~ POV Jungwon ~
Assim que chegamos à faculdade, Jake seguiu para o prédio dele e eu fui atrás de Heeseung e Riki para contar as fofocas da noite, que, sinceramente, não eram muitas. Encontrei o Hee sozinho na sala de aula, já que ainda faltava uma hora para começar a aula e não havia mais ninguém por perto. Ele estava usando fones e escrevendo algumas coisas no caderno.
— Eu estava procurando você! — Sentei ao seu lado e o abracei, recebendo um sorriso em troca. — Você está bem?
— Melhor impossível. Dormi como uma princesa. — O sorriso dele aumentava à medida que falava e então ele se virou para mim. — Me conta como foi!
— Ah... A gente não fez nada além de se beijar, assistir a um filme e ficar de chamego... Só isso. — Dei um sorrisinho leve enquanto via a expressão dele mudar para uma cara incrédula.
— Você foi dormir na casa do garoto que estava transbordando tesão e não fez nada? Que absurdo... — Ele balançou a cabeça, e eu ri de leve. — Enfim, vamos falar da banda! Vamos ensaiar na casa do Jake? Meu pai tem um estúdio lá, com tudo que a gente precisa.
— Podemos ver isso. Na casa do Jake, tem os avós dele, e eu não quero incomodar com muito barulho. Aliás, cadê o Riki? Não era para estarem juntos?
— Ah... — Ele revirou os olhos. — A namoradinha dele apareceu e começou a brigar com ele por causa das marcas que ele estava. — Soltou um suspiro pesado e se jogou na cadeira. Nesse momento, algo fez sentido para mim; as peças se encaixaram e minha mão foi até a gola da sua camisa, puxando-a para o lado para ver sua clavícula.
— Você transou com ele! Que nojo! Meu melhor amigo com o meu irmão mais novo. — Eu esperava isso de você com o Jeongin, já que até química rolou entre vocês naquele dia, mas com o Riki? — Balancei a cabeça negativamente, ainda incrédulo com o que realmente tinha acontecido. Eu já tinha minhas suspeitas, e no dia anterior, na casa do Jake, eles estavam muito próximos. Não entendia como ele conseguia ficar com tanta gente assim; parecia que não se passava uma semana sem que ele ficasse com mais pessoas do que eu em uma vida inteira.
— Achei que fosse óbvio que isso ia acontecer um dia. Tenho química com muita gente e sou lindo, né? — Ele deu de ombros de forma convencida e sorriu. — Mas relaxa, não somos como você e o Jake. Não vamos ficar de pegação e nojice na frente de vocês. Agora, sério, foca no importante. Vamos ser uma banda de verdade e tocar em vários lugares diferentes com isso, certo? Estou tão feliz.
— Estranho... Você nem queria, achava impossível. — Cruzei os braços e o encarei com os olhos semi-cerrados.
— Quem iria querer ouvir três perdedores cantando músicas que já existem? Lembra, eu e você somos calouros e seu irmão ainda é estudante de ensino médio; seria um fracasso. Mas agora temos o Jake e o Jay na banda. Eles são populares e o Jay... Bem, ele tem aquele charme misterioso de bad boy e fumante... Você sabe bem como é. — Ele assentiu para si mesmo e riu baixo. — É engraçado ver como vocês exalam raiva e ódio um pelo outro, mas ao mesmo tempo uma tensão tão grande, como se fossem se pegar a qualquer momento. É até excitante ver vocês dois juntos.
Ele fez uma pausa, parecendo refletir, e então continuou:
— Mas sério, você e ele... Quando é que isso vai acontecer? Tipo, é tão evidente o tesão que você sente por ele que é difícil de entender como você consegue se controlar.
