Capítulo 110 - Irmãos.
Seiya apenas parou quando estava frente a uma rebuscada porta de carvalho, seu primeiro instinto foi abri-la sem pensar duas vezes, praticamente arrombar, mas o nome impresso em ouro puro em grego antigo o fez parar.
Héstia.
Graças aos poderes de Hermes podia ler claramente, como se fosse simples japonês.
Havia sido terminantemente avisado por Mei a não se aproximar dessa deusa sem todo uma cerimônia de por meio. Ainda mais se não fosse mais… "intocado."
Como esquecer o constrangimento que teve que passar ambos quando o outro teve que explicar, depois de não entender o que isso significava, que isso queria dizer que só virgens tinham autorização plena de se aproximar da deusa...
Tudo bem, ele não tinha uma vida tão promíscuo quanto Máscara da Morte ou produtiva quanto Aldebaran, mas ele tinha quase quarenta anos! É lógico que já havia tido relações antes...!
Claro que sempre fez o impossível para não alardear isso, não apenas porque ele e Miho trabalhavam no mesmo orfanato, mas também porque sentia que Saori se magoaria ao saber disso.
De verdade amava sua deusa, mas Marin e mesmo Shiryu sempre se esforçaram para lembrá-lo que o destino dela era ser sempre uma deusa pura.
Quem eles achavam que ele era? Um depravado? Podia sempre tratá-la com intimidade, mas jamais esqueceu que ela era uma deusa.
De verdade, no fundo de seu coração em respeito aos sentimentos que imaginava que Saori também tinha por ele, gostaria de ser celibatário ao lado dela.
Infelizmente no fim ele era apenas um humano impuro como todos os outros.
Foi por sentir seu incômodo que Miho se demitiu um dia sem se despedir e nunca mais a viu.
Pensando nisso agora, sentia-se realmente um idiota, se um dia tivesse a oportunidade gostaria de se desculpar com ela. Aquela jovem de sorriso doce e coração no lugar merecia muito mais do que os fragmentos de afeto que a deu, muito mais.
Realmente não poderia culpar a Héstia de querer distância de figuras como ele, não é?
- Tu pareces bem perdido em teus pensamentos, estás bem?
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHH!
De fato, tão perdido estava em sua auto-penitência que sequer percebeu quando a porta se abriu, caindo para trás e se arrastando no chão comicamente de costas o mais longe que podia.
Héstia não pode deixar de rir com o gracejo, ocultando sua pura face atrás de sua mão.
- Perdão, receio que o assustei. - Comentou ela com um sorriso amigável. - Não pude deixar de sentir tua presença, pensei que era hora do julgamento e por isso pedi que meu Ómma abrisse a porta.
Só então o sagitariano viu que havia alguém mais com a divindade. Era uma figura alta, claramente masculina, o que era estranho, pois Mei garantiu-lhe que a Sagrada Héstia era seguida apenas de mulheres.
Entretanto, por mais que dissesse isso, o jovem, apesar de largos ombros e tronco claramente másculo, poderia passar por uma freira frente a um desavisado, tamanha era a quantidade de tecido branco que o cobria, finalizando sua estola cobrindo e prendendo seus cabelos negros em pelo menos oito tranças que mais o fazia parecer uma noiva grega antiga, das que Shina tentou simular em seu próprio casamento.
E apesar do véu que o cobria, sentia que o homem tinha os olhos fixos nele, sua postura rígida, porém não parecia ser porque havia se ofendido por sua deusa.
Parecia mais, preocupado...?
Bem, com o julgamento que estava para acontecer, provavelmente todos estavam.
Ainda assim o jovem se aproximou e para sua surpresa educadamente ofereceu sua mão para ajudá-lo a levantar.
A segunda vez que alguém se oferecia para tal em um espaço tão curto de tempo. Decididamente ele estava caindo muito.
Embora a primeira queda era cem por cento culpa de Ikki.
Aceitou o gesto apenas para curvar-se depois em respeito a deusa virgem.
- Obrigado.
O homem, porém, não disse nada, apenas confirmou com a cabeça.
Talvez os servos homens da deusa faziam voto de silêncio? Se esse fosse o caso...
-...Hãaa… Perdão meus modos, senhorita Héstia, eu achei que tinha escutado a voz de um conhecido nessa direção… Claramente eu me enganei.
- Oh sim? - Comentou ela interessada sem deixar de sorrir. - Muito embora creio que há muitos nesse Olimpo que tu conheceis, ainda mais depois da Grande Guerra.
- Sim, mas… - Suspirou. - Não é alguém que deveria estar aqui. - Então negou com a cabeça, como se quisesse aclarar seus pensamentos. - Mas sim senhora, me incubiram de avisá-la que o julgamento está por iniciar-se...
- Entendo… - Confirmou ela agora com expressão séria. - Agradeço o aviso. Me encaminharei para o Areópago imediatamente. Vamos, Ladón?
O jovem confirmou novamente com a cabeça e se dispôs a segui-la, fazendo Seiya suspirar cansado e bagunçar seus cabelos.
Sequer se importou muito quando recebeu um forte golpe em sua cabeça, vindo de lugar nenhum.
"Se importa de se explicar? O que por Nix foi isso?" - Era novamente a voz irritada de Ikki.
- É claro que você não me esperaria. - Bufou, massageando a área atingida. - Desculpa, é que eu pensei ter escutado a voz de um dos meus sobrinhos, filho de Shiryu sabe. Aliás, agora que penso nisso, ele também é seu sobrinho!
