- Como é que é? Você vai viajar? Quantos dias? Não posso acreditar nisso, e com ELA? – eu berrava na sala do apartamento dele.
- Isabella, acalme-se! Eu sou obrigado a viajar, não estou tirando férias, é viagem à trabalho, você sabe disso! E a Gabriela vai apenas porque faz parte do caso, eu não vou viajar com ela, especificamente – ele tentava se justificar.
- MESMO ASSIM, RAFAEL! VOCE VAI VIAJAR NA ÉPOCA DO MEU ANIVERSÁRIO! ACHA ISSO JUSTO? HEIN? HEIN? HEIN? – eu estava louca de raiva – Pois pra mim isso não é nada justo, ta legal? Belo Direito esse que você estuda, pregando pela justiça e abandonando a namorada no seu aniversario de 23 anos! – eu estava mesmo descontrolada.
Alguém pode me dizer que justiça há nisso? Eu não podia acreditar, ele iria viajar pra uma cidade do interior, passar sei lá quantos dias, e ainda por cima acompanhado daquela vadia da Lopes. Sem a minha presença por perto, é obvio que ela iria colar no Rafael, e como o coitado é burro demais pra perceber qualquer intenção daquela cobra, ele iria achar totalmente normal tê-la pendurada no seu pescoço. Se comigo por perto ela não se intimida, imagina eu não estando lá? Deus, não quero nem pensar. Deixo claro que eu confio totalmente no Rafa, mas não confio nadinha na Gabriela.
- Amor, eu já te disse que no seu aniversario eu vou estar aqui! Hoje é domingo, estou indo amanha pela manhã, seu aniversário é na quinta, prometo chegar a tempo! – ele caminhou em minha direção e me pegou pelos ombros – Confia em mim, é uma viagem apenas à trabalho! E ficar esses dias longe de você vai ser, definitivamente, a pior parte.
- Eu queria você aqui toda a semana, Rafa! – falei com uma voz deprimente.
- Eu também gostaria, Isabella! Mas infelizmente uma das audiências do processo ocorreram por esses dias, nessa cidade, e eu sou obrigado a estar lá, surgiram algumas provas que podem inocentar o cliente que estamos defendendo, provas importantes! Entenda, não é da minha vontade ir, mas não tem outro jeito!
Eu percebi que ele estava mesmo muito chateado em me deixar na semana do meu aniversario, mas era sua profissão e eu teria que entender, além do mais ele prometeu voltar antes da data, então não há porque eu me desesperar por completo, certo?
- Ta, eu entendo, não gosto, mas entendo! – respondi, por fim.
- O que você acha de aproveitarmos então o tempo que ainda temos juntos? – o Rafa me lançou aquele olhar matante e eu apenas sorri, sendo a deixa para que ele me pegasse no colo e me deitasse ali mesmo, no sofá.
Era como se precisássemos aproveitar todo aquele momento, pra poder assim, conseguir passarmos aqueles dias que viriam, um longe do outro. Sabe, eu só conseguia mesmo me sentir completa ao toque do Rafa, tendo-o ao meu lado, é estranho, mas ele acabou virando uma necessidade, um mal ou bem necessário, talvez os dois. Eu me acostumei a tê-lo ao meu lado, mas não aquele acostumar de se acomodar, não, é como se eu agora só soubesse o que é acordar bem, dormir bem, se ele estiver lá!
O Rafa é inexplicável, o jeito como ele me olha ao me deitar no sofá, o modo como me toca, com cuidado, mas com precisão, deixando suas mãos explorar cada pedaço do meu corpo, e me prendendo mais a ele, e acima de tudo, a vontade com que me beija e me toma em seus braços. Acho que não conseguiria sentir nada disso com outro cara, que não fosse o Rafa.
Passamos o resto da noite ali, no sofá, apenas nós dois, sem espaço para mais nada. E já era de madrugada quando o Rafa me levou no colo, pra cama, dormimos abraçados, aproveitando a ultima noite antes dele viajar.
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Eu adoro o sol, mas assim, ser acordada por aqueles raios intensos no rosto pode não ser uma boa alternativa, sabe? Eu prefiro mesmo ser acordada pelo Rafa, mas o sol fez esse servicinho por ele. Ao abrir meus olhos, vi o Rafa andando pelo quarto, socando tudo que via pela frente dentro de uma mala, parecia apressado.
- Rafa? – falei sentando na cama, me espreguiçando e esfregando os olhos pra enxergar melhor.