— A gente não vai se pegar. Ele está com o Jeongin... E, sinceramente, ele já me odeia por coisas do passado; eu não quero que me odeie ainda mais por tentar roubar o peguete dele, okay? Não vou ficar com ele. — Suspirei pesadamente, sentindo uma certa culpa por apenas desejar o que era do meu irmão. Depois dessa breve conversa, começamos a falar sobre coisas aleatórias e sem sentido. Esses assuntos me deixavam ainda mais feliz por poder viver essa experiência com ele ao meu lado, em pessoa, ao invés de apenas através da tela do celular.
Tivemos três aulas naquela manhã e apenas uma mais pela frente. Definitivamente, música clássica não era para mim; achava irritante e sem emoção... Faltava um pouco de barulho, uma guitarra no fundo! Eu não queria seguir essa área, nem se fosse muito bem pago. Saímos para passear no intervalo entre as aulas e estávamos perto de onde Sunghoon costumava ficar, mas ele não estava ali. Apenas seus amigos estavam por perto, cochichando sobre o que poderia ter acontecido. A maioria falava sobre uma briga. As fofocas ali se espalhavam rápido, o que me deixou um pouco assustado.
Fui tirado dos meus pensamentos quando percebi que o sol não estava mais me atingindo. Uma sombra havia se projetado na minha frente. Quando abri os olhos para ver o que era, deparei-me com Jay. Aquele ângulo... Eu estava sentado e ele estava mais alto que eu, o que só realçava a diferença. Eu o olhei com uma expressão confusa, não sabendo o que ele queria, enquanto ele me observava com seriedade, os braços cruzados.
— Bom dia. Eu estava na sua casa ontem à noite e hoje de manhã. — Ele começou, sentando-se entre mim e Heeseung, que estava ali apenas ouvindo uma musiquinha enquanto tomava seu banho de sol.
— E eu com isso...? — Franzi levemente o cenho, e ele sorriu, tirando do bolso da jaqueta preta de couro que usava um caderno. O meu caderno de letras. Tentei pegar de volta rapidamente, mas ele levantou a mão.
— O que você está fazendo com isso? Me devolve!
— Você tem talento, sabia? Mas por que letras tão melancólicas para alguém que parece tão feliz e alegre? — Ele sorriu enquanto eu tentava pegar o caderno de novo, mas ele se levantava, mantendo a mão para cima. Heeseung, em vez de me ajudar, apenas observava a cena. — Eu devolvo para você com uma condição.
— Não existe condição nenhuma, garoto. Isso é meu! — Cruzei os braços e tentei me manter calmo. — Você entrou no meu quarto...
— Sim. Adorei o seu Draco Malfoy na parede, realmente uma graça, sabia? — Jay soltou uma risada debochada e olhou ao redor. — E, sem querer, mexi em uma das suas gavetas ao lado da cama e... Muito fofo aquele seu... golfinho? Pra que você usa isso?
Respirei fundo e fechei os olhos com força. Quando os abri novamente, percebi que algumas pessoas estavam nos olhando, mais para o Jay do que para mim, mas, consequentemente, eu também era alvo dos olhares, só que de julgamento.
— Não existe golfinho nenhum, idiota. E se existe, por que você não pega e enfia no meio do seu... — Ia gritar de raiva, mas Heeseung cobriu minha boca com uma das mãos.
— Se você gritar, vai chamar mais atenção. Deixa ele falar do seu golfinho roxinho, está tudo bem. — Ele dizia para provocar também, e eu bati na sua mão. Os dois riam, e eu franzi o cenho com raiva.
— Por que pegou meu caderno? O que vai ganhar com isso? — Cruzei os braços e o encarei seriamente. Jay olhou para Heeseung, que assentiu levemente sem dizer uma palavra. O mais alto então pegou meu pulso e começou a me puxar para fora dali em passos tranquilos, ignorando todos os olhares sobre nós. Aqueles olhares me preocupavam um pouco, já que o campus estava cheio de fofocas novas e distorcidas, e eu não queria mais nenhuma com meu nome. Fui caminhando ao lado dele sem questionar muito, focado em não sufocar ele na minha primeira oportunidade, tão absorto que nem percebi quando entramos em uma das salas de música. Olhei ao redor e sorri levemente ao ver que era uma sala de prática na qual eu ainda não tinha entrado. — O que viemos fazer aqui?