"...Sim, eu conheci a criatura." - Foi sua curta resposta, ignorando a parte de ser tio. - "E qual a surpresa? Se ele é filho de Shiryu, nada mais comum do que o acompanhá-lo na comissão do Santuário."
- Não. - Seiya negou com a cabeça. - Shiryu me disse quem viria, e Sho não era um deles, até porque não sabemos onde ele está… A igual que Shion ele desapareceu, mas foi um pouco depois da guerra...
"Sim, Shiryu nos contatou para perguntar sobre o velhote, mas temos certeza que a alma dele não fez a passagem..."
- Dohko também não está ajudando, nem Shiryu ou Shunrei conseguem tirar muita informação dele, parece que passar por mais uma guerra foi um trauma grande demais para ele. - Passou a mão pelos cabelos num ato de ligeira exasperação.
Tal gesto, bagunçou os fios de tal modo que Ikki não pôde deixar de se lembrar dos fios emaranhados de Kairos.
-...O que mais nos preocupa é que Shoryu ainda estava ferido quando desapareceu, pode imaginar então porque estamos todos tão nervosos. Por isso venho tentando usar os poderes de Hermes para me atentar a qualquer pista que leve a ele… - Engoliu em seco, franzindo a expressão, o que o fazia parecer mais velho do que realmente era. - Quer dizer, não é a primeira vez que ele some assim, mas... Eu não sei, a última vez que o vimos ele parecia estar se despedindo… Ele não…?
"Não Seiya, você sabe muito bem quem foi o último a fazer a passagem, ninguém mais do lado de vocês ou de Poseidon chegou a Carontes desde então."
-...Certo. - Apenas concordou, embora não houvesse alívio real em sua voz.
"Seiya. Você tem certeza de ter ouvido a voz desse Shoryu por aqui?"
- Sim, mas eu me enganei… Eu definitivamente não sei usar esses poderes ainda. - Resmungou com desgosto. - Por aqui só havia a Senhorita Héstia e seu… "Vestalio"? Algo assim, nem sabia que ela tinha servos homens.
Ikki não parecia ter tanta certeza, olhando desconfiado para as figuras que se afastavam no horizonte. Desconfiança essa que aumentou quando o jovem que acompanhava também voltou-se para trás, como se hesitasse, para logo voltar a seguir a divindade das chamas de forma claramente manca.
"Sim, tampouco eu sabia que Héstia possuía homens em seu cortejo..."
-...Seja como for, melhor seguirmos. - Continuou Seiya com passos ligeiros, mas seguíveis dessa vez. - Ainda preciso avisar Nike, Eros e Dionísio.
Benu deixou o assunto por hora, disposto a perguntar ao seu irmão e senhor antes de qualquer acusação precipitada, preferindo pelo momento aceitar a mudança de tema, deixando de encarar Héstia e seu servo e passando a seguir novamente o mensageiro.
"Como meio-servo do Submundo você deveria chamá-lo de Zegreu." - Corrigiu.
-...Mas esse nome é tão difícil...! - Resmungou infantilmente.
E um novo golpe em sua cabeça mostrou o quanto Ikki estava perdendo a paciência com ele.
-...Mas falando do Submundo, como estão as coisas lá? - Questionou sem massagear a área atingida dessa vez, seguindo seu caminho. - Com tudo que vem acontecendo no Olimpo, eu mal tive tempo de ir ao Santuário, muito menos para o Submundo… Hãaa, espero que isso não seja um problema. Mei me disse para esperar uma ordem direta de vocês, mas até agora não me chegou nada… Eu acho...?
"Depois da centralização dos Elísios, as coisas se estabilizaram, ainda mais agora que contamos com dois cancerianos. Não acho que o serviço de um psicopompo sem experiência como você seria de grande valia."
Apesar do teor dito, Seiya não pareceu realmente chateado com a constatação, parecendo mais pensativo.
-...Eu ainda não sei se saberei lidar com a travessia de mortos, eu duvido que SSh- ...O Imperador não saiba disso. - Um pequeno sorriso, um tanto triste, se formou em seus lábios. -...Tenho certeza que ele está apenas me poupando.
"Sim, vejo que você é idiota, mas pelo menos não é cego. É óbvio que ele está te poupando do trabalho. Nisso ele não mudou nem um pouco. Mas não pense que isso durará para sempre."
- Sim, eu sei… - Suspirou. - Mas e quanto aos… Hã… Novos membros, como eles estão se saindo...?
"Lune não pode ser exatamente chamado de espectro《novo》afinal ele vem servindo o Submundo há milênios. Inclusive é ele quem está substituindo Minos enquanto estamos aqui. Já Valentine e Violate fazem a parte de Radamanthys e Suikyo."
-...Ele parece estar mesmo muito ocupado. - Ponderou o homem com poderes de um deus. - Julian se queixou para mim de que não tinham mais notícias dele, ainda mais agora com o desaparecimento de Shoryu, ele, Alba e minha garotinha estão muito nervosos. Ele está mesmo bem com… Você sabe...
O incômodo do agora mais velho era evidente ao tocar nesse assunto.
-...Talvez seja por isso que ele está tão mergulhado no seu trabalho...? - Opinou ao tempo que sentia uma das vozes de um dos que deveria convocar mais à frente no infinito corredor de puro e cegante mármore.
