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História Gênio Infame, Dama Mordaz - Tornozelos Perfeitos - História escrita por HunterPriRosen - Spirit Fanfics e Histórias
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História Gênio Infame, Dama Mordaz - Tornozelos Perfeitos


Escrita por: HunterPriRosen

Notas do Autor


"No qual nosso herói se apaixona. Mas só pelos tornozelos da heroína."

Capítulo 2 - Tornozelos Perfeitos


Fanfic / Fanfiction Gênio Infame, Dama Mordaz - Tornozelos Perfeitos

Não sou do tipo de homem que acredita na existência de um deus supremo, mas enquanto admiro a beleza das beldades caminhando ao meu redor e mergulhando na piscina com seus maiôs coloridos, quase mudo de ideia. Se Deus existe, essa com certeza é sua grande obra-prima: a mulher.

Mas, como não sou um crente, vou chamar essa inteligência de A Natureza. E ela foi simplesmente perfeita com essa parte da criação. Está de parabéns e tem em mim um grande fã do primoroso trabalho.

Em cada mulher reside um encanto singular. Em cada olhar, uma chama desconcertante. No som de cada gargalhada e em cada sorriso há uma beleza distinta, todas elas são fascinantes do seu próprio jeito. É impossível resistir porque cada mulher é um convite ao flerte. Cada uma, um mistério diferente.

Meu vício? Decifrá-las enquanto temos inesquecíveis e prazerosos momentos juntos.

Por falar em inesquecíveis, parece que Jarvis se esqueceu de trazer mais bebidas para a minha reunião de trabalho, pois na mesa arrumada à borda da piscina, onde aliás estou sentado admirando a vista, só há garrafas vazias, taças e copos abandonados. Muitos com marca de batom.

— Jarvis! Traga mais whisky e gelo!

Sim, reunião de trabalho. Comigo mesmo e meu cérebro invejável. Estou refletindo sobre uma das minhas invenções há algumas horas, uma que espero um dia colocar em prática pois trata-se de algo complexo para a tecnologia atual. Um núcleo de paládio.

Mulheres bonitas contagiando o ambiente sempre me ajudam a pensar melhor. E, por mais incrível que possa parecer, consigo dividir a atenção do meu cérebro entre cálculos e curvas femininas. Ser um gênio tem dessas coisas, sou autossuficiente, além de um exímio amante.

 — Jarvis! Você se perdeu, homem?!

Meu mordomo e grande amigo finalmente sai da casa e se aproxima equilibrando uma bandeja.

— Desculpe a demora, senhor. — Ele dispõe uma nova garrafa na mesa, um balde de gelo e recolhe a garrafa vazia. — Eu estava servindo mais uma xícara de chá para a Srta. Maria Carbonell.

— E quem é essa?

Jarvis me serve uma dose enquanto esclarece:

— Uma candidata à vaga de arrumadeira. Por incrível que pareça, alguém veio.

Giro o copo entre os dedos, tomo um gole e questiono de forma retórica:

— Você ainda acha que o meu anúncio foi impróprio, não é?

— Perdoe-me a sinceridade, senhor, mas impróprio seria um eufemismo. Estou certo de que a Srta. Carbonell concorda comigo, pois fez questão de deixar claro que sua motivação para ter vindo foi estritamente pelo salário e por não exigirmos experiência. Ela pareceu bem constrangida com o restante do seu texto.

Por um momento, imagino a expressão da tal candidata ao ler o anúncio da vaga de emprego no jornal desta manhã. Os lábios macios se abrindo em choque, os olhos arregalando-se em cada palavra, as bochechas deliciosamente coradas no final da leitura.

— Como ela é, Jarvis? — Tomo mais um gole da bebida e, antes que ele me responda, tenho uma ideia melhor. — Não, não me diga! Prefiro ver com os meus próprios olhos. É um bom momento para ela conhecer o futuro patrão, não acha?

Afinal, uma mulher que responde a um anúncio espirituoso daqueles merece alguma atenção.

— Na verdade, nós ainda não acertamos a contratação, senhor. A Srta. Carbonell me parece um pouco hesitante.

Qualquer pessoa, em sã consciência, aceitaria trabalhar para mim de bom grado, então isso só pode significar que...

— Ela ainda não sabe que eu sou o empregador?

