Finn.
-É impressão minha ou Iris anda ignorando minhas ligações de propósito? -É a primeira coisa que digo, assim que Bob atende o telefone.
Ouço sua exalação de escárnio do outro lado e isso não melhora a furacão que sinto dentro do peito.
-Bem, você não deveria estar surpreso. Sabe que o que ela quer é te deixar irritado. Está te ignorando para ver até onde você aguenta sem ir atrás dela. Agora que você não está em casa, prepare-se para que isso piore muito daqui para frente.
Encosto-me no parapeito da varanda e mexo a cabeça, assimilando, e infelizmente tendo que concordar com ele a respeito de Iris. Por um lado, é realmente melhor que ela não tenha me atendido nas três vezes que tentei falar com ela desde que Millie saiu de casa.
Estou com raiva, sentindo-me frustrado e decepcionado comigo mesmo e sei que acabaria descontando tudo isso nela. Mas por outro lado, eu precisava dela agora, não da sua infantilidade ou dos seus joguinhos, mas da parte centrada de sua cabeça, da minha parceira que sempre soube o que me dizer na hora certa.
Nunca me senti pior do que agora. Acho que é isso que as pessoas costumam chamar de peso na consciência. Essa voz que sempre está lá, te lembrando das possíveis consequências de seus atos, mas que as vezes você ignora em seu próprio benefício. Mas chega um ponto em que ela começa a gritar mais alto do que tudo e é impossível cala-la.
Foi assim que Millie me deixou. O que ela me disse, me destruiu tanto que me sinto perdido e confuso, tentando me lembrar de como eu era antes de ter ouvido aquilo tudo, mas não fazendo a mínima ideia.
É como se tivesse me repartido em duas partes e enquanto uma delas resiste a aceitar e considera burrice eu ainda estar aqui, a outra, que presumo ser a mais forte, sabe que eu precisava ouvir aquilo. Sabe que as coisas não podem continuar desse jeito. Do meu jeito.
-Nicolle está fazendo o que agora? -Pergunto à Bob, ignorando seu recente comentário sobre Iris e a tentativa inútil dela de me provocar ciúmes.
O nome de minha irmã, nunca pensou tanto ao escapar da minha boca.
Acho que Bob percebe que não estou muito afim de papo e vai direto ao ponto.
-Esta lá em cima lendo um livro. A chamei agora a pouco para almoçar, mas ela disse que está sem fome.
-Sem fome? Isso é novidade. -Eu estranho.
-Claro. -Ele concorda e ri. -Mas ela comeu bem no café da manhã. Estou aqui há pouco tempo e já notei que aquela garota come por dois homens adultos, então não é uma surpresa que ainda não esteja com fome para almoçar.
É como se essa parte da minha emoção tivesse sido desligada. Não consigo sequer achar graça.
Volto para o quarto e a me sento na beira da cama de Millie, deixando a cabeça cair para frente.
-Vou falar a verdade para ela assim que voltar para casa.
Essas palavras não chocam apenas Bob que fica em silêncio por um tempo, mas a mim, que apesar de já ter tomado a decisão, ainda não havia dito isso em voz alta com todas as letras.
-Finn, tem certeza? Achei que as coisas estivessem finalmente indo bem. Você saiu daqui, está respirando longe de tudo isso e Mary pediu que você não contasse...
-Mas eu preciso. Mais do que nunca eu preciso. -Emendo, antes que ele continue, e de repente, até me sinto pronto para levar isso além. -Depois que isso acontecer, Nicolle poderá decidir o que fazer. Chega de comandar a vida dela como se ela não tivesse direito de escolha.
-Vai deixá-la se entregar para salvar Mary? Porque é isso que Nicolle vai querer fazer. -Pontua ele, temeroso.
E indo contra o que acabei de dizer, eu nego, como um maldito hipócrita.
