Na manhã seguinte, Noodle foi até a sala. Stuart estava dormindo agarrado em um dos travesseiros que Russel tinha deixado para ele se sentir mais confortável.
- Stuart! Stu! Stu-Pot! - Noodle o chamou.
- Já acordei! Calma, calma. - Ele disse e coçou os olhos. - O que houve, Noodle? - Ele perguntou e acabou bocejando ao terminar de falar.
- A garota!
- Que garota?
Por um momento ele tinha se esquecido do que se tratava. Noodle continuou o encarando, com os braços cruzados, esperando o irmão mais velho lembrar do que tinha acontecido ontem. Era sempre assim, Stuart Pot não tem a melhor memória de todas. Mas Noodle não o julga por isso, ele nunca esqueceu seu aniversário, então estava tudo bem.
Depois de alguns segundos, ele se lembra da garota e se levanta de uma vez.
- O que aconteceu com ela?! - Seu tom agora já não era tão sonolento quanto antes.
- Ela acordou! - Noodle sorria, ansiosa.
- Que merda tá acontecendo aqui? - Murdoc apareceu, e num piscar de olhos, o sorriso de Noodle se desfez.
Não é como se ela não gostasse dele, mas seu humor não era um dos melhores quando acordava. Parecia que Murdoc ficava dez vezes mais rabugento que o habitual. Tudo e todos o deixavam irritado, mesmo que eles só estivessem conversando.
A única vez que Murdoc não estava irritado ao acordar.. Bem.. Não, não teve essa vez. Só se uma mulher estivesse envolvida. Daí quem sabe seu humor melhora.
- Ainda são nove horas e vocês não precisavam me acordar. - Ele resmungou.
- A culpa não é nossa se você sempre acorda de mau humor. - Noodle respondeu.
E ela era a única que podia responder o Murdoc. Responder ele, rir dele ou até mesmo desafiá-lo. Mais ninguém podia fazer isso. Ela tinha todo o direito de tratar ele mal, mas se Stuart sonhasse com isso.. Estaria morto. Já Russel não precisava falar nada para deixar o Niccals assustado.
- Tá, mas o que houve?
- A garota acordou, Murdoc. - Stuart disse. - A garota que você bateu com o carro acordou.
Murdoc ficou em silêncio. Será que tinha sentido culpa pela primeira vez?
- Ah tá. Só isso? - Definitivamente não.
- Como assim só isso? - 2-D perguntou. - Você podia ter matado ela!
- Do mesmo jeito que podia ter te matado, mas não aconteceu. E seu caso ainda foi pior, porque acabou com a sua cara.
- Murdoc. - Noodle o cortou antes que Stuart começasse a se sentir mal. - Olha, se você não se importa, foda-se. Nós vamos ver como ela está, pode ficar aí reclamando com as paredes se quiser.
Antes que ele pudesse responder, Noodle puxou Stuart e os dois foram ao seu quarto apressados. Se começassem a discutir com Murdoc, iam passar o dia todo ali. E ele ia ficar insuportável pelo resto da semana. Não é como se já não fosse naturalmente, mas ele ficaria muito pior.
Mas por incrível que pareça, Murdoc estava indo atrás deles, e Russel já estava na porta do quarto apenas os esperando.
- Calma. O Murdoc vai entrar? - Russel pergunta.
- Vou, ué. Qual o problema?
- Você que causou o acidente.. E quer falar com a garota? - Ele pergunta confuso. - Vai dizer que sentiu culpa?
- Pelo amor de Satã. Você mesmo disse que eu causei o acidente, então tenho direito de falar com ela.
- E vai fazer o que? Dizer que achou ela bonita e colocar de vocalista na sua banda? - Stuart disse, irritado.
Todos começaram a encará-lo e por nervosismo ele cruzou os braços e virou o rosto. A situação o deixava estressado, isso por saber que Murdoc não tinha mudado nada. Ele foi uma de suas vítimas, e agora, a próxima era essa garota que eles sequer sabiam o nome.
- É uma boa. - Murdoc sorriu e abriu a porta do quarto. Todos entraram e de cara a garota parecia desconfortável pela quantidade de gente desconhecida em sua volta.
Seus cabelos, longos e negros, cobriam um pouco do seu rosto, o que impedia de analisar seu olhar, por mais que parecesse dar um ar de inocência. Sua pele era clara e seus traços eram finos e delicados. Ela analisava cada um deles por vez, com a boca entreaberta e as mãos apertando seu cobertor com força. Quando seu olhar encontrou o de Stuart, ele se sentiu pressionado a falar algo.
- Como.. Como se sente? - Ele pergunta, e em seguida apertava as próprias mãos.
- Eu não sei bem como responder isso.. Mas acho que estou bem, só meio confusa. - A garota respondeu. - Como vim parar aqui?
- Você sofreu um acidente, acabamos trazendo você para cá. - Noodle disse. - Qual é o seu nome?
Ela era a única garota do grupo, então provavelmente seria mais fácil para fazer amizade.. Ou pelo menos tentar.
- Meu nome?
- Ela não lembra o nome dela. - Russel encarou Murdoc que até agora não tinha falado nada. - Isso é culpa sua.
Murdoc sai do quarto como se nada estivesse acontecendo e como se ele não soubesse do acidente.
- É.. Bem.. - Noodle respirou fundo então encarou a garota novamente. - Eu sou a Noodle, esse é o Stuart.
- Oi. - Diz 2-D, tímido.
- Esse é o Russel.. - Ela aponta para ele que sorri e acena. - E o carrancudo que saiu é o Murdoc.
- Eu ouvi isso! - Ele berrou de longe.
- Tá. - Noodle deu de ombros. - Vamos tomar café né, pessoal? Vai que ela lembra de algo?
