Por mais que Derick quisesse ir em direção de Caroline e estrangulá-la, não poderia fazer isso. Até cogitou a idéia de fingir que estava passando mal, mas não adiantaria em nada ficar fugindo dos problemas.
Entretanto, o intervalo chegara mais rápido do que ele esperava. Pelo menos uma coisa boa.
- Ei, me esperem! – Gritou Lizi entrando no banheiro feminino. – Preciso de um make up. – disse, copiando a frase de Cricia.
- Ai, que frescura é essa de entrar toda hora no banheiro pra fazer maquiagem? – Derick gritou no corredor.
- Faz tempo que ela tá assim. – Tatiane suspirou ao responder.
- Assim como?
- Toda mudada. Tipo, ela toda hora quer fazer maquiagem, trocar de roupa, ir às compras, falar de moda. Eu não gosto dessas coisas, mas ela não me entende. – disse Tati frustrada.
- A Lizi ta ficando muito diferente – Derick concordou, chocado com a declaração da amiga. – Vamos falar com ela sobre isso? Acho que ela não ta percebendo o que ta fazendo.
- Okay, acho que quando ela sair dali, da pra gente falar com ela.
- Voltei amigos! – Lizi saiu do banheiro feminino dando pulinhos. – Nossa, que caras de enterro são essas?
- Amiga, precisamos conversar. – Tatiane foi franca.
- Uau, deve ser sério – disse Lizi, que parou de sorrir. – Pode falar.
- Sabe, eu percebi que você ta... ééé... meio mudada. – Tati tentou sorrir ao terminar de falar.
- Mudada como? – Lizi franziu a testa e cruzou os braços sobre o peito.
- Ééé... Tipo... Derick, me ajuda! – Ela deu uma leve cotovelada no amigo que permanecera quieto até o momento.
- Sabe, Lizi... – Derick tentou falar, mas não achava palavras.
- Eu não sei, não. Mas quero saber! – Lizi estava começando a ficar nervosa. – Do que vocês estão falando, hein?
- Do seu comportamento! – Derick explodiu. Ele não agüentava mais aquela situação.
- Mas que diabos eu to fazendo de errado? – Lizi também tinha soltado as estribeiras.
Logo, Tati despejou tudo o que estava segurando dentro de si.
- Você antes era toda doidinha e não ligava pra nada, mas agora só pensa em moda e maquiagem. Você fica rebocando o rosto com essas porcarias a cada cinco minutos, se perfuma a cada cinco minutos, troca de roupas a cada cinco minutos. Isso já encheu, sabe? Só quero saber o porque de você ter mudado tanto!
- E qual o problema disso? – Os gritos das duas estavam ecoando no corredor.
- Você ta mudando pra uma pessoa que você não é. Desse jeito ninguém vai suportar! – Derick também começou a gritar.
- Nós só queremos te ajudar, amiga! – Tatiane falou.
- Amiga o caramba! – Lizi continuava gritando. – Amigos não se metem na vida dos outros. Não se metem onde não são chamados!
- Lizi, calma. A gente só queria saber por que você estar tão mudada. – Derick tentou acalmar a amiga.
- Porque eu quero mudar – Lizi estava com as bochechas vermelhas. O que sempre acontecia quando ela ficava com raiva. – Querem saber? Não quero mais falar com vocês! Vou procurar meu namorado, por que ele sim gosta do jeito que eu sou.
- Lizi, espera! – Gritou Derick no corredor, indo atrás de Lizi, mas ela saíra correndo.
- Acho que não foi uma boa idéia falar com ela. – Tati chegou correndo atrás de Derick.
- Deixa ela esfriar a cabeça. Depois falamos com ela.
- Amigo, eu vou ao banheiro. Preciso ficar sozinha um pouco. – disse Tatiane, indo na direção oposta.
- Tem certeza? – Derick perguntou, preocupado com a amiga.
- Tenho. Fala pro Kaio que a gente se vê na sala. – disse ela se afastando cada vez mais. – Até depois, coelhinho.
- Até. – Disse Derick indo na direção do banheiro masculino, pois precisava pensar também. Eram muitas coisa para que ele lidasse em tão pouco tempo. Quando chegou à porta do banheiro, nem teve tempo de abri-la, pois alguém saiu de lá, fazendo com que a porta quase acertasse em cheio o rosto dele.
- Ei, foi mal! – disse um garoto familiar, se desculpando. – Derick! Nossa, desculpa, cara!
- Ah, oi Lionel. Não se preocupe, não foi nada. – Derick respondeu sem muita emoção.
- Ainda ta triste pelo término? – Lionel perguntou se aproximando.
- Isso também, mas na verdade é porque Tati e eu acabamos de ter uma baita de uma briga com a Lizi.
- Quer falar sobre isso?
- Pode ser. – respondeu. Derick precisava desabafar com alguém. Então, ele começou a explicar toda a história da briga.
***
Quando o tão esperado fim das aulas chegou, os alunos saíram tão rápido da escola, que não demorou mais que dez minutos para que ela estivesse vazia. Os estudantes que ainda restavam nos terrenos escolares estavam espelhados pelo estacionamento.