"Não se preocupe, o pivete está bem, ele é mais forte do que dávamos crédito. Na verdade, conheci poucas pessoas na vida tão centrado em seu trabalho quando ele, no mínimo sequer percebeu que já se passaram meses desde que retomou o mando do juízo das almas. Assim que o julgamento passar e Minos voltar, eu pessoalmente o chuto do Submundo para dar satisfação a seus velhos companheiros."
Seiya sorriu frente a esse comentário, sentindo-se ao menos um pouco mais aliviado.
- Obrigado Ikki...
"Não se acostume." - Soava ríspido. - "Eu não sou o cara dos recados. Essa é a sua função."
-...Acha que vão me receber bem no Submundo depois de tudo que… - Hesitou. - Eu fiz em outras vidas...?
"Definitivamente não." - Benu foi taxativo. - "Mas agora cabe apenas a você mudar nisso."
- Tem razão. - Concordou fechando os olhos como se meditasse. - Não adianta nada continuar fugindo, assim que tudo isso do Olimpo acabar, eu vou me apresentar devidamente ao nosso irmão.
"Agora parece o Seiya irritante e estupidamente corajoso que eu conheço."
-...Eu devo considerar isso um elogio...?
"Não."
E o mensageiro não pôde deixar de rir tolamente em meio a um corredor aparentemente deserto.
- Mas eu vou! Deve ser a coisa mais legal que você já me disse. - E novamente não precisava ver o outro para saber que bufava.
"Tanto faz. Agora, você já fez todas as perguntas que queria. É minha vez."
O Ex-Pégaso piscou curioso, o som de seus próprios passos começando a ser opacado pelo som da água que jorrava de uma enorme fonte que ornava uma bifurcação à frente.
E ainda que assim fosse, as palavras seguintes de Benu soaram tão claras quanto as águas do Olimpo.
"Eu quero entender o que houve no mundo dos sonhos. Principalmente, eu quero entender o que houve com Hyoga..."
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-...Então foi isso que aconteceu... - Repetiu o Imperador em tom suave, perdido nos próprios pensamentos. - Eu prefiro não pensar no que teria acontecido se Zegreu não estivesse lá. Ao mesmo tempo gostaria de saber como ele conseguiu entrar com tudo que estava acontecendo...
Os três juízes estavam contornando seu senhor, de pé ao invés de ajoelhados, exigência do mesmo, encostado contra um dos portais do mundo dos sonhos reportando tudo que havia acontecido nas últimas horas.
Um pouco mais distante no corredor, Shiryu explicava a um aflito Seiya toda a situação do Santuário, com Saga e Kanon mais atrás apenas ouvindo. O corpo desacordado de Aquário ainda apoiado nas costas do geminiano mais velho.
-...E eu ainda não consigo acreditar que Daidalos e Shaka acabaram desse jeito. - Suspirou pesadamente fechando os olhos. - Como temíamos, o Hecatônquiros é uma ameaça que não podemos enfrentar sozinhos...
- Por outro lado, não temos mais nenhuma ideia do paradeiro de Chronos, quanto a Kairos… - Seguiu Minos sério.
- Sim. - O senhor das almas abriu os olhos decidido. - É a minha vez de cumprir minha parte do nosso trato.
-...Trato...? - Questionou Radamanthys receoso. - Senhor...
- Radamanthys. - Impôs seco, fazendo o juiz imediatamente calar-se. - Creio que Kairos já deu provas o suficiente de a quem ele é leal.
-...Sim, senhor.
- Por outro lado, lamento de não poder ter recebido o retorno de vocês dois como se meritava. - Disse voltando-se a Radamanthys e Aiacos com um sorriso culpado. - Eu sei que não foi uma decisão fácil, e que vocês fizeram isso, acima de tudo, por Hades.
-...Era o certo a ser feito. - Declarou Aiacos inclinando a cabeça em respeito. - Mesmo que nos dê outra oportunidade de vida, Os Três Juízes do Submundo são quem realmente somos.
-...Mesmo eu possuindo as memórias de Hades, eu não sou exatamente o mesmo senhor, por isso espero contar com a contribuição de vocês de agora em diante. Agora, mais do que nunca. - Impôs sério.
O inglês por sua vez bateu em seu peito com a mão direita, também curvando-se em honra a seu antigo e novo senhor.
-...Seja quem o senhor for agora, sabemos que suas intenções com o submundo são sinceras. - Declarou lealmente. - Por isso, será uma honra para mim servir ao seu lado, como servi ao senhor Hades.
O pequeno sorriso do imperador cresceu um pouco, embora não soasse menos culpado.
- Obrigado. A vocês três. Agora… - E tão rápido quanto surgiu, sua expressão suave desapareceu. - O que eu quero saber é... O que vocês fizeram com Hefesto...?
Silêncio imediatamente se instaurou no trio, os três encarando o chão, o que apenas fez a expressão do Senhor da Morte se franzir ainda mais.
-...Vocês me disseram… - Seguiu com firmeza, ironicamente como um juiz que tenta encurralar um suspeito dentro de um crime. - Que deixaram que Zegreu lidasse com ele. Zegreu, em seu estado de loucura. Não achem que eu não sei o que isso significa.
Novamente nenhuma resposta, ao que o Imperador suspirou, cruzando os braços, o que lhe dava um ar mais imponente e autoritário.
