Demi
Chovia forte lá fora, as nuvens escuras e os estrondos que aconteciam no céu, se misturavam com o som dos meus soluços. Acolhida pelos braços quentes da minha melhor amiga era mais uma noite em que eu acabava desperdiçando todo o tempo dela com mais uma decepção amorosa.
– Dems, já passou, esquece esse garoto.
Camila falava novamente, talvez eu tenha ouvido isso umas milhões de vezes. “Esquece esse garoto” realmente, mais um garoto que só soube brincar com meus sentimentos.
Esse foi meu terceiro namorado, que me entreguei, confiei e por fim, acabou me traindo como os outros dois. Justin. Estávamos juntos a dois anos e meio, eu realmente acreditava que com ele seria diferente, era diferente, eu sentia isso. Porém foi só mais uma decepção em minha vida, como sempre só sobraram eu, Camila e meu cachorro.
– É sério, não quero mais te ver assim.
Minha amiga se esforçou para fazer com que eu sentasse na cama, ainda com os olhos embaçados de lágrimas eu a encarei suspirando forte.
– Acabou, Demi. Não vou deixar mais você namorar mais ninguém sem que eu antes aprove.
– Você aprovou os três, Camila.
Falei tentando diminuir as lágrimas que escorriam pelo meu rosto
– Ah, ok. - ela sorriu sem jeito. – Não deixe mais eu aprovar seus namorados, viu?
Ela riu, segurando em minhas mãos. Forcei um pequeno sorriso, no fundo eu achei graça, mas não conseguia expressar nada.
– Olha aqui, seja como eu, aproveite sua fase sozinha e não fique dependendo de ninguém. Quando for a hora certa, alguém irá preencher esse seu coração e garanto que não irá ter dor envolvida, apenas amor.
Soltei um suspiro a encarando, juntamente com um pequeno sorriso. Camila sorriu largo para mim e eu juntei nossos corpos a abraçando, apertei-a contra meu corpo e agradeci a Deus mentalmente por ter essa mulher em minha vida.
– Você é incrível, sabia?!
Sussurrei, sentindo um beijo casto no topo da minha cabeça. Soltei mais um suspiro, dessa vez de alívio por conseguir conter o choro.
– Você também é! Nunca esqueça disso.
...
– Bom dia, flor. - Wilmer sorriu para mim. – Está com uma cara bem melhor hoje.
Sorri para ele, realmente me sentindo melhor.
– Pronta para um dia de trabalho.
– Viu, eu disse que iria trazer nossa Demi de volta.
Camila falou animada, colocando suas mãos em meus ombros e os massageando. Respirei fundo, acreditando que eu estava de volta e que nada iria me abalar.
– Muito obrigada por me apoiarem mais uma vez. - suspirei ao falar. – Vocês são as melhores pessoas que tenho, sério.
– Assim eu choro.
Wilmer falou melancólico, eu e Camila rimos logo dando um abraço triplo.
Os dois sempre estiveram ali pra mim, mesmo quando eu não estava com eles. No caso, quando meu segundo namorado que era um tanto abusivo tinha um ciúmes possessivo de Wilmer, fazendo com que eu até mesmo pedisse demissão da lanchonete. Sim, eu o amava ao ponto. Talvez esse seja o meu problema, eu amo demais.
...
– Alô?
– Oi, filha, como está?
– Mãe! - sorri animada ao ouvir sua voz. – Deus, que saudade!
– Ah, meu amor. Também estamos, queremos saber como está sendo pra você?
Mamãe sempre foi muito preocupada, principalmente com os fins dos meus relacionamentos, ela como ninguém sabe que eu mergulho de cabeça em todas minhas relações. Faz tanto tempo que não os vejo, que nem sei mais se lembro da fisionomia da minha irmã mais nova. Madison, filha de minha mãe com meu padrasto - que eu considero como um pai. Meu pai de verdade nunca esteve presente, mas ainda sim sempre pergunto do mesmo para minha mãe.