Jarvis coloca as mãos para trás e parece sem graça ao responder:

— Ao contrário. Ela deduziu ao ver um dos seus retratos na sala. Disse que o reconheceu das revistas.

De fato, tenho uma coleção de quadros meus pela mansão e costumo sair bastante na imprensa. Não só em revistas científicas, como nas de fofoca também. Sem falar a cobertura de um certo escândalo há quase dois anos, quando algumas armas foram roubadas do meu cofre e virei o inimigo número 1 dos Estados Unidos. Até Peggy Carter provar a minha inocência, ufa!

— E ainda assim ela não se decidiu? Ora... Essa é nova. — Arqueio uma sobrancelha e levo um dedo ao queixo, pensativo. — Ok, Jarvis, você me deixou curioso. Vamos resolver isso logo.

Termino a bebida entornando o copo e levanto da cadeira depois de colocá-lo sobre a mesa com um baque surdo. Ajeito meu roupão favorito — estampado num tom de marrom avermelhado — e sigo meu mordomo rumo ao interior da casa.

Ouço gemidos de protesto atrás de mim e uma das garotas toma a minha frente, enquanto as demais me perseguem como um séquito. Eu adoro isso!

— Aonde você pensa que vai, Howard? — reclama, toda manhosa, fazendo círculos na lapela do roupão com a ponta do dedo.

Droga, não lembro o nome dessa. Cindy? Megan? Betsy?

Tomo sua mão e plano um beijo na palma.

— Não muito longe, coração. Preciso resolver um assunto com o Jarvis, mas voltarei bem rápido.

— Promete?

Lanço-lhe um olhar sedutor, carregado de promessas indecentes.

— Você tem a minha palavra, Betsy. — Sorrio para as outras. — Todas vocês têm.

Quando já estou quase cruzando a porta de entrada, ouço a que falou comigo me corrigir aos risos:

— É Mirna, docinho!

Claro, Mirna! Eu sabia que era alguma coisa com cinco letras.

[...]

A primeira e única coisa que vejo, quando adentro a grande sala de visitas, é um par de tornozelos perto de um dos sofás. Mais do que surpreso, fico curioso com a imagem. E logo, admirado.

Claro que é estranho que a futura arrumadeira esteja escondida na lateral do sofá — na verdade, ela parece estar à procura de alguma coisa pelo chão —, contudo, o que realmente segue chamando a minha atenção é o belo par de tornozelos que ela possui e que, felizmente, continua à mostra.

São delicados e perfeitamente simétricos, como se tivessem sido esculpidos pelo mais talentoso artista num dia de especial inspiração.

Não sei se fico zonzo pelo efeito da bela imagem ou se por ter exagerado um pouco nas doses de whisky. Talvez as duas coisas.

Estreito o olhar para enxergar melhor.

A pele clara — e macia feito veludo, aposto — contrasta com os sapatos de verniz num tom escuro de verde. Os fechos laterais são prateados e dão um toque de sofisticação e sensualidade aos pequenos pés que protegem.

Acho que nunca fiquei tanto tempo admirando essa parte do corpo feminino, mas é uma imagem realmente encantadora aos olhos, que faz um calor libertino surgir e se espalhar por cada célula do meu corpo. Por um momento, chego a me imaginar depositando um beijo suave e demorado bem ali, na junção do tornozelo com o pé. E depois, pegando o caminho inverso, subindo muito devagar até a panturrilha, depois o joelho, me demoraria na coxa e o céu seria o limite...

É inevitável, quando dou por mim, estou sorrindo torto e inclinando a cabeça para ter uma visão ainda melhor dessa obra de arte da Natureza.

Quando meu mordomo faz menção de abrir a boca, coloco a mão em seu ombro, silenciando-o antes que diga uma palavra sequer. Não quero que ele indique nossa presença para a visitante. Por alguma razão, quero eu mesmo ter esse prazer.

Com passos cautelosos, dou a volta no sofá, enquanto ela começa a engatinhar na mesma direção para onde sigo.

Sim, ela parece realmente procurar alguma coisa pelo chão. Seja lá o que for, perde a importância no instante em que coloca os olhos nos chinelos macios que estou usando desde o meu último mergulho na piscina.

— Olá, raio de sol. Apreciando o assoalho?

