— VOCÊ FEZ O QUÊ? — Clyde gritou.
Craig estava quase se arrependendo de ter contado para o seu melhor amigo o puta beijo que deu em Kenny. mas ele não conseguia parar de pensar nisso e queria repetir a dose, sua mente estava um caos e precisava de alguém idiota como Clyde para escutá-lo.
— Isso mesmo o que você ouviu — escondeu o rosto um pouco corado e envergonhado de estar revelando isso logo para Clyde 'fofoqueiro' Donovan. O quão estúpido e idiota ele precisava ser para isso?
— Cara, achei que você odiasse o Kenny.
— E eu odeio!
— Mas você beijou ele! — afirmou. Craig sabia, ele não precisava de ninguém afirmando isso.
— Eu sei…
— Tá, mas, e agora? Você vai beijar ele de novo? Vocês estão saindo? Namorando? — Clyde parecia inconformado com as poucas informações que ele tinha. Ele queria detalhes, queria tudo resumido da forma mais simples e entendível para ele, mas sem ocultar nada. Aquilo sim era um projeto de fofoca ambulante, todos precisavam concordar com isso.
— Eu não sei… — suspirou.
— Como não sabe? Cara, vocês se beijaram! No meio da biblioteca! — o cara parecia que ia surtar a qualquer momento com a indiferença de Craig.
Tucker estava realmente questionando a sua decisão de ter contado a Clyde sobre aquilo, estava sentindo sua mente explodir a cada pergunta sobre Kenny e sua vida pessoal. Bom, ele tinha culpa disso, já que resolveu contar a alguém, mas ele deveria ter imaginado que seria assim e contado para Tolkien primeiro. Mas provavelmente Clyde iria descobrir e fazer a maior birra. Céus, era cada um mais irritante que o outro.
— Foi o calor do momento.
— E você simplesmente beija qualquer cara no calor do momento?
— Não! Olha, estava rolando um clima, ok? E acabou acontecendo. — respondeu nervoso, nem mesmo ele acreditava no que dizia. Estava mesmo rolando algo?
— Você disse que ele estava te enchendo o saco!
— E eu disse também que ele tinha uma queda por mim. Ele disse isso! Disse que estava afim e, sei lá, a gente se beijou. — eu beijei ele, Craig pensou. Mas tinha todo um contexto por trás disso chamado fogo no rabo. Ele tinha dezessete anos, nunca teve uma namorada - ou um namorado, no seu caso de preferência -, não beijava alguém há séculos ou talvez nunca tenha beijado ninguém, tinha atração por caras loiros e talvez por Kenny, o que mais ele poderia fazer além de beijar ele? Pelo menos, a sua justificativa fazia sentido na sua cabeça.
— Certo, certo! — Clyde tentava botar seu cérebro para funcionar — Ele estava afim de você, ok. E você é afim dele? Por que, assim, não é muito comum beijar uma pessoa que você odeia.
Craig fez cara feia. Ele tinha mesmo que responder aquilo? Ele não podia simplesmente mandar Clyde tomar no cu por ser um babaca? Sim, mas isso não iria mudar muita coisa.
— Eu não sei…
— Porra, Craig! Diga algo relevante como, sei lá, você tem algum tipo de atração por ele, odeia ele mas quer pegar ele ou algo assim. Seja menos vago, cara!
Craig realmente não entendia o porquê Clyde se importava tanto com os detalhes. Ele tinha várias rotas de fuga e escolheu apenas dizer o mais simples e óbvio, sim, ele odiava Kenny e sentia atração por ele. Mas ele não queria ter que lidar com isso, não depois daquele beijo na biblioteca. Pensar nisso causa dores de cabeça profundas.
— Talvez eu tenha algum tipo de atração por ele. Talvez eu goste da personalidade dele, mesmo ele ainda sendo um puta babaca. Ele é bonito, ok? Ele é bonito e… porra, ele é atraente! E, sei lá, eu odeio ele e pensar nele, mas quanto mais eu evito, mais eu penso. — Craig admite.
— Então você quer beijar ele de novo?
— Sim, porra! Eu quero, ok? Eu quero sim ligar para a porra do Kenny e pedir para ele me beijar de novo, satisfeito? — o Tucker estava corado e irritado com aquela maldita insistência. Clyde estava sorrindo orgulhoso e feliz com a declaração. Agora ele sabe que Craig não é uma rocha e ele sente emoções como alguém normal. Ou quase isso!
— Sim, muito satisfeito. E você vai ligar para ele?
Ah, caralho! Mais perguntas?
— Eu não… ah, foda-se! Sim, eu vou!
Clyde comemora e começa a fazer bagunça. Craig estava se perguntando por que ele não foi conversar com Tolkien. Até mesmo escutar piadas ruins de Jimmy sobre a sua situação atual eram bem melhores do que aturar Clyde sendo tão insistente num assunto que já acabou.
— Você está virando um garotinho de atitude, Craig. Beijar o Kenny tem suas qualidades — Clyde brincou e o Tucker mostrou o dedo do meio para ele.
O resto da tarde foi Clyde contando sobre mais um encontro fracassado com sua ex-namorada, Bebe Stevens, e como ele estava sentindo saudades dela. Craig nem pensou nisso, apenas estava focado em Kenny e no momento em que ligaria para o seu celular e marcaria o próximo beijo.
