Sayo sentiu os olhos arderem como nunca havia sentido em toda sua vida. Como se a luz do dia fosse capaz de queimar sua retina e isso a fazia lacrimejar de incômodo, embora quisesse muito abrir os olhos e ver o mundo à sua volta.
A cabeça girava e latejava nas laterais. Não. Não era a cabeça. Todo o corpo estava estranhamente dolorido. Estranhamente dormente nas extremidades. Sayo não estava reconhecendo aquelas sensações novas e extremamente desagradáveis.
Os olhos, como doíam. Sentiu as lágrimas de dor molharem o rosto e então pensou em levantar os dedos para limpar as lágrimas... Pensou, mas não conseguiu movê-los.Não entendeu porquê. Então tentou mexer outras partes. Nenhuma parte do seu corpo obedecia aos seus comandos.
Desesperada, lembrou-se da voz. Chamar alguém. Mas... Não havia voz. E quando parou para prestar atenção na boca, sentiu algo desagradável. Um tubo descendo por sua garganta e enchendo seus pulmões contra sua vontade. Angústia. Não poder controlar o ar em seus pulmões.
Conforme seu eu se desesperava como se o próprio corpo fosse uma prisão, seus olhos se acostumavam com a claridade intensa e aos poucos Sayo notou a silhueta familiar de costas para ela. Era Temari. Sayo conhecia aquela mulher. Temari. Lembrou-se imediatamente de quem era e o que estava fazendo ali.
As memórias foram voltando devagar e se encaixando pouco a pouco. Temari. Kankuro. Gaara. Claro, Gaara. Lembrou-se dos cabelos vermelhos, dos olhos translúcidos. Gaara. ... Tinha algo a mais... O porquê estava ali... Seu filho. Sim, Sayo lembrou-se que estava grávida. Grávida de Gaara. O desespero aumentou, quando Sayo percebeu que Temari estava indo embora e ela não tinha como chamá-la, e só diminuiu quando Temari virou-se e encarou seu rosto.
TEM- Sayo!! Sayo!!! SAYO! Kami-Sama, Sayo você voltou!
Os ouvidos também doíam. A voz de Temari estava embolada. Mas ela estava feliz, parecia chorar de alegria.
“Temari! Temari-San!”- Sayo tinha certeza que havia dito, mas na verdade apenas pensou. Sua voz. Não estava mais lá.
Mal Sayo havia se acostumado com aquela luz e com Temari lhe encarando, logo apareceram três médicos nin, lhe cobrindo a visão de tudo. Todos conversavam entre si e ao fundo a voz de Temari lhes fazia um monte de perguntas das quais Sayo não entendia palavra alguma.
Sayo estava com todos os sentidos atrapalhados. Mas sentiu que estavam movendo sua maca para outro local. Ouvia vozes confusas e frases soltas.
“Ela está bem?”
“Está consciente?”
Uma luz desagradável de uma mini lanterna foi jogada em seus olhos, ofuscando o pouco de visão que tinha. Sayo se irritou com aquilo.
“As pupilas estão normais”.
Alguém apertou seus dedos. Sayo novamente não gostou, tentou protestar, mas sem voz e sem movimentos não conseguiu expressar seu descontentamento.
“Está bem perfundida”
“Paciente está com todos os sinais vitais normais”.
Depois de um longo tempo, Sayo já estava levemente sentada no leito e ao que entendeu, a equipe iria lhe tirar aquele tubo horrível. O processo foi estranho e desagradável embora não necessariamente dolorido. O tubo foi retirado e Sayo quis falar imediatamente... Mas foi frustrada pela dor de garganta e falta de força para gerar som. Em compensação, o ar entrando em seus pulmões, controlado por ela mesma era a coisa mais agradável daquele dia.
*
Assim que respirou uma ou duas vezes, viu Temari ao seu lado. Sayo sorriu para Temari e tentou segurar a mão de Temari. Então, repentinamente, Sayo começou a se agitar. Tentava dizer algo, mas era quase impossível. Nada de voz. Temari preocupada que fosse algo grave solicitou uma caneta e um papel para a equipe.
TEM- Sayo... Sei que está fraca, mas tente escrever.
Sayo segurou a caneta, achando que aquela era uma caneta muito pesada e mesmo com dificuldade e letras de garrancho conseguiu passar a ideia.
“Meu filho. Gaara. Casa. Quero. Ir. Casa. Gaara. Meu filho”.
Temari sorriu.
TEM- Sayo... Você tem muitas boas surpresas pela frente, fique tranquila!