- Bom dia amor! – ele sorriu e continuou a pegar algumas roupas no closet.
- O que você ta fazendo? Que horas são?
- Bom – ele parou e olhou no relógio – são exatamente 8 e meia da manhã e eu estou consideravelmente atrasado, e respondendo a primeira pergunta, to tentando arrumar minha mala e ainda preciso organizar os papeis e tudo que eu vou levar, sendo que eu tenho apenas 30 minutos pra isso tudo, contando com o banho e o café-da-manhã.
- Rafa, porque você não me acordou pra eu te ajudar? – levantei da cama – Espera, vou escovar meus dentes, deixa sua mala ai, eu acabo de arrumá-la, vai organizando as outras coisas, senão pode não dar tempo.
- Te amo, sabia? – ele sorriu como se houvesse acabado de tirar um peso das costas, me deu um selinho e correu pra acabar de ajeitar o resto das coisas.
O Rafael definitivamente não leva o menor jeito pra organizar uma mala, estava tudo amontoado, todas as camisas sociais jogadas de qualquer jeito, o que certamente as deixaria bem amassadas. Tive que tirar tudo e colocar novamente, claro que de forma bem mais organizada, e em menos de 10 minutos a mala dele estava pronta. Eu realmente sou mestra em arrumações de mala. Sorri satisfeita e fui para a segunda etapa, preparar qualquer coisa para o meu namorado comer antes de viajar. Tudo bem, eu não estava feliz com aquela viagem, mas não era culpa dele, e eu precisava entender. Depois de arrumar a mala, corri pra cozinha e preparei alguns waffles de chocolate pro Rafa, os que ele mais gosta. Ajeitei uma mesa de café-da-manhã enquanto ele tomava banho. Quando acabei, o telefone tocou.
- Alow? – falei me jogando no sofá pra alcançar o telefone.
- Ah, Isabella! – a voz respondeu, desapontada.
- Oi Gabriela! – respondi no mesmo tom.
- O Rafa esta pronto, sabe como é, iremos viajar juntos! – ela deu um risinho abafado.
- o MEU namorado está no banho, e pelo que eu saiba, vocês não irão viajar juntos, ele está indo a trabalho, ok? – nossa, garotinha mais petulante.
- Hum, que seja! Não se preocupe, querida, cuidarei bem dele, esta bem? – ela continuava com uma voz vitoriosa.
- Gabriela, o Rafael não precisa que nenhuma vad...- respirei fundo e vi que estava perdendo o controle – que nenhuma outra mulher cuide dele, certo? Ele tem 24 anos e sabe muito bem se cuidar sozinho! Portanto, não se preocupe, garanto que ele ficará bem, sem os seus cuidados, claro!
Mas o que ela estava pensando? Que ia colocar as garras no meu namorado? Nossa, se eu pudesse entrava no telefone e arrancava todos os cabelos daquela piranha. Ela estava passando todos os limites possíveis e fazendo de tudo para me deixar morta de ciúmes, mas sinto informar, esse gostinho eu não darei a ela.
- Ah, e se não se incomoda, agora preciso desligar, sabe como é né, meu namorado esta no BANHO e esta me chamando! – dei um pequeno riso – Bom, boa viagem, querida, e foque no trabalho e não no namorado alheio, esta bem? – nem dei tempo dela responder e fui desligando na mesma hora.
Peguei a almofada do sofá e tapei meu rosto, como forma de tentar evitar, ou ate mesmo abafar, qualquer grito que estava prestes a sair da minha garganta. Eu odeio a Gabriela, definitivamente eu a odeio. E meu pensamento de matá-la foi interrompido quando o Rafa surgiu na porta do quarto, pronto pra viajar. Uma vontade de me jogar nos colos dele e não o deixar sair dali se apossou de mim, e eu só pude correr abraçar forte.
- Rafa! – eu o abracei o mais forte que eu pude.
- Isabella, o que houve, amor? – ele aparentava estar perdido enquanto eu me ajeitava em seu peito, e depois de alguns segundos ele envolveu seus braços na minha cintura – Isabella, o que você tem? – ele levou uma das mãos no meu cabelo e o alisou.
- Eu não queria ficar longe de você, eu tenho medo de ficar longe de você! – falei de olhos fechados, apenas sentindo a proteção dos seus braços.
Não sei, eu estava com medo, muito medo. Um sentimento de fraqueza se apossou de mim, misturado com a sensação de perda, mas eu não o estava perdendo, eu sei que não, era só uma viagem tola, ele voltaria logo, mas isso não diminuiu minha aflição.
