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História Gênio Infame, Dama Mordaz - Adeus, Howard - História escrita por HunterPriRosen - Spirit Fanfics e Histórias
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História Gênio Infame, Dama Mordaz - Adeus, Howard


Escrita por: HunterPriRosen

Notas do Autor


"No qual nosso herói vai do céu ao inferno."

Capítulo 18 - Adeus, Howard


De todas as mulheres que eu beijei — e, sem querer me gabar, a lista é bem extensa —, nenhuma despertou algo sequer parecido com o abalo intenso que o beijo de Maria Carbonell espalhou em cada partícula do que sou. Mesmo agora, nossos lábios já separados há alguns instantes, a sensação continua aqui. Forte, calorosa e atordoante.

Eu senti o beijo arder nas minhas veias. Correndo no meu próprio sangue. Aquecendo minha pele por todo o caminho. E queimando bem no centro do meu coração aos galopes. Tanto calor provocou um contraditório arrepio por todo o meu corpo e uma pulsação dolorosa na virilha.

Foi um beijo... monumental, delicioso, algo que me colocou de joelhos diante de um sentimento totalmente novo para mim. O que tal beijo espalhou só pode ser definido como a mais pura felicidade.

É isso, eu estou feliz. Como nunca fui. Como nunca imaginei ser possível um homem ser. Plenamente feliz.

Modéstia à parte, tenho certeza que o raio de sol em forma de mulher também foi às estrelas ao provar dos meus lábios de mel. A avidez com que ela correspondeu a cada investida da minha boca, a maneira entregue como se agarrou ao meu corpo e o completo abandono com o qual me encara agora não deixam a menor dúvida. Maria experimentou a mesma emoção avassaladora e gostou demais do nosso primeiro beijo de verdade. E do segundo também.

É por isso que fico descrente e um tanto decepcionado também quando ela murmura num tom de aviso:

— Eu preciso ir...

— Não!

Numa reação automática de protesto, meus braços se estreitam ao redor do corpo curvilíneo que se encaixa tão perfeitamente ao meu. A sensação de tê-la colada a mim é simplesmente maravilhosa. Algo muito além da malícia, é acolhedor.

O calor de Maria irradia da pele, dos poros, através do vestido, e se mistura ao próprio fogo que arde no meu corpo de um jeito insano. Um tremor, que ela luta para conter ou disfarçar, reverbera por meus alicerces ainda abalados pelos poderosos beijos.

Estou arruinado, eu sei. Mas Maria não fica atrás, está igualmente perdida.

— Fique — proponho, um sussurro sedutor no pé do seu ouvido. — Fique comigo, raio de sol.

— E-eu... Eu não posso — ela responde, meio sufocada.

A voz ofegante mexe de um jeito curioso com a minha cabeça. O rosto avermelhado me lembrando que eu sou a causa do seu estado febril. Um sorriso orgulhoso me domina.

— Pelo menos você disse que não pode, e não que não quer ficar.

Ela pisca desnorteada e ri de uma maneira tensa, as mãos escorregando para os meus braços depois. Demoro a entender que Maria está tentando se desvencilhar de mim. Em resposta, tudo o que faço é envolvê-la com mais obstinação, pois ainda não estou pronto para deixá-la partir.

Droga... Acho que nunca mais vou estar.

— Sr. Stark, eu...

— Howard — corrijo firme e rápido, arqueando uma sobrancelha. — Você me chamou de Howard e, de agora em diante, eu só aceito que me trate assim.

Maria me olha sem dizer nada, sem protestar, sem qualquer argumento, o que é algo raro em se tratando dela. Com certeza, ela se lembra muito bem do exato momento em que jogou para o alto qualquer formalidade em relação a mim. Por isso sabe que é inútil negar que agora temos uma intimidade especial. Não dá para voltar atrás. Eu sou o Howard dela.

Minha Maria engole em seco e molha os lábios. O que só me deixa com vontade de beijá-la de novo. Estou me inclinando em sua direção, quando ela interrompe meu plano ao dizer:

— Ok... Howard. Se não se importa, eu preciso ir agora. Está ficando tarde e amanhã eu preciso acordar cedo.

Algo na maneira como ela diz meu nome ou simplesmente em como ele pareceu aveludado na voz de sereia faz meu pulso dar um salto.

— Ah, eu me importo sim. Quero que você fique.