- Aiacos. - Declarou firme, num tom que gelaria os ossos de qualquer ser vivo.
E morto também.
-...Perdão, senhor... - Confessou o asiático inclinando ainda mais a cabeça. -...Eu disse para eles que era melhor parar...
A expressão ultrajada de Minos só não era pior que a furiosa de Radamanthys, que por um momento pareceu esquecer que estavam sendo vigiados por seu senhor e descaradamente ameaçou seu irmão mais velho com um gesto de mão, ao tempo que o norueguês o fuzilava com o olhar.
Apesar da situação, o Imperador não pôde deixar de se sentir um pouco nostálgico com a cena.
- Minos.
- Sim, senhor. - Disse erguendo-se numa postura ereta, com toda a pompa que sempre soube exibir. O suor que grudava parte de sua característica franja em sua testa permitindo que parte de seus olhos fossem vistos.
- Cabe a você controlar seus irmãos quando são tomados pelo desejo da vingança. - Ralhou com severidade. - Principalmente Radamanthys. - O mencionado piscou com a menção.
- Sim, senhor, eu me manterei atento sobre a selvageria de Radamanthys da próxima vez. - Confirmou com um leve curvar.
- O quê...?! Ora seu! - Exclamou o escorpiano voltando-se irritado para seu irmão mais novo, perdendo a compostura. - Se a ideia de levar Zegreu a atacá-lo foi sua!
- Não muda o fato de que você concordou. - Rebateu com arrogância sem se dar ao trabalho de encarar o mais velho.
- Bloody Hell! Não fale como se a culpa fosse só minha!
Entre acusações e ameaças que logo atingiram Aiacos também, a comoção chamou a atenção dos membros do Santuário, fazendo Shiryu parar sua explicação para que acompanhasse o desenvolvimento da outra conversa.
-...É estranho vê-los agindo assim… - Kanon foi o primeiro a comentar franzindo a expressão.
-...Como humanos? - Questionou Seiya.
- Como irmãos. - Completou Shiryu com um ligeiro sorriso ao tempo que o Imperador elevava ligeiramente a voz para sobrepor o pequeno tumulto antes que escalasse para uma luta, fazendo os juízes tornarem a baixar a cabeça. - Não custa lembrar que acima de tudo, Hades era o tio deles também.
- Eu imagino o horror de ser parente de Radamanthys. - Ironizou o geminiano, para logo levar uma cotovelada de Saga. - O quê?! Encenação ou não, você chegou a trabalhar com ele, sabe que eu tenho razão.
O revirar dos olhos do mais velho foi a única resposta que recebeu.
- Seja como for. - Tornou a falar Shiryu retomando as atenções. - Isso é tudo que sabemos até então. Muito embora tenho certeza que muitos outros sucessos passaram desde que eu ingressei no mundo dos sonhos.
-...Suikyo havia me adiantado algumas coisas, ainda assim… - Colocou Seiya com pesar apertando os punhos no chão. -...E enquanto tudo isso acontecia, eu...
- Você convenceu o Imperador do Submundo a não desistir. - Impôs com firmeza o Ex-Grande Mestre colocando uma mão no ombro do irmão. - Essa foi a maior ajuda que você poderia nos prestar. Agora… - Seu olhar se voltou ao corpo inconsciente de Hyoga. - Você não teria mais uma dessas flechas do destino contigo, teria?
Sagitário negou com a cabeça.
- Não, segundo Hermes só existe mais uma, e nem ele sabe onde está...
- E você não está mais ouvindo-o em sua cabeça?
Uma nova negação.
- Devemos nos preocupar com você sendo possuído por ele e tentar nos matar num surto psicótico? - Perguntou Kanon cruzando os braços, recebendo um novo golpe. - O quê?! É uma preocupação válida!
Entretanto, a conversa foi interrompida quando um som viscoso e seco se escutou no corredor dos Sonhos, antes que o grupo do Santuário pudesse processar de onde este vinha, Aiacos se colocou entre os dois grupos, usando seu Escudo Lótus para impedir a visão deles.
-…Vocês não precisam ver isso. - Foi tudo que disse num tom de desculpas, e logo uma parede ilusória se formou atrás do juíz.
O sangue que escorria pelo chão aos seus pés era uma prova clara do que estava ocultando.
Do outro lado da divisória, o Senhor das Almas levava uma mão à têmpora, massageando-a como se pedisse paciência ao tempo que um a um órgãos esquartejados caíam de uma fenda negra aberta pelo próprio Imperador.
As tripas escorregaram de forma tétrica, ensopando-se nos líquidos estomacais, uma gota inclusive atingiu a gola de sua roupa já empapada de sangue quando os olhos, vivos e assustados, foram os penúltimos a cair sobre a poça mortal, seguida do coração pulsante.
O Senhor das Larvas respirou fundo, para logo lançar um olhar de advertência aos dois juízes à sua frente.
- Eu não quero mais nenhum ato dessa natureza de agora em diante, entenderam? - Impôs com severidade. - Não se esqueçam que foi a vingança que levou o Submundo a ruína em primeiro lugar.
E sem mais dizeres, estalou seus dedos da mão direita, fazendo com que todos os órgãos desmembrados começassem a formar uma torre, que começaram a ser revestidos de ossos que pareciam ser feitos da poeira do ar. Grotescamente tudo passou a ser revestido por uma camada de carne e músculos, momento em que a voz em franca agonia começou a ser ouvida, e a figura agora humanoide caiu de joelhos como se chorasse.