Tomada pelo susto, ela ergue a cabeça depressa e me encara com um par de olhos... cintilantes e intensos que me roubam o ar e me intrigam ao mesmo tempo. Então, coloca-se de pé numa velocidade surpreendente, exclamando:

— Ai, meu Deus!

É possível que alguém grite de um jeito delicado? Porque foi exatamente o que ouvi agora. Um grito suave que me causa uma comichão na virilha, enquanto meus ouvidos vibram encantados.

Isso não foi um grito, foi um canto de sereia!

— Por favor... — Sento no braço do sofá, ficando mais perto dela, e esboço um sorriso torto —, me chame de Howard.

Ela une as sobrancelhas com inocente confusão e as mãos inquietas desamassam o vestido num tom mais claro de verde que os sapatos. Vestido este que adorna o corpo curvilíneo e adorável que faz jus aos perfeitos tornozelos.

Que ninfa!

O rosto é delicado, como toda a imagem diante dos meus olhos escrutinadores. Ainda assim, há força em cada traço, há personalidade em sua expressão, há desafio.

Os olhos possuem um tom de azul, mas as bordas têm uma nuance esverdeada, e me vejo preso na mistura de cores até ser atraído por outra coisa em sua aparência. Algumas mechas loiras desalinhadas caem por suas bochechas em chamas. E é quase como se me implorassem para que as colocasse no lugar de novo. O que seria um prazer, claro, porém antes eu adoraria bagunçar o cabelo dela um pouco mais, entre os meus dedos, quando enroscasse minha mão em sua nuca e tomasse sua boca para mim.

A verdade é que adoraria bagunçar a Srta... — Como é mesmo o nome que Jarvis disse? — Enfim, bagunçá-la por inteiro.

Estou diante de mais uma perfeita criação da Natureza, sem sombra de dúvida. Mais um mistério a ser desvendado e apreciado. Mais um convite irresistível ao flerte.

— Perdão, a senhorita perdeu alguma coisa? Posso ajudar a encontrar?

As perguntas de Jarvis fazem o espanto e a curiosidade na expressão da bela dama se dissiparem. De súbito, ela parece incomodada de alguma forma, ergue levemente o queixo em minha direção e suas costas ficam mais eretas.

— Um dos meus brincos, Sr. Jarvis.

Um sorriso me vence enquanto aponto para as orelhas dela e digo:

— Acabei de encontrar. Vejo um par completo de pérolas daqui.

Como se não acreditasse na minha palavra, ela leva as mãos às orelhas e só então, graciosamente constrangida, admite:

— É claro! Que cabeça a minha! Um engano ridículo...

Ainda assim, sinto algo estranho em sua postura. Não sei por que, mas as palavras não me soaram sinceras. Por que ela fingiria que perdeu um dos brincos?

— Acontece com qualquer pessoa, Srta. Carbonell — meu mordomo a tranquiliza. — Certa vez, o Sr. Stark fez um escândalo porque não encontrava um dos óculos de sol preferidos. Bom... — Ele me indica com um meneio de cabeça. — Estava o tempo todo pendurado justamente nesse robe.

— Não foi um escândalo, Jarvis — protesto na lata. — Eu só estava um pouco disperso por causa do vinho. Ou do absinto. Não lembro direito.

— Desculpe por fazê-lo perder o seu tempo, Sr. Jarvis — a adorável senhorita diz de repente, me ignorando magistralmente. — Fico muito grata pela atenção, pelo chá e pelos biscoitos, estava tudo divino. Referente à minha decisão, infelizmente, prefiro dispensar a oferta de trabalho. É melhor eu ir agora...

Ela faz menção de se afastar, mas sou mais rápido e tomo sua frente.

— Agora? Espera um pouco! Nós nem nos apresentamos direito, raio de sol.

Um sorriso ácido surge no seu rosto e a réplica vem afiada feito uma navalha:

— Ah, não se incomode. Eu sei quem você é, Sr. Stark.

Com a voz bem suave e o olhar penetrante fixo em seus olhos, corrijo-a de um jeito sedutor:

— Sr. Stark é o meu pai. Como eu disse, pode me chamar de Howard.

Ela ergue o queixo de novo.

— E como eu disse, sei exatamente quem o senhor é.