Ela abre um sorriso fraco. Um sorriso estranhamente triste e fora de hora que me deixa confuso. Estou prestes a questionar o motivo, quando ela se recompõe e me surpreende ao barganhar num leve tom de atrevimento:

— Que tal um último beijo? Depois eu vou embora e ponto final. Estou falando sério, preciso mesmo ir.

Um sorriso de interesse estica o canto da minha boca.

— Muito bem, com uma condição. Esse beijo precisa valer a pena ou então nada feito, raio de sol.

Maria me encara de um jeito indecifrável até que suas mãos fazem o caminho de volta, subindo pelos meus braços, por meu pescoço, detendo-se no meu rosto por um momento, colocando mais fogo na minha pele.

— Valerá, prometo.

Uma parte do meu corpo endurece. Mais.

Se Maria pretende me enlouquecer, está conseguindo de forma magistral. Quando ela for embora — e, infelizmente, acho que ela vai mesmo —, precisarei de um banho frio. Gelado. Congelante.

Como se a tortura já não fosse o bastante, ela toca meus lábios com suavidade, percorrendo-os com a ponta do dedo. Sinto sua respiração entrecortada ficando mais perto, o hálito suave brincando na minha pele. E só então a feiticeira termina com a mínima distância e encaixa os lábios nos meus. Suavemente e devagar, com uma calma que beira à tortura de novo, ela me beija.

É quase como se Maria tentasse gravar cada sensação, cada detalhe, quase como se estivesse me beijando mesmo pela última vez. O que não faz sentido, afinal é apenas o último beijo de hoje.

Amanhã tem mais. Penso com malícia, apertando-a ainda mais contra o meu corpo, fazendo questão que ela sinta o quanto eu a quero. O tamanho do meu desejo por ela. O que está perdendo ao ir embora assim.

E Maria sente, tenho certeza. Ela solta um arquejo involuntário e estremece nos meus braços.

Vitorioso, sorrio contra a sua boca e alcanço sua nuca com uma das mãos. Com as duas, depois. Se eu tivesse uma terceira mão, usaria para prendê-la a mim também. Porque não importa o quanto já estamos colados um no outro, ainda me parece insuficiente.

Os lábios mais doces e macios que já provei envolvem os meus com mais profundidade e num ritmo mais constante. O roçar quente das línguas testa minha sanidade e eleva a temperatura entre nós a um nível insuportável. O novo beijo se revela tão maravilhoso e perturbador quanto os outros e intensifica o meu desejo por mais. Por mais do beijo, mais desse sabor, mais do calor de Maria, mais dela.

O vazio que me domina quando ela se desvencilha de repente é tão frustrante que fico desorientado, como se tivesse levado uma baita pancada na cabeça.

Maria recua alguns passos, e eu não consigo fazer minhas pernas se mexerem para chegar até ela de novo porque, nesse instante, esqueci como se caminha.

Sem olhar direto nos meus olhos, ela murmura:

— Adeus, Howard.

Que escolha de palavra mais exagerada. Quase chego a rir disso. Mas então Maria me dá as costas e tropeça nas próprias pernas rumo à saída, e me vejo inclinado a ir atrás dela para sua própria segurança.

Atrapalhada com o mecanismo das travas na porta, Maria tem um sobressalto cômico quando coloco a mão nas suas costas num pedido silencioso para que ela se afaste um pouco do caminho. Ela, claramente, não percebeu que eu a segui, e a tensão que exala do seu corpo é como uma terceira presença entre nós.

Entrego a bolsa que ela havia largado no chão e quase ia esquecendo para trás. Sem pressa, destravo as trancas e, com isso, a porta de aço desliza para o lado com um rangido. Tenho a impressão de que Maria vai disparar para o corredor a qualquer instante, como se quisesse fugir de mim.

Disposto a aproveitar um último momento com ela, tomo a sua mão.

O olhar que o raio de sol crava em mim tem um ar de desamparo tão grande que me deixa intrigado. Talvez ela precise de um tempo para digerir o que aconteceu entre nós. Com certeza, não foi fácil admitir que também me quer. Lembro bem do quanto ela me desprezava. Ainda deve estar em conflito, pobrezinha...

O melhor que faço é ser razoável com ela. Por isso, embora cada parte de mim queira desesperadamente que ela fique, não peço de novo. Ao invés disso, levo sua mão aos lábios, planto um beijo demorado nos nós dos dedos e me despeço com um sorriso sardônico:

— Até amanhã, Maria.

Como é bom dizer o seu nome. Há algo de precioso na construção simples e forte das sílabas. Combina com ela.