— O que se faz em uma sala de música? Ou melhor... O que você quer fazer em uma sala de música? — Sua última pergunta tinha um claro duplo sentido, e só fui perceber isso quando vi seu sorriso de canto.
— Que nojo. Quero saber por que você me trouxe aqui. — Fui até o piano e me sentei no banquinho, enquanto ele pegava um violão e se sentava ao meu lado.
— Quero que cante para mim. Escolha uma música e cante. — Ele falou enquanto tocava aleatoriamente no violão para ver se estava afinado. Naquele momento, eu me senti nervoso e desconfortável, já que não estava esperando por isso de forma tão repentina. Ele levantou o olhar para mim novamente, me observando com uma intensidade levemente suspeita.
— Os ensaios começam só amanhã. — Olhei para o piano e levantei a tampa, teclando algumas notas que faziam um som confortante e calmo. — Como conseguiu ler meu caderno? Tudo está em coreano.
— Nossa... Realmente você tem zero interesse em mim. Ontem mesmo o Jake explicou o motivo. — Ele apoiou a mão livre na coxa e suspirou de leve. — Sou coreano também, moro aqui há uns 10 anos já. Enfim, qual é a sua cor favorita? — Ele continuava com as perguntas, fazendo-me franzir o cenho sem entender o motivo de estarmos realmente conversando. — Jungwon, anda logo! Estou tentando tirar essa energia ruim entre a gente. Os meninos reclamaram ontem e têm toda razão! Estamos sendo uma carga pesada, e isso pode prejudicar a banda no futuro. Por favor, eu quero isso tanto quanto você. Eu amo tocar, e estava sendo sufocante não poder fazer isso da maneira que eu gosto. Agora, tenho uma chance. — Pela primeira vez em todo o tempo em que conversei com ele, usou um tom manso e calmo, sem sarcasmo, flerte ou duplo sentido. Soltei um suspiro pesado e toquei mais algumas notas aleatórias no piano.
— Tá. — Suspirei e me virei de frente para ele, passando a outra perna por cima do banco para ficar naquela posição. — Antes, quero saber mais sobre você. Não vou cantar para você até que eu te conheça melhor. — Cruzei os braços enquanto o observava, e ele fez o mesmo, deixando o violão em cima do piano para me encarar.
— O que quer saber sobre mim? — Ele apoiou as mãos em frente ao corpo e se inclinou um pouco. Não havia maldade no gesto, mas vê-lo de perto me fez notar seus traços com mais detalhes do que antes. Seus lábios eram lindos e convidativos, simplesmente hipnotizantes... Involuntariamente, mordi meu lábio enquanto o observava. Quando voltei a olhar seus olhos, percebi que ele ainda me encarava de forma tão atraente.
— Você gosta mesmo da minha boca, né? — Ele riu de leve e negou com a cabeça.
— Sim. Uma pena ela estar quase sempre no pau do meu irmão, né? — Apoiei as mãos atrás do corpo para me inclinar para trás, notando seu olhar descendo pelo meu corpo lentamente, analisando do rosto até minhas coxas. — Enfim, quero saber o que quiser me contar. Minha cor favorita é cinza. E a sua? Seu signo, o dia do seu aniversário... Essas coisas bobas. — O olhar dele voltou a se encontrar com o meu e ele assentiu.
— Verde é minha cor favorita, meu aniversário é dia 20 de abril e sou ariano. Minha comida favorita é lasanha... Mas por que cinza é sua cor favorita? É uma cor tão sem graça e sem vida, e você parece ser uma pessoa alegre, mesmo quando faz ameaças e essas coisas. Acho que você só continua ameaçando porque não sabe como fica fofo. — A pergunta dele era bastante válida e demonstrava um real interesse em entender o que havia por trás daquela faceta, fazendo com que eu abandonasse minha expressão de julgamento, embora ainda revirasse os olhos com a última parte do comentário.