-Isso não. Nicolle não vai por os pés na cadeia nem em uma delegacia. A escolha que disse que ela pode tomar é em relação a mim. Se ela me perdoar, nada vai mudar no sentido do que já está acontecendo. Se minha mãe quer ficar no lugar dela, eu não posso mudar isso, mas se Nicolle não me perdoar e quiser que eu nunca mais a veja, sei o que ela pode fazer. Sei para onde devo deixá-la ir.
Eu não preciso contar tudo a ela. A ideia que Millie me deu nunca foi essa, mas eu sou a única pessoa que conhece a cabeça de Nicolle. E sei que ela nunca aceitaria morar aqui em Los Angeles e ficar longe de mim caso não me odiasse. E a única forma de faze-la me odiar é sendo eu mesmo, confessando todos os meus erros.
Odeio pensar nisso. Não queria que Nicolle precisasse me odiar ou que eu precisasse ficar longe dela, mas Millie, com todas aquelas coisas horríveis que me disse, foi realista ao ponto de me fazer ver que é realmente necessário afrouxar um pouco o laço. Me afastar de Nicolle vai me matar, mas vai faze-la viver e esse é o preço que estou disposto a pagar.
-Caralho. -Bob xinga e posso até mesmo vislumbrar o choque em sua expressão, mesmo sem vê-lo. -Não sei se estou orgulhoso de você ou se te acho realmente maluco, mas é isso. Estou contigo para o bem e para o mal, se já tomou sua decisão, não irei me opor.
Dou uma risada infeliz enquanto mexo de novo o cabelo. O que Bob não entende é que ele não está concordando comigo por que é leal a mim, é porque estou agindo corretamente pela primeira vez na vida, mas ele não irá esfregar isso em minha cara.
Ele pergunta se quero falar com Nicolle por telefone, mas eu recuso. Não me achando capaz de fazer isso agora, e também porque já é muito falar com ela via mensagem e fingir que está tudo bem.
Quando desligo o telefone, busco pelo arrependimento de ter dito tudo aquilo a ele, mas não encontro. Apesar de ter sido uma decisão complicada, não é o tipo de coisa que dá para voltar atrás.
Ficar no apartamento de Millie pelo resto da tarde também não é algo fácil de fazer depois de tudo o que aconteceu aqui. Desde o sexo, até a conversa mais estranha e dolorosa que já tivemos.
A verdade é que eu não estou sabendo lidar com meus sentimentos por ela agora. Por isso, a decisão de ter ficado enquanto ela foi trabalhar. Foi a primeira vez que ficar longe dela era uma opção aceitável. E mesmo assim, fiquei aqui, dentro de seu apartamento e dentro da sua intimidade.
Não vou mentir e dizer que esperava que as coisas fossem acontecer dessa forma. Sou até prepotente para dizer que o sexo era algo que eu poderia ter previsto. Quando ela implorou para que eu lhe prometesse lutar por ela e eu fiz, acreditei que essa luta começaria a partir do momento em que o sexo acabasse, mas não é assim que vejo as coisas agora. Millie pegou algo sensível de mim e tomou a liberdade de assumir isso como responsabilidade dela, o que me parece muito mais que é ela que está lutando por mim do que o contrário.
No entanto, toda a dor e o incômodo que ela me causou, não são razões o suficiente para que eu tenha coragem de ir embora. É muito estranha essa coisa que querer estar longe e ao mesmo tempo não conseguir. Então fico o restante da tarde em sua casa, onde estranhamente me sinto pertencente.
Fico com vontade de mandar mensagens para ela ao longo do dia porque sei que apesar de tudo, ela foi embora preocupada com o que me fez passar, mas não mando nenhuma, achando mais coerente conversarmos de frente um para o outro.
Passam-se cinco horas, então, com as coisas que comprei no mercado, eu decido fazer um jantar para nós dois. Cozinhar, além de ser algo do qual sinto falta, também é uma forma de distração.
E até que isso funciona por um tempo. Coloco um salmão para grelhar no forno junto com massa de macarrão, mas quando faltam poucos minutos para ela chegar, fico ansioso, me sentindo mal de novo, como se soubesse que irei estragar tudo quando ela por os pés dentro de casa.