A ilusão poderia ocultar as imagens, mas não impedia os sons, fazendo todos do Santuário apenas encararem a muralha sem qualquer um tomar a atitude de perguntar a Aiacos o que realmente estava acontecendo.
Finalmente a pele começou a remendar-se lentamente, como se costurada por mãos invisíveis, para finalmente dar espaço para os pelos e cabelos crescessem. Revelando a figura curvada e em completo choque de Hefesto.
Sem palavras o Imperador tirou sua própria capa e ofereceu ao deus desnudo, que desorientado a agarrou com força, como se fosse uma tábua de salvação, tremendo ligeiramente. Embora decididamente não fosse pelo frio.
- He- Começou o Imperador caminhando na direção do outro deus, que ainda não parecia ouvi-lo realmente. Porém parou ao notar que pisava em alguma coisa.
Um órgão curvo e pequeno, vermelho intenso.
- Oh, sim, esse deve ser o baço, infelizmente eu não entendo tanto do corpo humano para localizar todo em seu devido lugar, uma pena. - Agachou-se, pegando o membro sem cerimônia e o analisando, conseguindo assim por fim chamar a atenção do ferreiro que o observava como se estivesse frente a própria morte.
Não estava tão errado.
- Não acho que você precisará disso, não é? Deixamos que Cérbero faça um melhor uso. Não queremos que ele venha atrás de você depois de se divertir tanto às suas custas, melhor deixá-lo com uma pequena distração. - E com seus dizeres, uma nova fenda surgiu, levando o órgão consigo.
Hefesto nada disse, guardando mortal silêncio, ao tempo que seu suposto tio o analisava com calma.
- Hefesto, meu caro sobrinho, creio que te devo um pedido de desculpas.
- Senhor...! - Tentou alegar Radamanthys inconformado, mas o mesmo imediatamente calou-se quando um gesto de mão de seu senhor pediu que aguardasse.
-...Há vinte anos, Shun de Virgem treinou para poder retirar a espada do submundo do peito do cavaleiro de Pégaso. - Decretou em alto tom, ao tempo que a barreira de Aiacos e as ilusões se desfaziam, dando vista clara a ambas as divindades. Ainda que assim fosse, não ergueu-se, mantendo-se ajoelhado perante a outra figura.
Seiya engoliu em seco, enquanto os demais membros do Santuário ouviam com toda a atenção.
- Entretanto, sem seu conhecimento Athena negociou a Espada do Submundo, um dos pilares que sustentavam o reino dos mortos, contigo, Hefesto. Em troca de sua ajuda para restaurar as armaduras de ouro perdidas na última Guerra Santa. - Então para choque do ferreiro, o Imperador estendeu sua mão, numa clara oferta de ajuda.
Mesmo completamente desconfiado e temeroso, aceitou o gesto, e embora tivesse quase o dobro do tamanho de seu suposto tio, este o ergueu sem qualquer dificuldade, estando agora ambos de pé.
- Sim… - Resolveu responder, engolindo em seco. -...F-foi o que aconteceu.
- Claro está que Athena não tinha autorização para fazer uma transação desse nível, entretanto, o espólio de guerra lhe pertencia. A Espada e o sangue de Hades. Se ela fosse tomada e manipulada por ti, o Submundo viria a baixo muito em breve, com todas as almas em seu interior. Sem embargo, você não se importava com isso, não é?
- Não. - Tremeu ligeiramente. - Não senhor… Não me importava.
- Maldito... - Resmungou Radamanthys, mesmo Minos parecia a ponto de praguejar, ao tempo que Aiacos só caminhava para o lado de seus irmãos em silêncio.
- Porém Hécate sim se preocupava, e então ela buscou o único que possuía o poder de lidar com o Submundo com a morte de Hades.
- Shun… - Completou Seiya sentindo seu coração pesar.
O imperador confirmou com a cabeça.
- O plano daquele cavaleiro era simples, mas engenhoso. No momento que tirasse a espada do peito de Pégaso, tiraria também a essência do Submundo, alojando-a em seu próprio braço, enquanto banharia a lâmina com o sangue de Hades que Athena havia negociado com Hécate. - Narrou, voltando a vista para seus supostos irmãos. Shiryu estava pálido, já Seiya parecia a beira das lágrimas por confirmar suspeitas que ele sempre teve. - Isso o mataria, sim, entretanto a espada que seria entregue possuiria um poder que jamais poderia ser tirada dela. O sangue divino. Enquanto a essência do mundo dos mortos estaria a salvo com aquele que por excelência se tornaria seu Imperador.
Então deixou de encarar seus irmãos e voltou-se novamente a Hefesto.
- Então sim, Hefesto, eu te devo desculpas em nome de Shun, Imperador do Submundo e Cavaleiro de Virgem, por ter te enganado, embora deva entender que ele apenas tomou para si a herança que de fato lhe pertencia.
O ferreiro abriu a boca para argumentar, mas logo tornou a fechá-la, entretanto, nada o preparou para as palavras seguintes do outro deus.
- Mas isso não muda o fato de que a Espada do Submundo por direito lhe pertence. - Com isso ergueu a mão para o alto e de outra fenda negra caiu a lâmina tão obscura quanto, que pousou graciosamente na mão erguida de seu invocador.
