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História Guerra e Paz - Capítulo VIII - A voz da alma - - História escrita por KimonohiTsuki - Spirit Fanfics e Histórias
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História Guerra e Paz - Capítulo VIII - A voz da alma -


Escrita por: KimonohiTsuki e JonhJason

Notas do Autor


Betado por: JonhJason & Rêh-chan

Capítulo 9 - Capítulo VIII - A voz da alma -


Fanfic / Fanfiction Guerra e Paz - Capítulo VIII - A voz da alma -

Capítulo VIII - A voz da alma -

June caminhava a passo lento em direção ao santuário, fazia quase vinte anos que não pisava nesse lugar, e não pôde deixar de ficar surpresa com toda a movimentação que encontrou. O cenário desolado do pós-guerra tinha sido substituído por um ambiente vívido e pulsante. Conforme avançava pelas terras sagradas da deusa, aqui e ali via aprendizes correndo e conversando uns com os outros, tudo parecia muito animado.

As duas décadas de paz foram suficiente para trazer uma sensação de leveza e tranquilidade que pareciam impares àquelas terras que viram tantas mortes e sangue a macular seus terrenos.

  E a experiência da visita se fazia ainda mais surreal quando pensava na roupa que vestia.

Uma calça social negra de corte reto e uma blusa branca de longas mangas de botão. Já não levava sua máscara, tendo recebido da própria Athena a dispensa de sua função de Amazona, portanto, levava uma maquiagem muito suave e o cabelo preso em rabo de cavalo.

No começo do mês passado o Grande Mestre havia anunciado que, com a chegada da primavera, seria realizada a sucessão do próximo cavaleiro de ouro de peixes.

O sucessor tinha apenas dezessete anos, mas ninguém realmente duvidada de sua incrível capacidade, seu manejo das rosas diabólicas e de incontáveis tipos diferentes de venenos e antídotos era realmente assustador. June não tinha conhecido o jovem cavaleiro ainda, ele tinha nascido depois que ela deixou para trás seu dever como Amazona para ajudar sua deusa na administração da empresa Kido.

A função de cuidar de todo um santuário e ainda de uma enorme companhia era um labor muito grande até mesmo para a deusa da estratégia, por isso há duas décadas ela e Tatsumi, seu mordomo pessoal, se responsabilizavam pelos negócios Kido.

Foi uma grande surpresa quando Saori ofereceu o cargo à amazona, dizendo que confiava em sua capacidade, ainda mais depois de administrar toda a ilha de Andrômeda sozinha por quatro anos, desde que o mestre Daidalos foi assassinado. Ela teve até mesmo todo o apoio da divindade para que obtivesse todos os estudos e preparação adequada. Agora, estando quase com seus quarenta anos, ela era uma respeitada profissional do mundo empresarial.

Tinha se tornado muito próxima da deusa nessas últimas décadas, chegava a ser difícil vê-la como divindade depois de tanto tempo, até mesmo o cosmo dela parecia ter enfraquecido com o passar dos anos.

Finalmente seus pés a levaram ao seu objetivo. Levantou a vista para encontrar-se com um enorme campo verde, onde rochas se erguiam por todas as partes.

As lápides dos cavaleiros do passado. Respirou fundo, preparando-se para o que ia fazer e entrou no território.

Observou com admiração cada uma das pedras rústicas e os nomes gravados com respeito, até parar de frente a uma rocha que apesar da idade seguia brilhante, além de tudo ao seu redor estar cercado de flores das mais diversas cores, como um Elísios particular. Ajoelhou-se, encarando com pesar os dizeres da pedra.

Kido Shun

Ouro

Cavaleiro de Virgem

Tocou com sumo carinho a lápide fria, circulando cada letra com a ponta dos dedos.

- Eu não trouxe flores. - Começou simplesmente, sem deixar suas carícias. - Mesmo que seu corpo estivesse de fato enterrado aqui, a terra gélida não conteria sua alma.

Fechou os olhos, respirando fundo o suave aroma floral.

