu rosto de infelicidade ao ver Sayo naquele estado.
As investigações ANBU estavam estacionadas por falta de provas e os resultados finais que apresentaram para Gaara foi de que Sayo acidentalmente ingeriu alguma substância nociva. Gaara surtou com os ANBUs. Sayo era conhecedora de plantas, ervas e flores e jamais se enganaria assim.
Temari, pensando em todas essas coisas, desabou na poltrona ao lado do leito. Olhou para Sayo: O semblante tranquilo estava estampado no rosto. Mas o corpo cada vez mais deteriorado com aparência frágil. Sayo perdera parte de sua musculatura com o tempo deitada. Os cabelos antes castanho-acobreados, agora eram quase foscos; A magreza era assustadora, embora os médicos nin garantissem que ela recebia os nutrientes necessários para sobreviver.
TEM- Hoje foi um dia comum, como os outros nesses cinco meses. Exceto porque agora sua filha está muito espoleta e fica se remexendo... Kankuro fez um cercadinho para ela brincar enquanto Gaara trabalha... Pois sem o cercadinho ela tenta picotar papéis importantes de Suna – Temari riu.
TEM- Ah e também... Hoje Gaara insistiu em vestir Sayuri com um daqueles vestidos rodados com laço... Eu tentei impedir, pois roupas assim são para ocasiões especiais, mas ele me olhou com aqueles olhos pidões que aprendeu a fazer desde que te conheceu.
Temari deu uma olhadela para Sayo, que permanecia adormecida. Temari não sabia se ela podia ouvir algo e as vezes sentia-se ridícula quando contava os dias para Sayo.
TEM- Sayo... Se você não acordar... O que vai ser do meu irmão? Ele está sempre trabalhando e cuidando de Sayuri, mas não é como antes. Tsc. Eu vou embora... Não gosto de ver você assim. Amanhã, como sempre, estarei aqui!
Temari se levantou para ir embora, ainda mais desanimada do que quando chegou. Então... Sentiu algo diferente. Chackra. Mas não aquele chakra adormecido. Ele estava circulando ativamente atrás dela. Temari virou-se imediatamente para ver o que era aquilo e então se deparou com os olhos castanhos de Sayo recém-abertos, lhe encarando com uma mistura de súplica, agradecimento.
Ao mesmo tempo, Sayo tentava mexer os dedos, chamando Temari para chegar perto. Temari permaneceu em choque, pois estava assistindo, ao vivo, o despertar esperado de Sayo, depois de meses de um silêncio doloroso de sua alma para com todos desde o dia que Sayuri nascera.
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