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História Gênio Infame, Dama Mordaz - Um Presente - História escrita por HunterPriRosen - Spirit Fanfics e Histórias
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História Gênio Infame, Dama Mordaz - Um Presente


Escrita por: HunterPriRosen

Notas do Autor


"No qual nossa heroína é muito franca, e nosso herói fica perdido."

Capítulo 13 - Um Presente


Em minha defesa, eu não pretendia agredir meu infame patrão. Não sou adepta da violência física, prefiro mil vezes os argumentos verbais do que perder a linha e me rebaixar ao nível de quem não merece atenção. Porém, não consegui evitar dessa vez, assim como não consegui evitar o tapa que desferi contra o rosto de William ao descobrir sua traição nojenta depois de anos de noivado.

O som daquele tapa e o que me motivou a dá-lo ainda me perturbam quando penso a respeito...

Hoje foi a segunda vez que bati em um homem. Tentei, na verdade. Quando soltei o dicionário na direção dele, o Sr. Stark evitou o impacto, segurando-o no ar com um ótimo reflexo e destreza impressionante.

E por que eu fiz isso? Porque esse homem... Não, esse patife me provocou desde o instante em que cruzou a porta da biblioteca e me tirou realmente do sério ao alegar que eu — EU! — nutro algum ciúme por ele. E ainda teve coragem de repetir enquanto sorria do jeito que julga tão charmoso!

Não aguentei, o meu sangue ferveu, ainda está fervendo! Esse patife parece que veio ao mundo só para me afrontar! Para me enlouquecer!

Ciúme dele? Eu? Em que mundo isso é no mínimo verossímil? Certamente, não nesse!

 — Eu nunca ouvi algo tão absurdo na minha vida — digo com desdém e revolta, mantendo algum controle para não perder as estribeiras de novo.

— Bem, a verdade pode ser absurda às vezes. Ainda assim, não deixa de ser verdade.

Não consigo arrancar o sorrisinho convencido adornado pelo bigode patético. Parece que minhas palavras surtiram o efeito contrário, convencendo Howard Stark de que eu fiquei mesmo incomodada ao ver aquela mulher na varanda do seu quarto. Argh!

Respiro fundo, tentando manter a calma.

— Então, eu tenho ciúme do senhor?

Ele assente com um meneio de cabeça, o sorrisinho ainda estampado no rosto vitorioso e sonso.

— Precisamente, raio de sol.

Rio sem humor, não vendo a menor graça em algo tão irreal.

Olhando meu patrão aos pés da escada, ergo o queixo para vê-lo ainda mais abaixo de mim e questiono com uma nota de orgulho:

— E por que uma mulher como eu perderia o juízo a tal ponto?

Stark sorri mais largamente. Maldição... Isso não está se resolvendo como eu gostaria.

— Você sabe muito bem o que leva uma mulher a se sentir assim por um homem. Mas, se prefere que eu diga com todas as letras, aí vai: você está interessada em mim, Carbonell.

Dessa vez, não preciso fingir a risada, ela vem naturalmente e logo se transforma numa gargalhada mais alta. Algo que o Sr. Stark não gosta nenhum pouco, já que o sorriso é dissipado de imediato e uma expressão um tanto ofendida surge no lugar.

Sentindo meu espírito renovado e plenamente no controle da situação, desço a escada com tranquilidade e levo a nova remessa de livros para a mesa adiante.

— Qual é a graça? — alguém resmunga atrás de mim, o tom desapontado.

Pego uma flanela e começo a delicada limpeza de cada volume.

— Nada, só lembrando de algo que eu constatei ontem e confirmo agora: o senhor é mesmo um palhaço nato. Carros irão voar no dia em que eu sentir algum interesse pelo senhor.

Para minha surpresa, dessa vez é Stark quem ri. E não há nada de falso na maneira como o faz, deixando-me intrigada e logo muito incomodada.

Viro-me em sua direção, querendo saber:

— E agora qual é a graça?

Não calculei que ele estava tão perto, no entanto. O Sr. Convencido está bem na minha frente e a súbita proximidade me deixa nervosa. Digo, surpresa! Apenas surpresa!

E com raiva também porque me lembro que, há apenas alguns minutos, Stark me segurou na escada. Para que eu não despencasse feito uma fruta madura, é verdade, ainda assim chegou perto demais para o meu gosto. Como faz agora ao colocar, numa pilha atrás de mim, o dicionário que infelizmente não acertou sua cabeça de vento.

Prendo a respiração. Meu sangue ferve, porém não sinto que o motivo seja raiva dessa vez. É outra coisa.

E por que diabos a biblioteca ficou tão quente de repente?

