[Alex]
Eu estava mergulhado em profunda escuridão, nem mesmo meu corpo eu conseguia ver. Então surgiu um flash em minha cabeça, um eclipse lunar, com uma lua avermelhada mais parecida com sangue puro. O céu estava negro e sem estrelas, como se sequer estivesse lá.
O choro de um bebê podia ser notado ao fundo, e parecia ser mais de uma criança.
Depois, fiquei à beira de um precipício, onde havia uma montanha partida na vertical, com suas duas metades cortadas na horizontal, com apenas trilhos quebrados as interligando.
Abaixo, estava a cidade de Gravity Falls, eu a reconheci pelos mapas, porém ela estava diferente, como se estivesse morta, mergulhada em destruição e perdição, sem nenhuma pessoa ou alma vagando. Era assustadora essa imagem.
Tudo voltou a ficar escuro, e novamente parei de ver meu corpo, apenas vendo o imenso nada.
- Alex.. - disse uma voz, do meio da escuridão. Não havia rosto ou corpo, apenas uma voz grossa, rouca, demoníaca e autoritária - você precisa vir… venha, venha para os meus braços… venha, ahhh sim, a profecia será cumprida.. PELO SANGUE DO GÊMEO MAIS VELHO FOI CRIADO.E PELO SANGUE DO GÊMEO MAIS VELHO SERÁ CONSUMADO.
Senti um aperto forte em meu peito, como se alguém esmagasse meu tórax com raiva. Uma pontada surgiu em minha cabeça, era como se meu cérebro estivesse sendo espetado por uma agulha. Então tudo ficou frio, e senti meus batimentos diminuindo, como se a morte estivesse em minha porta.
- Não, socorro…. - disse, já com a voz falhando e perdendo a consciência - por favor socorro… alguém… me… ajud..
- Acorda, Alex acorda ! - chamou Alexya, cutucando meu braço esquerdo -
Eu acordei apavorado, olhando em todas as direções, e reparando que ainda estava no ônibus de viagem. Então foi tudo um sonho.
- Aconteceu algo, você estava gritando como louco.. - disse Alexya, parecendo bem preocupada -
- Mas o que... - disse, ainda tentando entender a situação - que estranho, pesadelo maluco..
- Me conta como foi esse ? - perguntou ela, parecendo muito curiosa - Alexya Northwest Pines, sua psicóloga particular está aqui para te ouvir..
Jura ? Referir a si mesma na terceira pessoa ? Minha irmã tem problemas.
- Boba.. - comecei, em tom brincalhão - primeiro foi um lugar escuro, me veio um flash na cabeça, parecia ser um eclipse, mas diferente. Quando a lua cobria o sol surgia uma luz avermelhada, como se a lua brilhasse em vermelho cor de sangue, então tudo em Gravity Falls ficou sem vida como se a cidade ficasse deserta..
- Hummm.. - disse ela, ainda curiosa, anotando o que eu dizia em seu caderno imaginário - algo mais ?
- Então uma voz muito estranha falava comigo, uma voz fria, rouca e diabólica, ela dizia sobre uma profecia e outras coisas - continuei, agora com o tom mais pesado - senti meus batimentos diminuindo, um aperto forte na cabeça.. era como se eu fosse morrer..
- Bom.. - começou ela, em tom sério - meu diagnóstico é que você está enlouquecendo e precisa urgentemente de vida social - completou, já entre risadas -
- Valeu por me animar… ajudou muito maninha - disse, sarcasticamente -
Já estávamos chegando na icônica entrada de Gravity Falls, os pinheiros cerrando o horizonte. Além, claro, da conhecida caixa d'água da cidade, cujo meu pai disse ser a lembrança mais feliz dessa cidade.
Por obra do destino, o ônibus deu um solavanco, provavelmente causado por uma pedra, ou buraco no caminho. O tranco fez Alexya bater a boca no encosto do banco em sua frente, a mesma deu um gemido de dor abafado. Isso que eu chamo de pagar com a língua.
Alexya - Droga!!! - diz ela colocando a mão no hematoma ensanguentado - tudo que eu precisava nesse verão é um machucado..
- E ainda é bem cedo.. - disse, com um pequeno sorriso e em tom vitorioso -
Minutos depois, descemos na parada mais próxima da casa dos nossos avós, que fica apenas à algumas ruas dali. Mesmo que estejamos em uma cidade fantástica, segundo nossos pais, acredito que esse verão não seja um dos mais memoráveis, já que nossos avós maternos, o vovô Preston e a vovó Priscilla, não são do tipo aventureiros. Eles basicamente ficam em casa, cuidando da empresa de… eu nem me lembro do que é, mas eles resolvem tudo pelo escritório, então dificilmente saem de casa. Fora quando o vovô sai para caçar gansos, ou quando a vovó sai para os diversos salões de beleza da cidade, o que são atividades, na opinião minha e de Alexya, incrivelmente monótonas.