- Amor, me escuta – ele me afastou e segurou nos meus ombros – eu só vou passar alguns dias fora, não vou demorar, te prometo! E vou te ligar todos os dias, todas as horas que eu puder, não precisa ficar assim, Isabella! Não precisa ter medo! – eu sentia toda aquela proteção que os olhos dele tentavam me passar.
E num impulso eu o beijei, com toda a intensidade que eu podia, com toda a saudade que eu iria sentir naqueles dias que ele não estaria ao meu lado. Ficamos um bom tempo abraçados depois do beijo. Só que o celular dele tocou, era a Gabriela avisando que estava lá embaixo o esperando para irem ao aeroporto, mas por sorte eles não iriam sozinhos. A equipe estava lá com ela, e isso me tranqüilizou.
- Rafa! – eu o chamei quando ele pegou as malas e colocou na porta e ele me olhou – Cuidado, ta? Se comporta! – sorri de forma tímida e ele apenas me puxou com tudo pela cintura, dando aquele sorriso fatal a lá Vitti e me beijando.
- Eu te amo, vou sentir sua falta! – ele me olhou nos olhos – Fica tranqüila, é uma viagem apenas de trabalho, nada mais me interessa, meu interesse vai ficar aqui, me esperando, eu acho! – mais uma vez ele sorriu.
- Claro, seu bobo! – eu o beijei de novo.
- Agora eu preciso ir! Amo você, muito! – ele me deu um selinho, pegou a mala e abriu a porta, eu apenas o observei sair.
- RAFA! – gritei e ele se virou – Eu te amo, ta? Muito mesmo! – corri e dei mais um beijo nele.
Parecia que o Rafa estava indo pra guerra! Mas pô, eu ia ficar mesmo com muita saudade do meu namorado, o Rafa é imprescindível nos meus dias, ficar alguns dias sem o ver, dias antecedentes ao meu aniversario, e ainda sabendo que ele estaria com a Gabriela, tinha abalado o meu psicológico.
Depois do beijo, ele sussurou mais uma vez que me amava e entrou no elevador. Eu fiquei ali parada no hall por mais alguns minutos, depois percebi que precisava mesmo entrar, e ao ver a mesa do café-da- manhã ali, intocável, uma tristeza se apossou de mim e eu apenas me joguei no sofá.
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Porque as horas demoraram tanto a passar quando estamos imersos ao tédio? Esse é um bom questionamento, quando não se tem nada pra fazer, quando se estar jogada na cama em meio a pratos de waffles de chocolate, latinhas de coca-cola já vazias, pacotes de salgadinho abertos mas ainda pela metade e saquinhos de balas, o tempo parece se arrastar, demora mais para me dar mais tempo de comer toda essa gordura saturada, o que irá refletir com certeza nas minhas curvas.
Foi assim que eu passei o resto da segunda-feira, vendo TV e me entupindo de coisas que minha mãe julgaria como não-saudavel, porém não sou mais uma menininha e posso comer tudo aquilo que eu quiser, na hora que eu quiser, e quando bate a ansiedade, comer é sempre o melhor remédio.
Estava entretida vendo um programa sobre negócios internacionais na TV a cabo do quarto do Rafael, não que eu tenha interesse nessa área, na verdade eu não estava mesmo entendendo nada, mas me parecia interessante, quando o celular tocou, e confesso que foi bem difícil achá-lo em meio a tanta porcaria espalhada pela cama.
- Onde você esta, hein? – uma voz gralhou do outro lado da linha, parecia irritada.
- Hey, Bru! To na casa do Rafa curtindo minha solidão! – respondi em tom desanimado.
- Porque? Cadê o Rafa? E você não foi pra faculdade hoje, querida! Se bem que não perdeu nada, hoje está tudo um tédio mesmo! – minha amiga também não parecia muito animada.
- O Rafa viajou à trabalho, justo na semana do meu aniversario, demais, não é? Então eu dormir demais essa manha, fiquei com ele até a hora de viajar, e agora estou aqui, na cama vendo um programa sobre negócios internacionais, to ate pensando em expandir por essa área, acho que dá muitos lucros! – falei em tom divertido.
- Ah claro, você lida muito bem com negócios, amiga! – ela riu – Bom, será que eu posso curtir o tédio com você?
