Sabia que não devia ter aceitado quando Jungkook me convidou para uma festinha na casa de um dos seus colegas de faculdade. Agora eu estava cercada de jovens de vinte e poucos anos que não sabiam beber, tampouco controlar o volume de suas vozes (talvez eu estivesse mesmo ficando velha).
Byulyi e Yongsun eram minhas únicas conhecidas ali, além de Taehyung, mas esse último tinha passado a noite inteira se fazendo de difícil, é claro. Enquanto meu namorado, um dos mais bêbados do grupo, demorava o dobro do tempo que levaria uma pessoa sóbria para me preparar um drink na cozinha, uma voz grave desconhecida me resgatou dos meus questionamentos quanto à minha escolha de estar ali naquele momento.
– Eu também não tenho ideia do que tô fazendo aqui – o cara que tinha puxado assunto, sentado ao meu lado no sofá, segurava um copo contendo alguma bebida destilada. Parecia um pouco mais velho que os outros convidados da festa, ainda que certamente mais novo que eu, e seu rosto me era estranhamente familiar.
– Quem te trouxe? – respondi por educação, tentando puxar pela memória de onde o conhecia.
– Meu namorado – apontou um garoto baixinho de cabelos tingidos de loiro, olhos que sumiam quando ele sorria e rosto muito corado pela bebida.
– Estamos na mesma então – apontei Jungkook próximo à porta da cozinha, dois drinks na mão, sendo interceptado por um grupinho de colegas. – Escuta, eu acho que te conheço, mas não consigo me lembrar de onde…
– Não sei se você vai querer lembrar – ele riu, expondo um sorriso gengival que deu um clique na minha cabeça. O entregador de pizza bonitinho com quem Jungkook havia flertado.
Gostaria de ter uma bebida na mão naquele momento.
– Desculpa pelo constrangimento daquele dia – desviei o olhar e ri, sem graça.
– Não se preocupa. É estranho se eu falar que tô acostumado? – aquela resposta me deixou ainda mais envergonhada.
– Estranho é, mas quem sou eu pra julgar?
Ele riu. Logicamente estava sem o boné da pizzaria e vestia uma camiseta de banda e jeans surrados, camisa de flanela amarrada na cintura e tênis converse pretos.
– Me chamo Min Yoongi.
Disse meu nome e apertei sua mão. Foi quando Jungkook finalmente se aproximou de onde estávamos mas, ao reconhecer o rapaz sentado ao meu lado, quase deixou cair as bebidas que trazia. Yoongi se levantou, certamente percebendo o efeito que tinha provocado, disse que precisava verificar se o namorado estava bem e se afastou.
Kookie ocupou seu lugar e me passou um dos copos.
– Aquele era…? – seus olhos esbugalhados indicavam que ele sabia muito bem de quem se tratava.
– O entregador do qual você queria receber um boquete. Ele mesmo.
– Noona!
– Ele queria o quê? – irrompeu aquela voz de trovão já minha conhecida, ao mesmo tempo em que Kim Taehyung se jogava do meu outro lado no sofá.
– N-nada, hyung – deu um gole grande no drink, os olhões arregalados perdidos em algum lugar dentro do copo.
– Te conheço, Jungkookie. Faz essa carinha de bobo mas é todo oferecido.
Acabei rindo do comentário.
– Era só o que me faltava, vocês dois se unindo contra mim.
– Contra você? Mas a gente adora que você seja oferecido – declarei.
– Isso é um complô – fez um biquinho.
– Dramático – Taehyung e eu dissemos ao mesmo tempo, depois nos encaramos surpresos com a coincidência. Revirei os olhos.
Reparei que Taehyung era o único ali além de mim que parecia sóbrio. Talvez fosse resistente à bebida, talvez tivesse aprendido a beber antes de seus coleguinhas. (Mais tarde, quando ele nos deu uma carona para casa, descobri que não estava bebendo naquela noite pois tinha vindo de carro)
Kookie se jogou no chão naquele draminha encenado no qual estava se tornando especialista. Virou-se para nós dois, apoiando um braço na perna de Taehyung e o outro na minha, o queixinho pousado nas mãos.
– Pois eu faço tudo que a noona e o hyung gostam e não ganho nada em troca.
– Do que você tá falando?
– Nem vou comentar isso – disse Kim, provavelmente se lembrando do nosso último encontro no meu apartamento, quando foi maltratado pelo dongsaeng supostamente submisso.
– Quero me divertir com vocês dois essa noite – piscou aqueles olhinhos pidões, uma das sobrancelhas bonitas erguendo-se em desafio.