- Senhor. - Dessa vez foi a vez de Minos interceder. - O senhor Shun devolveu o poder que estava em seu corpo para a Espada, se o senhor a entregá-la nesse estado, o Submundo...
- Eu sei Minos. Sem embargo, trato é trato. - Declarou com simpleza, erguendo a lâmina com ambas as mãos na direção do deus que o encarava incrédulo, numa pose muito parecida a que Shun lhe entregou a mesma arma há vinte anos. - A Espada o pertence, isso é fato. O que fazer com ela é de sua escolha.
Todos observavam atônitos, mesmo Aiacos parecia aflito a essa altura, todos se perguntando quais eram as reais intenções do Imperador.
Apenas entregaria a espada? A mesma que Shun morreu para proteger?
Pensando assim Seiya já se erguia para interceder, sem se importar que fosse essa mesma lâmina a que o prendeu numa cadeira de rodas por três meses, além de quase o matar. Entretanto Shiryu logo o parou.
-...Espere, há algo de errado nela.
Hefesto também parecia ter notado, pois mesmo hesitante estendeu as mãos para tomá-la, notando-a rachada, e ao aproximá-la mais de si, a rachadura se intensificou de uma ponta a outra.
E assim frente a todos, a lâmina se partiu em duas, caindo no chão com um baque surdo.
- O que… - Começou o deus da forja. - Isso significa?! É um novo truque?!
- Isso simboliza o que sua esposa fez ao Submundo. - Declarou o Imperador tornando a agachar-se, analisando os pedaços. - Só restou sua carcaça. O que significa o mesmo dizer que um pilar segura um punhado de areia. - Ao tentar tomá-la novamente, esta se desfez ainda mais, até se converter em pó, um pó negro e espesso que seguiu permeando a mão de seu invocador.
Sem que mais nenhuma palavra fosse dita, uma nova fenda se abriu sobre o Senhor das Almas, dessa vez dando passagem a correntes escurecidas.
-...Essas correntes… - Hefesto observou com descrença. - …Não é possível!
Os elos entrelaçados giraram em volta de quem as chamou como se da Defesa Circular se tratasse, para logo se partir em duas e envolver ambos os braços do Imperador como se fossem serpentes.
- Sim, a Espada do Submundo te pertence.
Por fim, o Imperador ergueu-se, e o pó que antes circulava sua mão envolveu a ponta das duas correntes, gerando duas foices e suas hastes.
- Acontece Hefesto. - Disse sorrindo, voltando-se com altanaria para outro deus. - Que isso não me parece mais uma espada. Então o acordo está anulado.
-.-.-
- Essa arma combina mais com você. - Seiya não pôde deixar de dizer coçando a nuca sem graça, mantendo uma distância respeitosa do Imperador.
- Obrigado. - Este disse enquanto ainda girava os pulsos observando a sua nova arma, ao fundo, Minos com prazer usava suas linhas para amarrar Hefesto. - Também acho que elas funcionam melhor com o novo eu.
- O que será feito de Hefesto? - Questionou por sua vez Shiryu notando a expressão derrotada do deus. - Ele será enviado para o Tártaro ou algo assim?
Nenhum dos dois irmãos deixou de notar que com a menção da prisão do Submundo, o Sagitário tremeu visivelmente, mas os dois se abstiveram de comentar por hora.
- Ah não, no fim ele é só um pobre coitado enganado pela própria cobiça e por Aphrodite. Minha intenção é levá-lo até Hera, minha irmã sempre foi muito criativa quando se trata de castigos, saberá lidar com ele.
O deus encolheu-se ainda mais em sua figura com essas palavras, o que encurvava ainda mais seu irregular corpo.
- Agora. - A expressão da divindade tornou-se pesarosa. - Vocês tiveram alguma sorte com Hyoga?
- Não, a alma dele parece realmente estar selada. - Contestou Shiryu. O trio estava frente ao terceiro irmão deles, enquanto Saga e Kanon se mantinham mais atrás, e os juízes lidavam com Hefesto, apenas para o caso. - Eu tinha esperança de você, como o Senhor das Almas, conseguisse desfazer o selo.
- Não é assim tão fácil. - Ponderou levando uma mão ao queixo, com o movimento levando consigo o som do chacoalhar metálico. - Mesmo essa distância eu posso dizer que não é apenas sua alma que está selada, na verdade ela está presa em algum lugar do espaço-tempo.
Todavia, contra todo o prognóstico isso fez o Imperador sorrir.
- Eu sozinho não conseguiria, mas se eu tivesse ajuda de um habilidoso deus do tempo...
- Acha mesmo que Chronos nos ajudaria depois de tudo? - Perguntou Seiya descrente cruzando os braços. - Ou mesmo que conseguiríamos convencê-lo a devolver esse idiota?
O sorriso do Imperador se alargou.
- Eu não estava falando de Chronos.
Seiya sequer teve tempo de perguntar ao que se referia quando uma pequena risada soou no horizonte.
"Ora meu senhor, assim você me deixa constrangido."
- Eu sabia que esse idiota estava aqui em algum lugar. - Resmungou Radamanthys dando um último chute na costela do ferreiro antes de voltar às costas de seu senhor junto com seus irmãos.
- Essa voz… - O sagitariano não pôde deixar de notar com assombro. - É a mesma que esteve me ajudando quando eu estava falando com você… Quem...?