– Difícil. - tentei parecer o mais forte possível. – Mas você sabe que com o tempo passa.
– Queríamos tanto estar com você, Demi. É tão ruim ficar longe.
A mesma começou a fazer seu famoso drama sobre eu morar em outra cidade, revirei meus olhos sabendo onde o assunto iria chegar.
– Mãe, como estão todos?
Mudei rapidamente de assunto, não aguentava ouvir seus choramingos pedindo para que eu voltasse para Dallas e a ser sustentada por eles. Ainda ouvi seus suspiro do outro lado da linha antes da sua resposta.
– Todos bem, seu pai do mesmo jeito…
– Entendo.
Patrick meu pai verdadeiro, exagera um pouco nas bebidas e mulheres que saia. Sua casa era praticamente um puteiro da última vez que fui vê-lo.
– Depois vou ligar para Camila pra ver se está tudo bem mesmo, viu?
– Mãe! - a repreendi. – Olha, vou desligar porque a lanchonete está ficando movimentada, quando der eu ligo.
– Não faça piadas, Demetria. Sempre sou eu quem ligo.
Seu tom era cheio de mágoa, revirei os olhos mais uma vez.
– Eu também te amo, mãe. Manda beijo para todos, tchau.
– Eu te amo, filha. Beijo, tchau.
Desliguei a chamada, respirando fundo e guardando o celular no bolso de meu uniforme. O mesmo era vermelho assim como a decoração da lanchonete. Graças a Deus, logo que me mudei achei esse emprego e de brinde veio dois amigos maravilhosos. Wilmer, o dono e cozinheiro, assim como Camila a atendente muito simpática.
– Dez minutos e trago seu pedido.
Falei a um senhor de sorriso gentil, voltei ao balcão para deixar as anotações e Camila chegou junto, demonstrando uma expressão cansada.
– Ei, não aguento mais ficar presa naquele apartamento. - choramingou. – Vamos sair hoje, uma festa!
De cansada, Camila foi para super animada em segundos. Revirei os olhos, sabendo que ela insistiria até o último segundo para que eu fosse junto.
– Camila…
– Demi, você me deve isso, por favor!
Implorou, referindo-se aos dias que me cuidou. Eu realmente devia e muito a ela, não é a primeira vez que Camila tem que me consolar sobre o amor.
– Não vamos ficar muito. - sorriu com minha resposta. – E se eu não estiver curtindo, não reclame.
Falei autoritária.
– Você vai curtir muito!
Pulou de alegria, sorri por pelo menos conseguir agradá-la, ultimamente só tenho dado prejuízo para essa mulher.
O resto de dia foi regado por Camila estar pensando em roupa, em como ir, quem convidar e como seria a festa. Wilmer também aceitou ir, sempre que podíamos saímos juntos. Digamos que eu sou a única que me apego em pessoas, namoro e acredito no amor. Enquanto eles que não acreditam em nada, nunca tentaram, também não sofreram. Talvez Camila esteja certa, eu tenho que parar de procurar o amor da minha vida por todo canto.
...
– Eu sei que não vou me divertir, estou indo porque você e Wilmer insistiram.
Gritei para Camila do banheiro, ouvi passos se aproximando e a mesma apareceu suspirando enquanto se encostava no batente da porta.
– Só quero que ocupe sua cabeça com qualquer coisa, menos com aquele garoto.
Seu sussurro fez com que eu me sentisse péssima. Encarei minha amiga e a mesma me encarava como se tivesse estivesse falhando em sua missão de me fazer melhorar.
– Droga, me desculpa. - pedi me sentindo uma idiota. – Eu vou fazer o máximo para tentar me divertir.
Camila sorriu, pulando e batendo palminhas.
– Esqueci de falar, Lovato, mas você está uma gata.
Revirei os olhos, não acreditando em suas palavras, um latido foi ouvido e Camila riu.
– Até o Batman concorda.
Acabei por ir para a frente do espelho novamente, ajeitando meu vestido preto, colado em meu corpo. O mesmo era tomara que caia e cobria uns três dedos de minhas coxas, Camila quem escolheu. As vezes eu odeio morar com ela porque tudo que faço, ela da sua opinião e por fim, acaba me convencendo.