Mais uma resposta afiada. Nenhum sinal de abalo diante do meu flerte. Tem alguma coisa muito errada acontecendo aqui. Bom, talvez ela só seja tímida.

— Você é uma admiradora? — suponho, tentando entendê-la. — Uma fã do meu trabalho? Me acha um gênio? Bem, você tem razão.

— Eu não sou uma fã.

Há frieza em suas palavras e um princípio de... raiva?

— Mas Jarvis disse que você reconheceu o meu retrato bem ali por causa das revistas — argumento, apontando para o quadro na parede (um dos meus melhores ângulos, aliás).

— Eu não as compro, Sr. Stark, apenas não sou cega. — Ela revira os olhos brevemente. — O senhor aparece muito nas capas. Sempre na companhia de uma mulher diferente. Uma por semana? Não, às vezes, duas ou três de uma vez só.

Oh, certo! Agora entendi, ela é uma fã ciumenta. Gosto disso.

— Isso te incomoda? — provoco.

— De forma alguma — ela responde muito rápido, sem nem pensar, e a ideia do ciúme cai por terra deixando-me desapontado. — Desde que o senhor entenda que alguém como eu nunca poderia fazer parte da sua lista de conquistas. Como eu não sei se tem essa capacidade, não posso trabalhar aqui. Seria uma grande dor de cabeça, acredite.

O silêncio paira na sala. Acho que é a primeira vez que fico sem resposta diante de uma mulher. Mas o que posso fazer? Não esperava tanta franqueza nem um espírito tão arredio vindo de alguém que acabei de conhecer. Essa dama não só não é uma admiradora, como parece ser justamente o oposto. Não estou preparado para isso, tampouco.

— Ela é bem direta, senhor.

— Eu notei, Jarvis. E um pouco orgulhosa demais para o meu gosto também. — Coloco as mãos para trás e volto-me para a peculiar senhorita novamente. — O que te leva a pensar que eu...

— A forma como olhou para mim há pouco — ela me interrompe, destemida. Atrevida. Encantadora. — Como deve olhar para todas as mulheres, aliás.

— Eu não...

É inevitável, meu olhar se perde nela mais uma vez. Por seu rosto, seu corpo, seus lindos tornozelos... Perco o fio da meada.

— E está fazendo de novo! — acusa, despertando-me do estranho feitiço.

Ergo a cabeça e encontro um olhar... fuzilante?

— Tudo bem. — Dou de ombros e coloco as mãos nos bolsos do robe. Estreito o olhar no seu e as palavras seguintes saem muito aveludadas: — Mas eu não tenho culpa se a sua beleza está me enlouquecendo. E o seu perfume também.

No entanto, minha tentativa de sedução é frustrada novamente pois, sem se intimidar, ela cruza os braços e articula de um jeito desdenhoso:

— O senhor pode ser um grande inventor, um gênio como se define, mas, em termos de galanteio, não me parece muito criativo. É um mistério como anda sempre cercado por mulheres. De certo, elas devem se contentar com muito pouco.

Sinto Jarvis se empertigando a alguns passos de mim, enquanto a surpresa me atinge em cheio.

— Ai, essa doeu.

E me deixou desnorteado, além de ofendido.

Disfarço como posso, já que claramente a senhorita na minha frente está muito enganada ao meu respeito. O fato de estar sempre cercado por mulheres, disputando minha atenção, prova justamente que não sou pouca coisa. Não há mistério algum nisso, apenas um homem brilhante, bem-humorado e amante espetacular. Modéstia à parte.

— Desculpe, saiu sem querer. Realmente sem querer. — Ela pisca algumas vezes e um leve rubor surge nas bochechas. Parece arrependida do que disse. — Eu fui... longe demais.

Ora, ora... A dama mordaz também é capaz de ser doce quando quer. Misteriosamente, não consigo ficar com raiva dela por ser tão autêntica e prefiro relevar a ofensa gratuita.

— Foi mesmo. — Arqueio uma sobrancelha em concordância e dou um passo em sua direção. Pego sua mão com cautela e inclino-me um pouco para beijá-la na junção dos dedos. Meus lábios tocam a pele macia e quente, pinicando num torpor esquisito e, ao mesmo tempo, muito bom. Ergo o olhar, deliciado por sentir que ela estremeceu com o meu gesto. Finalmente uma reação favorável! — Ainda assim, encantado, Srta...?