Depois de dobrar algumas ruas, com as malas em mãos, pudemos ver a casa cinza escura, com detalhes em branco, no qual iríamos passar o verão.
Era uma bela casa, com dois andares, direito a três quartos, cozinha, sala de estar, sala de jantar, três banheiros, dois tendo banheiras, dois escritórios, onde se conjugavam bibliotecas, porão, sótão e garagem. Fora a área externa, que tinha uma piscina de três metros, área para churrasco, e até um heliporto em cima da casa. Temos um helicóptero ? Não, qual a necessidade de existir um heliporto ? Nem mesmo eu sei.
Deve estar pensando que é uma casa perfeita para o verão, certo ? Errado, já que a maioria das atividades legais são quase totalmente restritas, salvo algumas exceções.
Depois de passar pelo portão da garagem, o qual já estava aberto, seguimos a trilha de pedras lisas grudadas no chão, até chegar frente a grande porta de madeira, a qual devia ter cerca de dois metros, na cor marrom escuro. Alexya tocou a campainha, e depois de alguns passos em nossa direção, a porta se abriu rapidamente.
- Veja só quem temos aqui.. - disse Preston, parecendo surpreso a nos ver -
O vovô estava com seus cabelos molhados, um roupão vermelho vinho e pantufas marrons. Imagino que tenha acabado de sair do banho.
- Como foi a viagem ? - perguntou ele, parecendo animado, diferente de nós -
- Foi boa vovô - respondemos eu e Alexya juntos, com zero animação -
- Mas que desânimo todo é esse ? - perguntou ele - parece que nem estão felizes em visitar o vovô..
- Estamos sim - dissemos novamente juntos, ainda desanimados -
- A avó de vocês foi à um salão próximo de casa.. - disse o vovô, confirmando o que eu pensava - mas vocês já podem se acomodar, o quarto de hóspedes já está pronto, fica no final do corredor..
Então entramos na casa pela sala de estar, na decoração típica dos Northwest. Um chão de madeira laminada em castanho claro, no que parecia pinheiro ou algo do tipo. Os móveis, como mesa de centro ou cômoda da sala, eram em um marrom escuro de madeira maciça. O sofá era cinza claro, que se me lembro bem tem cerca de quatro ou cinco lugares, fora as duas poltronas de mesma cor. Uma televisão grande de tela plana se localizava na frente do sofá, a qual passava um noticiário local.
Ignorando parte do corredor, repletos de quadros grandes emoldurados em dourado, fomos direto ao quarto que nos indicaram.
Assim que abrimos a porta, olhamos atentamente para o cômodo. Era um quarto comum eu diria, mais ou menos do tamanho do nosso quarto na Califórnia, talvez maior eu diria. Havia um papel de parede cinza claro, com desenhos de pequenas flores em cinza escuro. Estavam ambas as duas camas encostadas em paredes opostas, com um criado mudo amadeirado entre elas. O chão continuava no laminado antes citado, apenas com um tapete entre as duas camas. Estava um grande guarda-roupas encostado em uma das paredes, ele era rústico e também na madeira escura, mesma cor das camas.
Parecia aconchegante, eu diria.
Logo baixamos as malas, e começamos a guardar parte de nossas coisas. Minha mala foi a primeira a ser esvaziada, já que continha pouca coisa. Porém tive que ajudar Alexya com as suas, sim, eram mais de uma, e também cedi parte do meu espaço no guarda-roupas para seus itens "pessoais".
Depois de cerca de meia hora, estávamos de malas vazias, e uma mente sedenta por algo interessante. Basicamente, estávamos quase morrendo de tédio, e observar a parede já estava perdendo a graça.
Então para nossa sorte, enquanto estávamos sentados nas nossas camas, Alexya pegou algo em um bolso escondido de uma das malas, a qual pensei que estivesse vazia. Por total surpresa minha, ela tirou um dos diários do papai da sua mala, o de número cinco, se vejo bem.
Estava pasmo com esse feito, eu mesmo tentei roubar ele da estante "proibida" um zilhão de vezes. Me deixou literalmente boquiaberto.
- Achei que seria útil para nós… - disse ela, vendo meu olhar fixo no livro - afinal ele diz muito sobre essa cidade..
- Boa jogada maninha.. - disse, agora com um ânimo melhor - foi muito inteligente
- Sempre sou.. - disse ela, de forma convencida -
Sempre orgulhosa.. típico dela.