– Vamos, madame, Wilmer está esperando.
A latina me apressou, revirei os olhos mais uma vez. Odiava quando a mesma me apressava. Terminei de calçar meus sapatos também pretos e dei uma ultima olhadinha em meu espelho. Por um momento, me achei até bonita acreditando que conseguiria chamar a atenção de pelo menos alguma pessoa…
– Demi!
– Já estou indo!
Resmunguei, saindo do nosso apartamento antes que a mesma me arrastasse para fora dele. Wilmer realmente estava nos esperando lá em baixo com seu carro prata. O cumprimentei com um beijo e o mesmo logo reparou em minha cara de desgosto, ele riu sabendo do que se tratava por nos conhecer muito bem e eu comecei a ralhar com os dois, pois começaram com piadinhas. Cortei os dois, falamos para irmos logo e eles se cessaram, Wilmer deu partida no carro e ligou o rádio, engatando em uma brincadeira de karaokê com Camila. Os dois são umas crianças, mas preciso admitir, eu amo isso neles.
– Isso está lotado!
Briguei com Camila assim que começamos a andar pela festa, a mesma mentiu quando disse que eram apenas alguns amigos se reunindo. Aquilo era um salão de festa completamente cheio de estranhos isso sim! Apertei a mão de minha amiga quando alguém esbarrou em mim, estava com medo de me perder dela. Wilmer nos guiou até a área vip que estava um pouco mais calma. O mesmo logo nos conseguiu bebida, aceitei, só desse jeito pra que eu consiga me soltar nesse lugar.
Um sofá aconchegante me chamou a atenção e eu sentei, apenas por alguns segundos, Camila me puxou para dançar ali mesmo enquanto Wilmer havia sumido com alguma conhecida. Até me diverti por pelo menos meia hora, Camila me distraiu bastante até um cara galanteador a tirar pra dançar, a empurrei em direção ao mesmo antes que ela recusasse por minha causa. Acabei por ficar ali, dançando sozinha naquela pista quase que vazia. Consegui me soltar um pouco por ter consciência que não tinha ninguém observando e talvez pelo efeito do álcool. Sorri para mim mesma, entendendo que poderia sim me divertir sozinha, mas ao que parece as pessoas não entendem isso.
Mãos firmes agarraram-me pela cintura, fazendo meu movimento com a bunda parar imediatamente. Assim que me virei encarei um par de olhos azuis lindos e brilhantes, aqueles olhos eram lindos. Demorei a ver pelos cabelos curtos que era uma mulher, seus trajes eram masculinos e a mesma tinha um sorriso malicioso no rosto. Ok, o que está acontecendo?
Miley
O balançar daquela ruiva na pista estava me deixando um pouco fora do controle, havia acabado de chegar mas tinha certeza de com quem eu iria sair dali. O corpo cheio de curvas parecia estar movendo para mim, mordi o lábio a encarando e não aguentei, aproximei-me da desconhecida.
Por impulso minhas mãos foram direto a sua cintura, a segurando firme. Como se tivesse levado um susto, a ruiva parou no mesmo instante seus movimentos. O corpo dela roçou ao meu enquanto ela se virava, fazendo com que a mesma me encarasse. Os olhos castanhos me fitaram com certa curiosidade, antes que ela se afastasse eu grudei nossos corpos, sussurrando em seu ouvido:
– Posso dançar com você?
Sorri contra sua orelha, não perdendo a oportunidade de respirar fundo para sentir seu cheiro doce. As mãos pequenas e macias entraram em contato com as minhas, em um movimento rápido a ruiva havia tirado suas mãos de mim. Olhei em seus olhos, estranhando a atitude.
– Não, na verdade estou indo sentar um pouco.
Um sorriso forçado apareceu em seu rosto, a mulher direcionou-se até o sofá e sentou, analisando o lugar como se nada tivesse acontecido.