E se eu não souber ser o mesmo agora? Se eu olhar para ela e me sentir tão magoado ao ponto de afasta-la involuntariamente?
É o que penso enquanto estou em seu chuveiro, esfregando o corpo com o sabonete de baunilha que tem o cheiro dela.
De qualquer forma, de propósito ou não, Millie não chega exatamente no tempo que previ.
A comida fica pronta, eu ponho a mesa com uma garrafa de vinho que também comprei mais cedo e que escondi dela, e me sento esperando por ela.
Não conto o tempo que passo esperando, parece que de alguma maneira meu corpo e cérebro decidiram se desligar um pouco para esperar para reagir quando ela chegar, no entanto, eu noto a comida esfriando sobre a mesa, noto a noite caindo, noto a dor nas costas por ficar tempo demais sentado sem me mover.
Quando percebo tudo isso ao mesmo tempo, pego meu celular e vejo as horas. Já se passaram mais de três desde o momento em que ela deveria chegar em casa.
E em vez de pensar que talvez tenha ocorrido algum imprevisto no trabalho, meu cérebro, voltando a ativa, me castiga com pensamentos de que Millie tenha simplesmente desistido de voltar para casa e para mim.
Quando me levanto, disposto a guardar tudo na geladeira e pegar minha moto para ir embora, a porta se abre e Millie aparece.
Ela para com a porta aberta sem entrar realmente, parece que está chocada e espio rapidamente o balcão da cozinha para ver se como mais cedo, não deixei tudo uma bagunça, mas eu organizei as coisas antes dela chegar, então concluo que seu choque é só comigo. Porque de alguma forma, ela esperava mesmo que eu não fosse ficar aqui.
Estou com a travessa do nosso jantar na mão quando ela dá o primeiro passo na minha direção. É tudo tão absolutamente automático, que eu largo a travessa na mesa e abro os braços a tempo de pega-la quando ela pula em cima de mim, deixando bolsa, jaleco e crachá caírem no chão como se não fossem nada.
Quando ela me abraça com força e sinto seu coração acelerado batendo contra o meu e seus braços se fechando ao redor do meu pescoço, percebo que isso não é apenas surpresa de me encontrar de novo.
Algo aconteceu.
-O que houve? -Pergunto, tentando bloquear o cheiro dela que sempre me faz perder a cabeça antes da hora.
Deixo as mãos quietas embaixo de suas pernas.
Millie me abraça com mais força, então percebo que ela está tremendo.
-Eu me atrasei, me desculpe. Preciso falar uma coisa para você. -Ela responde, a voz meio oscilante e não se move para olhar para mim.
Embora tenha a sensação de que não irei gostar do que vai me dizer, eu assinto, porque sei que se fosse algo realmente ruim, ela não estaria em meus braços agora.
-Também preciso falar uma coisa para você.
Ela também assente, e afasta finalmente o rosto para me encarar. Assim de perto, é quase impossível não notar que ela esteve chorando, seus olhos estão inchados e há pontos de vermelhidão espalhados por seu rosto e colo. Automaticamente meu cenho se franze e meu coração dispara.
-O que... Você está bem?
Millie sorri triste, envolvendo os dedos nos meus cabelos.
-Estou bem. Para falar a verdade, estou ótima agora. -Ela move o rosto para o lado, vendo a mesa posta. -Você fez o jantar?
-Porque estava chorando? -Não a deixo fugir do assunto.
Ela solta um suspiro baixinho e encosta a testa na minha.
-Eu vou te contar tudo, eu prometo. Agora você pode esquentar um pouco a nossa comida? O cheiro está ótimo e eu estou faminta.
Antes que eu pergunte mais uma vez sobre o que a deixou assim, Millie me interrompe com um beijo na boca. Eu não sei como reagir, mas não me afasto, nem fecho os olhos. Não dura muito e ela se afasta de novo
-Só vou tomar um banho, então vamos poder conversar, tudo bem?
