Tudo acontece rápido demais e eu mal consigo raciocinar. A primeira coisa que Luhan fez foi ligar para o departamento e iniciar uma busca por Minki e Jonghyun. É notável a forma como o sangue ferve dentro de si, provavelmente se culpando por ter deixado seu irmão fugir novamente. Não tentei acalmá-lo dessa vez. Acho que se eu tentar me aproximar, posso acabar piorando sua situação
Não demorou para que alguns policiais chegassem para revistar a casa. Yifan e Sooyoung apareceram alguns minutos depois, no mesmo estado de preocupação de Luhan.
— A Joohyun está a salvo? — O chinês perguntou para os agentes.
— Ela está com Junmyeon, ambos foram para a casa dele. — A loira respondeu de imediato.
— O Junmyeon tem uma filha pequena, certo? — Luhan perguntou, recebendo confirmação. — Ela pode estar correndo perigo. Ao que tudo indica, Minki não vai parar até conseguir capturar Joohyun.
— Então é melhor trazê-los para cá? — Perguntei.
— Sim. Yifan, ligue para Junmyeon agora. Vou mandar os policiais irem buscá-los.
— Certo. — Respondeu e um silêncio se instalou pela casa.
Pedi para ver o que tinha escrito no bilhete de Luhan, este que já está todo amassado pela raiva do chinês. Não julgo, talvez eu estaria da mesma forma em sua situação.
É, querido irmão, você acabou sendo mais rápido do que pensei.
Você sabe que eu sempre te amei, certo? Mas agora eu quero arrancar esse seu rostinho bonito com as minhas próprias mãos. E eu pretendo fazer isso, porém só depois de acabar com sua coleguinha de trabalho. Já notou como ela é parecida com a mamãe?
Vou tratá-la de um jeito especial, não se preocupe. Jamais esqueça do lugar que você pertence, Luhan, uma hora sua máscara de inocente vai cair.
Uma sensação ruim se alastrou em meu âmago ao ler essas palavras ácidas e consegui entender a raiva do chinês. Minki quer ser encontrado, e não saber por onde começar a procurá-lo é a parte mais desesperadora. Só percebi que estava olhando aquele pedaço de papel há algum tempo quando a voz de Yifan soou alto pela casa, assustando a todos.
— Junmyeon não atende, nem Joohyun. O rastreador dela está aparentemente quebrado em uma rua perto da casa do Junmyeon.
— Como?! — Luhan arregalou os olhos e, sem hesitar, correu para pegar a chave de seu carro. — Vamos até lá agora.
Concordamos silenciosamente e corremos até um dos carros estacionados na frente da casa. Metade dos policiais ficaram lá dentro e a outra nos acompanhou em caso de segurança. Yifan guiou o caminho, já que estava com o endereço onde o rastreador foi quebrado.
Quando chegamos perto da casa de Junmyeon, em uma rua estreita, vimos seu carro parado no meio da rua. Cacos do vidro da janela quebrada no chão junto de sangue foram visíveis no chão. Engoli seco antes de abrir a porta do carro de Luhan com certa força e correr até lá junto dos outros.
De cara, vi Junmyeon com a cabeça tombada para o lado esquerdo, com machucados em seu rosto causados provavelmente pelo vidro.
Só havia ele no carro.
[...]
A ambulância não demorou a chegar e eles garantiram que nosso colega de trabalho ficaria bem. Mesmo assim, não deixei de me preocupar. Junmyeon estava desacordado e sangrando dentro do carro em plena madrugada. Sabemos que Minki não ataca homens, mas ainda é perigoso.
— O que faremos agora? Por onde a gente começa? — Yifan pareceu pensar alto. Seu semblante desesperado descreve bem o estado em que todos estamos. Luhan respirou fundo parecendo pensar em alguma saída.
— Você é a pessoa que mais o conhece aqui. Para onde acha que seu irmão iria primeiro, para se esconder? — Sooyoung perguntou, aproximando-se. Ela está anotando algo em seu fichário.
— Minki sempre foi muito inteligente, então creio que ele já tinha algum plano para caso descobríssemos. — Respondeu. — Mas sinceramente, não consigo pensar em nada específico. Nossa relação, apesar de muito amorosa, também é superficial. Não sei quase nada sobre ele de verdade.
— Ele quer ser encontrado, certo? — Falei, vendo Luhan assentir com a cabeça. — Acho que vamos receber alguma pista. O problema é que temos pouco tempo para achá-lo.
— Você tem razão. Já são quase duas da manhã e temos até amanhã pela tarde. — Yifan se pronunciou.
— Minki não deixou nenhuma pista até agora? — A loira perguntou, olhando seu fichário. — Ele deixou um bilhete, certo? Posso ler? — Luhan colocou as mãos no bolso, procurando pelo papel e eu me toquei que esqueci de devolver.
— Está comigo. — Tirei o papel do meu bolso e entreguei rapidamente.
Sooyoung pareceu reler aquele papel várias vezes enquanto nós ficamos em um silêncio incômodo. Comecei a pensar em qualquer pista que não peguei nesse curto período, mas minha mente parece estar em branco.
— Luhan, aqui está escrito “Jamais esqueça do lugar que você pertence”. Você não acha suspeito? — Ela perguntou, apontando para a frase em questão. — O que ele quis dizer com isso?
— Jamais esqueça o lugar que você pertence… — O chinês repetiu baixinho para si mesmo, parecendo pensar sobre a frase. — Minki foi muito apegado aos nossos pais adotivos. Essa frase não é tão incomum assim. Ele costumava a falar coisas assim sem perceber quando éramos menores, talvez seja uma pista sem reais intenções.
— Como assim? — Perguntei.
— Talvez ele tenha escrito isso inconscientemente. Ou não. Estou confuso agora. — Passou a mão do cabelo de forma nervosa.
— Você não acha que ele está se referindo a algum lugar? — Yifan perguntou. — A casa antiga de seus pais adotivos…?
