[Narrador]
- Quer mesmo voltar aqui ? - perguntou retoricamente Alex, esboçando um pouco de tristeza - depois de tantos anos..
- Não temos outra opção, esse é o único lugar seguro que podemos examiná-lo - disse ela, também com pesar -
A cada passo que davam, aproximavam-se mais e mais da famigerada, desgastada e pouco destruída, Cabana de Mistérios. A velha construção parecia intacta, mesmo com suas tintas descascadas, ou suas tábuas pouco quebradiças, ela não deixava de ser o que era. Ao se aproximarem, diminuíram seus passos, à medida que frente à porta da velha cabana, sequer davam um passo. Cada história, foto, cartão postal e todos os outros tipos de coisas que lhes foi mostrado sobre esse lugar, deixava uma tristeza eminente nos corações dos gêmeos.
- Esse foi o começo de tudo.. - dizia Alex, em tom triste - foi aqui que eles estiveram por tanto tempo..
- Nunca pensei que nossa primeira vez aqui, seria sem a presença deles.. - disse ela, quando um sorriso envolto de tristeza escapou por seus lábios -
- Vamos entrar.. não sei se ele aguenta muito mais.. - disse Alex, segurando o cão no colo, desacordado - e ele é bem pesado..
- Claro, claro.. - disse, enxugando uma lágrima solitária em seu rosto - pode deixar que eu abro a porta..
Assim ela o fez, mostrando a eles a tão esperada, e pior visão de suas vidas. A cabana se encontrava em trapos, estava velha, suja, e empoeirada. Mesmo com ela nesse estado, ambos era reconfortado por lembranças de seus tivos, sabendo que aquele um dia já foi seu lar. Mesmo se sentindo em casa, tiveram a sensação de andar sobre um cemitério, passando por lápides de lembranças, lembranças frias e mortas. Seria a sua primeira vez presencialmente naquele lugar, nunca pensaram que se sentiriam tão bem, e tão ruim em um só lugar. Reconheciam poucos cômodos, se baseando nos vídeos e fotos que Stan e Ford os mandavam. Alex tratou de ir até a cozinha, colocando o animal ferido em cima da mesa. Pensava em formas de fazer o bicho melhorar, e o diário lhe veio à mente na hora.
- Vou tentar encontrar algo no diário para fazê-lo melhorar, se tem um feitiço que lança bolas de fogo, deve ter algum que cure ou coisa parecida.. - dizia ele, já folheando o mesmo - Quer olhar em volta enquanto isso?
- Certo.. - respondeu ela, ainda com ar tristonho -
[Alexya]
Eu nem sabia como me sentir. Estava estonteante e muito feliz por estar nesse lugar encantado. Em contrapartida, o fato de estar aqui sozinha me enche de dor e sofrimento. Acho que não tem muito mais coisas aqui em baixo, o jeito é subir para o segundo andar.
Assim eu subi as escadas, passando pelo quarto do sótão, onde dormiam o papai e a tia Mabel. Segui em direção ao antigo quarto do tivô Stan, vendo a porta de madeira entreaberta. Então eu a abri, vendo o como escuro, sujo e fedendo mofo. Lá estava tão quieto, parecia uma áurea tão vazia, algo tão incompleto. Ao ver suas fotos nos quadros das paredes, estavam todas encapadas, juntamente com todos os seus móveis, que haviam sido plastificados, eu entendi que eles jamais vão voltar. Saber disso, entender que eles foram para tão longe, me doeu tanto. Um silêncio estranho e assustador cobria o lugar, junto à um calafrio desgraçado. Minha única distração era Alex, que voltei e meia fazia barulhos e resmungos.
Aquilo pesou demais para mim. Um aperto tão forte no peito me atingiu, eu estava com tanta raiva, ao ponto de gritar, e estava tão triste ao ponto de chorar. Eu não aguentei, sem conseguir evitar, me desabei em lágrimas, chorando e soluçando. Era como se uma parte de mim preferisse ter ido com eles, para nunca mais voltar.
Ficava cada vez mais apreensiva, pensando e repensando cada detalhe dos momentos com meus tivos. Me tirando dessas lembranças, me assustei ao ouvir um grande estrondo, vindo do andar de baixo. Foi tão alto que chegou a me intimidar, afinal, o que causaria um barulho dessa magnitude ? No mesmo instante fui até lá para ver a origem do estrondo, descendo as escadas com pressa. Mesmo quase caindo em um degrau, cheguei ao andar de baixo, e para a minha felicidade e alívio, não passava de Alex, que causou um buraco na parede de madeira.