E antes que sua pergunta fosse feita, uma figura alta de cabelos castanhos bagunçados e intensos olhos vermelhos fez ato de presença, curvando-se exageradamente ao tempo que tirava uma cartola de sua cabeça.
Sua figura era translúcida, entretanto o seu sorriso não era minimamente menor por causa disso.
- Mas esse é Kairos...! - Espantou-se Seiya, mesmo Kanon e Saga entraram em posição de batalha, enquanto Shiryu observava curioso.
- Quem seria esse? - Questionou.
- Kairos chegou o momento de eu cumprir a nossa parte do trato. - Disse o Senhor dos Mortos erguendo a mão como se convidasse o mais velho para uma dança. - Mas antes de nosso derradeiro ato, eu preciso de sua ajuda uma vez mais.
- Nada me deixa tão feliz quanto ter um coração que não se esquece de seus amigos! - Decretou sorridente aprofundando ainda mais a sua reverência, em meio ao seu teatral ato lançando um olhar lateral ao seu suposto filho. - Tudo que um ator mais deseja em sua vida é encontrar-lhe um palco que comporte mais que seu corpo, sua alma e seu espírito.
Dessa forma sua figura se desfez novamente deixando para trás simplesmente um fogo fátuo sobre uma velha cartola.
O antigo chapéu o Imperador ofereceu a Pégaso, que observou relutante, mas aceitou.
Por outro lado, para o choque de todos os presentes a alma que descansava em sua mão o Senhor dos Mortos levou lentamente para os lábios e a devorou de um único gole.
-...Meu senhor, isso… - Tentou falar Aiacos preocupado.
- Sim, eu sei. Levar a alma de dois deuses em um único corpo é algo impensável, mas não se preocupem, eu já estou acostumado.
Sem mais explicações a divindade humana então ajoelhou-se frente ao seu irmão mortal, esticando a mão na direção de seu coração, assim começando a girar seu pulso em sentido anti-horário como se ajeitasse as engrenagens de um relógio, ao tempo que seus olhos brilhavam em um misto de vermelho vivo e amarelo vibrante.
A cosmo energia era tal que todos os presentes precisaram se afastar alguns passos. Minos levou a mão impressionado ao sentir o suor em seu rosto subindo por sua face, até retroceder para sua pele. Todos que haviam tentado se afastar voltaram a dar um passo à frente incapaz de controlar seus próprios corpos.
Era como estar preso em um baladar do relógio. Um segundo e outro.
O Imperador por sua vez exibia uma expressão de dor em sua face pálida. Sua mão começando a tremer compulsivamente, e uma sensação excruciante que não sentia desde que havia tomado a energia da Espada do Submundo assumia novamente seu braço. Ainda que assim fosse, manteve-se no que fazia, sem desviar o olhar do seu objetivo. Um cosmo magenta tomando toda a sua mão, como uma espécie de luva sem dedos.
Sem o mínimo de cuidado, Radamanthys colocou Hefesto na frente do grupo como para servir de escudo. Aiacos estava a ponto de invocar novamente seu escudo, quando toda emanação repentinamente se desfez como se nunca tivesse existido, deixando para trás apenas...
- SHUN! SUA MÃO!
O grito desesperado de Seiya chamou a atenção de todos os demais, que observaram com níveis diferentes de horror como a mão que antes praticamente encostava no coração de aquário, agora não passava de ossos, com restos de carne, músculos e sangue que pingava entre os joelhos do Imperador.
- Como eu imaginei.... - Comentou em tom quase desinteressado, observando os seus próprios ossos como se não fossem nada demais. - A Morte e o Tempo são energias realmente opostas. Kairos possui um poder verdadeiramente fascinante. Não se preocupem. - Logo emendou ao ver a expressão horrorizada de seus servos e como se aproximavam preocupados de si. - Meu corpo foi preparado nos últimos vinte anos para esse tipo de... Contratempo.
- Chama isso de contratempo?! - Questionou o ex-Pégaso com nojo, parecendo ao ponto de vomitar.
O Senhor das Larvas apenas sorriu, erguendo o seu membro perdido, do qual, a igual que Hefesto ou alguns minutos atrás, a carne começou aos poucos voltar a envolver os ossos, para logo ser emendado pela sua pele, como se nada tivesse acontecido.
-...Todos os deuses conseguem fazer esse tipo de coisa...? - Não pôde deixar de questionar Kanon entre enojado e impressionado.
- Depende do deus, porém a maioria não é tão veloz. - Disse erguendo-se para então voltar aos Três Juízes do Submundo. - Perdão, será muito para explicar se vocês ainda estiverem por aqui. Radamanthys, Minos, Vocês poderiam voltar ao castelo Heisteim na minha frente? E os alcançarei assim que puder. Quanto a você Aiacos se quiser retornar aos seus amigos...
O mais velho do trio negou com a cabeça.
- Eu agradeço, meu senhor. Eu estou verdadeiramente muito preocupado com os meus companheiros e os meus Mestres, no entanto, não posso deixá-lo em um momento como esse. Não quando o senhor está prestes a se revelar frente ao resto do Olimpo.
Com seus dizeres, o cavaleiro de prata lançou um olhar claramente de desculpas para o Ex-Grande Mestre, que apenas negou com a cabeça.
- Está tudo bem Suikyo, você deve estar onde seu coração diz para estar. - Acalmou o chinês batendo suavemente nas costas daquele jovem que pôde assistir crescer. - Essa foi a lição mais importante que Dohko lhe ensinou, não é?