— Ela já tem outros donos. — Luhan respondeu rapidamente. — Acho que Minki quer me levar para o lado dele. Quer que eu sinta o mesmo ódio que ele sente. Meu irmão é a pessoa mais manipuladora que conheço. Ele já tentou me fazer odiar nossa mãe diversas vezes, mas nunca dei ouvidos, sempre achei que era apenas falta de maturidade...
— Você tem razão. Você acha que deveria entrar no jogo dele? — Sooyoung perguntou. — Quero dizer, será que ele vai acreditar que magicamente você passou para o lado dele?
— Sinceramente, não sei. Mas não tenho uma ideia melhor.
[...]
Dez horas da manhã e nenhuma pista. Mas temos um plano, ou algo parecido com isso.
Nos reunimos dentro da delegacia e tentamos pensar em várias possibilidades, mas chegamos a conclusão que Minki provavelmente estava escondido em algum lugar - com significado afetivo ou não - e faria algum tipo de tortura com Joohyun até conseguirmos encontrá-la. Preferimos não pensar no que acontecerá caso chegarmos tarde demais, como se não fosse acontecer. Se eu, que não tenho tantos laços afetivos com Joohyun, estou a beira de um colapso nervoso por conta dela, imagina como os outros que trabalham juntos há tanto tempo estão.
Enquanto Sooyoung terminava de listar alguns lugares abandonados em Changwon, Luhan tirou o próprio celular do bolso após ouvir o barulho de notificações. Ele fez uma cara de estranhamento e então desbloqueou o celular para ver o que era. Sua expressão foi de confusa a assustada em milésimos.
— Merda. Merda. Merda. — Ele se levantou rapidamente e todos pararam o que faziam. Sem dizer uma palavra, o chinês colocou o celular em cima da mesa para que pudéssemos ver. Trata-se de uma foto de dois pés amarrados com uma corda. Dá para ver também que a pressão feita pela corda machucou a pele pelo pouco de sangue que escorria dali. Engoli seco, pensando no terror que Joohyun já não deveria estar passando com aqueles dois loucos.
— Dá para rastrear o número que te mandou isso? — Yifan perguntou após alguns segundos de choque.
— Creio que sim… — Luhan foi interrompido por outra mensagem. O celular ainda estava em cima da mesa então nos aproximamos mais para conseguir ler.
[Número desconhecido; 10:13 AM]
Sabia que sua coleguinha de trabalho é muito barulhenta? E boca suja também.
Mas sem preocupações, ela está recebendo um tratamento especial.
— Filho da puta… — Yifan soltou, mas logo foi repreendido por Sooyoung. Seria cômico se não fosse trágico. Luhan não pareceu se importar com a ofensa ao próprio irmão e manteve os olhos na tela do celular, esperando mais alguma coisa.
— Parece que eles realmente estão em um lugar abandonado. Olhem, esse piso é de cimento velho e mal acabado. — Falei, dando zoom na foto.
— Essa cidade não tem muitos lugares abandonados, talvez não seja tão difícil achá-los. — Sooyoung olhou a própria lista. Ela estava prestes a pegar seu celular quando o barulho de novas mensagens foi ouvido.
[Número desconhecido; 10:14 AM]
Eu vou dar duas opções para vocês, certo?
Ou vocês tentam me achar sozinhos e a amiguinha de vocês sofre um pouco menos, ou vocês arrastam esse bando de idiotas que vocês chamam de policiais e só encontram ela no inferno, quando todos morrerem.
Senti que minha respiração parou enquanto lia a mensagem, mas não tive tempo de me recuperar, pois logo outra chegou.
[Número desconhecido; 10:14 AM]
E eu não vou pensar duas vezes antes de cortar a garganta dela, então é bom que façam o que estou mandando.
— Por que ele faz tanta questão de que estejamos sozinhos? — Yifan perguntou com o rosto quase vermelho de raiva.
— Luhan. — Chamei atenção do chinês que pareceu perdido por um momento. — Seu irmão já demonstrou ódio por policiais em algum momento?
— Já. Ele sempre achou a justiça muito falha, na verdade. — Luhan respondeu, recobrando os sentidos. — Quando eu o contei que viraria policial, Minki apenas me olhou com desgosto e disse “Não seja como os outros”. — Passou as mãos no cabelo e respirou fundo. — Acho que na cabeça dele, eu me tornei como os outros.
— Então Joohyun é tudo que ele mais odeia. Mulher e policial. — Sooyoung soltou.
— A gente precisa achar eles o mais rápido possível. — Falei rápido, interrompendo qualquer outra coisa que surgisse. — Cadê aquela lista? Não podemos perder tempo, Joohyun já deve estar sofrendo.
[...]
Em questão de minutos já estávamos fora da delegacia, decidindo para onde iríamos. Sooyoung e Yifan vão até o sul da cidade, enquanto eu e Luhan vamos para o norte. Para nossa sorte, Changwon é uma cidade pequena então não teriam tantos lugares disponíveis assim.
Assim que Luhan deu partida no carro, me arrependi de ter deixado ele no volante. Pensei em pedir para diminuir a velocidade, mas preferi confiar em sua capacidade de não bater o carro enquanto dirige rápido.
Quando começamos a nos afastar das áreas mais frequentadas da cidade, fomos direto para o que era suposto a ser um shopping, mas foi deixado de lado por falta de verba. A estrutura não é lá muito grande, mas ainda assim coincidia com a foto. Não coloquei fé que realmente estivessem lá, mas fomos do mesmo jeito só para ter certeza.
— Não estão aqui. — Luhan bufou após vasculhar todo o local. — Vamos para o carro, em poucos quilômetros tem um centro de estética que nunca chegou a funcionar. Deve estar aos pedaços.
— Certo. — Respondi simplista. — Luhan… você não acha que ele quer atingir você dessa vez? — Perguntei incerto, colocando o cinto. Ele pareceu pensar sobre enquanto ligava o carro.