- Hey, o que houve entre vocês três? – perguntou Michael para a namorada, assim que viu que Derick e Tatiane não estavam juntos a ela.
- Nós brigamos – respondeu Lizi, claramente ainda com raiva.
- Ué, por quê? Vocês são tão unidos, sempre.
- Eles se meteram onde não eram chamados.
- Como assim, amor?
- Ficavam gritando no corredor das salas que eu tava muito mudada, que só pensava em maquiagem, moda e mais nada.
- Ééé... Sabe, amor... – Mickey ia dizendo, até que Lizi o interrompeu.
- Você não acha que eles estão exagerando? – ela falou levantando as mãos em sinal de perplexidade – Doidos da cabeça. Eu não mudei em nada. Mudei, Mickey?
- Ééé... – Michael demorou a responder, olhando para os olhos de Lizi, percebendo que ela o olhava no fundo dos olhos – Não, amor. Você continua igual.
- Aii – Lizi deu um gritinho e abraçou o namorado – Valeu, amor.
- Oii, amiga – Cricia chegou perto do casal, rapidamente – Vamos?
- Onde? - a garota de cabelos loiros tingidos perguntou confusa – Ah, é mesmo, eu tinha esquecido. Querido – Lizi olhou para o namorado. – Eu e a Cricia vamos à loja da mãe dela. Tudo bem, não é?
- Claro, pode ir. – Ele disse, dando um beijo na namorada e indo em direção do seu carro.
- Tati não vai com a gente? – Cricia perguntou.
- Não. – Lizi respondeu – Vamos logo, Cris?
- Claro. – então, as duas saíram do estacionamento.
***
Eram quase sete da noite. O delicioso cheiro de risoto estava por toda parte. Isso não era nenhuma novidade, pois Mari – a mãe de Caroline – cozinhava extremamente bem. Lucas estava sentado no belo sofá de veludo marrom da sala de estar da casa de Caroline, conversando com o pai dela, Adalberto.
- Sabe, Lucas. Eu nunca fui muito fã dos marmanjos que namoravam Caroline. Mas você provou que era diferente. Queria algo sério. Fico bem feliz que voltaram. – Adalberto dizia sorridente, enquanto estendia a mão para Lucas – Seja bem vindo à família outra vez.
- Obrigado senhor Adalberto! – Lucas retribuiu ao comprimento.
- Ah, papai. – Caroline entrou na sala rindo – Assim você deixa o Lu e eu envergonhados.
Lucas revirou os olhos disfarçadamente. Ele odiava que Caroline o chamasse de Lu. Somente uma pessoa costumava chamá-lo assim e ele gostava. Esta pessoa era Derick.
- Querida, só estou dizendo que vocês ficam bem juntos.
Neste momento, Demian, o irmão mais velho de Caroline, entrou na sala de estar.
- Mamãe disse que vocês podem vir jantar. – anunciou para os três, que se levantaram e o seguiram até a sala de jantar.
- Hoje, acho que tem coisa boa. – Carol deu um selinho na boca do namorado, este deu com um belo sorriso assim que os lábios se separaram – mas na verdade, Lucas queria gritar para todos que amava Derick e que sentia nojo dela.
O jantar seguiu muito bem. Mari e Adalberto eram um casal muito bonito. Eles riam e faziam brincadeiras. Porém, chegou um momento em que Lucas não agüentava mais aquela encenação e saiu da sala de jantar, pedindo licença aos pais de Caroline.
- O que será que deu nele? – Mari perguntou curiosa, notando que ele parecia desconfortável.
- Eu vou ver se ele ta bem. – Caroline saiu e foi atrás do namorado, deixando apenas os pais lá, pois Demian já estava em seu quarto.
- Ei, o que houve? – ela chegou ao corredor dos quartos, onde Lucas estava sentado.
- Não aguento mais essa encenação. – disse Lucas, e ele não estava falando baixo.
- Como assim, Lu?
- Não me chama assim. Eu não quero mais nada com você. Eu amo outra pessoa! Você é louca.
- Não se esqueça, Luquinhas, que você pode amar aquela passiva mineirinha, mas a pessoa pra você ficar sou eu. – ela disse apontando o dedo na cara do rapaz – Você pode querer comer aquele Derick, mas lembra daquela minha chantagem, não é? Se você ousar terminar comigo, eu conto pra esse país todo que você é um grande de um boiola.
- Vadia! – foi a única coisa que Lucas conseguiu falar.
- Agradeço. – sorriu cínica – Agora volta para aquela mesa, senão eu conto pra minha mãe e pro meu pai que o genro perfeito deles curte transar com caras.
Com muita má vontade de Lucas, Caroline e ele deram as mãos e foram até a sala de jantar novamente.
- Então minha maninha é uma chantagista de primeira e o Lucas gosta de outra fruta? Ah, mas isso não vai ficar assim. Não vai ficar assim mesmo! – Demian disse para si mesmo, assim que o falso casal passou pela porta do quarto dele, depois que ele escutara toda a discussão.
***
Podemos conversar? To passando perto da sua casa agora.