Como se enfim percebesse a invasão de espaço, o Sr. Stark recua um pouco. O suficiente para que o oxigênio me reencontre.

Meu patrão coloca as mãos nos bolsos, arqueia levemente as sobrancelhas e responde:

— Você está desinformada, raio de sol. Já existem carros voadores. Os meus. Na verdade, já estou no terceiro protótipo. Se quiser, um dia eu te levo para dar um passeio.

Estou prestes a abrir a boca para mandá-lo ao inferno, porém antes que eu possa, Stark ergue as mãos em rendição e pontua:

— Apenas como bons amigos, juro. Eu já entendi que você precisa de tempo para admitir o interesse que sente por mim. No fundo, talvez negue porque ainda não se deu conta que ele existe. Estou disposto a esperar e conquistar sua amizade enquanto isso.

Ignoro como essas palavras mexem comigo e empino o nariz.

— Pois espere sentado.

Howard Stark parece avaliar a sugestão por um momento, com ar pensativo e um novo sorrisinho esticando os lábios. Depois, dá de ombros e caminha até uma cadeira de couro atrás da mesa.

— O que pensa que está fazendo?

Ele se senta nela! Simplesmente se acomoda feito um rei e ainda coloca os pés sobre a mesa! Sei que está na casa dele, mas se isso não for uma clara provocação, não me chamo Maria Collins Carbonell!

— Lembrei por que eu vim até aqui.

Cruzo os braços e retruco o óbvio:

— Para me importunar.

O Sr. Stark ergue um dedo em riste e corrige:

— Para esclarecer as coisas. E também... — Ele puxa um volume de uma das pilhas sobre a mesa e conclui com insolência: — Para ler um bom livro.

Howard Stark abre na primeira página e estreita o olhar, fingindo concentração na leitura, a outra mão no queixo.

Noto algo elementar e me sinto no dever de avisá-lo:

— Está de cabeça para baixo.

Com rapidez e uma expressão contrariada, ele conserta a posição do livro.

Sorrio com pura satisfação pela última alfinetada e volto à limpeza dos exemplares.

O silêncio impera.

Mas, para meu total desgosto, não impera por muito tempo. Logo o Sr. Stark abaixa o livro, apoiando-o no colo e decide que é uma ótima ideia puxar assunto comigo de novo:

— Você gosta de ler, Carbonell?

É uma péssima ideia. A última coisa que quero agora é ter qualquer interação com esse... patife metido a conquistador.

Decido ignorá-lo. Isso mesmo, finjo que não o ouvi, na esperança de que desista e me deixe sozinha. Simplesmente continuo fazendo meu trabalho como se a voz irritante não tivesse soado.

Só que ela soou. E volta a soar segundos depois:

— Aposto que gosta de histórias românticas.

Howard Stark não podia estar mais enganado.

Admito que já li algumas histórias assim na adolescência e admiro alguns clássicos, mas nunca foi o meu gênero favorito. Depois do fiasco na vida real então, passei a evitar qualquer propaganda enganosa sobre o amor. Pior, deixei de acreditar no amor.

Sinto um aperto no peito, uma dor na ferida não cicatrizada.

— O que houve? — meu patrão pergunta e, dessa vez, não capto qualquer provocação em sua voz. Olho para ele sem entender. — Você ficou triste de repente.

Balanço a cabeça e abaixo o olhar para o livro em minhas mãos.

— Impressão sua.

Mas sei que não o convenci. E sei também que só há uma maneira de fazê-lo desistir desse tópico. Respondendo o outro.

— Eu prefiro mistério, suspense, romance policial.

— Sério? — O interesse em seu tom me faz sair um pouquinho da defensiva e volto a encará-lo. — Então, deve gostar de Agatha Christie.

E assim, de repente, um sorriso franco termina de derrubar minha barreira em relação a essa conversa. Isso porque esse tópico me empolga, me distrai, vejo-me inclinada a interagir.

Assassinato no Expresso do Oriente é o meu livro favorito dela.

Infelizmente, o exemplar, que ganhei do meu irmão, ficou para trás quando parti de Richmond às pressas. Era o meu livro de cabeceira, gostava de reler de vez em quando.

Howard Stark abre um sorriso e diz num tom muito gentil:

— Eu tenho uma edição por aqui em algum lugar. Autografado pela Agatha e tudo. Se quiser emprestado, fique à vontade.

Fico tentada, confesso,  meu coração dispara diante da oferta, mas...

— Não seria correto.

Meu patrão franze o cenho.

— Por que não? Você lê com calma e devolve. Simples. Se quiser pegar outros livros depois, não se sinta desconfortável, Carbonell. Livros foram feitos para serem lidos, não para serem abandonados numa estante.