— Talvez. — Seu olhar ficou perdido por um instante. — Tenho a impressão que meu irmão está aproveitando toda essa situação para descontar a raiva que acumulou por anos. E agora que descobrimos que ele é o assassino, deve estar querendo me queimar vivo por atrapalhar sua “diversão”.
— Tenho a impressão que ele está rindo de nossa cara agora. Se Minki é tão inteligente assim, deve ter pensado em tudo. Sinto que tudo que estamos fazendo é um grande perda de tempo e ele pode estar mais perto do que a gente pensa. — Soltei o que estava preso dentro na minha garganta há algum tempo. Luhan parou o carro subitamente e olhou para mim.
— Então o que você acha que devemos fazer? — Senti certa acidez em sua voz, mas não o julguei.
— Me empresta seu celular, quero ver aquela foto de novo. — Pedi, tentando pensar em algo mais lógico que sair pela cidade procurando lugares abandonados. Ele tirou o celular do bolso, abriu a foto e então me entregou.
De cara percebi que a iluminação da foto não é natural, mas sim de alguma lâmpada. Se a foto foi tirada durante o dia, significa que eles estão em algum lugar fechado.
— Eles estão em algum lugar fechado, dá para ver pela iluminação. — O chinês olhou com atenção para a foto. — Os pés da cadeira parecem desgastados. Acho que eles estão em alguma casa velha.
— Como não percebemos isso antes? — Luhan pareceu irritado por um instante.
— O nervoso por querer adiantar as coisas nos deixa cego. — Respondi ainda olhando para a tela do celular. — Vamos ligar para os outros agora, precisamos pensar com mais clareza.
Devolvi o celular a Luhan, que abriu direto o teclado de ligação. Mas antes mesmo de digitar o primeiro número, a foto da Sooyoung estampou a tela junto do toque de chamada. O chinês atendeu rapidamente e colocou no viva-voz.
— Sooyoung? — Luhan disse após alguns segundos de silêncio na ligação.
— Até que enfim disse alguma coisa, pensei que iria ficar calado. — A voz de Minki soou em tom de deboche. — Ah, qual é? Pensou mesmo que seria tão fácil assim? Procurar, achar e me prender?
— Mas que merda, Minki?! Se o seu problema agora é comigo, então deixe os outros em paz. — O rosto de Luhan ficou vermelho pela raiva. Uma risada ácida soou.
— E qual seria a graça? Finalmente estou aproveitando a chance de infernizar a sua vida, não vou desperdiçar um segundo. — No instante seguinte, um barulho alto de tapa seguido de um grito feminino sufocado ecoou pela ligação. Eu e Luhan nos entreolhamos em desespero.
— O que você quer para deixá-los sair? Eu faço qualquer coisa, apenas não os machuque mais. — É visível a luta interna no chinês para manter a calma.
— Agora sim, querido Luhan. — Seu tom falsamente doce já está me dando náuseas. — Eu vou te mandar uma foto, certo? Se você ainda tiver alguma consideração por tudo o que viveu, vai saber onde eu estou.
— Sehun, segure o celular e espere a foto. — Luhan me passou o celular e voltou a ligar o carro. — Acho que Yifan estava certo, ele está em nossa antiga casa.
— Você não disse que tinham novos donos? — Perguntei confuso e o celular vibrou em minha mão. Não tardei em abrir a foto, sentindo meu coração acelerar.
Arregalei os olhos ao ver Yifan e Sooyoung em cadeiras diferentes, amarrados e aparentemente desacordados. E um pouco afastada deles, estava Joohyun com uma venda nos olhos, roupas rasgadas com manchas de sangue e pés amarrados. Ver essa foto me fez sentir algo que até então nunca havia sido tão forte dentro de mim: raiva. Apertei o celular em minhas mãos em uma tentativa falha de descontar a minha vontade de devolver na mesma moeda tudo que Minki fez até agora. Só recobrei meus sentidos quando Luhan arrastou o carro, mais rápido que antes.
— São as cadeiras da nossa antiga casa. — O chinês disse de forma seca. — Não sei o que aconteceu lá, os supostos donos novos devem ter abandonado a casa no meio de uma reforma ou algo assim. — Assenti com a cabeça, em silêncio.
De certa forma, estamos longe da casa antiga dos irmãos. Luhan explicou que ela ficava no sul de Changwon, em uma área mais afastadas dos centros comerciais, já que seus pais adotivos não gostavam de toda movimentação urbana. Mesmo assim, o que deveriam ser cerca de quarenta minutos para chegar lá, se tornaram vinte pela velocidade que estávamos.
Luhan deixou o carro um pouco distante da casa em questão, estacionando com pressa. Saímos do carro em silêncio e trocamos olhares como se só isso fosse o suficiente para saber o que estamos pensando. Pegamos as armas enquanto corremos até o lugar certo.
Olhei rapidamente a casa por fora e realmente parecia abandonada. Me pergunto onde as pessoas que supostamente compraram a casa estão, mas não é como se fosse importante agora. Eu e Luhan nos posicionamos nas laterais da porta desgastada; um pequeno chute e ela estaria no chão sem dificuldade. E o chinês pareceu ler minha mente, pois chutou a porta com tudo. Apesar de não ter caído, ela abriu facilmente e fez um barulho alto ao se chocar com a parede.
Nós dois estendemos as armas e entramos cautelosamente dentro da casa, olhando tudo ao redor. Os poucos móveis que haviam ali estavam caindo aos pedaços e a poeira poderia ser vista de longe.
— Eles estão no porão, vamos até lá. — Luhan sussurrou perto de mim, mas antes que pudéssemos dar um passo, a porta da entrada bateu na mesma intensidade em que foi aberta e um chiado começou a soar. Eu e o chinês nos entreolhamos confusos, e tudo pareceu mais desesperador quando um cheiro forte de gás começou a subir. Nossa primeira reação foi correr, mas assim que entramos em uma porta que dá direto para a cozinha, vimos Minki com uma máscara contra gás. Luhan entrou em choque de primeira, mas em seguida correu para cima de Minki, que sacou uma arma rapidamente e a apontou para mim. Meu colega parou de correr subitamente.