- É estranho... Mas às vezes eu sinto que você nunca partiu de verdade. Sempre que eu sinto sua falta, sonho contigo... E tudo parece tão real, às vezes quase tenho a impressão de que posso tocar seu rosto, sentir seu cheiro de romã... - Lágrimas começaram a se formar em sua face - Eu queria poder ter dito o quanto te amava Shun, queria poder ter te beijado mais além daquela vez quando começou seu treinamento como dourado, queria estar ao seu lado e aproveitar essa paz que você tanto ansiou viver... - Os soluços tomaram seu corpo, fazendo-a tremer ligeiramente. - Te ver apenas em sonhos não é suficiente...

Levou longos minutos para sua respiração se acalmar, mas sua alma parecia que nunca voltaria a ser inteira novamente, como se uma parte dela tivesse morrido junto com o cavaleiro de ouro. Lembrava com perfeição como os seis meses após seu falecimento haviam sido os mais sombrios de sua vida, como chegou até mesmo a desejar abraçar a morte por si mesma apenas para vê-lo novamente, mas algo sempre a impedia disso, como uma voz sussurrando a sua alma, a instigando a viver e esperar.

O que havia de se esperar da vida se o seu grande amor estava morto?

E mesmo assim, ali estava. Vivendo uma vida estável, que muitos matariam para ter, enquanto ela desejava apenas matar essa saudade que carcomia seu peito como uma larva devora um cadáver.

- Com licença?

Uma voz melodiosa masculina chamou sua atenção. Virou-se ainda de joelhos para encontrar um jovem alto e completamente sujo de terra, usando uma roupa de treinamento grega bege. Em suas mãos levava várias flores ensacadas, provavelmente estava indo plantá-las em algum lugar. Não era possível ver seu rosto por trás dos ramos e pétalas.

-...Eu sinto muito, mas civis não deveriam entrar no santuário, mesmo no nosso cemitério. – Disse em tom polido e suave.

- Eu não diria que sou exatamente uma civil. – Sorriu, limpando o rosto antes que esse estranho visse suas lágrimas. – Estou aqui a serviço de Athena, creio que nunca nos vimos antes... Meu nome é June, costumava ser a Amazona de bronze de Camaleão.

Levantou-se e estendeu a mão para cumprimentar o homem. Mesmo que levasse várias flores, elas estavam folgadas em suas duas mãos, possibilitando-o de deslocá-las apenas para uma delas e ser capaz de responder o cumprimento.

Mas o jovem não o fez.

-... June... - Meditou, ignorando a mão estendida para sua pessoa, mesmo que estivesse olhando para ela por meio dos ramos. – Sim, creio que ouvi algo sobre isso do Grande Mestre. Contudo, Soleil não deveria estar com a senhorita? Creio que ele foi designado para te encaminhar pelas doze casas.

- Bem... Sim, ele foi. – Respondeu abaixando sua mão sem graça, seja quem fosse esse rapaz, não parecia muito sociável. - Mas eu não senti nenhuma cosmo energia me esperando na entrada do santuário, então acabei vindo até aqui por minha conta.

- Isso é fácil de explicar. Soleil nunca despertou seu cosmo. – Colocou taxativo. – Mesmo tendo sido criado por um antigo cavaleiro de ouro, sua energia nunca foi elevada sequer o suficiente para criar uma aura. Você não seria capaz de senti-lo.

-...Como? – Surpreendeu-se. – O que uma pessoa assim faria no Santuário?

- Apesar de dizer isso eu mal consigo sentir sua aura também. Por isso te confundi com uma civil.

- Talvez eu esteja um pouco enferrujada. Já faz duas décadas que abandonei meu posto de amazona.

O rapaz não respondeu a essa colocação, algo dizia à jovem que ele não era muito de interagir com outras pessoas, se a forma categórica e fria de falar não fosse algum sinal, ou quem sabe apenas fosse tímido.

- A senhorita cheira a flores. – Colocou repentinamente em seu tom monótono.