O juiz confirmou com a cabeça, parecendo prestes a se emocionar, mas suportando seus medos frente às seguintes palavras daquele que considera como um pai mais.
- Não se preocupe, isso não será um adeus. Nos veremos no Santuário.
- Sim, senhor. - Concordou com uma reverência mais suave a que havia feito ao seu senhor, entretanto, ainda assim bastante respeitosa.
Algo que fez seus irmãos lhe lançarem olhares desgostosos, ainda assim nada comentaram, fazendo um último sinal ao seu imperador, antes de desaparecerem por um portal que seu senhor abriu para permitir-lhes passar, arrastando Hefesto atrás de si.
-...Eu acho melhor também mudar de forma... - Considerou encarando as próprias mãos ainda sujas de sangue. - Eu não quero que ele se assuste ao ver a minha aparência. - Sem mais o Imperador fechou seus olhos e frente aos membros do Santuário e começou a mudar, mais exatamente voltar a como era antes. Seus cabelos se tornaram verdosos, sua pele um pouco mais colorida, e seus olhos voltaram a ter o brilho esmeraldino de antes. -...Então...? - Questionou voltando se aos outros dois. - Eu me pareço com Shun…?
Não houve tempo realmente para a resposta, pois com gemido de dor Hyoga lentamente começou a abrir os olhos, para logo tornar a fechá-los, como se inundado por uma terrível dor de cabeça, como se a luz, mesmo do mundo dos sonhos fosse difícil para ele assimilar.
Shiryu não pode deixar de esconder um sorriso, quando o Imperador, minutos antes tão seguro de si mesmo, imediatamente se escondeu atrás de si assim que o aquariano deu as primeiras palavras.
-...O quê...? - Disse confuso, levando a mão à cabeça. - Onde eu estou...?
Sua expressão imediatamente se franziu ao perceber que Seiya estava com ele.
- Por que você está vestindo uma cartola? Qual a idiotice que você está planejando agora?
O mencionado frente a ofensa bufou cruzando os braços.
- Vocês têm certeza que ele estava sendo controlado por Chronos? Sinceramente não vejo nenhuma diferença.
- Controlado por Chronos? - Repetiu confuso encarando agora Shiryu. - Do que ele está falando, Grande Mestre...?
O chinês por sua vez suspirou frente ao pouco Tato de seu irmãozinho.
- Eu queria te dizer isso de uma outra forma, Hyoga, mas ironicamente não temos tempo. - Explicou o libriano com seriedade. - Você foi possuído por Chronos, o deus do tempo, não sabemos exatamente desde quando. Só conseguimos entrar em contato com você agora através do mundo dos sonhos.
- ... - Não disse nada, baixando sua cabeça, como se doesse muito mantê-la erguida.
- Qual é a última coisa que você se lembra...?
- Eu não sei, eu tenho impressão de ter acordado de um longo, longo sono...
- Talvez seja mais produtivo perguntarmos para ele sobre grandes eventos que aconteceram nos últimos anos. - Sugeriu Kanon mas atrás do grupo. -...Por exemplo, você lembra da nossa ressurreição?
- Quem é você...? - Questionou confuso
-...Ah sim, nossa aparência não está como deveria estar. - Lembrou-se tardiamente com um bufo. - Talvez seja mais produtivo perguntar se lembra da morte de Shun.
Imediatamente a expressão do aquariano se azedou.
- Como se algum dia eu pudesse esquecer... - Começou com claro rancor em suas palavras. - Como a mestra desse imbecil matou nosso irmão e saiu impune por isso.
- Retire imediatamente o que você disse sobre a Marin! Eu venho te dizendo nos últimos vinte anos que a culpa não é dela e agora eu tenho provas! - Exclamou Sagitário furioso. - Se alguém é culpado da morte dele sou eu, não ela!
- Espera… Vinte anos...?! - Repetiu Hyoga em choque.
Entretanto o russo não teve tempo para assimilar o que o outro havia dito, pois no minuto seguinte Seiya, sem qualquer decoro, deixando-se levar pela raiva, simplesmente pegou Shun pela manga para que o outro pudesse vê-lo.
- Vamos Shun! Diga para ele que a culpa não é da Marin!
O mencionado congelou, só não estava mais em choque do que Hyoga, que observava com a expressão completamente descrente, como se não pudesse acreditar no que seus próprios viam.
- Isso é... - Começou, sua voz falhando. - Não é possível...!
- Aaah… - Começou o Imperador amaldiçoando Pégaso internamente pelo pouco tato. -...Hyoga eu sei que você tem muitas perguntas, e que provavelmente você deve estar com muita raiva de mim por ter desaparecido por tanto tempo... Mas eu juro que eu posso ex-
Suas palavras simplesmente morreram em sua boca, pois sem precisar de explicações, sem precisar de mais palavras, mesmo que mal se sustentando sob seus próprios pés, Hyoga ergueu-se e imediatamente puxou o virginiano num forte e sufocante abraço deixando o senhor dos mortos sem qualquer reação.
-...Shun você… - Dizia entre lágrimas, o pranto embargando suas palavras. -...Você está vivo...!
E sem conseguir se conter, seus próprios sentimentos entrando em ebulição dentro de si, retribuiu o abraço daquele que deveria ser seu irmão mais frio, permitindo-se chorar em seu ombro.
Como não faziam desde o tempo deixar de correr, para ambos...
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