O cheiro de gás chegou no lugar onde estávamos e eu tentei tapar meu nariz, mesmo sabendo que em alguns segundos eu já estaria desmaiado no chão. Antes de apagar, olhei bem nos olhos não cobertos de Minki e não precisei pensar muito para saber que ele estava com um sorriso vitorioso no rosto.
[...]
De algum lugar próximo, um grito agudo que não consegui distinguir de quem era se fez presente e eu comecei a abrir os olhos, mas sem enxergar coisa alguma. O que é isso? Tentei mexer minhas mãos, mas estão presas atrás da cadeira. Meus pés também foram amarrados com força. Outro grito. Tentei respirar fundo, recobrando aos poucos meus sentidos. A venda nos meus olhos, sem dúvidas, é o que mais incomoda. Não sei onde estou, não sei onde meus colegas estão e também não sei qual a coisa mais racional a se fazer agora.
A risada alta de Minki soou rasgando pelos meus tímpanos.
— MINKI, PARE! — A voz de Luhan bem atrás de mim me surpreendeu. — Se o seu problema é comigo, então vamos resolver isso entre nós. — Ouvi sua cadeira se remexer, provavelmente ele estava tentando se soltar. Sua voz é uma mistura de cautela e desespero.
— Luhan, meu querido, entenda que sua coleguinha aqui não sairá viva daqui hoje. Você deveria agradecer que ainda escuta a voz dela. — Meu sangue ferveu, e sem querer me remexi na cadeira. O arrependimento surgiu na hora, porque comecei a ouvir os passos em minha direção. Mãos falsamente delicadas surgiram por trás da minha nuca e desamarraram o nó na venda, esta que caiu no chão na hora. Pisquei algumas vezes, com os olhos ardendo e dei de cara com Minki sorrindo em minha direção. — Olha só quem acordou também.
— Não mexa com Sehun! — Luhan voltou a se remexer na cadeira atrás de mim. A expressão de Minki ficou séria e ele saiu do meu campo de visão. Olhei rapidamente ao redor. Tudo está aos pedaços, então aqui é provavelmente o porão. A única fonte de luz é uma lâmpada velha no teto.
— Quem você acha que é, Luhan? Eu faço a merda que eu quiser e você não pode me impedir. — Respirei fundo com receio de virar o rosto para ver o que estava acontecendo, mas o fiz discretamente. — Vai chorar, é isso? Vai ser o covarde de sempre? — Um silêncio se instalou por alguns segundos, e eu realmente pensei que meu colega estava chorando. Mas ele aproveitou o momento exato que seu irmão se aproximou e lhe deu um chute com força. E como toda ação tem uma reação, a cadeira de Luhan foi com tudo para trás, colidindo com a minha e levando nós dois ao chão.
Como caímos de lado, o impacto do meu braço direito no chão me fez gemer de dor assim como Luhan. Porém assim que eu percebi que estava mais próximo dele, não tardei em procurar suas mãos e tentar, pelo menos, afrouxar o aperto feito pela corda. Não foi difícil achá-las, mas fazer isso fora do meu campo de visão dificulta muito o processo. Aproveitei que Minki ainda estava tentando se levantar - também gemendo pela dor - e relembrei mentalmente de todo o treinamento que tive sobre amarrar e desamarrar nós.
Minki utilizou cordas resistentes para isso, e deu várias voltas. Conhecer o lugar exato onde ele tinha amarrado era como correr contra o tempo, então usei toda a minha força para tentar colocar meus dedos entre as camadas de corda e puxar o máximo que conseguisse. E como Luhan também estava colocando força, aquela armação começou a ceder aos poucos. E antes que eu conseguisse terminar de afrouxar aquilo, as mãos de Luhan se afastaram das minhas, me deixando confuso.
— EU TE ODEIO! — O chinês mais novo gritou, usando todo seu fôlego. Eu não estava conseguindo me mexer por conta da cadeira e meu braço ainda lateja de dor, mas não era como se eu estivesse realmente sentindo qualquer coisa que não fosse desespero.
— Eu te disse para resolver o que tiver comigo. — Ouvi a outra cadeira se mexer, como se tivesse sido colocada no chão da forma correta novamente, só que com força. Em seguida, um tapa estalado ecoou pelo porão junto de um gemido de dor vindo de Luhan.
— É isso que você quer, não é? Consertar o que aconteceu naquele dia. NAQUELE MALDITO DIA! Eu sei que você carrega essa culpa com você e ela pesa nos seus ombros todas as noites antes de dormir. Eu sei que você virou um policial para tentar consertar o seu passado. Mas eu vou te dizer uma coisa: Tudo o que aconteceu não pode ser consertado. Você vai ter que viver com isso até o seu último suspiro e eu vou ter que viver com essas mesmas memórias, só que com um extra de seis anos de tortura psicológica e física. E não, querido irmão, você nunca vai saber como é ser odiado pela própria mãe, até porque eu te vi sendo o preferido por muito tempo. E eu sempre te odiei. Sempre. Eu te odeio, Luhan. E eu odeio aquela mulher. E eu odeio tudo que me lembra a ela. Desde o dia que eu conheci aquela vadia que você chama de coleguinha de trabalho, eu quis arrancar o pescoço dela e queimar o resto do corpo para que não sobrasse um átomo sequer. E agora eu quero te matar por ser tão estúpido.
Pelo tempo que Luhan deixou Minki falar sem interromper, deduzi que ele queria ganhar tempo e eu decidi fazer o mesmo já que, em algum ponto do discurso, eu já não ouvia mais nada. E me mover nessa posição é quase impossível. Por sorte, meus pés não foram amarrados nas pernas da cadeira, mas sim juntos um do outro. Então, apesar da dificuldade, dei impulso no chão para que meu corpo subisse e eu fosse capaz de livrar meus braços da cadeira por trás mesmo. Por um instante me preocupei com meu braço dolorido, mas assim que consegui o que queria, rolei para longe da cadeira.