— Cinza é a união de duas cores bonitas e opostas... Mas é só por isso que gosto da cor. E eu passei por muita coisa antes de me tornar essa pessoa alegre que você descreve. Com o tempo, você aprende que não adianta ficar escondido pelos cantos, triste porque sua vida foi uma merda, entende? — Soltei um suspiro pesado e vi que ele assentia. — Eu não sei o que te acontece fora daqui e dos lugares onde nos encontramos a maior parte do tempo, e sei que não temos intimidade para falar sobre isso, mas deveria parar de se esconder... Não acho que vai ser promissor para você viver seus intervalos escondido atrás de um dos prédios. — Falei com cuidado para não ofendê-lo com minhas palavras, mas ele continuava neutro e até mesmo assentia levemente, acompanhando com um suspiro pesado.
— O que aconteceu entre você e seu irmão? Ele disse que te odeia, mas não me deu motivos para isso e... Olhando para você, ouvindo você de verdade, não acho que você tem potencial para fazer mal a uma mosca. — Ele falou antes de desviar o olhar de mim e se virar de frente para o piano.
— Jeongin não é flor que se cheire! Mesmo que eu duvide disso, vou te aconselhar igual. — Segurei seu queixo e o fiz me olhar. — Ele não é uma pessoa confiável. Ele trai todos ao seu redor, seja um namorado, um amigo ou um irmão... Não deposite confiança nele. — Falei seriamente e ele assentiu de leve. Notei seus olhos descendo para meus lábios e senti um leve nervosismo ao sentir a mesma necessidade de olhar para os dele. — Eu expus ele. Ele namorava na época e... fazia horrores, muita merda, e eu só contei a verdade com provas. — Ele olhou para meus olhos novamente e respirou fundo.
— E o que ele fez com você? — Perguntou baixo enquanto sua mão se aproximava do meu rosto, mas ele apenas tirou o cabelo que estava na frente dos meus olhos.
— Não é tão importante... — Falei baixo e desviei o olhar, soltando seu rosto em seguida. Precisava me manter focado e concentrado para não beijá-lo e... Eu conseguiria. Com certeza.
— Tem certeza? Para você sentir a necessidade de vingança, deve haver um motivo para isso. — Falou enquanto voltava sua atenção para o piano, começando a tocar uma música que eu conhecia, mas não conseguia lembrar de onde, já que minha mente estava apenas pensando no que mais ele seria bom.
— Não disse que foi algo leve, falei que é importante, mas não para a conversa que estamos tendo. Não quero que o clima fique ruim por causa disso. E outra, da forma como você pergunta, parece até que já sabe o que ele me fez. — Suspirei pesado e ele parou de tocar para me olhar novamente.
— Se eu soubesse, com certeza não estaria perdendo meu tempo tentando descobrir. Você tem letras muito tristes naquele caderninho e eu fiquei curioso para saber o que deu o gatilho. — Deu de ombros e respirei fundo. Olhei para a jaqueta que ele vestia e então me aproximei dele.
— Olha só... Deixa eu te perguntar. O que estava fazendo na sala quando eu e o Jake entramos e por que não saiu? Realmente ia ficar só olhando? — Perguntei enquanto procurava com os olhos o caderno dentro dos seus bolsos, mas não via nada.
— Eu estava esperando o Sunoo. Se ele tivesse chegado no horário marcado, acho que a gente nem teria visto aquela cena terrível. Aliás... Seus gemidinhos são tão adoráveis... — Ele riu depois de falar aquilo e eu senti meu rosto queimar de vergonha. Empurrei seu braço e revirei os olhos.
— Cala a boca... — Neguei com a cabeça e suspirei pesado. Houve um breve momento de silêncio entre nós, não um silêncio constrangedor ou ruim, mas confortável, mesmo que eu sentisse seu olhar fixo em mim. — É muito difícil tocar?