*
A conversa com o médico nin foi longa. Ele aconselhava que Sayo permanecesse uma semana a mais em internação. Mas Temari já sabia que quando Gaara soubesse que Sayo acordara, não permitira uma hora a mais naquele lugar.
Temari assegurou ao médico que Gaara faria com que toda a assistência médica necessária para Sayo fosse dada em casa. Que levaria a equipe que precisasse e os equipamentos que precisasse. E após assinar um termo de responsabilidade, Temari estava livre para levar Sayo.
TEM- Sayo! Tenho uma ótima notícia! Consegui! Podemos ir embora daqui... E podemos fazer uma surpresa para Gaara! – Disse Temari entrando no quarto de Sayo e lhe mostrando a autorização para Sayo ir para casa.
Porém Sayo balançou a cabeça timidamente de forma negativa.
TEM- Por quê??
Sayo baixou os olhos para si mesma, fazendo Temari olhar para ela por completo. Seu corpo excessivamente magro, com marcas roxas dos acessos venosos e centrais, o cabelo fosco e a camisola de hospital.
TEM- Não, não senhorita, nem venha com essa! Será que você pode confiar em mim?
Sayo deu de ombros, um pouco teimosa.
TEM- Então não quer ver Gaara nem seu bebê?
Sayo sorriu. Nada parecia melhor do que ver Gaara e o bebê. A Pontinha de Vida. Sayo precisava conhecer.
*
Com a ajuda das enfermeiras, Temari banhou Sayo. Depois, lhe colocou um vestido azul claro com flores, leve, confortável e doce. Sentou Sayo na cadeira de rodas e penteou os cabelos cuidadosamente. Os fios estavam doloridos, como se Sayo estivesse com febre e sentisse cada parte do corpo sensível.
Temari arrumava os fios com grampos de forma cuidadosa, deixando Sayo tão meiga como na primeira vez que apareceu.
TEM- Vamos Sayo?
Sayo assentiu com a cabeça. O coração estava apertado. Iria sair daquele lugar. Iria conhecer seu filho. Iria ver Gaara.
Temari abriu a sombrinha de bambu e elas saíram do hospital. Era estranho ver o mundo da perspectiva da cadeira. Temari andava de forma apressada, para que as pessoas não reconhecessem Sayo e tumultuassem. Mas Sayo até que estava apreciando o trajeto: A luz do sol de Suna, o céu sempre azul e quase sem nuvens – exceto por uma ou outra nuvem branquinha passeando sobre a vila- E as construções únicas. Tudo que Sayo amava e estava com saudades.
Quando Temari empurrou a cadeira casa à dentro, os funcionários olhavam surpresos, queriam perguntar algo, mas Temari olhava de forma restritiva para todos. No momento a prioridade era apenas uma: Levar Sayo até o escritório de Gaara. Todos os outros poderiam esperar para saber tudo.
Foi Kankuro quem ajudou Temari com a cadeira de Sayo nas escadas. Sayo sentiu-se infeliz por estar dando aquele trabalho, mas logo sorriu ao ver o semblante de espanto de Kankuro que queria fazer perguntas, mas Temari sem paciência alguma o mandou calar-se e ajudar apenas. “Kankuro, a prioridade é o Gaara agora”. Sayo ria-se por dentro.
E então finalmente estavam de frente á porta. A porta. AQUELA porta, grande e bem trabalhada. A porta DELE. Um pequeno filme passou na mente de Sayo... Lembrando-se desde o primeiro dia que o viu... No Festival à Fantasia de Konoha. Um filme de todos os momentos com ELE. E sentiu o coração como se fosse a primeira vez que ia vê-lo. O rosto ficou quente. Temari bateu na porta.
“Entre”.
A porta se abriu.
E Sayo viu: Lá estava Gaara. Tão deslumbrante como sempre fora. Estava sentado em sua cadeira giratória e em seu colo, balançava um bebê... Uma menina, de vestido cor de rosa repleto de laços. Gaara estava enrolando o dedo no cabelinho vermelho da menina. Sayo não acreditava no que os olhos mostravam.
Ao mesmo tempo, Gaara virou-se e viu Temari empurrando a cadeira com Sayo. Ele não conseguiu mover o corpo por longos segundos, apenas olhava, desacreditado. Abriu os olhos verdes, franzindo o cenho num choro sentido, se esforçando para não esquecer de que havia um bebê em seu colo... Olhava para Sayo que deixava pingar nos joelhos grossas lágrimas.
Gaara segurou firme Sayuri e correu em direção à Sayo, com a intenção de agarrá-la junto de Sayuri e nunca mais soltar.
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