- Claro, venha! E traga mantimentos, ok? Meu estoque de barrinhas de chocolate está acabando! Ah, e não esqueça do sorvete de chocolate com creme de avelã, e aproveita e compra calda de chocolate também, e traz... – eu ia continuar minha enorme lista, mas ela interrompeu.
- Quer que eu leve o mercado todo, ou esta pouco? – riu-se – Pode deixar, Isabella, eu já sei todo o seu cardápio ‘To na fossa’, em meia hora estarei ai, abastecida! Ah, vou pegar alguns DVD’s também, a coleção do Rafa com certeza não irá me agradar! Agora desligarei, vou apressar-me! Beijos, e não se mate ainda! – ela falou rindo e logo desligou.
A Bruna é verdadeiramente um anjo, que amiga mais prestativa eu tinha, iria me trazer toda a comida suficiente para eu poder passar o resto do dia ali na inércia, e nada melhor do que ficar na inércia! Mas seu tom de voz me pareceu angustiado, com certeza havia acontecido algo com ela, já faziam alguns dias que a Bruna se mostrava meio atordoada, mas eu não quis entrar em detalhes, porque quando ela esta com problemas, é melhor deixar que ela venha contar, ela se sente melhor assim, então eu respeito.
- Já vai! Já vaaaaaaaaaai, Bruna! – gritei, tentando me arrastar da cama e ir até a porta, que parecia ser tão distante – Você vai queimar a campanhia daqui desse jeito, ok? – falei assim que abri a maldita porta.
- Boa tarde pra você também, querida amiga! E nossa, essa sua cara esta assustadora! – ela riu – Agora me ajuda, olha o tanto de sacolas de compras, quase peço ajuda para o porteiro.
Verdade, ela meio que se perdia em meio a tantas sacolas de papelão do mercado, e pelo que eu pude conferir apenas passando o olho, ela havia comprado o suficiente para abastecer um batalhão, leia-se nossos estômagos.
- Pode colocar aí em cima da mesa mesmo, Bru! – sugeri enquanto levávamos as sacolas pra dentro do apartamento.
- O Rafa vai ficar irritado se souber a zona que estamos fazendo aqui!
- Irritado? Eu que estou irritada com essa maldita viagem, então preciso descontar minha raiva – falei enquanto mexia na sacola, de imediato achei um potinho de nutella ali – Sabia que ele vai com a GABRIELA? Aquela vadia que eu já te contei que simplesmente eu odeio? – sentei no balcão da cozinha, enquanto abria o potinho e dei a primeira colherada.
- Porque eu tenho a impressão que esses dias serão beeeeem longos? – ela riu enquanto sentava-se na outra ponta do balcão com um pacote de Cheetos na mão.
- Longos? Serão um verdadeiro inferno, até a quinta-feira, claro! – eu ri – Mas até lá, eu vou ficar na paranóia sobre o que a Gabriela poderá estar tentando fazer para seduzir o MEU namorado! Na boa, eu deveria matá-la.
- Então vamos formar uma dupla de exterminadora de vadias, o que acha? – ela falou em tom divertido, mas percebi que estava mal também.
- O que houve, Bru? Você anda calada ultimamente, esta acontecendo alguma coisa? Como anda o Guilherme? – tentei tirar a minha concentração do pote de nutella e olhar pra minha amiga.
- O Guilherme... boa pergunta! Eu não sei como anda o Guilherme! – ela respondeu com um olhar perdido.
- Como você não sabe? Vocês moram juntos, vocês são namorados, Bruna, desembucha logo, o que ta havendo? – agora sim eu começava a ficar verdadeiramente preocupada.
- Ai, Bella! Sei lá, o Gui ta estranho, completamente estranho, sabe! Ciumento ao extremo, e diria até um pouco possessivo. Ele se incomoda com tudo, e mantêm-se distante ao mesmo tempo, nossa complexo, muito complexo! – ela levou uma mão cheia de salgadinho à boca.
- Mas porque? Há algum motivo em especial?
- Bom, o Bernardo... – antes dela continuar eu interrompi.
- Sabia que era isso! – respondi levando mais uma colherada satisfatória de nutella à boca.
- Não é nada disso que você esta pensando, Isabella! – ela me olhou repreendedora – O Bernardo é meu amigo e não há interesse, pelo menos da minha parte, achei que você soubesse disso!
- Eu sei, o Guilherme que não sabe! Bru, na boa, eu to passando pela mesma situação do Gui, mas no meu caso é a Gabriela, é normal sentir insegurança, você sabe disso! – tentei argumentar.