- Hãaa – Isso a pegou desprevenida – Obrigada!

- Não foi um elogio. Foi uma constatação. – June piscou, sem saber como responder a isso. – Não pise nas flores enquanto estiver aqui. Eu avisarei Soleil para encontrar a senhorita aqui por telepatia.

- Hmm... Eu agradeço. - Dizia levemente contrariada pela arrogância do jovem.

Ele fez um suave cumprimento com a cabeça, antes de acrescentar.

- O cavaleiro de aquário às vezes toma rosas da casa de peixes para trazer a esta tumba que a senhorita está ajoelhada, por favor, tome cuidado, ele faz questão de deixar seus espinhos.

Sem esperar resposta, o homem deu as costas à June, revelando seus longos e estranhamente familiares cabelos azuis claros, completamente sujos de terra. Deixando a amazona confusa sobre a personalidade do rapaz, que variava da arrogância ao zelo.

Logo que foi deixada sozinha novamente, lançou um novo olhar ao túmulo para perceber que, de fato, haviam rosas que cercavam a pedra. Contudo, provavelmente seu veneno ao menos devia ter sido extraído, já que havia permanecido um bom tempo ao lado das flores sem sentir qualquer sintoma.  

- Hyoga também deve sentir muito a sua falta... – Voltou a conversar com o túmulo. – Afinal, você era seu melhor amigo.

Do pouco que conhecia o cavaleiro de aquário, imaginava que ele devia visitar o túmulo com certa frequência, o bom estado das flores era prova disso. Enquanto esperava a chegada de seu guia, deu alguns passos para ver o túmulo ao lado, no qual também não havia corpo enterrado, era meramente um ato simbólico. Na pedra se lia:

Kido Ikki

Bronze

Cavaleiro de Fênix

- Por onde você andara Ikki... – Perguntou aos ventos. Nunca pôde conhecer o irmão de Shun devidamente, apenas tinha escutado histórias sobre ele e sua difícil personalidade. Ninguém nunca mais o viu depois da morte do recém-cavaleiro de Virgem, sua armadura voltou ao santuário no dia seguinte, numa mensagem clara de deserção.

Um ato desses, por leis antigas, deveria ser punido com a morte, contudo, dada as circunstancias, Athena decidiu sepultar simbolicamente a figura do valeiro, para que o homem pudesse viver seu luto em paz sem ser perseguido por traição.

Um boato circulava pelas terras da deusa dizendo que o cavaleiro que herdaria a armadura de leão acabou suicidando-se para seguir seu irmão na morte, como o cosmo de Fênix não era sentido há anos, muitos assumiam que esta era a verdade. June não sabia o que pensar, em sonhos já havia perguntado ao Shun de seus devaneios sobre Ikki, por mais inútil que isso fosse, e a resposta que obteve foi simplesmente “Ele está de volta aonde pertence”. Mesmo que fosse um sonho criado por sua própria cabeça, nunca entendeu completamente essa frase.

Foi tirada de seu devaneio quando ouviu passos apressados e uma voz arfante às suas costas.

- Com licença senhora June.  – Parou à sua frente um rapaz que devia recém chegar aos seus vinte anos, possuía um belo rosto, cabelos brancos e meio lisos até seus ombros, além de intensos olhos arroxeados. – Creio que acabamos nos desencontrando.

Apesar de estar cansado e provavelmente ter vindo correndo, controlava como podia sua respiração arfante para falar todas as palavras com claridade. A ex-amazona, porém, teve que se esforçar para ouvir o que era dito, pois o rapaz falava em pouco mais que um sussurro.

Seus olhares se encontraram e por um instante o rapaz pareceu confuso.

- Me perdoe senhorita... Mas eu já a conheci antes? – Questionou em sua voz baixa e polida.

- Creio que não, há muito tempo que não venho ao santuário.

- Nem pela vila de Rodorio? – Seguiu intrigado.