Como fico apenas calado, ela desce do meu colo e vai para o chão recuperar suas coisas caídas.
Um minuto depois estou sozinho de novo, tentando entender o que acabou de acontecer e não sabendo se devo ficar aliviado que ela está de volta ou preocupado com seu comportamento esquisito.
Ponho a travessa de massa de volta no forno por alguns minutos e embora a comida não pareça mais tão bonita como antes, o cheiro está realmente bom quando tiro do forno com as luvas de pano e sirvo nossos pratos. Esvazio as taças do vinho que ficou por horas intocado e depois as encho novamente com mais vinho.
Millie sai do banho quando estou enchendo a taça dela e embora sinta novamente a estranheza pairando no ar entre nós, também não consigo evitar parar para olhar para ela.
Temos mais um daqueles momentos em que ficamos em silêncio apenas nos encarando. Ela em um extremo do apartamento e eu no outro, mas algo como uma linha invisível nos deixando de algum jeito conectados.
Ela é tão bonita que algo parece doer fisicamente dentro do meu peito, e isso não tem nada a ver com algum tipo de produção que ela fez para hoje. Millie está apenas sendo ela mesma, a versão dela que mais gosto: simples e ainda assim, maravilhosa. De cabelo meio molhado, descalça, com um short jeans curto de cintura alta e um tipo de top branco que contrasta muito bem com a pele macia e dourada. Não é aquela mulher que se veste como uma médica bem sucedida e importante, que está sempre acima do bem e do mal, é uma menina. Aquela menina com olhos cor de caramelo brilhantes e espertos, a vivacidade que ela sempre teve, a inocência de quem nunca viu algo feio na vida. É a mesma menina pela qual me apaixonei perdidamente quando criança e a que eu destruí quando fui embora.
É a primeira vez que vejo essa menina de novo, e a surpresa é tão forte que me pego enchendo a taça por tempo demais até sentir o líquido transbordar e sujar a mesa.
-Porra. -Resmungo, voltando minha atenção para baixo, pegando rapidamente um pano para limpar a sujeira, mas só a espalhando ainda mais pela toalha branca da mesa.
Solto o pano de volta com frustração, sentindo mais raiva do que o normal, como se ter derramado a merda do vinho fosse só o começo da ruína desta noite.
-Isso não vai sair, me desculpe.
Millie começa a rir.
-Meu Deus, é só um pouco de vinho em uma toalha velha. Não é nada demais.
Ergo uma sobrancelha, desconfiado e surpreso com sua reação para minha bagunça, porém ela ignora meu cenho franzido e se senta em uma extremidade da mesa.
-Vem, vamos comer.
Ela puxa meu braço, até me fazer cair sentado na outra cadeira.
Fico um tempo perdido vendo-a se preparando para comer com uma naturalidade que não sei se é muito bem ensaiada ou genuína.
Não estou entendendo mais nada.
-Como foi seu dia aqui? Espero que o barulho lá de baixo não tenha incomodado. -Diz com a boca quase totalmente cheia, prestando atenção em mim, que ainda nem mexi no prato.
Ela está tentando deixar as coisas leves. Isso é óbvio. E como não entendo como isso funciona, só tento ir na dela.
-Nem percebi o barulho. Dormi quase a tarde inteira, depois acordei, liguei para casa e fiz o jantar.
Millie assente, revirando os olhos de prazer quando põe mais uma garfada de macarrão e salmão na boca.
Tento comer um pouco, mas só consigo levar a comida até metade da garganta e ela trava. Tomo vinho e quando sinto tudo dentro do estômago, limpo a boca com o guardanapo.
-E o seu dia, como foi?
Millie abaixa a cabeça, separando o salmão com o garfo.
-Tranquilo. O hospital estava meio parado hoje, nem atendi ninguém, só fiz alguns exames e despachei prontuários. Só quando terminou o turno que algo muito estranho aconteceu.
Ela me encara, avaliando minha expressão enquanto tomo mais um pouco do vinho. Não costumo beber, para ser sincero, a falta de costume até me faz não gostar muito sabor da bebida, mas acho que não conseguiria enfrentar a noite se não tivesse algo a mais em meu sistema.