Num instante, ele está de pé. No outro, já está procurando pelo livro. Resisto ao ímpeto de segui-lo, mas admito que fico ansiosa para que o encontre logo.

— Aqui! Achei!

O Sr. Stark se aproxima de novo e estende o exemplar para mim. Não consigo resistir e simplesmente pego como se fosse ouro. Bom, para mim é mais precioso do que ouro.

Observo a capa com fascínio e um leve sorriso acaba me vencendo. Sem pensar duas vezes, abro o livro. E franzo o cenho ao ler o autógrafo na primeira página em voz alta:

Para o encantador Howard Stark. Com estima, Agatha. — Decido provocá-lo. — Encantador? Que coisa... Eu não sabia que Agatha Christie era doida de pedra.

— Rá. Muito engraçada — meu patrão resmunga, contrariado. — Se você não me julgasse tão mal, também veria como sou o encanto em pessoa.

— Espere um pouco. — Lanço um olhar desconfiado a ele. — Por que ela te deu esse autógrafo?

Meu patrão dá de ombros, as mãos enfurnadas nos bolsos da calça.

— Não é óbvio? Eu sou um grande fã também. — Estreito o olhar, e ele cede. — Nós só tomamos um drink, juro. Não precisa ficar com ciúme de novo.

Fecho a cara e respiro fundo.

— Não é ciúme, eu só não quero me decepcionar com minha autora favorita.

Ele sorri de leve e dá de ombros mais uma vez ao mesmo tempo em que esclarece:

— Fique tranquila, foi apenas um encontro formal. O marido dela estava lá, inclusive.

Analiso-o por um longo instante. E decido acreditar nele.

Fico um tanto surpresa ao me dar conta que estamos conversando civilizadamente já há alguns minutos, apesar da confusão anterior e do nosso histórico de alfinetadas até aqui. E isso acende um alerta dentro de mim, fazendo-me perceber que estou deixando que ele se aproxime emocionalmente, estou me abrindo. O que é um erro, com certeza.

Desconfiada de suas intenções, resolvo perguntar sem rodeios:

— Por que está sendo tão gentil comigo, Sr. Stark?

Ele parece confuso por um momento.

— Eu já disse, estou tentando ser seu amigo.

Sorrio sem vontade. Um sorriso triste, se é que isso faz algum sentido.

Fecho o livro e o estendo de volta para ele.

— Não, não está. Eu agradeço a oferta, de verdade, mas não posso aceitar.

— O livro emprestado ou a minha amizade?

— As duas coisas.

Assassinato no Expresso do Oriente paira no espaço entre nós e, por um momento, estou convencida que o Sr. Stark o deixará no vácuo. A expressão dele me intriga, parece muito decepcionado. Não, parece... triste?

Ele pega o livro e percorre a biblioteca com o olhar e o semblante vazio.

— Eu sou um homem tão terrível assim, Carbonell?

— Não, de jeito nenhum — respondo por instinto, talvez rápido demais, chamando sua atenção de imediato e despertando um brilho esperançoso nos olhos que se cravam em mim.

Não sei o que me deu, mas a ideia de que o magoei me incomodou e precisei responder depressa. Por outro lado, também preciso esclarecer minha resistência e, por isso, escolho bem as palavras ao dizer pausadamente:

— É que há pouco o senhor disse que iria conquistar minha confiança e amizade com o tempo, insinuando ser o caminho para eu confessar meu interesse e a razão do meu ciúme, coisas que não existem.

Uma parte de mim hesita, como se não acreditasse totalmente nas minhas próprias palavras. Ignoro essa sensação estranha de que não estou sendo cem por cento sincera comigo e prossigo:

— Uma amizade verdadeira não pode ser pautada com subterfúgios assim. Eu não posso ser sua amiga, Sr. Stark, simplesmente porque o senhor não quer ser meu amigo. O senhor quer provar o seu ponto, quer provar que está certo e conquistar mais uma mulher para a sua extensa lista de sucessos. Eu não quero ofendê-lo, mas isso é muito egoísta. Agindo assim, o senhor esquece que eu posso... — Engulo em seco, sentindo um arrepio ao considerar uma certa possibilidade. — Esquece que, num cenário hipotético e improvável, eu posso me apaixonar de verdade. E sofrer feito o diabo quando for descartada, como todas as outras que passaram pelos seus braços. 

Ele abre a boca, parece prestes a dizer alguma coisa. Meio zonzo, começa a falar num tom incerto:

— Carbonell...

— Por favor, me deixe terminar — peço, pois tenho receio de não conseguir dizer tudo que preciso se ele argumentar qualquer coisa agora. —  Eu sei o que fez pelo Sr. Jarvis e a esposa dele. Como salvou os dois.