June piscou, observando melhor o homem que levava apenas uma toga grega simples e branca, tentando recordar se alguma vez o havia encontrado antes. Mas nada vinha à sua mente.

- Não, eu estive no Japão pelos últimos vinte anos.

Apesar de parecer de alguma forma contrariado com esta informação, o jovem fez um cumprimento exagerado de respeito, como se estivesse frente à própria Athena para logo se apresentar.

- Eu sou Soleil Sintès, e serei seu guia enquanto estiver por aqui. Eu sou uma espécie de mensageiro do santuário. Mademoiselle, não hesite em pedir-me se precisar de algo.

-.-.-.-.-.-

O mestre do Santuário estava tenso. Enquanto andava de um lado para o outro pelo grande salão de mármore cercado de pilastras gregas, aos poucos sentia o cosmo de cada um dos cavaleiros e aprendizes espalhados pelo mundo voltando às terras de Athena para participarem da cerimônia de nomeação do novo cavaleiro de peixes. Ou ao menos isso era o que acreditavam.

Há um mês, em sua visita tradicional a Star Hill para conhecer o que as estrelas têm a dizer sobre o futuro, suas interpretações levaram a uma conclusão que era no mínimo desconsoladora.

"Uma nova Guerra Santa aconteceria, para tanto, todos deveriam ser reunidos, mesmo os mais distantes".

O cosmos estava agitado e tempestuoso. A constelação de Camaleão parecia pulsar com antecipação, ao mesmo compasso que as estrelas que formam Peixes. Ao seu lado Pégaso seguia impaciente e Andrômeda voltava a mostrar seu brilho, mesmo que tímido. Aquário andava tormentosa e imprevisível, ao tempo que Virgem mantinha sua serenidade sublime.

As estrelas brilhavam com afinco, ao seu modo mesmo as constelações que ainda não possuíam um cavaleiro que lutasse por elas, faziam o possível para se mostrar presentes, como se dissessem que a união era a única forma de vencer os novos conflitos.

A única que fugia a essa expressão cósmica era Escorpião, mesmo Antares, conhecida por ser uma das estrelas mais brilhantes, parecia vacilar como se temesse um futuro próximo.

- Grande Mestre. – Uma voz conhecida chamou sua atenção por trás da enorme porta de carvalho.

- Entre. – Anunciou suave parando sua interminável caminhada.

Dada a permissão, um homem alto entrou no recinto, cabelos ruivos volumosos presos num rabo de cavalo baixo que chegavam à sua cintura, expressão serena sobre sua pele levemente morena, olhos arroxeados da mesma cor que as circunferências que eram suas sobrancelhas. Trajava a armadura de Áries, e ao estar de frente ao mestre, ajoelhou-se com uma das pernas em respeito, fazendo a capa branca que cobria suas costas roçar sutilmente o chão.

- Grande Mestre, venho informar que a antiga amazona de Camaleão já se encontra no santuário. - Recitou em seu tom polido - O cavaleiro de Leão chegou pela manhã com aos primeiros raios de sol, o de Taça recém comunicou-me que retornará com seus mestres até o fim deste mês, o aprendiz de Virgem e seu mestre chegarão três dias antes da cerimônia.   

- Muito bem. – Agradeceu e logo sorriu, retirando o capacete dourado que cobria seu rosto, fazendo seus longos cabelos negros caírem com leveza sobre seus ombros. – Mas não há razão de ser tão formal comigo quando estamos apenas nósl Kiki. Assim você me faz sentir um ancião.

O ariano, apesar de já passado de seus trinta anos, não havia perdido sua graça infantil, riu suavemente enquanto se levantava.

- Então Shiryu, me permita dizer que se você continuar andando assim pelo salão acabará abrindo um buraco no chão. – Alegou em tom brincalhão.

- Como você sabia? –Surpreendeu-se, havia parado sua caminhada assim que o outro chegou.

- Há marcas de seu sapato pelo chão. – Concluiu com graça.