-Bem, e o que foi? -Pergunto, notando que ela precisa de um pouco mais de incentivo para continuar.
Sua mão passa direto pela taça de vinho que servi para ela e pega a garrafa de água, que imaginei ser sua escolha, e deixei também sobre a mesa.
-Martha estava lá, minha ex-sogra, mãe de Joseph.
Seu rosto some por um segundo quando ela vira a garrafa e bebe um pouco. Quando volta o rosto para baixo, nos encaramos.
Não quero parecer intransigente, mas não consigo esconder a onda de incômodo que sinto cada vez que ouço o nome desse cara e não estava esperando ouvir justamente agora.
-E o que ela queria? -O vinho faz minha voz parecer mais lenta e suave.
Millie bufa uma risada e come mais um pouco.
-Me infernizar. Ela me disse coisas horríveis, falou que Joseph estava destruído, que a culpa era toda minha, que queria o filhinho dela de volta. Insinuou até que eu o tinha expulsado do nosso apartamento, como se Joseph não tivesse trinta anos de idade e não soubesse muito bem andar com as próprias pernas.
Nada do que ela fala me surpreende mais do que quando pega finalmente a taça de vinho, bebendo quase metade dela em um gole só. Ela lambe os lábios quando volta a taça de novo na mesa.
-Eu caí feito uma boba. Me senti mal, um ser humano desprezível e insensível. Claro que eu iria me sentir assim, eu fui a vilã da história, eu traí meu noivo e destruí o nosso futuro. Nem mesmo dei uma explicação. Então ela me convenceu a ir atrás dele.
-Você o que? -Balanço a cabeça, espantando a névoa de torpor trazida pelo álcool.
-Eu fui atrás dele. -Millie confirma e bebe mais. -Ela me fez me sentir muito mal e eu sabia que precisava pelo menos tentar me explicar. Foi tudo tão confuso e rápido, eu só peguei o carro e dirigi até o flat onde ele está morando.
Meu maxilar se aperta quando mordo os próprios dentes. O ciúmes querendo falar mais alto, até que percebo que ele não tem propósito, não tem sequer sentido, mas ainda assim não gosto nada disso.
-Você estava lá até agora? O que aconteceu?
Tento não parecer a porra de um inquisidor enciumado, não sei se consigo, mas Millie parece não se importar com isso.
-Ela tinha razão. Joseph estava péssimo, a casa parecia um chiqueiro nojento e ele... Pior do que isso. -Não há pena quando ela fala. -Eu me senti tão responsável por aquilo, implorei para que ele me ouvisse, então contei tudo. Falei que o que fiz não foi com a intenção de magoa-lo, falei que não podia lutar contra meus sentimentos por você, que era mais forte do que eu.
Apesar de uma parte de mim gostar de ouvir isso, fico impassível, com uma sensação esquisita de nó entalado na garganta. Sei que não tenho direito de me incomodar, é a vida dela e é meio que culpa minha também.
-Ele entendeu você? Eu duvido.
Millie dá de ombros e respira fundo.
-Ele não entendeu, mas sabe, eu não fui lá atrás de perdão ou de entendimento, mas era responsabilidade minha explicar e colocar um ponto final na história. -De repente, ela sorri, mas não é um sorriso feliz. -Achei que tivesse realmente acabado com ele, mas Joseph não estava sozinho no apartamento. Havia uma mulher lá, a secretária dele. Os dois têm transado desde que nós dois terminamos.
Busco em seus olhos qualquer indício de que isso a incomode. Seu tom é enjoado e cheio de desprezo, não sei se é apenas efeito do álcool.
-E você ficou triste com isso? -Faço a pergunta. Não consigo evitar.
Ela olha para mim por cinco segundos sem expressar nada. Depois se inclina, se aproximando da mesa.