Howard Stark se transforma numa estátua. Não esboça nenhuma reação por um momento que se arrasta absoluto. Depois, pisca, parecendo desnorteado e... sem graça?

— Eu não sei do que você está falando — desconversa, para minha surpresa.

Um homem habituado a receber aplausos por sua genialidade, um homem que adora ser o centro das atenções, mas que não gosta que reconheçam a bondade genuína que existe nele? Não faz o menor sentido.

E por isso insisto na questão:

— Sabe sim. Ana me contou tudo. Pode ficar tranquilo, eu não vou compartilhar o segredo por aí. Eu só quero que saiba que foi por isso que eu sorri para o senhor no jardim. — Vejo a epifania em seu rosto. — Porque eu o admiro pelo que fez, Sr. Stark. Não o acho mais um homem terrível porque homens terríveis não salvam vidas. Eu quero continuar admirando esse homem, então, por favor, não estrague isso. Não brinque comigo desse jeito.

Pronto, é isso. Tudo o que eu tinha a dizer foi dito. Sinto-me mais leve por um lado, porém muito exposta por outro. Sem querer, acabei trazendo à tona a fraqueza que William semeou em mim ao me enganar com um noivado de seis anos e que terminou com uma traição.

Ele me destruiu para o amor, me fez perder a confiança nos homens, o romantismo. E agora estou pedindo ao Sr. Stark para não cutucar a ferida, pois não vou aguentar sofrer de novo.

O semblante indecifrável na minha frente desperta uma preocupação em mim, afastando meus problemas para longe. Apesar de tudo, não quero magoar o Sr. Stark, porém sinto que posso tê-lo feito ao ser tão franca com ele.

Só agora percebo como meu coração está disparado. Talvez pelo peso das minhas palavras. Acho que me emocionei sem perceber. Foi isso, apenas isso.

— Sr. Stark?

Ele enfim desperta do transe em que estava mergulhado. E sorri. Um sorriso que não chega aos olhos. Um sorriso puramente social.

— Eu vou te deixar trabalhar em paz, Carbonell. Desculpe por importuná-la, não vai mais se repetir, prometo. —Ele se vira, porém volta a ficar de frente para mim logo depois. — Ah! Eu sei que costumo quebrar minhas promessas com você, mas estou falando sério dessa vez. Muito sério. Não se preocupe, eu não vou brincar com você ou fazê-la sofrer. Agora eu percebo que não me perdoaria se fizesse. Você provou o seu ponto e tem toda a razão.

— Sr. Stark, se eu fui rude de alguma forma, juro que não foi...

— Não, está tudo bem. — Ele me interrompe. — Asseguro. Acho que eu precisava ouvir essas coisas. Precisava de uma dama mordaz para dizê-las. Desde que você pisou nessa casa, tem me dito verdades que eu preciso encarar.

Vou abrir a boca de novo, embora eu não saiba direito o que dizer, quando o meu patrão estende o livro de Agatha Christie na minha direção e diz de um jeito firme:

— Por favor, fique com ele.

— O... O quê?

— Fique com o livro, Carbonell. Não emprestado, mas como um presente. Juro que não é um subterfúgio para conquistá-la. Aceite como um pedido de desculpas por todas as vezes que eu a importunei com minhas provocações.

Zonza, balbucio o primeiro argumento que me vem à cabeça:

— Mas é uma edição autografada, Sr. Stark.

Ele sorri. Dessa vez, um sorriso fácil, sincero, ainda que triste.

— Eu te provoquei bastante.

— Eu...

Olho para o livro. Olho para o homem na minha frente. Ele balança o exemplar com insistência e ri um pouco. Parece rir com algum custo, aliás.

— Aceite de uma vez, mulher. Não me faça implorar, que coisa. É uma obra-prima autografada.

Pego o livro. Meus dedos encostam nos dele sem querer. Um calor elétrico se espalha de imediato, percorre cada fibra do meu corpo, viaja até o centro do meu coração. Vejo-me sem fôlego e palavras. O Sr. Stark parece desnorteado pelo estranho choque também. Os olhos dardejando um brilho intenso. A boca entreaberta.

Ele engole em seco e afasta a mão com um gesto rápido, enquanto eu abraço o livro junto ao meu peito inexplicavelmente mais disparado do que antes. Desvio do olhar dele, de repente muito constrangida pelas sensações que me bombardeiam nesse momento. Que diabos...

— Obrigada. De verdade, muito obrigada — consigo dizer, um tanto afoita.

Há um longo e estranho momento de silêncio até que...

— Bom trabalho, Carbonell.

É tudo que ele diz, num tom apático, antes de me deixar sozinha na biblioteca. Sozinha e me perguntando o que exatamente acabou de acontecer aqui.



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