Minki segurava a gola da camisa de Luhan com força e o olhava como se fosse matá-lo ali mesmo. O chinês mais novo, assim que me viu, arregalou os olhos, ainda furioso. Ele começou a andar em minha direção, e quando deu as costas ao irmão, vi Luhan terminar de soltar as mãos da corda e partir para tentar desamarrar os próprios pés.
— Ah, Sehun… — Ele começou, virando o pescoço de forma amigável como sempre fazia. Cínico. — Eu não tenho nada contra você, sabe? Mas caralho, você tinha mesmo que atrapalhar minha vida assim? — Ele trincou a mandíbula e se ajoelhou na minha frente. Tentei manter a calma, já que estou completamente vulnerável e sem enxergar como Luhan estava. — Será que eu deveria te dar o mesmo fim de Joohyun? — Suas mãos circularam meu pescoço e eu comecei a sentir falta de ar, mas não tirei os olhos de Minki em momento algum. Seu polegar pressionou um ponto em específico e meu rosto se contorceu em dor. O sufoco já presente estava ficando cada vez mais forte e por um instante eu realmente pensei que fosse morrer asfixiado.
Mas antes que apagasse de vez, o aperto em meu pescoço se desfez e Minki caiu por cima de mim.
Comecei a tossir compulsivamente e algumas lágrimas começaram a descer pelo esforço. Nem percebi que Luhan havia batido na cabeça do irmão com um pedaço de alguma coisa que não consegui indentificar e o empurrado para o lado para começar a me ajudar. Sentei naquele piso horrível de cimento mal acabado ainda tonto e meu colega foi para trás de mim desamarrar o nó.
— A Joohyun! — Luhan gritou assim que minhas mãos ficaram livres da corda. Em meio a toda essa confusão, não notei que Joohyun estava em uma parte mais afastada do porão, desacordada. Ele se levantou e correu até ela enquanto eu comecei a desamarrar meu pés com certa pressa e força. Eu não aguentaria mais um segundo preso.
Levantei rapidamente assim que consegui desamarrar o que faltava e cambaleei um pouco. Não tenho noção da força que Luhan usou para bater na cabeça do irmão, mas espero que tenha sido o suficiente para mantê-lo desacordado por bastante tempo.
Fui até onde meus dois colegas de trabalho estavam. O chinês já havia acabado de desamarrar os pés de Joohyun e agora estava cuidando das mãos. A cabeça dela está tombada para o lado, com cabelo cobrindo sua face. Com cuidado, segurei seu rosto e o ajeitei em minha mão. Quando os fios pretos voltaram para o lugar, os hematomas ficaram visíveis e eu quase voltei para devolver o que Minki havia feito na mesma moeda.
— Onde estão os outros? — Perguntei, ainda examinando o quão machucada minha colega está. Luhan pareceu pensar por alguns segundos e olhou para trás.
— Tem uma porta aqui em algum lugar. — Ele respondeu e terminou de desamarrar as mãos de Joohyun. — Fique de olho nela e no meu irmão. Eu vou procurar os outros.
Assenti com a cabeça, vendo Luhan andar até o canto esquerdo, onde realmente tem uma porta. Ele tentou abrir pela maçaneta algumas vezes até desistir de tentar e chutá-la com força. A porta abriu sem dificuldade, assim como a da entrada. O barulho do choque com a parede soou alto e eu tive medo que aquilo despertasse Minki.
— Eles estão aqui! — Luhan gritou do lugar que estava. — Estão desacordados também.
— E como vamos levar três pessoas desacordadas daqui? — Pensei alto. Luhan voltou.
— Sehun, se lembra que antes de Minki colocar aquele gás pela casa, a porta bateu atrás de nós? — Assenti confuso. — Minki não está sozinho. Ele não iria conseguir apagar três pessoas e carregá-las sozinhas tão fácil.
— Jonghyun. — Trinquei a mandíbula. — Merda, ele deve estar pela casa, caso a gente tente escapar. — Coloquei as mãos na minha calça na parte de trás e como o esperado, não senti minha arma. — Estamos desarmados
— Então teremos que atacar corpo a corpo ou não sairemos daqui.
[...]
Amarrei Minki com todas as cordas dispersas no chão e me segurei para não devolver tudo que ele havia feito a Joohyun e às outras vítimas até agora.
Luhan foi deixar Joohyun junto dos outros na pequena sala que ele julgou ser segura. Deduzimos que Yifan e Sooyoung estavam sob algum tipo de droga e Joohyun havia desmaiado - provavelmente pela dor. Vamos deixá-los aí e confiar em suas capacidades de lidar com esse tipo de situação, caso acordem. Perderíamos muito tempo tentando levar cada um lá pra cima, então preferimos adiantar o processo e procurar algum contato com a polícia de vez.
Andamos por todo o porão e conseguimos encontrar dois martelos e algumas chaves de fenda velhas. Era aquilo ou nada. Não sabemos se realmente tem alguém na casa e nem quantas pessoas. Mas tentamos não pensar sobre isso e nos dirigimos até a escada que, segundo Luhan, dá direto no jardim que fica na parte traseira da casa.
— Você não acha perigoso deixar Minki aí dentro com os outros? — Perguntei receoso.
— Não. A gente amarrou ele com o dobro de cordas que ele nos amarrou. Duvido muito que se meu irmão acordar, consiga sair. — Assenti com a cabeça.
A pequena porta de ferro que leva para a saída parece pesada e provavelmente está trancada por fora, mas antes que eu questionasse alguma coisa, Luhan passou por mim em silêncio. Suas mãos foram direto para duas barrinhas de metal desgastadas na parte de baixo da porta, uma de cada lado e as puxou com força. Um barulho indicando que algo foi destrancado soou e o chinês levantou a porta sem dificuldade.