-Eu fiquei feliz, Finn. Fiquei aliviada. Isso não muda o que eu fiz, que foi terrível, mas mudou tudo o que eu estava sentindo. Joseph não está destruído, ele só está sendo quem ele é quando eu não estou lá para ele tentar ser quem eu queria que fosse. É exatamente o que eu também fazia quando estávamos juntos, criei uma versão minha boa para nós, mas não era quem eu sou de verdade. Eu não sei se você vai entender onde quero chegar, as vezes nem eu entendo, esses últimos anos foram tão sem sentido que agora parecem um borrão na minha cabeça. Achei que sairia do apartamento dele pior do que eu havia chegado, duvidando de todas as minhas escolhas e que essa culpa jamais me deixaria em paz, mas ir até lá foi a melhor coisa que eu fiz. Terminar com ele foi a melhor coisa que eu fiz. Joseph tentou a todo custo me destruir, esfregando na minha cara que já estava com outra mulher, mas isso só me libertou. Posso ter sido uma pessoa terrível quando o traí, mas ele não pode me culpar por tudo. Eu não posso me culpar por tudo.
Ela para de falar quando me levanto, no automático, a adrenalina subindo pelo meu corpo, mas não por causa do que ela disse. Acontece que, enquanto ela falava, esticando novamente o braço direito para alcançar a taça de vinho, meus olhos foram praticamente puxados para a sua pele, focando na mancha avermelhada marcando o local logo acima do pulso.
Saio de mim por um instante, Millie se assusta quando praticamente fico em cima dela, alcançando seu braço e verificando o que eu já sabia. São marcas de dedos tão profundas que eu aposto que a vermelhidão logo mais ficará escura, roxa, dolorida.
-Ele tocou em você? -A pergunta é totalmente retórica, mas preciso faze-la, na esperança de não perder a cabeça sem razão. Dou tudo de mim para falar baixo.
A respiração dela se altera, suas pálpebras tremem, seus lábios se separam querendo me responder.
Não acredito que ela tentará defende-lo.
-Sim. Ele me machucou. -Millie responde, tirando o braço do meu alcance.
A surpresa com sua resposta, estranhamente, me faz ficar parado, porque estava preparado apenas para exigir que me dissesse a verdade, não esperava que falasse assim.
Ela levanta, toca meu braço com leveza.
-Não vou justificar o que ele fez ou tentou fazer, mas sinceramente, isso não importa.
Isso parece finalmente ligar uma coisa dentro de mim e eu me afasto dela, prevendo a explosão de raiva.
-Como não importa? O que mais esse filho da puta fez com você?
-Nada. -Ela nega com veemência. -Houve um momento de descontrole e ele agarrou meu braço. Eu juro que nada mais.
-Você não está tentando defende-lo, está? Porque isso aí. -Aponto diretamente para seu braço. -Isso aí não tem desculpa!
Millie passa a mão suavemente pelo local vermelho e assente.
-Eu sei. Eu o odeio por isso, mas novamente, Finn, não me importo. Se havia qualquer sentimento bom por ele, respeito ou qualquer consideração, ela morreu. Ele matou quando disse aquelas coisas horríveis para mim e me tocou. É isso que estou dizendo, ele me libertou de tudo. Não há mais nada aqui para ele.
Vejo toda a sinceridade no seu olhar, mas isso não me faz ficar menos nervoso.
-Espero que eu nunca tenha a oportunidade de encontrar esse cara pessoalmente, porque se tiver esse desprazer, eu juro para você que isso não vai ficar assim. -Asseguro, tão firme que nem por um segundo Millie considera isso um blefe.
Ela engole em seco e então mexe no cabelo molhado jogado em seu ombro.
-Talvez eu tenha que vê-lo de novo. -Sussurra, quase como se não quisesse que eu a ouvisse, mas eu ouço.
-O que?
Millie lambe os lábios de novo, chegando perto de mim.
-A mãe dele disse que não faz questão do apartamento, mas eu a conheço, sei que uma hora ou outra isso vai vir a tona. Também não faço nenhuma questão daquela casa, mas quero resolver isso o mais rápido possível, se formos vender, eu preciso estar junto pois metade está no meu nome. É a última coisa que ainda nos liga e eu quero cortar esse laço de uma vez por todas.