Todos concordaram e foram à cozinha. Russel era bom cozinhando, Noodle ajudava um pouco mas ele sempre dizia que "cozinha não é lugar de criança" e isso só dava mais motivos para ela ficar ali e tentar ajudar. Noodle era tão teimosa quanto Murdoc.
E por um lado, ela já não era mais uma criança. Por mais que continuassem repetindo isso praticamente todos os dias. Stuart era o único que falava de igual para igual com ela, até porque ele também era tratado como "criança", mas isso não por ele parecer uma e sim pelo seu jeito bobo e tímido de ser.
Ele não era uma das pessoas mais comunicativas do mundo, e quase ninguém o entendia de fato. Mas ficar perto de sua irmãzinha o deixava muito melhor, os dois assistiam filmes de zumbi, que ele era fascinado, e brincavam de criar músicas usando a melódica e teclado.
Bom, enquanto os três estavam fazendo o café, Murdoc estava jogando videogame como de costume - e ele era bem ruim nos jogos -, Noodle se perguntava se a garota nova ia ser tratada como "criança" também, ou se isso era apenas com ela e com Stuart.
- Vem, garota! - Noodle chamou.
- Não é melhor darmos um nome para ela? - Stuart perguntou. - Não tem como chamá-la de garota o tempo todo.
- Hmm.. - Noodle pareceu pensar em um nome. - Hatsune, que tal?
- Esse não é o nome daquela garotinha de cabelos azuis que canta músicas em japonês? - Russel pergunta.
- Ah, é mesmo.
- Que tal.. Diana? - Fala Murdoc que tinha saído do videogame para se aproximar do pessoal.
A garota coloca as mechas de seu cabelo atrás da orelha, deixando seu rosto aparecer com mais clareza e agora seus olhos azuis eram visíveis. Murdoc ao olhar para o rosto dela sente as bochechas queimar.
- Olha lá o Murdoc ficando vermelho que nem tomate. - Russel aponta.
- Nunca nem vi isso.
Russel e Noodle se encaram e ficam em silêncio por alguns segundos até caírem na gargalhada. Mas quando eles olham para 2-D, ele estava totalmente vermelho que nem Murdoc.
- Ah, pronto! Agora que eu vi.
Russel e Noodle começam a zoar os dois. Todos se sentam na mesa ficando calados olhando para a cara um do outro.
- Precisamos fazer compras.
- Verdade.
- Quem vai dessa vez?
- Eu posso ir com a garota.
- Noodle acho melhor não, ela ainda não está bem.
- Então vai o 2-D e o Murdoc. Só não vá fazer besteira, Murdoc, comprando bebida ao invés de comida.
Murdoc revirou os olhos e encarou Diana com um sorriso no rosto.
- Então, de que nome você que ser chamada?
- Eu.. Eu gostei do nome "Diana".
- Que? Sério?
Murdoc estava meio assustado, ele tinha apenas brincado sobre o nome.
- Bom, é um prazer ter você conosco, Diana. - Diz Noodle super alegre. - Por mais que Hatsune combine mais com você. - Ela riu e Diana acabou rindo junto.
No fim da tarde, 2-D se colocava a observar Diana, de modo que ninguém notasse sua presença. Ele pensava que ela era assim como ele, uma refém de Murdoc. Tudo veio a tona, ele passou a lembrar de como tudo começou, se sentou na escada e se perdeu em seus pensamentos.
- 2-D? 2-D!
- Hum? - Ele se vira meio desnorteado e de leve se assusta. - Diana!
- Me.. Me desculpa, eu te assustei?
- N-Não.. Eu que estava distraído, o que houve?
- Noodle pediu para te falar que eles foram juntos ao supermercado e que você não precisa sair mais.
- Que bom, não estava muito animado para sair.
2-D ficou em silêncio novamente. Ele ainda estava pensativo, por mais que a presença de Diana o distraísse um pouco.
- Hmm.. - Diana aproveitou para se sentar ao lado de Stuart. - Aconteceu alguma coisa? Você parecia muito triste.. - Ela respirou fundo. - Se for por minha causa, eu posso ir embora.
- Não, não! Não se preocupe. - Ele sorriu docemente. - Eu estava apenas me lembrando de algumas coisas do meu passado.
Diana dá um sorriso para 2-D, e isso fez ele sentir seu coração quente e aliviado. Ele esqueceu que estava triste e seus olhos ficaram brancos representando sua alegria.
- Como você fez isso?
- Isso o que?
- A cor dos seus olhos..
- Olhos? Ah! Meus olhos.. - Ele fala um pouco envergonhado passando a mão no rosto.
Ele não gostava muito dos seus olhos e do sorriso. O cabelo azul ele já tinha se acostumado, até porque foi algo que aconteceu quando ele era uma criança, e não porque ele foi atropelado por um maluco querendo roubar uma loja.
- Eles mudaram do preto para o branco.
- Sim, isso é devido a como eu me sinto.
- Ah, eles são muito bonitos, Stu.
2-D cora. Diana era muito gentil, e isso até o fez gostar um pouco mais dos próprios olhos, mesmo ainda sendo inseguro.
- Mas e você, como se sente? - Ele pergunta.
- Confusa por não me lembrar de nada, mas feliz de estar com vocês. - Diana sorri. - Vocês me acolheram mesmo sem saber quem eu sou.
- Bom, é isso que a gente faz. - Ele retribui o sorriso. - Bom, pelo menos nós tentamos, o Murdoc nem tanto. - Isso fez Diana rir.
2-D estava gostando disso. Noodle era a única a deixar ele alegre, mas a presença nova de Diana despertou sentimentos que ele não sentia há anos, desde que conheceu Paula Cracker.
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