Ela puxa a mão com força no momento seguinte e expira pesadamente, antes de se apresentar com certa rispidez:

— Maria Carbonell. Pronto, eis o meu nome. Satisfeito? Não que o senhor vá se lembrar dele depois que eu cruzar a porta. Aposto que tem memória curta para esse tipo de detalhe.

Ela pisca várias vezes de novo, parecendo surpresa com as próprias palavras, como se tivesse saído sem querer de novo.

Não me ofendo com a nova onda de rispidez, acho graça e um sorriso leve me vence.

— Acredite ou não, eu não vou esquecer. Seu nome, seu rosto, o quanto é afiada e linda. Só um louco esqueceria e isso eu não sou.

Ignorando o novo flerte magistralmente, ela retoma o tópico anterior:

— Bom, me desculpe pelo excesso de franqueza, geralmente eu não sou assim tão...

— Linguaruda? — sugiro, divertindo-me por dentro com a carranca que recebo em troca.

— Eu não tenho nada contra o senhor pessoalmente, apenas...

Uma voz melodiosa, vinda do jardim, chega até nós:

— Howard... Vem logo, docinho!

Droga, Betsy! Justo agora?

A fascinante dama diante de mim fecha o semblante, encara-me com um desprezo tangível e encerra a conversa:

— Ora! Passar bem, Sr. Stark!

Antes que eu diga qualquer coisa, ela me dá as costas e ruma com passos ligeiros até a saída. Cruza a porta feito um rastilho de pólvora.

Apesar de ter me perdido por alguns instantes nos seus tornozelos de novo, ainda lembro muito bem do seu nome. Um nome delicado e forte. Como ela me parece ser. Maria.

— Eu acompanho a senhorita! — meu mordomo e amigo grita, indo atrás dela.

— Jarvis! — chamo-o, e ele retorna no mesmo instante meio afobado. — Acompanhe a Srta. Maria Carbonell além da saída. Uma carona até onde ela mora é mais apropriado.

Ele assente com um rápido gesto de cabeça.

— Claro. Algo mais, senhor?

Penso um pouco.

Não estou acostumado a ser rejeitado. Na verdade, não lembro de ter acontecido alguma vez antes de hoje. Muito menos, de ter ouvido tantos desaforos e hostilidades de uma mulher que acabei de conhecer. Tampouco de ter gostado disso. Aquela comichão na virilha ficou cada vez mais intensa à medida em que a Srta. Carbonell me desafiava.

Ela foi malcriada, é verdade, mas também me encantou com a sinceridade e coragem em dizer o que pensa. Não é todo dia que me deparo com uma mulher assim. Alguém que não abaixa a cabeça e olha nos olhos ao se expressar. Nesse ponto, ela me lembrou minha grande amiga Peggy.

Apesar de ter me atraído como toda mulher geralmente atrai, talvez eu tenha passado do ponto com meus flertes e me arrependo um pouco por isso.

De qualquer forma, o fato é que a mansão ainda precisa de uma nova arrumadeira e, por uma questão de honra, preciso apagar a má impressão que a Srta. Carbonell teve de mim. Posso provar que sou um cavalheiro, apesar do meu fascínio pelo sexo oposto ser muito acentuado e, por vezes, me deixar sem filtro.

Por fim, se ela veio até aqui depois de ter lido o meu anúncio no jornal — anúncio impróprio, segundo Jarvis —, é porque precisa mesmo do emprego. Não quero prejudicá-la. Se o único motivo para ter recusado a vaga sou eu, posso me comportar e respeitá-la se aceitar trabalhar para mim.

— Sim, mais uma coisa.

Sorrio torto, enquanto uma ideia surge e conto a ele depressa.

Depois que Jarvis deixa a sala, decido que um mergulho me fará muito bem. Pelo menos, para aplacar o calor que a Srta. Carbonell provocou no meu corpo.

Algo perto de uma poltrona chama minha atenção, no entanto, e me abaixo para segurar a pedra grande e pontiaguda entre os dedos. Franzo o cenho, olhando tudo em volta e me perguntando como diabos isso veio parar aqui.

Definitivamente, hoje é um dia muito estranho.

Se alguém me dissesse que eu lembraria dele para sempre, não teria acreditado.



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