Quando enfim solto a sua mão, Maria se limita a aquiescer com a cabeça e me lança um olhar que não sei definir. Então, ela respira fundo, me dá as costas e vai embora.

Ao contrário do que eu suspeitava, ela não corre. Anda devagar pelo corredor, talvez com medo de se atrapalhar com as pernas de novo. Em nenhum momento, olha para trás. O que me deixa frustrado.

— Tudo bem, amanhã é um novo dia — digo só para mim. — Um novo e maravilhoso dia.

No dia seguinte...

A xícara de café, do qual mal bebi, atinge o pires em cheio quando praticamente despenca da minha mão. Incrédulo e desmanchando o sorriso bobo que vinha me acompanhando desde que acordei, olho para Jarvis ao lado da mesa sem saber se entendi direito.

— O que foi que você disse?

Sobressaltado e com o rosto lívido, ele endireita a postura antes de responder:

— A Srta. Carbonell não está na biblioteca.

— Essa parte eu entendi — resmungo, impaciente. — É a outra parte, a parte absurda, que não. Isso é algum tipo de piada, Jarvis?

Visivelmente ofendido, ele afirma no ato:

— Eu nunca brincaria com uma coisa dessas, Sr. Stark.

Assim que desci para a sala de jantar para apreciar meu desjejum, comentei com meu mordomo o súbito interesse por alguma leitura matutina. Captando minha verdadeira intenção, Jarvis informou que Maria não estava na biblioteca. E ao perguntar onde ela se encontrava então, tudo que ele disse foi... uma piada. Tem que ser uma piada de péssimo gosto.

— Lamento, senhor. Foi uma surpresa para mim também, mas a Srta. Carbonell pediu demissão ontem assim que chegamos ao Griffith. Ela deixou esta carta inclusive, pediu que lhe entregasse em mãos. — Jarvis retira um envelope do bolso interno do paletó e estende na minha direção. — Ela comentou que pretendia fazê-lo por si mesma, por isso foi às dependências do laboratório ontem. Parece que acabou se esquecendo.

Aceito o envelope, porém apenas para lançar um olhar fulminante ao papel e depois guardá-lo no meu próprio bolso.

Sem jeito, Jarvis pergunta:

— Não vai ler? Talvez ela tenha explicado melhor a decisão.

Demoro para responder, avaliando a surpresinha nada grata que Maria Carbonell aprontou para cima de mim e pensando no que fazer a respeito.

— Prefiro ler mais tarde.

Cada parte de mim se recusa a acreditar que ela optou por fugir depois daqueles beijos, ignorando o quanto foram maravilhosos, ignorando que significaram algo muito importante para nós dois.

Ainda por cima, Maria brincou comigo, me enganou, deixando que eu acreditasse que a veria hoje normalmente, sendo que, àquela altura, já tinha escrito a maldita carta e tomado a decisão surpreendente de sair da minha vida assim sem mais nem menos.

Engulo em seco, desnorteado por essa constatação.

— Por que não me disse isso antes, Jarvis? Por que não contou tudo ontem mesmo?

Há mais curiosidade do que reproche no meu tom de voz.

— Perdoe-me, eu não tive coragem, o senhor parecia tão feliz quando voltei.

Engulo em seco. Fecho a cara.

— Porque eu estava.

E agora estou possesso. Com uma raiva que beira à revolta. O sangue fervendo nas veias. Preciso fazer alguma coisa ou vou enlouquecer. Batuco os dedos sobre a mesa com impaciência.

Se Maria quer pedir as contas, ótimo. Se prefere fugir do que claramente sente por mim, ótimo também! Mas uma carta fria escrita de qualquer jeito não me basta. Ela terá que olhar nos meus olhos, bem dentro deles, e dizer com todas as letras por que fez isso, por que me beijou com tanta paixão ontem se pretendia fugir feito uma coelhinha assustada logo depois.

— Quase posso ver as engrenagens do seu cérebro trabalhando, Sr. Stark.

Desperto do estado absorto para onde a indignação me arrastou e volto-me para Jarvis com um sorriso enviesado. Ele me observa com atenção, o olhar semicerrado como se tentasse decifrar meu pensamento.

— Vou preparar o carro agora mesmo.

E, como sempre, ele consegue.

— Obrigado.

Jarvis deixa a sala de imediato. Bebo o café amargo com um longo gole e torno a bater a xícara contra o pires. Então, me levanto e saio atrás dele.

[...]

No percurso rumo à toca da coelhinha, Jarvis teve a brilhante ideia de comprar um buquê de rosas volumoso. Digo que foi brilhante não porque Maria mereça uma demonstração de gentileza da minha parte agora, mas porque o buquê envolve um plano maior para chegar até ela.