O antigo cavaleiro de Dragão e Libra suspirou, nunca realmente procurou um modo para recuperar sua visão, isso há muito já não o incomodava mais, porém, esses eram um dos poucos momentos que a falta deste sentido o traía.

- Eu simplesmente não posso deixar de me preocupar. – Não hesitou em extravasar suas preocupações, viver ao lado do ariano no santuário por tantos anos, fez a amizade já existente nos dois se tornar cada vez maior, eram mais que companheiros de armas, eram irmãos e confidentes. Kiki havia se tornado seu braço direito. – Agora faltam apenas dois meses para o inicio da primavera, e eu sinto o perigo cada vez mais próximo.

- Meu caro amigo Shiryuu, a calma sempre foi a característica que melhor te resumiu. – Acabou com a distancia que os separavam, colocando uma das mãos sobre o ombro do Grande Mestre. – Ela, junto a sua paciência e sabedoria, guiou nosso santuário por essas duas décadas de paz. Agora somos em oitenta e três cavaleiros e ainda há aprendizes correndo por toda a terra de Athena. Ouso dizer que há muito nossa deusa não via época tão próspera.

- Exatamente isso temo... - Suspirou sentindo o cosmo suave reconfortá-lo. - Tantos anos de paz podem enfraquecer o espírito guerreiro.

- Você teme a paz? – Ponderou suavemente. - Em tempos de paz, os filhos sepultam os pais; em tempo de guerra, os pais sepultam os filhos.  Temos os dois lados presentes no santuário agora, tenho plena confiança que pais e filhos farão o impossível para proteger a tranquilidade que todos construímos. Não viveremos novamente um luto avassalador, pois dessa vez lutaremos todos juntos por um único propósito.

Então, seu rosto assumiu um tom de melancolia.

- Uma vez... Shun me disse que a paz é a expressão da verdadeira força. Ele era um de nossos irmãos mais fortes e também dos mais sensatos. Por isso, mesmo que ele não esteja mais entre nós, quero continuar acreditando em suas palavras.

O mestre abriu um grande sorriso, lembrando-se do dia que Shun havia dito aquelas palavras, naqueles dias frios, contudo, cheios de esperança, em que acreditavam que poderiam construir juntos um futuro de paz. Não permitiria que os votos de seu falecido amigo fossem destruídos.

- Sabe Kiki. – Recomeçou em tom divertido, sentindo-se muito mais tranquilo. – Você acabou se tornando um homem muito sábio. Muh, sem dúvidas, está orgulhoso.

- Oras! Falando assim eu que me sinto um ancião! – Ambos riram, apertando as mãos num forte cumprimento. – Agora amigo, tenho que iniciar rapidamente minha descida de volta a casa de Áries, caso queira recepcionar June lá antes que Soleil a traga aqui. Você sabe como é, as desvantagens de proteger a primeira casa do Zodíaco!

E com grande satisfação ao ver o sorriso voltar a Shiryu, soltou sua mão e fez um último cumprimento de respeito com a cabeça, que foi retribuído, antes de se adiantar à saída do salão e às escadarias das doze casas.

-.-.-.-.-.-

“...Pare de se preocupar tanto, lembre-se que partilhamos os mesmos sentimentos...”

Dividir o corpo com alguém que já foi humano possuía suas inúmeras desvantagens. Shun ignorou Hades, deitado sobre o campo infinito de sua subconsciência, o local para o qual sempre fugia quando o dever divino o carcomia. As flores e o gramado seguiam belas, porém era possível ver que parte da vegetação estava seca e amarelada, expondo o que havia se deteriorado na alma pura.

O antigo deus encarou seu sucessor com um deixe de irritação, ser ignorado pelo único ser que podia te ouvir era particularmente desesperante. Esse garoto tinha a irritante mania de se preocupar com tudo e todos a cada momento. Em muitos quesitos para Hades, seguia sendo uma criança, não que soubesse por ele mesmo como era ser um miúdo, seus primeiros anos foram passados dentro de estômago de seu pai.