— O violão? Não. É bem fácil, na verdade. Se quiser, eu te ensino um dia. — Virei meu rosto para ele e assenti.
— Vai ouvir meu conselho sobre o Jeongin, né? Sei que vocês ainda não namoram, mas não confie nele, nem agora. — Ainda tentava convencê-lo a não cometer o maior erro da vida dele, mesmo sabendo que ele já tinha errado ao se relacionar com Jeongin.
— Eu entendo e confio em você. Agora me diz... Por que vieram para cá? É um continente completamente diferente e você mal sabe falar inglês, né?
— Mal sei...? Eu estou falando super bem! Até consegui te xingar em inglês. — Estalei a língua no céu da boca e ele sorriu, ajeitando meu cabelo que insistia em cair sobre meus olhos.
— Xinga de maneira fofa. Posso até te ensinar xingamentos mais legais e um pouco do resto. — Ele riu baixo e eu sorri levemente, assentindo uma vez antes de pegar meu celular para ver a hora.
— Merda... Estou fodidamente atrasado para a aula. — Levantei-me quase em um pulo, assustando-o com o movimento repentino. Quando cheguei à porta, senti meu pulso ser segurado levemente. Virei-me para ele e percebi que estava muito próximo, um pouco mais do que o habitual, provavelmente porque ele tinha vindo rápido em minha direção. Estava entre ele e a porta, com uma distância mínima entre nós, mas felizmente nenhuma parte do nosso corpo estava se tocando além da sua mão em meu pulso. Eu nunca fui muito de fazer orações, mas naquele momento pedia a todos os deuses que me dessem forças para manter minha sanidade, já que meus olhos eram atraídos para seus lábios e eu sabia que os dele estavam ali, muito próximos, o que era perigoso. Muito perigoso!
— Eu levo você até a sala. — Ele quebrou o silêncio ensurdecedor entre nós e eu neguei levemente com a cabeça.
— É melhor não... Vai rolar muita fofoca pela forma como estávamos antes e não quero que fique pior. Eu canto para você em outro momento, pode ser? — Dei um leve sorriso para ele e me virei para a porta, que foi aberta de forma brusca e atingiu o meio do meu rosto. Ninguém parecia saber abrir uma porta de forma normal naquela cidade. Precisei ser segurado por Jay, que já estava atrás de mim, e felizmente tinha bons reflexos; caso contrário, eu o teria derrubado junto comigo. Levei a mão ao meu nariz, que havia sido atingido, mas, graças aos deuses, não sangrou, apenas doía pra caralho.
— Opa... Machucou? — Conhecia aquela voz e aquele tom cínico o suficiente para levantar o rosto na direção dele e ver um sorriso de canto que se desfez ao perceber Jay. — O que você está fazendo aqui? Disse que tinha aula e de repente ouço um monte de gente falando sobre arrastar um garoto esquisito para a sala.
— Essa é a sua maior preocupação agora? Usou força suficiente para quebrar o nariz do seu irmão. — Jay respondeu enquanto ainda me segurava.
— Ele é assim mesmo. Só me surpreende você não conhecer esse lado dele. — Comentei, e Jeongin riu ironicamente ao passar para dentro da sala.
— Você adora se vitimizar, né? Pelo tempo que passaram aqui, imagino que ele já deva conhecer esse seu lado. — Cruzou seus braços enquanto nos olhava e então me afastei do contato com o veterano e tirei a mão do nariz que ainda doía bastante.
— E você um manipulador do caralho! Fala que me odeia, mas não revela o motivo. Deve ser porque sabe que está errado em tudo isso; seja pelo que fez com o Hyunjin ou comigo. Você sabe a verdade e não a revela, apenas para me fazer parecer errado. — Eu dizia com raiva, olhando-o seriamente.