A mensagem no WhatsApp era de Lionel, e Derick não sabia exatamente se o que responderia, pois passava das oito da noite.
Acho que não vai dar. Foi mal.
Começou a digitar, mas parou abruptamente.Ah, mas ele foi tão legal comigo desde que o cachorro do Lucas me dispensou, Derick pensou.
Podemos sim. Lembra onde é minha casa, não é???
Lionel respondeu no mesmo minuto.
Sim, estou te esperando na esquina onde tem uma padaria.
Ok. Já chegou ai.
Derick colocou o celular no bolso de sua calça assim que a mensagem fora visualizada e abriu a porta do quarto. Por sorte, ninguém à espreita. Ele conseguiu chegar à porta de entrada rapidamente, sem fazer barulho sequer.
- Rá-rá, sou como um gato silencioso – disse ele vangloriando-se. Entretanto, assim que terminara de falar, bateu com força o joelho no balcão que ficava na entrada. – Merda! Merda! E merda! – praguejou segurando palavrões que quase disse em voz alta. Talvez o gato não fosse tão silencioso quanto ele pensava. Porém para sua sorte, seus pais estavam no quarto, assistindo a um filme. Ou talvez se amando. Eca!, pensou em seguida. Como pôde pensar numa coisa dessas? Balançou a cabeça, tentando tirar a imagem que lhe veio. Pais não transam!, concluiu. Derick pensava como alguns jovens da sua idade, que não considerava sexo como algo que os pais faziam.
Assim que conseguiu sair pela porta, ele a trancou e saiu correndo – ainda silenciosamente – e só parou quando chegou à esquina onde o carro que havia pegado carona um dia, já o esperava.
- E aí, entra – Lionel convidou, esticando-se e abrindo a porta do passageiro.
- O que você queria conversar a essa hora da noite? – Derick perguntou indo direto ao objetivo.
- Saber se você ta legal. Tipo, ninguém merece passar por um término chato e depois brigar com a melhor amiga. Se você precisar desabafar, pode falar – Lionel olhava nos olhos de Derick, por mais que não fosse muito perceptível, com a claridade baixa dentro do carro.
- Ah, isso. Sabe, eu não sei o que eu fiz... pra pessoa que terminou comigo me dizer coisas nada legais. E a Lizi não entende que eu e a Tati só queríamos saber o por que daquela mudança de hábito dela. – Derick despejou as palavras, enquanto o amigo apenas ouviu atentamente – É coisa pra deixar qualquer um louco da cabeça, meu. Não é a Lizi que nós conhecemos. É... uma pessoa totalmente diferente. Quase uma estranha.
- Você devia conversar com a Lizi e explicar todos os seus pontos de vista, sabe? Mas deixa ela ficar bem mais calma. – Lionel falou quase que sussurrando. – E sobre o namoro, devia esquecer sua ex. E ir para outra.
- É fácil falar, cara. – Derick disse zombeteiro. Riu discretamente com o “sua”
- Se você tentar e tiver alguém para isso, talvez seja mais fácil do que pensa.
“OK, essa última frase dele foi bem estranha!”, pensou Derick.
- Vamos mudar de assunto. Não quero mais falar de brigas. Seu carro é bem legal – observou o interior.
- Obrigado. É do meu pai. – Lionel respondeu.
- Uau, seu pai tem um carrão desse e te deixa usar? – Derick disse sorrindo. – Que sorte, porque acho que meu pai nunca iria deixar que eu usasse o carrão dele.
Lionel riu.
- Posso ligar o radio?
Lionel confirmou com a cabeça. Derick ligou radio na estação da radio Mix. Estava tocando Work, de Iggy Azalea.
- Não acredito – Derick soou empolgado – Aumenta o volume, por favor.
Então a música preencheu os cantos do carro.
No money, no family.
Sixteen in the middle of Miami
I’ve been up all night, tryna get that rich.
I’ve been work, work, work, work. Working on my shit.
Milked the whole game twice, gotta get it how I live.
I’ve been work, work, work, work. Working on my shit.
Now get this work.
Now get this work.
Enquanto a batida da música tremia o carro, Derick sentia-se à vontade, cantava em voz alta e mexia os braços como se estivesse dançando. Lionel, ao ver o que o amigo fazia, começou a fazer igual.
Now get this work.
Working on my shit.
A música tinha terminado e os dois rapazes estavam ofegantes pela “zoeira”.
- Isso foi legal – disse Derick.
- Você tava muito doido – Lionel zombava de Derick.
- É bom esquecer os problemas de vez em quando.
- Você começou a cantar e depois foi mexendo os braços, tipo uma pessoa doida e eu entrei na onda. – Lionel disse imitando o que o outro tinha feito.
- Hey, não fica tirando com a minha cara, não.
- Foi mal. É que to nervoso e queria relaxar o ambiente. – disse Lionel, passando a mão na nuca.
- Por quê? – perguntou Derick, confuso.
Nesse momento, os rostos dos adolescentes estavam extremamente próximos. Derick olhava profundamente nos olhos de Lionel, este por sua vez, fazia o mesmo, porém, logo desviou o olhar para a boca do outro e foi aos poucos diminuindo a distância entre os dois.-
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