– Ei, não se faça de difícil.
Sentei ao seu lado, tentando enlaçar meus braços em seu corpo, rapidamente ela recuou.
– Você é insistente. - revirou os olhos. – Me desculpa, mas eu… Não curto…
Deixou a frase morrer, parecia envergonhada ao falar sobre ficar com uma mulher. Revirei os olhos, achando horrível aquela sua resposta. Qual é? Todo mundo me conhece, sabe da minha condição e principalmente adora experimentar.
– Bom, digamos que eu tenha uma surpresa… - descansei minha mão em sua coxa, iniciando uma nova aproximação. – Eu sou…
– Demi!
Uma moça interrompeu-me, fazendo com que a ruiva levantasse de imediato. O olhar de surpresa que a desconhecida tinha, me deixava intrigada, talvez ela me conhecesse.
– O que foi?
– Nada, eu só… - se perdeu nas palavras. – Queria saber se estava bem.
– Estou sim. - a ruiva intercalou o olhar entre eu e a - acredito - que amiga dela. – Essa é a…
– Miley. - respondi
– Isto, Miley. Estávamos conversando. - o silêncio tomou conta do local. – Uhn… O que acha de irmos?
– Ei. - toquei em sua coxa
A ruiva direcionou o olhar até minha mão e pareceu queimá-la com os olhos, afastando ligeiramente sua perna de mim. Ela estava irritada, mas eu não desistiria.
– Fica um pouco, vamos tomar alguma coisa.
Insisti.
– Sabe o que é? Temos que ir. - agarrou-se na mão da outra mulher. – E eu já falei que não curto nada disso.
– Como sabe? - levantei parando a sua frente. – Ja experimentou?
Em um ato completamente inesperado pela ruiva, eu abracei sua cintura com força e colei nossos corpos. Com uma mão em sua nuca e outra em seu corpo eu colei meus lábios nos seus. Um selinho que durou pelo menos dois segundos já que o afastamento foi imediato e a mão pesada da baixinha entrou em contato com meu rosto.
– Nunca mais faça isso!
Seu tom era completamente irritado. Ainda com o rosto de lado pelo tapa que acabará de levar, eu massagueei minha bochecha dando um sorriso irônico para os olhos castanhos.
– Sabe que adoro apanhar.
Pisquei pra ela, a provocando.
– Demi, vamos embora.
A mais alta a puxou antes que a mesma avançasse sobre mim. Soltei uma risada. Demi. Com toda certeza eu iria dar um jeito de encontrá-la novamente.
...
– O que faz perdida ai?
Lauren chegou alcançando um copo de bebida, vodka. Essa me conhece muito bem. Sorri para ela, vendo a mesma franzir a testa sem entender.
– Eu vi uma mulher, linda e deliciosamente gostosa. Tentei beija-la e… - tomei um gole antes de continuar. – Levei um tapa.
Falei o mais baixo e enrolado possível.
– O que?
– Levei um tapa.
Lauren olhou em meus olhos, por um momento acredito que a mesma está se perguntando se eu realmente falei aquilo. Ao ver que não era brincadeira, minha melhor amiga caiu na gargalhada como se eu tivesse contado a melhor piada dos últimos anos.
– Não, você tá brincando né. - ela continuava a rir. – Não é possível, Miley.
– Ela é Hétero e irresistível, sério. Muito linda.
Lembrei dos cabelos ruivos ondulados e caídos em suas costas. Aqueles lábios vermelhos chamativos, ela por inteiro me excitava
– Tomou um fora? - Lauren continuava a rir, a fuzilei com os olhos. – Ah, ok. Me desculpa é que isso não aconteceu antes.
– Isso mesmo não aconteceu antes, quero informações sobre ela, eu vou encontrá-la e beijar aquela boca a todo custo. - determinei tomando mais um gole de minha bebida. – Demi, ruiva e tem uma amiga que parece latina. Descubra onde posso encontrá-la.
– Isso vai levar um tempo…
– Não importa, vou leva-la pra cama a todo custo.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.