— Vocês dois querem parar? Jeongin, eu não devo satisfação da minha vida para você por vários motivos, mas o principal é que não temos nada sério. Eu não conheço você. Só nos vemos para transar, lembra? Em poucos minutos, conheci mais do seu irmão do que de você. — Jay se pronunciou, ficando ao meu lado e olhando para Jeongin. — Podemos encerrar esse chilique? — Jeongin parecia bravo não por Jay ter revelado o que tinham, mas por ter sido descredibilizado na minha frente.
— Mas por que você quer isso? Você não me dá abertura para conhecê-lo melhor. Fica com essa enorme barreira ao seu redor, bancando o misterioso, mas se abre para ele? — Jeongin diizia com certa indignação na voz, quase manhoso. Era esquisito ver aquela situação. Duas coisas passaram pela minha cabeça: a primeira era que ele estava se vitimizando, e a segunda era que talvez o americano tivesse algo realmente especial para que Jeongin parecesse tão apegado assim.
— Não entendi o que está tentando fazer. É comigo que está falando, não com ele, então não precisa mentir desse jeito. — O platinado dizia, já estressado com Jeongin, enquanto eu permanecia em silêncio, observando aquela cena estranha entre eles.
— Chega... Você disse que ia me levar para a sala, lembra? Estou atrasado. — Segurei a mão de Jay e o puxei para fora da sala, mas ao chegar no fim do corredor, suspirei pesado e soltei sua mão. — Você entende agora? Não quero mais fofocas com meu nome... Isso só me prejudica. — Dizia enquanto caminhava em direção à minha sala.
— Mas por que se importa? São só boatos. — Ele ficou um pouco atrás de mim, parecendo até me escoltar até a sala, mas então eu parei, fazendo com que ele trombasse em mim por não ter esperado aquela parada repentina.
— Boatos machucam, Jay! — Virei-me para ele. — Eles machucam física e psicologicamente! Eu realmente não quero estar na boca das pessoas, sendo chamado de coisas nojentas novamente. Você e ele aparecem publicamente como se estivessem namorando, e eu e o Jake também. Quem você acha que vai sair como a vagabunda da história? Eu realmente não quero passar por isso de novo. — Tentava manter a firmeza na voz e soltava um suspiro pesado. — Não vamos mais fazer isso, okay? Sem contato físico e essas coisas em público, e, principalmente, sem ficarmos sozinhos em qualquer sala.
— Foi isso que ele fez, né? — Ele perguntou. Então, virei meu corpo novamente e voltei a caminhar em direção à sala que estava próxima, mas que ainda parecia tão distante.
— Não. Ele fez pior. Não viu o vídeo? — A pergunta saiu mais baixa, e ele segurou meu ombro, parecendo entender o que eu queria dizer.
— Ele fez isso? — O tom de voz dele era baixo, com um certo receio de que a resposta fosse afirmativa. Respirei fundo antes de me virar para ele.
Eu estava lutando para conter as lágrimas ao lembrar do que passei por causa dele. Ter minha sexualidade exposta com um vídeo íntimo com outra pessoa não foi a melhor maneira de fazer amigos em uma escola na Coreia do Sul. Os dois últimos anos do ensino médio foram um verdadeiro pesadelo: diariamente, enfrentava comentários cruéis, pequenas agressões físicas como empurrões, era o alvo principal nas brincadeiras de queimada, e ainda tinha que lidar com tropeços causados por idiotas que colocavam o pé na minha frente. O pior de tudo eram os comentários.
Havia um garoto bonitinho na escola que eu gostava há algum tempo e queria me aproximar.. Ele nunca havia me dado atenção, mas, de repente, isso mudou. Para um jovem de quase 16 anos, isso parecia incrível e, a princípio, nada suspeito.
Acabamos ficando um dia no banheiro e pouco depois as coisas foram melhorando um pouco e eu nunca iria imaginar que meu irmão e seu grupo de amigos estavam envolvidos naquilo e estariam gravando o que estávamos fazendo. Antes que tudo ficasse mais quente, nós notamos a presença deles e bom... O resto já é de conhecimento público, pois meu vídeo circulou pela página de fofocas do colégio até eu me formar.