Não importa que eu conheça Miriam de outros carnavais, dificilmente a administradora do Griffith irá permitir que eu suba ao quarto de uma das hóspedes. Nem o meu charme natural e minha lábia inegável seriam o bastante para convencê-la a quebrar a regra sobre homens somente serem permitidos no térreo.

Mal sabe Miriam que eu burlei essa regra num passado recente e estou prestes a burlar de novo hoje.

Se há quase dois anos, contei com a ajuda de Peggy para me refugiar no lugar — e conheci moças encantadoras em cada quarto do hotel enquanto estive em suas dependências —, hoje é Jarvis quem me dará acesso à área proibida para cavalheiros.

O primeiro passo foi descobrir qual o número do quarto ocupado pela dama mordaz. Para isso, Jarvis fez uma falsa tentativa de entregar o buquê para Maria em mãos. Como é muito cedo e ela ainda não desceu para o café da manhã, o único jeito seria subir até o quarto. Algo que Miriam negou a Jarvis de imediato, como negaria a qualquer outro par de calças.

Pescoçudo como é, não foi tão complicado para ele espiar o livro de registro atrás do balcão quando Miriam se distraiu com um telefonema. Quando voltou ao carro, Jarvis me contou tudo isso com empolgação e, claro, revelou o número que quero tanto saber.

Agora, preciso chegar ao quarto 204.

— Molto bene, Jarvis. Hora do segundo passo.

Num instante, ele salta do Plymouth e abre a porta para mim. Com um sorriso sincero, deseja:

— Boa sorte, Sr. Stark.

Fico surpreso ao perceber que a raiva se dissipou um pouco. A tal ponto que eu consigo sorrir de volta para Jarvis. Ainda quero uma boa explicação de Maria, encostá-la contra a parede, confrontá-la até ela ranger aqueles dentes perfeitos. Porém, nesse momento, o que me move até ela não é só o desejo por retaliação, é outra coisa. Algo doce e uma necessidade urgente de vê-la.

Observo Jarvis, que saiu na minha frente, cruzando os arcos da entrada do Griffith nesse exato instante. E isso é a minha deixa. Vou até lá e me escondo atrás de uma coluna.

A visão da recepção é privilegiada daqui e consigo ver quando ele se aproxima do balcão e tenta convencer Miriam de novo, alegando que o responsável pelo envio do buquê insistiu que fosse entregue em mãos e logo.

Enquanto Miriam é mais uma vez taxativa com ele, Jarvis gesticula de volta no mesmo nível de teimosia. Ele posiciona o volumoso arranjo meio de lado e bem na altura do rosto dela, impedindo que Miriam veja o que farei a seguir.

Até o fim do dia, vou dar um generoso aumento a Jarvis, ele sem dúvida merece.

Sorrio para as costas do meu amigo profundamente agradecido por seu apoio e, sem pestanejar, disparo para o interior do hotel, subo a escada de dois em dois degraus e chego esbaforido ao segundo andar. Apoio as mãos nos joelhos e agradeço ao universo por não ter esbarrado em ninguém pelo caminho.

Depois de alguns instantes para retomar o fôlego, endireito o corpo e sigo pelo corredor. Enquanto procuro pelo número 204, uma porta se abre atrás de mim. Estanco o passo, em alerta, tudo estava indo tão bem até agora...

— Howard? É você? — uma voz feminina indaga.

Viro-me na direção dela porque seria muito estranho simplesmente ignorar e impossível fingir que não ouvi nada.

Sorrio ao me deparar com a bela jovem de cabelos castanhos que me analisa com surpresa e curiosidade. Acho que já a vi antes, e talvez estive no quarto cuja porta ela acabou de bater com força exagerada, mas não consigo lembrar do nome exato.

— Daphne, certo? — arrisco, o sorriso esticando o canto da minha boca.

Com uma passada apenas, ela está diante de mim. E não há mais surpresa ou curiosidade em seu rosto, há uma carranca perigosa.

— Melanie — ela corrige entre dentes.

O tapa é forte e me pega desprevenido. Um gemido de dor escapa. Ainda estou massageando a bochecha, quando ela gira nos calcanhares e marcha rumo à escada.

Uma porta do outro lado do corredor é aberta e outra senhorita me encara surpreendida.

— Howard?

Encolho os ombros enquanto ela caminha na minha direção, o olhar gélido.

— Rose?