— Já fiquei preso aqui uma vez, quando era menor. Eu estava tão desesperado em sair que comecei a mexer em tudo que vi pela frente e descobri que isso foi feito para casos de emergência. — Explicou, enquanto terminamos de subir. Pelo céu, já está escurecendo. Não tenho noção de quanto tempo ficamos presos, mas independente disso, a parte mais difícil já passou. — Vamos entrar de uma vez. Lembre que quem estiver lá dentro, está com nossas armas. Tome cuidado. — Mais uma vez, apenas concordei com a cabeça e caminhamos até a casa.
A luz da sala está acesa e uma silhueta masculina passou pela janela como um vulto de tão rápido.
— Luhan. — Sussurrei, chamando sua atenção. — Tem alguém ali, deve ser Jonghyun.
— Vamos logo, então. Quanto antes isso acabar, melhor. — Trocamos um único olhar e caminhamos até a porta dos fundos.
Abri a porta sem cerimônias, já que não estava trancada. Eles talvez não imaginaram que conseguiríamos sair. Andamos cautelosamente até a cozinha e alguns flashs de mais cedo surgiram na minha cabeça.
— Minki? — Jonghyun apareceu, limpando uma arma. A minha arma. Assim que nos viu, arregalou os olhos e, pelo susto deixou a arma cair no chão.
Luhan voou para cima dele e o acertou com um soco enquanto eu fui direto pegar minha arma. O médico acertou outro soco em Luhan, que cambaleou para trás, mas não perdeu totalmente o equilíbrio. Aproveitei o espaço entre os dois e fui para frente de Luhan, entendendo a arma em direção a Jonghyun.
— Qualquer movimento e eu atiro. — Disse firme. — Mãos para cima. — Sem opções, ele obedeceu.
— Onde estão nossas coisas? — Luhan perguntou. Sem respostas. — Vamos lá, Jonghyun. Vai ser mais rápido se você apenas falar onde esconderam nossas coisas. — E mais uma vez sem resposta. Ouvi meu colega respirar fundo atrás de mim e, depois de alguns segundos, voltou a falar. — Isso tudo é amor por meu irmão? Sério que o ama tanto a ponto de trair o próprio trabalho e ferrar com a própria vida?
— Não fale sobre o que você não sabe. — O médico trincou a mandíbula e fechou as mãos com raiva.
— E o que eu não sei, então? — Jonghyun ficou calado mais uma vez. — Do que tem medo? Nós trabalhamos juntos há anos, e você teve a coragem de olhar na cara da nossa equipe depois de tudo que fez. Não me diga que fui eu quem estraguei com tudo. — Rezei para que a pressão psicológica de Luhan funcionasse em algum momento. O semblante de Jonghyun saiu de raivoso para arrependido. Ele sabia que tinha cometido um grande erro e era tarde demais para voltar atrás.
— Quando encontrei seu irmão, ele estava tão frágil com tudo que aconteceu no passado. Eu não poderia deixar uma pessoa tão delicada como ele sozinho. Minki se tornou a pessoa mais importante na minha vida... — Apertou os lábios, como se segurasse o choro.
— E agora ele é o motivo do fim dos seus dias livres. Não consegue ver que foi manipulado? Ele matou aquelas mulheres e estava torturando uma naquele porão. Acha mesmo que Minki é delicado da forma que diz? — E então, Jonghyun caiu de joelhos, chorando de verdade. Soltando o que ele, no fundo, sabia que era verdade. — Me contar onde nossas coisas estão agora é o mínimo depois de tudo.
— E-eu não posso… — Eu já estava ficando impaciente. Luhan se ajoelhou ao lado dele e segurou nas laterais de sua cabeça, para que os olhos do médico ficassem focados no seu.
— Você pode sim, não se deixe mais cair nas palavras manipuladoras do meu irmão. Volta para a realidade. Lembra que seus colegas de trabalho estão desmaiados e trancados em um porão. Joohyun está muito machucada e precisa sair de lá o quanto antes. Tudo isso depende de você.
— Ele quebrou o celular de todos aqui e ficou apenas com as armas. — Falou com a voz trêmula.
— Então onde está o seu? — Luhan parece tão impaciente quanto eu.
— Na bancada da sala. Eu estava tentando ligar para Minki antes de vocês chegarem. — O chinês se levantou e foi correndo até lá. — Eu não sei o que fazer. — Ele disse como se estivesse falando sozinho. Ainda estou estendendo minha arma em sua direção.
— Alô? — A voz de Luhan soou da sala, provavelmente ligando para o departamento. Jonghyun ainda chorava quando a porta da cozinha abriu com força, fazendo um barulho alto.
Olhei naquela direção e vi Minki passando por ela, com o cabelo desgrenhado e a boca cortada, sangrando, e um olhar sanguinário no rosto. Como?
— Mas que porra?! — Luhan voltou na mesma velocidade que saiu da cozinha e quase gritou assim que viu o irmão.
— Minki! — Jonghyun se levantou e correu até o chinês mais novo, na intenção de abraçá-lo. Mas Minki o girou, passando o próprio braço pelo pescoço do outro e colocando uma arma que eu não havia notado em sua mão apontada em sua cabeça.
Corri para ficar na frente de Luhan porque eu sabia que ele era o alvo principal ali. O olhar de Jonghyun é assustado e perdido, como se a ficha estivesse caindo aos poucos, e ele não quisesse acreditar. Minki não demonstra nenhum tipo de sentimento, só apatia. Poderia matar todos aqui e não sentiria um pingo de remorso.
Ele começou a andar na minha direção, mas seus olhos estavam grudados em Luhan atrás de mim.