Comparado com aquela prisão que viveu junto a seus irmãos até que Zeus os libertou, conviver neste plano com um filhote era quase agradável. De todos os modos, nessas duas décadas havia aprendido a lidar com o ex cavaleiro.

“...Todas as cordas estão amarradas agora, e tu és aquele que detém o tear...– Entoou, vendo a expressão contrariada do jovem deus “...A paz nunca foi escrita com tinta branca Shun, e sempre haverá aqueles que deverão sujar suas mãos para consegui-la...”

-...Eles me odiarão quando descobrirem o que fiz. -  Resmungou Shun com olhar perdido, falando pela primeira vez.

“...Sim, tens que estar preparado para isso, não te mentirei...” - Voltou seu olhar safira para os esmeraldas do outro. - “...Mas tens a Kagaho e seu mestre ao seu lado... O primeiro, aproveitando a menção, saiu do Submundo assim que tu recebeste a visita de Hécate, há um mês.  Eu apostaria a vida que não possuo que ele está se esgueirando pelo santuário de Athena...”

O antigo cavaleiro de Athena suspirou cansado.

- Não seria a primeira vez... Não importa quantas vezes eu o diga que já tenho olhos no santuário.

“...Teimosia, aparentemente, não é algo que pode ser solucionado mesmo após uma reencarnação...”

Shun sorriu, muito sutilmente.

- Parece que finalmente há algo em que somos capazes de concordar, Hades.

-.-.-.-.-.-

Ikki, utilizando-se de uma capa marrom que chegava aos seus pés, seguia por sua ronda pelas terras próximas ao santuário, ouvindo conversas e filtrando informações. Há um mês não retornava ao Submundo e Shun sequer havia o contatado. Isso não o surpreendia, seu irmão sempre fez questão de manter seu espírito livre, mesmo que isso pudesse causar-lhe algumas dores de cabeça.

Mesmo que o jovem deus dissesse que sabia em primeira mão o que acontecia nas terras de Athena, Benu não podia conter-se de ver por si mesmo como seus antigos companheiros se preparavam para a batalha iminente.

Infiltrar-se e passar despercebido por Rodorio não era difícil para um agente da morte, um espectro. Para muitos, seria apenas uma sombra, um vento frio que passava. Sempre tomou cuidado para não aproximar-se demais das terras da deusa, mesmo que suprimisse sua presença ao máximo, seria um erro subestimar os cavaleiros, principalmente os de ouro. Mas não pôde evadir sua curiosidade quando avistou a antiga amazona de Camaleão caminhando pelo vilarejo. Reconheceu-a de imediato; praticamente não havia envelhecido. Seguiu-a quase sem dificuldade, analisando surpreso a figura completamente civil que ela aparentava.

Contudo, quando ela já estava muito próxima da área do santuário e Ikki cogitou em voltar para não ser pego, uma mão tocou seu ombro, fazendo-o sobressaltar-se e entrar em posição de ataque. Chocado por não ter sido capaz de sentir a aproximação.

Sua postura relaxou vagamente, quando à sua frente viu um homem de cabelos azuis espetados, pele morena e olhos castanhos, um sorriso ladeado e cínico em seu rosto. Usava simplesmente uma blusa negra de mangas largas e uma calça jeans. O recém-chegado observou o espectro tranquilo, com as mãos no bolso.

- Ora, ora, ora... O que temos aqui. – Dizia em seu tom sarcástico e provocativo. -  Você pode passar despercebido pelos outros, me impressiona que mesmo Athena não tenha te notado, porém, eu sou capaz de sentir o cheiro da morte a quilômetros de distancia. Você tem sorte que eu só voltei hoje para o santuário e estou de bom humor .

Ikki rosnou, encarando de mal grado o cavaleiro de Athena.

- Diga-me de uma vez o que você quer... Máscara da Morte.

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Notas Finais


O próximo capítulo voltará ao tempo passado e se chamará "Shun, cavaleiro de virgem".

Por favor, aguardem!


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