- Mas que droga!! Maldito seja o criador dessa caligrafia!! - reclamava ele, muito irritado - é impossível fazer essa porcaria de feitiço..
- O que foi isso ? - perguntei, preocupada -
- Só um acidente, não precisa vir se meter!! - respondeu ele, ainda furioso -
- Ei ei… calma, estressadinho desse jeito nunca vai conseguir fazer o feitiço - disse ela, calmamente - tente relaxar e faça outra vez..
- Tem razão… me desculpa o estresse desnecessário - disse ele, agora mais calmo - vou tentar outra vez.. - disse, após suspirar - lleps gnilaeh cisab
Depois dessas palavras, uma áurea verde começou do livro, se estendendo ao corpo do ferido animal. Rasgos se juntaram, arranhões cicratizaram, sangue secou, ralados foram reduzidos a nada. Tal como mágica, o animal se curou diante dos nossos olhos, ficando com o pelo novamente branco. Agora tínhamos certeza, ele estava fora de perigo. Como sabíamos disso ? Nem mesmo eu posso dizer isso.
Qual parte mais seria interessante conhecer desse lugar? Quarto.. ? Deve estar mofado demais. Quarto dos ativos? Sem chance de voltar lá… cozinha? O máximo que pode ter lá é comida vencida. O que mais então… pensa Alexya.. então, me veio um estalo. A passagem secreta atrás da máquina de refri. Mas qual seria a senha ?
- Maninho, por acaso se lembra a senha, daquela passagem que o tivo Ford construiu, aquela passagem atrás da máquina de refrigerantes ? - perguntei, olhando para painel da máquina -
- Aquela das histórias do papai ? - perguntou ele -
- Essa mesma.. - respondi - lembra a senha ?
- Bom.. deixa eu ver... - disse ele, pensativo - se minha memória não me falha, a senha é fazer um "C" com os botões..
Ele então apertou os botões em devida ordem, fazendo a passagem se abrir. Após o acesso ter sido liberado, decidi descer as escadas até o subsolo, a mercê da sorte, me aventurar aventurar e descobrir se ainda restava algo lá.
Alex me esperava ao lado de fora, dizendo querer estar de olho no animal. Eu vou fingir que não sei que ele está com medo. Quando cheguei no andar de baixo, pude reconhecer algumas coisas. A sala de controle jazia intocada, apenas com uma ou outra teia de aranha. Ao fundo se encontrava o portal no qual Ford havia sido aprisionado, e tempos depois, liberto.
Depois de observar outra vez a sala de comando, pude perceber algo novo. Uma moldura quebrada, onde estava uma foto de Stan, papai e Mabel. Devia ser o primeiro verão deles aqui, estavam tão felizes, e ao mesmo tempo tão juntos. Espero manter essa relação com Alex, tanto como o papai e a tia Mabel, quanto como os tivôs.
Desviei minha atenção, ao ouvir o desesperado (e esganiçado) grito do meu irmão.
- Alexya, por todos os céus, vem aqui agora!! - gritou Alex, desesperado -
Logo subi correndo aqueles degraus, a cada um deles, pensando o que poderia ser tão grave pelo desespero de meu irmão. Talvez o monstro tivesse voltado ? Talvez a magia não tivesse funcionado ?
Assim que passei pela passagem e cheguei na cozinha, vi Alex olhando assustado para a mesa. O animal que antes conhecíamos como um cachorro, se trasformara em um lindo garoto. Cabelos brancos e lisos, longuinhos como tufos de neve. A pele clara e quase brilhante, juntamente de um corpo grande e pouco largo. Ok.. meu dia foi uma loucura, agora é oficial. Aos poucos, os grandes olhos oceânicos foram se abrindo, e ele recobrou sua consciência.
- Aí.. - gemia ele de dor, colocando a mão na cabeça - minha cabeça está me matando.. mas espera, aonde eu estou ?, quem são vocês ?, a criatura branca, onde ela está ? - disse ele, totalmente alarmado e em guarda -
- Não se preocupe, a criatura fugiu mata a fora, estamos seguros aqui, acredito que estejamos a salvo, pelo menos por hora - disse Alex, o acalmando muito -
O garoto suspirou em alívio, enquanto parecia mais calmo.
- Você tem nome ? - perguntei, curiosa -
- Claro que tenho.. - disse, como se fosse óbvio - me chamo Nathanael Shiruki, mas se me chamarem de Nathan já está bom..
- Que tipo de criatura é você.. ? - perguntou Alex, interrompendo o garoto -
- Eu.. eu sou.. um Nukinary
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