Mais um tapa. Dessa vez, do outro lado. Tão doloroso quanto o primeiro.

— Daphne! — ela berra, antes de me dar um empurrão e ir embora também.

Mal me recuperei da segunda agressão e mais uma porta se abre. Sem pensar duas vezes, corro para a escada e me escondo nos degraus que levam ao terceiro andar. Só depois que a ruiva — talvez se chame Betty — desce no sentido oposto, respiro aliviado e saio do esconderijo.

Agora sei como Jarvis se sente quando precisa entregar as pulseiras de diamantes para as minhas conquistas e assim encerrar os romances em meu nome. Ele sempre volta com o rosto meio avermelhado e um olhar humilhado. Com certeza, merece um aumento muito, muito generoso por tudo que passou também.

Apresso o passo e enfim paro diante da porta com o número 204. Ainda massageando o rosto com uma das mãos, uso a outra para dar três batidas ritmadas contra a madeira. Espio o corredor e respiro aliviado de novo. Tudo indica que estou a salvo por enquanto.

Não demora muito e ouço passos no interior do recinto, a chave trabalhando na fechadura, a maçaneta girando. Quando a porta enfim é aberta, Maria surge sob o umbral e, ao me ver bem aqui, os olhos dobram de tamanho. Cada traço lindo do seu rosto se transforma em surpresa.

— Você?! — Surpresa essa que beira o pavor. — V-você? — repete, desnorteada pelo choque que minha visita claramente lhe trouxe. Maria engole em seco. — Você...

Arqueio as sobrancelhas e abro um pouco os braços para confirmar que ela não está diante de uma miragem.

— Eu mesmo. Em carne, osso e genialidade. E agora que fez questão de exibir seu extenso vocabulário, Carbonell, será que eu posso entrar?

Não espero por resposta e já dou um passo à frente rumo ao interior do quarto.

— Não!

A porta é fechada de súbito, com violência, bem na minha cara, acertando meu nariz em cheio.

— AU! Mas que diabos...

Levo a mão ao nariz covardemente atingido pela maldita porta e um gemido de dor me escapa.

Nesse momento, a porta se abre de novo. Maria ressurge, o rosto branco feito papel.

— Ai, meu Deus! Eu te machuquei?

Vim aqui para confrontá-la, é verdade, porém a indisfarçável preocupação em seus olhos dissipa mais um pouco da raiva e confusão que sinto. Tudo o que consigo fazer é arriscar um gracejo:

— Nada que um beijinho não cure.

Maria me olha com... indecisão? E no instante seguinte, está fechando a porta e balançando a cabeça que não. Só que dessa vez eu sou mais rápido do que ela e coloco o pé no vão, impedindo-a de conseguir.

— Me deixe entrar, raio de sol — peço, num tom gentil e firme ao mesmo tempo.

Ela balança a cabeça de novo, o olhar estranhamente triste.

— Não. Vá embora, por favor.

— O quê?! Depois de todo o trabalho para chegar até aqui? Nem pensar.

Quando vejo outra porta no corredor se abrir e mais uma moça saindo do seu quarto, sou obrigado a forçar a entrada me espremendo pela abertura disponível, enquanto insisto desesperado:

— Me deixe entrar, me deixe entrar! Você não entende! Minha sobrevivência depende disso! Por favor!

Confusa, ela finalmente recua alguns passos. O suficiente para que eu entre de uma vez no seu aposento e tranque a porta. Fecho os olhos por um segundo e assopro o ar numa onda de puro alívio.

E então eu me viro na direção de Maria.

Aos poucos, a confusão dá lugar à outra coisa em seu semblante. Desconfiança.

Ela cruza os braços devagar, o olhar semicerrado, a voz fria quando questiona:

— Posso saber de quem você está fugindo, Sr. Stark?

— Howard — corrijo, um dedo em riste. — E eu tenho uma pergunta mais importante para te fazer.

Maria ergue o queixo com atrevimento.

— É mesmo?

— É mesmo? — imito o tom insolente usado por ela. — Sim, é mesmo!

Com a postura mais empertigada, tiro o envelope do bolso, colocando-o sobre a penteadeira ao seu lado. Ela olha para o envelope, o semblante perde a confiança na mesma hora. Depois, de volta para mim.

— O que diabos significa isso, Maria?


Notas Finais


Em Agent Carter, o Howard se esconde no Griffith por um tempo com a ajuda da Peggy. Lá, ele se envolve rapidamente com algumas moradoras e também menciona brevemente que já conhecia a Miriam Fry.


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