- Mas Bella, eu não tenho culpa, cara! Eu ponho limites pro Bernardo, só que o Guilherme esta sequelado com isso, e pra completar, ele está novamente próximo da Juliana, o que esta me fazendo brigar diariamente com ele. Acredita que eu achei o numero do telefone dela anotado num guardanapo dentro da calça do Guilherme? Mas o que ele estaria fazendo com o numero dela? E ainda mais num guardanapo? Será que eles saíram pra jantar? Ai, não sei, estou confusa, meu namoro esta indo pro ralo! Lá em casa esta um verdadeiro inferno, e eu to achando que a gente vai dar um tempo. – minha amiga parecia mesmo bastante triste.
Caramba, eu e a Bruna somos muito parecidas, sempre foi assim, a gente sempre vive as mesmas coisas, nos mesmos momentos. Quando uma ta feliz, a outra está também, mas quando uma ta com um problema, a outra com certeza estará.
- TEMPO? Quem dá tempo é relógio, Bruna! Não, você não fará isso! Caramba, amiga, você e o Gui se amam, pensa direito nas coisas antes de agir, analise as possibilidades, se não tem outra solução, sabe? Você sabe que o tempo pode ser bom, mas pode afastar de vez, é perigoso, é uma escolha que deve ser consciente, arcando com as conseqüências. E eu não quero te ver mal!
E assim se foi toda uma noite, em meio a conversas, a tentativas de achar certas explicações plausíveis para certas inseguranças, e porque não, em meio a um monte de guloseimas que depois teríamos que suar na academia para perdê-las. Tentei convencer a Bruna a não tomar decisões precipitadas, mas ela estava realmente confusa em relação ao Guilherme, até me contou que eles mal tinham se falado hoje, e portanto ela dormiria comigo.
Resolvemos armar acampamento ali no apartamento do Rafa mesmo, ir pra casa daria muito trabalho, então passamos a noite toda conversando e até demos algumas risadas quando fomos ver os álbuns de fotos que haviam lá. Nossa, muito engraçado, tinham fotos das viagens que fizemos em casal, a viagem à Paris foi a melhor, eu, Rafa, Guilherme e Bruna! Bons velhos tempos, estávamos mesmo nostálgicas.
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Os dias se passaram entediantes! Tentei falar com o Rafa algumas vezes, na verdade muitas vezes, mas o celular sempre caía na caixa postal, o que estava me deixando muito intrigada! Ele me ligava às noites, mas era sempre muito rápido, mal nos falávamos, e eu podia ate ouvir a voz da Gabriela ecoando perto dele, o que significava que a biscate estava mesmo grudada no meu namorado, e nem preciso falar como eu estava em relação a isso, certo? Definitivamente foram os piores dias antecedentes do meu aniversario, e o pior foi na terça, quando o liguei pela noite.
- Alow?
- Oi Isabellinha, como você esta? – uma voz irritante falou do outro lado da linha.
MAS QUE PALHAÇADA É ESSA? PORQUE A VADIA DA GABRIELA TINHA ATENDIDO O CELULAR DO MEU NAMORADO? ALGUEM PODE ME EXPLICAR?
- Gabriela? – falei assustada.
- Sim, e ai, tudo bem querida? – ela falava de forma provocativa.
- Onde esta o Rafa? Quero falar com ele, agora! – percebi a alteração da minha voz.
- Bom, agora é meio que, hum, impossível! – ela riu.
- Porque impossível? Onde vocês estão?
- Nesse exato momento? No quarto do Rafa!
- COMO É QUE É? – eu berrei.
- Hum, não se preocupe querida, estamos apenas trabalhando! – ela falou irônica.
Respira Isabella, respira! MAS QUE TIPO DE TRABALHO É ESSE? Sinceramente eu não quero nem imaginar! O que aquela piranha estava fazendo no quarto do Rafael? E porque ele não poderia atender?
- Gabriela, onde esta o Rafael? – perguntei, nervosa.
- No banho! – ela respondeu orgulhosa.
- NO BANHO? – realmente aquela afirmação tinha me abalado.
- É, mas eu digo que você ligou, ok? Beijos querida! – ela se apressou e desligou sem dar tempo de eu falar mais nada.