- Me deixa dar uma olhada - disse, puxando um lado do livro à minha direção -
Ela o puxou de volta, o arrancando das minhas mãos.
- Nada disso - disse ela, autoritária - eu peguei o livro, portanto ele ficará comigo..
- Tá, tudo bem.. - disse, em tom desistente - não são tão valiosos quanto os originais
Caso não tenha mencionado, meu pai, juntamente com o tivô Ford, decidiram escrever novamente os diários, mais atualizados e em mais volumes. Já eu gostaria de ter um dos três originais em minhas mãos, pois na minha opinião esses sim eram poderosos.
- E então, o que planeja fazer com ele em mãos ? - perguntei, curioso -
- Não sei bem - respondeu ela, parecendo confusa, ou indecisa - estava pensando em um passeio pela floresta, dizem que é fantástica..
- Eu concordo, mas como vamos passar pelo vovô ? - perguntei -
- Não se preocupe.. - respondeu ela, com um sorriso sapeca nos lábios -
Eu sei bem o que isso significa, e onde isso vai dar, mas tenho um péssimo pressentimento sobre esse sorriso.
Pov Narrador
Tempos depois, o som incansável e ensurdecedor do telefone celular de Preston ecoou por toda a casa, até o mesmo se levantar de sua poltrona e ir o atender.
- Alô.. - disse o senhor, curioso para saber quem o incomodava -
- Sr Northwest ? - perguntou uma voz forçada -
- Sim.. - respondeu Preston, sério -
- Temos uma entrega em seu nome, não me foi digo o que contém, mas recebi a ordem de a entregar pessoalmente apenas para o senhor.. - disse a misteriosa voz, apressadamente -
- Mas eu não encomendei nada.. - resmungou Preston, parecendo já pouco irritado -
- Bom, eu lamento lhe incomodar, mas não posso voltar com o pacote..
Preston deu um suspiro arrastado, como se ir até a porta de entrada fosse um fardo gigantesco.
- Está bem.. eu irei buscar - disse o mais velho, ainda pouco irritado e murmurando -
- Muito bem, eu lhe agradeço, estarei esperando no portão de sua garagem..
O senhor Northwest então lembrou de um pequeno detalhe, que poderia ter feito uma enorme diferença.
- Com quem estou falando ? - perguntou curioso o senhor -
Porém a ligação já estava desligada, não especificado quem havia ligado. Preston então, tomado por curiosidade e também irritação, caminhou até a entrada principal, indo em direção ao portão da garagem.
Quando o Sr Northwest deu as costas, as duas sombras apressadas passaram como bala em direção à porta dos fundos, o plano dos gêmeos havia dado certo. Após passarem para o jardim, ambos se ajudam para pular o muro de cerca viva, o que não foi nada difícil.
A floresta era à ruas dali, uma das vantagens de morar em um bairro afastado. E andando em passos apressados, os gêmeos quando se deram conta, já haviam adentrado a grande floresta.
Olhando ao seu redor, eles puderam ver os mais lindos pinheiros, alguns já estavam repletos de grandes pinhas, em formatos diferenciados. Certas raízes saltavam da terra, buscando espaço para crescerem. Sons tropicais, como pássaros e insetos eram mais que frequentes, e traziam uma onda harmoniosa. O sol quente ultrapassando as frestas de folhas, que aos poucos queimava a pele clara dos dois, era reconfortante. Por momentos Alex até pensou ter visto um cervo de relance, embora ele tenha desaparecido quando o mesmo olhou com atenção.
Era um cenário lindo, e a sensação de liberdade, em meio ao silêncio e solidão daquela floresta, fixava a idéia de um espírito livre.
Embora tudo isso, um sombra de olhos vermelhos se movia ligeiramente pelas moitas, com uma intenção nada boa. Quando se aproximou dos gêmeos distraídos, a criatura puxou Alexya pelo braço, a levando para dentro da moita, e em seguida a arrastando floresta afora. Alex só se deu conta, quando ouviu o grito desesperado da irmã, ecoando pelas árvores.
O garoto seguiu apressado algumas das pegadas deixadas na lama, embora não conseguisse reconhecer que tipo de animal deixaria aquele tipo de rastro. Correndo pelo caminho, ele tropeçou em uma das raízes saltadas, indo rapidamente ao chão. Após se levantar devagar, pôde ver o diário caído em parte do caminho, que provavelmente havia escapado das mãos de Alexya. Isso apenas o incentivou, ele tomou o livro do chão, e tornou a correr, mais rápido dessa vez.
Então ao longe ele avistou uma sombra, aparentemente feminina, e seguiu até ela. Se surpreendeu quando viu o que era, ou melhor dizendo, quem era.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.