Depois daquele episódio terrível, decidi me vingar ao descobrir que Jeongin traía o namorado secreto, já que não queria passar pelo que eu estava passando. Quando revelei a verdade, trouxe provas de que ele estava envolvido com não apenas uma, mas com pelo menos cinco pessoas diferentes.
Não havia se passado muito tempo, apenas um pouco mais de um ano desde que eu fiz essa revelação, e então ele me odiou. Senti culpa por ter feito o mesmo que ele fez, sabendo o terror que aqueles comentários podiam causar e o impacto psicológico que tinham sobre quem os ouvia. Mesmo assim, eu o fiz.
Forcei um sorriso para ele e assenti ligeiramente. — Eu sinto muito... — Falou. Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, puxou-me para um abraço aconchegante e, para minha surpresa, ainda fazia um carinho nas minhas costas para me deixar mais confortável com o contato.
— Está tudo bem... Eu já não estou mais lá e as coisas vão melhorar por aqui, desde que eu fique longe dos boatos, é claro. — Afastei-me lentamente do abraço e sorri de forma mais tranquila, desta vez com um sorriso sincero. — Vou indo agora. Você também tem aula, então não se atrase mais. Te vejo por aí. — Falei calmamente e virei as costas para ele, seguindo em passos apressados em direção à minha sala. Tinha percebido que Jay parecia ser uma pessoa legal, mesmo com o pouco tempo que conversamos. Sinceramente, eu queria conhecê-lo melhor. Apesar da cena provocada por Jeongin, ainda tinha esperança de que Jay fosse alguém interessante o suficiente para valer a pena, mesmo depois de tudo o que aconteceu.
Quando cheguei na sala, notei que o professor já estava dando a aula e que Heeseung, surpreendentemente, estava muito concentrado. Não sei se era por causa do professor, que era muito bonito, ou por ser um assunto que ele gostava, mas ele estava extremamente focado.
Após as aulas, fui direto para casa e não esperei pelo Riki, que me disse que estaria ocupado resolvendo algumas coisas. Não sabia se ele realmente estava ocupado com algo importante ou apenas ia encontrar um dos seus três atuais ficantes.
Ao chegar em casa, a primeira coisa que fiz foi tomar um banho para relaxar um pouco a mente antes do dia seguinte, que prometia ser diferente da minha rotina, já que começaria a focar na banda com os meninos. Estava muito animado para começar de fato com eles, mas ao mesmo tempo, sentia um nervosismo. Eu não tinha perfil para ser líder e nem jeito para isso; queria ser apenas o vocalista, mas Jake, com seu jeito adorável, insistiu em me chamar daquela forma.
O resto do dia foi tranquilo. Fiz mais música, assisti a filmes e jantei à noite, mas não na mesa com todos, já que ainda estava irritado com Jeongin. Tudo parecia esquisito e eu não queria que as coisas piorassem.
No dia seguinte, a aula foi um saco. Eu e Heeseung só conseguíamos conversar sobre qualquer outra coisa enquanto as aulas aconteciam. Quando decidi fazer faculdade de música, não era isso que eu esperava. Talvez eu tivesse imaginado algo mais no estilo de Victorious, mas o que recebia eram apenas aulas chatas e teóricas o tempo todo.
Durante o intervalo, eu e Heeseung nos sentamos no nosso lugar habitual, que tinha uma visão privilegiada do pátio. Estávamos bem no meio, em frente ao prédio de música, ao de arte e à entrada da universidade. No lugar de Sunghoon, estavam ele e seus dois capachos, conversando normalmente, embora o Park estivesse menos sorridente do que de costume. Do outro lado do campus, estavam Jake, seu amigo Felix e o namorado dele, Changbin.