Ele só pensava nisso e estava se sentindo idiota por isso, estava se achando sentimental demais e talvez até carente e necessitado de qualquer merda que seja.
E depois de ir embora da casa de Clyde, ele estava mesmo ponderando em ligar para Kenny. Só uma ligação talvez fosse o suficiente, mas será que ele vai parecer desesperado demais? Talvez grudento e carente? Coisas que Craig odiava. Não, não poderia ser. Droga, ele só queria ver Kenny agora…
— Craig? O que faz aqui?
Ele estava escutando coisas? Por que a voz irritante de Kenny não saia da sua cabeça? Ele olhou para o lado onde estava aquele loiro maldito com o uniforme do trabalho e uma vassoura na mão. Droga, Craig estava andando sem rumo enquanto pensava em McCormick que acabou indo "sem querer" para o City Wok, onde Kenny trabalhava. Bom, pelo menos agora ele não precisaria ficar horas no celular questionando se iria ou não ligar para Kenny.
— Eu me perdi. — respondeu sem emoção e o outro garoto riu dele.
— Tem certeza que você não veio aqui para me ver? — provocou. Craig franziu o cenho com as bochechas rosadas. Inconscientemente, sim, mas sóbrio e longe de seus pensamentos, não.
— Não, digo… por que eu iria querer ver você?
O sorriso de Kenny cresceu.
— Por que você está afim de mim também e quer me beijar.
Bingo!
Se Kenny sabia disso, por que ainda se dava o trabalho de perguntar? Oh, era para afetar o garoto inexpressivo. Seja o que for, ele estava conseguindo, mesmo que o garoto do gorro azul não vá admitir, não dirá uma palavra sobre isso.
— Você está muito convencido para supor isso.
— E você acha que é mentira?
— Talvez. Você gosta de exagerar.
— E você gosta de me ver exagerar! Vamos, admita. — mostrou um sorriso diferente agora, ele não provocava e nem parecia tão convencido, já que Kenny sabia. Ele sabia disso, tinha esse dom de saber de tudo e sobre qualquer coisa.
— Quando seu expediente acabar, falamos sobre isso. — foi direto. E Kenny abriu o maior sorriso.
O loiro entrou para dentro do restaurante chinês, se passaram apenas alguns segundos quando ele voltou sem o uniforme e com um grande sorriso. Craig se perguntou por que ele havia trocado de roupa e a resposta simples de Kenny foi que seu trabalho era voluntário, ele poderia sair a hora que quisesse e o senhor Lu Kim não iria se importar menos, ele pagava o mesmo sempre, menos nos dias que ele faltava no trabalho.
Soltou uma risada baixa da incompetência daquele loiro idiota, e caminharam juntos pelas ruas da cidade até chegarem em algum lugar que parecesse confortável para eles — mais especificamente ao lago Stark que estava vazio agora. Eles se sentaram no banco de frente para o lago, em silêncio, apenas escutando o som da água e das aves.
— Há quanto tempo você está afim de mim? — Craig perguntou curioso. Ele queria saber, afinal Kenny disse isso duas vezes.
— Há um tempo. Não sei quanto exatamente, só sei que comecei a querer passar mais tempo com você e irritar você. — Kenny riu baixinho, um pouco sem graça, mas sincero.
— Que jeito estranho de demonstrar que gosta de alguém.
— É único e especial, sinta-se privilegiado!
— Uau, você não imagina o tanto que estou feliz com isso — Craig falou em seu tom monótono deixando bem claro o seu sarcasmo e Kenny riu olhando para o moreno.
— Você sempre teve algum interesse em mim?
Craig pensou um pouco sobre isso.
— Pode-se dizer que eu te achava menos desagradável que os seus amigos idiotas, mas não é como se eu gostasse de você ou algo assim. Talvez te achasse interessante quando não está sendo irritante e até mesmo bonito quando não está escondido debaixo do capuz do seu casaco.
— Não sei se eu deveria me sentir privilegiado por você me suportar tanto.
— Quando se é amigo do Clyde você passa a ser mais tolerante com idiotas do seu tipo — Craig ofereceu o que parecia ser um sorriso ou pelo menos era para ser algo assim.
— Você ficou mais interessado depois que nos beijamos?
— Se não conseguir tirar você da porra da minha cabeça e me levar a uma humilhação de ter contado isso ao meu melhor amigo estúpido, então sim, fiquei mais interessado.
— E você quer me beijar de novo aqui e agora?
A pergunta fez Craig estremecer de ansiedade. Ele não precisou responder já que estava óbvio demais e eles não queriam prolongar aquela conversa. Um beijo naquela tarde de verão na cidade montanhosa do Colorado, foi o suficiente para aquecer até mesmo a alma vazia e o coração de gelo do garoto Tucker.
Não se engane, ele não estava apaixonado ou algo do tipo, ele não era tão estúpido a ponto de começar a gostar mais do que gostaria de um cara que ele odeia — mesmo que ele tenha interesse, nunca vai passar disso. Sair juntos às vezes, fazer nada juntos, ficar juntos e se beijarem era parte da rotina, mas eles iriam seguir em frente quando conhecessem as pessoas com quem gostariam de realmente passar suas vidas ao lado delas — se é que isso era possível, de qualquer forma.
Não eram exatamente amigos, mas eram alguma coisa. E isso era mais que suficiente para ambos!
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