— Luhan, eu só vou dizer uma vez. — Não tinha deboche dessa vez, sua voz é seca e firme. — Ou você, ou ele. — Minki pressionou a arma com força na têmpora de Jonghyun, este que arregalou os olhos, estampando medo e angústia no rosto. Não sei o que se passa pela cabeça de Luhan agora, e ele não emitiu um único som. Estou tentando não entrar em desespero porque alguma coisa tinha que ser feita e nosso trabalho como policiais é não deixar mais pessoas morrerem. Nem mesmo o assassino. — VAI, LUHAN! FAZ ALGUMA COISA! NÃO QUERIA QUE EU RESOLVESSE COM VOCÊ? PRONTO, ENTÃO VAMOS FAZER ISSO! — E a cada grito, ele aperta mais aquela maldita arma contra a cabeça do médico.
— Minki, abaixe essa arma. Ele também é uma vítima sua, e já chega de machucar pessoas só porque um dia você foi machucado. — Luhan usou um tom calmo para falar, o que pareceu deixar o chinês mais novo com mais raiva ainda. — Chega, Minki. Isso não vai te levar a lugar algum. Nossa mãe já está morta. E matar mais mulheres não mudará o que aconteceu.
— Você é burro ou o que? Todas são iguais àquela mulher que só você chama de mãe. TODAS. E eu não consigo suportar olhar na cara delas.
— Não fuja do assunto só para ter a chance de destilar seu ódio. Eu sei que você não tem interesse em machucar Sehun e não sente coisa alguma por Jonghyun. — Aos poucos, Luhan foi andando para minha frente, me lançando um olhar rápido para que eu não interferisse. Entendi o que ele queria fazer e coloquei minha arma no chão, estendendo minhas mãos para o alto, assim como Luhan. — Eu estou aqui, desarmado. Não torne as coisas mais difíceis.
E em um piscar de olhos, Minki largou a arma no chão, empurrou Jonghyun e partiu para cima do irmão com um chute no estômago. Logo em seguida, quando estava prestes a interferir naquela briga, senti o impacto do punho de Jonghyun contra meu rosto e cambaleei para o lado. O olhei incrédulo, mas ele não se abalou. Pelo contrário, veio com tudo para me acertar novamente.
Segurei seu pulso estendido e o puxei com força, passando minha perna por debaixo da sua e o derrubando no chão. Certamente ele não possui muito conhecimento de luta e minha altura em relação a dele é uma vantagem, então não foi difícil mantê-lo imobilizado no chão. O que realmente me preocupa são as armas no chão.
Segurei os braços do médico acima de suas costas e pressionei seu rosto contra o piso empoeirado da cozinha. Virei meu rosto para trás, tentando ver onde Luhan estava, mas só consegui ouvir gemidos de dor dos dois irmãos vindos da sala. As duas armas estão dentro do meu campo de visão e eu sei que não posso soltar Jonghyun para tentar pegá-las.
Um grito estridente ecoou pela casa e eu não soube identificar se foi Minki ou Luhan, o que me deixou mais tenso ainda - se é que isso é possível. Jonghyun se agitou embaixo de mim, provavelmente com os mesmos pensamentos que eu.
O corpo de Minki se chocou contra a parede da sala, logo atrás da porta da cozinha, e uma chave de fenda estava fincada em seu braço direito. Entrei em choque ao vê-lo daquela forma, mas mesmo sentindo dor, ele continuou em pé com o mesmo olhar assassino. Minki olhou para mim e em seguida para as duas armas no chão. Arregalei os olhos e, sem hesitar, larguei Jonghyun pra pegar a arma que eu mesmo deixei no chão, já que estava mais perto enquanto Minki fez o mesmo com a arma mais distante.
Luhan apareceu na porta da cozinha, com a mão sobre o abdômen, sangue pelo seu rosto e dificuldade de se manter em pé. Por sorte, eu não estava distante dele e consegui me colocar em sua frente antes que seu irmão tentasse atirar.
Minki, mesmo com o braço ensanguentado, não se deixou abater. Ele estendeu a arma em sua mão e desativou a trava de segurança. Depois disso eu perdi o controle da situação.
Quando Minki apertou o gatilho, eu também o fiz. Só não imaginei que Jonghyun se levantaria do seu estado de choque e se colocaria entre nós, acabando por levar dois tiros de uma vez. Olhei assustado para o corpo do médico caindo no chão, como se fosse em câmera lenta e, por impulso, apertei o gatilho novamente.
A bala acertou diretamente no peito direito de Minki que, pela pressão, teve o corpo inclinado. Eu atirei novamente sem pensar muito.
É como se eu não escutasse os gritos de Luhan atrás de mim, nem o barulho das sirenes da polícia vindo de algum lugar. Parecia tudo distante. E eu só consigo olhar para o corpo do chinês mais novo caído no chão, com uma poça de sangue embaixo de si. O tempo parou? Ou eu estou em estado de choque?
Fiquei estático no lugar enquanto Luhan correu para cima do corpo do irmão, chorando como se estivesse prestes a morrer. A porta da sala foi aberta com tudo e vários policiais entraram na casa com pressa, passando correndo por mim. Dois deles tiveram que segurar Luhan, que estava histérico, para que os enfermeiros — que eu até então não havia notado a presença — conseguissem colocar o corpo de Jonghyun e Minki em cima de uma maca.
Olhei para a arma em minha mão e o tempo pareceu voltar ao normal.
— O porão. — Falei, ainda perdido e Luhan me olhou assustado.
Sem que precisasse falar mais algo, nós dois corremos até a porta dos fundos. Como Minki conseguiu sair de lá? E onde ele conseguiu aquela arma?
A pequena porta de entrada para o porão está trancada. Luhan tentou puxar algumas vezes, mas não conseguiu e foi para um pequeno arbusto próximo, tirando uma chave de lá. Ele voltou e, em alguns segundos, a passagem já estava aberta. Eu desci logo depois dele e os policiais vieram atrás.
A primeira coisa que vi foi Sooyoung cobrindo o braço de Yifan com um pedaço de pano que parecia ser a manga de alguma roupa, ambos sentados no chão desgastado. Seu rosto estava vermelho de choro, assim como o de Luhan.