Tudo parecia normal, mas era visível que Jake e Sunghoon se lançavam olhares ocasionais, apesar de estarem em lados opostos do campus. Ambos pareciam descontentes, o que confirmava os boatos de que havia realmente ocorrido uma briga entre Sunghoon e Jake.
— Eles ainda se amam. — Heeseung falou do nada, se inclinando para trás com os braços ao lado do corpo.
— Claramente. É compreensível que ainda sintam algo um pelo outro... Os dois têm assuntos inacabados. — Comentei, enquanto observava Jake, que naquele momento não estava prestando atenção no ex.
— Pois é, né? Eu às vezes gostaria de ser uma mosquinha para descobrir todas as fofocas que rolam por aqui. — Ele suspirou pesado e deu de ombros. — Enfim, nosso ensaio ficou para as nove hoje, você viu? — Ele voltou a me olhar. Desde aquela manhã, os meninos resolveram criar um grupo para discutir melhor as questões da banda, e, até agora, tudo estava correndo bem.
— Sim... Mas não entendi o motivo. Foi você que pediu para ser mais tarde, né? O que aconteceu? — Me virei para ele, que suspirou mais pesado do que antes.
— Preciso jantar em casa hoje. Depois de dois meses viajando a trabalho, minha mãe vai voltar para um jantar especial. — Ele forçou um tom de empolgação e negou com a cabeça. — Qual é a dela? Nunca foi uma mãe ou esposa de verdade e agora quer se fazer de mãe em um jantar ridículo que nem mesmo ela vai preparar... É um absurdo, sabe. Ela teve dezenove anos para ser uma mãe presente, e agora que sou adulto, quer tentar essa aproximação toda. — Deitou-se no gramado e olhou para o céu. — Não quero ir.
— Janta lá em casa. Minha mãe vai adorar ter você lá; meu padrasto, nem tanto, mas ninguém se importa com ele. — Sorri para Heeseung, que concordou com a cabeça.
— Pode ser. Que desculpa eu invento?
— Diga que tem um trabalho para fazer, uma música para criar. Nós realmente vamos fazer isso, certo? Então, apenas avise... — Disse tranquilamente, desviando o olhar para Sunghoon, que estava saindo de onde estava e, estranhamente, seu ex-namorado o seguia de longe. Parecia suspeito, mas não tive tempo para pensar muito nisso, já que Riki apareceu com o rosto entre nós, enquanto Heeseung estava sentado novamente.
— Qual é a novidade, gostosos? — Perguntou Riki, com sua voz grave, baixinho em nossos ouvidos. Heeseung o olhou assustado. — O que foi? Está surpreso com a minha presença? Até parece que não gosta. — Ele mordeu o lábio enquanto olhava para o platinado, e eu revirava os olhos.
— Que nojo. — Dei de ombros, enquanto eles dois me olhavam. — Heeseung vai jantar lá em casa hoje. Se comportem, ok?
— Ele vai? Chamei o Jay para ir lá hoje. Acho que vai ser um jantar divertido antes do ensaio. — O mais novo riu e acenou para o veterano citado na conversa que se aproximava da gente e eu sabia que ele tinha uma marca de nascença no pescoço, mas tinha uma marca a mais ali. Olhei ele chegar até nós e meus olhos analisaram melhor aquilo e realmente era uma marca de chupão. Será que nenhuma pessoa ali sabia transar sem deixar marcas?
— E aí! Tudo certo para hoje? — O americano perguntou enquanto se sentava ao lado do mais novo. Ele percebeu meu olhar um pouco raivoso e desviou os olhos, tão descarado que nem sequer fez contato visual.
— Então, vou indo. Tenho um compromisso agora. — Levantei-me, ajeitando e limpando minhas roupas da grama. — Espero você na saída, Hee. — Disse antes de me retirar e voltar para a sala de aula. Mal podia esperar para o ensaio e descobrir quais seriam nossas primeiras músicas para a festa do amigo de Jake.
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