– Você tá muito bêbado pra isso, bebê – respondi.
– Mas vocês não…
Percebi que Taehyung ignorou o comentário tanto quanto eu.
– Queria ver vocês dois – murmurou Kookie, sonhador.
– E não tá vendo? – Taehyung resolveu se fazer de desentendido.
– Você entendeu, hyung. Quero ver vocês dois juntos… Os dois são divinos, que cena lindíssima seria, praticamente celestial. Fico excitado só de pensar.
– Pois continue pensando – interrompi. – Vai passar vergonha no meio dos colegas e ninguém vai te ajudar.
– Por favor, noona… hyung… só um beijinho.
Enquanto eu ponderava se deveria ceder, a voz estridente do garoto de cabelos loiros, o namorado de Min Yoongi, se fez ouvir na sala inteira.
– Atenção, atenção! Como temos muitos muitos músicos na casa, vamos dar início ao nosso famoso Sarau Alcóolico Anual. Peguem seus instrumentos.
– Se conseguirem – alguém resmungou. A sala inteira caiu na gargalhada.
– Menos o Tae porque ele tá sóbrio – gritou Jungkook, se levantando de um salto. – E porque ele é chato.
– Vai tomar no cu – respondeu o violoncelista e eu nunca vi alguém xingar com tanta elegância.
– Ele adora – respondeu o namorado de Yoongi, que mais tarde eu descobriria se chamar Park Jimin e ser um amigo de longa data de Taehyung, e piscou pra mim.
Cobri a boca com a mão, numa tentativa de esconder minha cara, mas felizmente os garotos já estavam entretidos na movimentação que envolvia o tal sarau prestes a começar.
***
Kim Taehyung parecia um deus. E esse por si só já era motivo suficiente para me fazer querer pisar nele.
Sempre bem vestido, dava a qualquer ambiente um ar solene, ainda mais com o cello apoiado entre as pernas, aquele rosto glorioso perdido na música que partia de suas mãos. De fato, ele era o único sóbrio do quarteto de cordas, o que dava um destaque óbvio à sua execução musical. Olhou pra mim a todo momento, ainda que sua postura tivesse o ar desinteressado que se espera das divindades.
Meu Kookie se esforçava para não errar as notas e até isso nele era gracioso, tanto que fazia os colegas rirem propositalmente pelas caretas que fazia cada vez que se enrolava. Yongsun começou a ter uma crise de riso no meio da “apresentação” e sua namorada, que começou lhe reprimindo, terminou caindo na gargalhada junto, transformando toda aquela tentativa de sarau numa grande zoeira generalizada.
Eu, que tinha começado a noite totalmente deslocada, acabei me divertindo. Jungkook fez questão de contar a todos que eu era escritora, além de fazer propaganda gratuita dos meus livros. Acabamos descobrindo que Byulyi e Jimin eram meus leitores de longa data, e os três engataram numa longa conversa sobre meus personagens. Byulyi me confidenciou que gostava de escrever, mas que o fazia por hobby, ainda que um dia planejasse transformar alguns de seus poemas em letras de música. Eu a incentivei e Yongsun praticamente a obrigou a me mostrar um de seus textos. A garota tinha talento. Me perguntou se eu dava aulas de escrita, mas eu disse que não me sentia capacitada para ensinar, ao que Byulyi se mostrou incrédula.
– Unnie, você precisa pensar nisso. Em se tornar professora. Aposto que tem muita gente que, como eu, te admira e só tá esperando uma oportunidade de aprender com você.
– Será? – eu nunca havia cogitado aquela possibilidade.
– Reflita com carinho. Quando decidir, vou ser a primeira da fila para ser sua aluna!
– Dois membros – comentou Yoongi, que eu nem sabia estar prestando atenção na nossa conversa.
– Você também escreve? – perguntei.
– Eu tento. Quem sabe você possa me ensinar a melhorar… – não captei se aquilo era deboche ou se ele estava falando sério, sua expressão (ou a falta dela) era muito difícil de ler.
– Entra na fila – interferiu Taehyung.
– Vocês sabem que é comigo que ela dorme toda noite, né? – Jungkook se manifestou e eu quase cavei um buraco no meio da sala pra enfiar minha cara.
Exceto pelo breve constrangimento de ser o centro das atenções por um momento, não era tão estranho estar ali, afinal.
***
Taehyung tinha parado o carro dentro da garagem do meu prédio, por causa da chuva, Kookie adormecido no banco de trás. Ordenei que o garoto mais velho me ajudasse a despertar seu dongsaeng ou carregá-lo até o elevador, mas toda vez que tentávamos tirá-lo de seu conforto entorpecido, ele resmungava de um jeito adorável demais pra ser contrariado.