— A J-joohyun… — A loira gaguejou assustada.
Senti minha pressão cair quando olhei o corpo de Joohyun caído no chão, na parte mais distante do porão. Há três buracos em seu peito. Não, não, não. Ele não pode ter feito isso. Senti lágrimas descendo pelo meu rosto e uma dor que eu nunca havia sentido em toda a minha vida, me acertando como um murro no estômago. Acho que nada doeria mais que ver essa cena.
Luhan já estava ajoelhado ao lado do corpo de Joohyun, segurando em sua mão sem vida como se aquilo fosse trazê-la de volta. Fui até o seu encontro, engolindo seco. A culpa era nossa? Yifan já havia sido levado dali e Sooyoung se juntou a nós. Se ver isso é difícil para mim, imagine para os outros que possuíam um laço de anos. É como se o mundo estivesse pesando o dobro em nossas costas e o sufoco por não ter conseguido fazer o suficiente, nos matando lentamente.
Em alguns minutos, o corpo de Joohyun também foi levado e só sobrou nós três nesse lugar horrível, chorando, porque não havia mais nada a ser feito além disso.
[...]
Um mês depois.
Liguei o rádio do carro, esperando que alguma música calma tocasse para combinar com o clima frio da estrada de Changwon até Seul, mas o que realmente estava passando era o jornal da manhã. Olhei para Luhan sentado no banco de passageiro, observando a paisagem. Sua mente estava em outro lugar, provavelmente refletindo sobre tudo que aconteceu. Ele é, sem dúvidas, a pessoa que mais sofreu.
Yifan, depois de se recuperar, explicou como as coisas chegaram naquele ponto. Ele acordou com o barulho da porta do porão abrindo. Sua visão estava turva e seus sentidos conturbados. Levantou com dificuldade e tentou acordar Sooyoung e Joohyun, que também estavam na mesma sala, mas sem sucesso. Então decidiu procurar ajuda sozinho, e foi quando encontrou Minki acordado. Só que ele pensou que fosse Luhan amarrado, em vez de do irmão. Quando Yifan contou sobre essa confusão, lembrei do dia que Minki apareceu com o cabelo semelhante ao de Luhan. Talvez tenha sido proposital.
Achando que era Luhan, meu colega começou a desamarrá-lo rapidamente, mesmo com dificuldade. E quando Minki teve a chance de sair do aperto das cordas, não hesitou em chutar Yifan, que ainda estava se recuperando do desmaio. O chinês mais novo correu até a pequena sala novamente e pegou uma arma escondida embaixo de um móvel velho e Yifan, que tentava se levantar do chão, ouviu três disparos altos. Foi o suficiente para que ele tirasse forças de algum lugar para alcançar o assassino.
Assim que parou na porta, Minki o olhou com raiva. Yifan contou que ele apontava para Sooyoung, mas rapidamente mudou o alvo para si e atirou em seu braço. Mesmo com o tiro, ele avançou no outro, que conseguiu desviar facilmente. Por sorte, Minki desistiu de atirar em Sooyoung e correu para a porta de saída que eu e Luhan deixamos destrancada.
Quando se viu preso naquele porão e sem saída, começou a entrar em desespero. Principalmente pelo corpo de Joohyun caído e já sem vida. Não consigo imaginar o quanto deve ter sido terrível estar naquela situação.
Sooyoung não demorou a acordar, e também entrou em choque ao entender o que estava acontecendo. Eles se ajudaram até o momento em que eu e Luhan conseguimos achá-los lá de novo.
Aquela foi a semana mais conturbada da minha vida e os primeiros dias que sucederam foram difíceis e mais longos que o normal. Luhan não conseguia voltar para casa sem ter um ataque de pânico, então ficamos juntos em um quarto de hotel bom por duas semanas. O fiz companhia até que, depois de quase quinze dias naquele quarto, ele conseguisse sair para tomar um vento. Fiquei com medo que ele entrasse em um quadro crítico como a depressão, mas Luhan é mais forte do que eu pensei que fosse, apesar de não ser de ferro.
Depois de um tempo pensando, cheguei a conclusão que precisava sair de Changwon. Iria ceder meu cargo para outro agente e voltaria para Seul o quanto antes. Perguntei se Luhan não gostaria de vir comigo e tentar recomeçar em algum lugar, já que não tinha nada a perder mesmo e ele não pensou duas vezes antes de aceitar.
E agora estamos aqui, pegando a estrada e escutando a moça da rádio falar que o dia continuará ensolarado.
— Sehun, eu estou atrapalhando sua vida? — Luhan perguntou subitamente.
— Acho que eu já respondi essa pergunta. — Ri baixinho, para não parecer grosso. — Não pense muito, certo? Tá tudo bem, você nunca vai me atrapalhar.
— Desculpa, eu só me sinto perdido. Não quero depender de você de alguma forma, mas estou com medo de ficar sozinho. Isso tá me sufocando. — Ele respirou fundo, passando a mão no cabelo.
— Eu imagino que está sendo pesado, mas enquanto eu estiver aqui, ficarei ao seu lado. — Sorri gentilmente, sendo retribuído. — Sério, você pode recomeçar no seu tempo.
— Obrigado, Sehun. Acho que você foi a única coisa boa que apareceu no meio desse caos. — Meu coração se aqueceu com essas palavras. Minha vida nunca foi muito complicada, principalmente quando comparada a do chinês, mas Luhan também se tornou muito importante na minha vida. — Será que agora eu vou poder viver minha vida de uma forma leve?
— Espero que sim. — Respondi, olhando em seus olhos. — O futuro assusta, então é melhor pensar no presente por enquanto.
— Realmente. — Ele riu fraco, assentindo. — Não aguento mais ouvir a voz dessa mulher falando, vou trocar.
— Fique à vontade. — O acompanhei na risada, enquanto ele mudava a estação.
A estrada de Changwon agora faz parte de uma lembrança dolorosa, mas que acabou de entrar para o passado.
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