Da pra acreditar numa coisa dessas? Eu simplesmente fiquei parada olhando pro celular, sem ao menos conseguir internalizar ou entender o que tinha acabado de acontecer! Eu ligo pro Rafa, a Gabriela atende e ainda fala que ele está no banho. BANHO! Mas, mas, alguém pode explicar o que eu perdi nessa historia toda? Acho que ta faltando um capítulo, porque não esta se encaixando! Mas o que o Rafa esta pensando? Com a Gabriela, no quarto dele, e ele tomando banho? Ou melhor, o que ele estava fazendo?
Meus pensamentos estavam a mil por hora, uma confusão se instalou na minha cabeça, e eu só consegui me jogar na cama, quando percebi, lagrimas caiam intensamente sobre meu rosto, com tanta força que eu as sentia queimando minha pele. Então a Gabriela tinha conseguido ir pro quarto do Rafael? Deus, que confusão na minha mente. Estava incrédula, era demais para eu conseguir acreditar. Minha vontade era ligar novamente para o Rafa, e eu o fiz, porém, para aumentar meu desespero, agora o celular dava na caixa. Passei a noite em claro, jogada na cama e esperando por uma explicação do Rafael, será que nem ao menos ele iria me ligar para falar alguma coisa? Ou estava ocupado demais para isso? Não, não, definitivamente não!
Quando finalmente meus olhos pesaram e eu estava me rendendo ao sono, o que aconteceu por volta das 2 da manhã, meu celular começou a vibrar na mesinha de cabeceira. Com dificuldade, arrastei meu braço pela peça e olhei o visor, é, era ele.
- Amor! – ele falou animado – Que saudade de você!
Hãn? O Rafa bebe, certo? Primeiro estava no quarto com a Gabriela, agora me liga como se nada tivesse acontecido? Mas o que ele acha que eu sou? Uma palhaça? Não, não mesmo querido Vitti.
- Onde você estava, Rafael? – perguntei com uma voz de sono.
- Eu? Aqui no quarto, revisando uma papelada, porque? – sua voz mesclava espanto com desentendimento.
- PORQUE A GABRIELA ESTAVA NO SEU QUARTO? PORQUE A GABRIELA ATENDEU SEU CELULAR? – sentei na cama enquanto berrava no celular.
- QUE? Mas do que você esta falando? – sim, ele estava realmente espantado.
- Ah, não se faça de idiota, esta bem? Te liguei mais cedo, e sua amiga atendeu o celular, o que ela estava fazendo no seu quarto? Da pra me explicar? E que liberdade ela tem para atender seu celular? – continuei minhas indagações.
- Isabella, você esta bem?
- SE EU ESTOU BEM? O QUE VOCE ACHA? VOCÊ ESTARIA BEM SE LIGASSE PRA MIM E UM HOMEM ATENDESSE MEU CELULAR E DISSESSE QUE EU ESTAVA NO BANHO, RAFAEL? ESTARIA? – não controlei minha raiva, e minha voz saiu mais irritada do que eu havia programado.
- COMO? A GABRIELA ATENDEU MEU CELULAR?
O Rafa deve ter problemas mentais, só agora que ele entendeu o que eu havia dito, nossa, e isso só me deixou mais furiosa com ele.
- AE, FINALMENTE VOCE ENTENDEU! AGORA DA PRA ME EXPLICAR? NÃO SE FAÇA DE DESENTENDIDO, VITTI!
- Isabella, acalme-se – ele tentava me controlar – Eu não sei do que você esta falando, eu estou no meu quarto, sozinho desde o momento que cheguei do escritório daqui, por volta das 21 horas, o único momento que a Gabriela veio aqui foi quando ela veio me trazer alguns papeis que eu precisava analisar, mas ela nem ficou aqui, eu estava indo pro banho no momento, pedi pra ela deixar em cima da mesa e fechar a porta quando saísse, nem ao menos fiquei no quarto quando ela estava. – ele respondia seguro de si.
- Não foi isso que ela me disse...
- Isabella, essa é a verdade, você sabe que eu não faria nada, não estou entendendo o que aconteceu! A Gabriela atendeu meu celular? Mas ela não ficou nem um segundo aqui!
- Não sei, Rafa, sinceramente não sei o que pensar.
Minha cabeça estava confusa, duas versões da mesma historia. Por mais que eu acredite no Rafa, é difícil engolir tão facilmente uma desculpa dele, sendo que a historia contada pela Gabriela faz tanto sentido! Ela estava lá coincidentemente na hora que eu liguei? O que a Gabriela esta pretendendo? Seja o que for, talvez ela esteja mesmo conseguindo colocar certas duvidas na minha cabeça, mesmo que involuntariamente, não há como não ficar preocupada com isso.
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