– O que a gente faz? – perguntou. Ele vestia um daqueles seus ternos ajustados e elegantérrimos, totalmente destoante dos outros rapazes de sua idade, o cabelo ondulado emoldurando o rosto que sequer parecia real.
Soltei um suspiro de impaciência.
– A gente espera, ué – eu conhecia Jungkook o suficiente para saber que toda aquela situação fora encenada para nos deixar ali, sozinhos naquele carro, sem nada melhor pra fazer.
– E se eu colocar uma música barulhenta? Talvez ele fique incomodado e decida sair e dormir na própria cama…
– E se você calar a boca?
– Ui – Taehyung riu e começou a tirar o blazer verde escuro. – Tá ficando calor aqui ou sou eu?
Soltou o botão do colarinho da camisa e massageou o próprio pescoço com a mão linda de unhas bem-feitas e anéis que lhe davam um ar aristocrático. Ele sabia como eu queria apertar aquele pescoço, dessa vez não com seu cinto ou qualquer outro objeto, mas com minhas próprias mãos. Sua pele de mel refletia na luz artificial de um jeito quase fantasmagórico. Kim Taehyung era sobrenatural. Tinha essa mania de passar a pontinha da língua pelos próprios lábios, um hábito que poderia ser cafona e ordinário em qualquer um, menos nele. Tudo que ele fazia ganhava tons sofisticados simplesmente por ser ele.
Olhei bem fundo em seus olhos, do jeito que eu olhava quando queria muito alguma coisa, o que Jungkookie chamava de meu “olhar predador” e disse:
– O que você tá esperando?
Ele se inclinou um pouco na minha direção, de forma que dava para sentir seu hálito quente pelos lábios entreabertos, os olhos afiados e lânguidos, perigosos, me perfurando feito lâminas, e respondeu:
– Sua ordem.
Peguei a mão que ainda estava em seu pescoço e a levei até minha coxa. Aproximei minha boca de seu ouvido e sussurrei:
– Tenho certeza que ele vai acordar rapidinho agora.
Mordi o lóbulo de sua orelha e logo percebi que Kim era sensível ali, porque seus dedos apertaram minha carne, com mais força a cada lambida minha. Sua mão deslizava na minha pele, subindo perigosamente, mas nunca atingindo o local em que eu gostaria que ela estivesse. Ele gostava de brincar com o perigo. Odiava sua perícia inexplicável em me deixar queimando por ele.
Não demorei a me irritar com aquele joguinho. Montei em seu colo e tomei sua boca na minha, satisfeita ao perceber que ele já estava duro quando minha bunda esmagou seu membro. Os lábios de Taehyung me conduziam num ritmo lento e enlouquecedor, eles eram carnudinhos e bons de morder, e sua língua brincava na minha boca com suavidade, a ponto de me despertar a vontade de beijá-lo por horas. Estava começando a amar detestar Kim Taehyung, como ele me irritava e se fazia de difícil, só pra depois se entregar completamente e me pegar de supresa… ele e aquele sorriso quadrado que sabia ser encantador quando desejava.
Suas mãos eram enormes e, a despeito da aparência delicada, tinham um jeito bruto de apertar minha cintura que me deixava desconcertada. Daquela posição eu conseguia ver meu namorado no banco de trás, já completamente desperto o safadinho, mordendo o lábio de tesão com a cena que presenciava. O silêncio do carro amplificava nossas respirações pesadas, o ar abafado por nossos corpos quentes. Taehyung me beijava com um ardor que me deixava mole em seu colo, aquele jeitinho insolente de quem sabia sempre o que estava fazendo. Mas seu ar de superioridade sofria um novo golpe cada vez que eu rebolava sobre sua pélvis e logo ele já estava gemendo “Noona… Noona, você me deixa louco… Eu quero muito… Ah, noona” naquela voz grave que tornava sua súplica ainda mais interessante. No fundo, Kim Taehyung era só mais um garotinho desesperado. Segurei seu pescocinho lindo com firmeza.
– Você não demorou nada pra começar a implorar. Assim não tem graça.
Troquei olhares com Kookie, que friccionava uma perna contra a outra tentando aliviar o sofrimento que lhe provocava o volume no meio das calças. Dirigi-lhe um aceno quase imperceptível: uma permissão para se tocar.
– Nós temos um espectador – sussurrei para Taehyung. – Mostra pra ele do que você é capaz, Kim.
Queria ver ele tentar.
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