-E quem garante a você que quando estiverem juntos ele não vai tentar terminar o que começou aqui? Pelo amor de Deus, você deveria ter feito uma denúncia, ou melhor, você deveria ter me ligado, eu não teria hesitando em ir até lá e...
-Finn, não. -Ela alcança meu braço de novo. O choque de sua pele na minha me faz ficar parado. -Já chega de tanta confusão, Joseph não é qualquer um, você acha mesmo que se vocês dois brigassem, seria ele a ser culpado? Você não o conhece...
-Ele também não me conhece. Você acha que eu tenho medo?
-Não. -Ela nem pensa antes de responder. -É isso que me assusta, você não parece ter medo de nada. E certas coisas não valem o risco. Quando digo que isso aqui não importa, é porque realmente não tem nenhuma importância. Joseph não pode me machucar, eu acho que ninguém nesse mundo pode mais fazer isso. Desde que finalmente abri meus olhos, eu parei de aguentar tudo calada, parei de me tornar vulnerável para que fizessem o que bem entendessem de mim. -Então ela para, conseguindo minha total atenção, quando põe as duas mãos em meu peito. -Talvez a única pessoa que ainda pode me machucar seja você. Intencionalmente eu sei que isso não vai acontecer, mas iria me destruir se um dia você voltasse para aquela cadeia de novo. Eu não iria suportar te perder mais uma vez.
Ela me abraça, apertando a cabeça fortemente contra meu peito. E mesmo confuso e furioso, não consigo evitar abraça-la de volta. Millie não entende que eu sinto medo sim, vivo constantemente lidando com ele. E nesse exato momento, estou com medo do que acabou de me dizer, porque sei que se eu voltar para a cadeia, a fragilidade do que estamos tentando construir aqui, não suportará mais esse abalo.
-Só me deixe saber quando e onde vai encontra-lo de novo. E me garanta que não vai fazer isso sozinha. -Imploro, trazendo seu rosto para perto com as mãos.
Eu me ofereceria para estar junto, mas me conheço, e sei que isso jamais terminaria bem.
Ela assente, fungando a umidade que escorre de seu nariz.
-Vai ser logo e eu prometo que não vou ficar sozinha com ele. Talvez ele nem queira fazer isso comigo, mande a mãe ou o pai no lugar. Joseph não é do tipo que corre atrás, ele é mais do tipo que quer ser procurado, acha que talvez um dia eu me rasteje aos seus pés. Para ele eu sou um troféu. Nunca parei para pensar nisso, mas hoje percebi com tanta clareza que fiquei com nojo. Ele não me queria porque me amava de verdade, ele queria a menina virgem e disposta a tudo por ele e por nós como eu era. Não é atoa que não fez a menor diferença para ele estar com uma mulher que é o oposto de mim pouco tempo depois que terminamos. Agora pelo menos ele sabe que nós dois éramos uma farsa, para ele sou tão podre quanto eu o vejo agora. E por mim, está tudo bem assim.
Deixo que ela me abrace de novo e depois de ouvir tudo isso, fazendo de tudo para confiar no que está dizendo.
Também não posso evitar pensar que parte disso é culpa minha. Não o fato de seu ex-namorado ser um fodido passivo-agressivo, mas todo resto, porque sei que a crise que Millie enfrenta, não é apenas com ele, mas com tudo ao seu redor.
-Pelo visto eu vim para acabar com tudo mesmo. Queria ter mudado a sua vida, mas de outro jeito. -Murmuro por sobre seu cabelo.
Ela afasta a cabeça e me encara, deslizando os dedos pelos fios de cabelo que caem por minha testa.
-Nada disso foi culpa sua. Agora será que podemos deixar esse assunto pra lá? Eu quero saber o que você disse que tem para me dizer.
Meu corpo se contrai automaticamente e preciso de muito esforço para não me afastar dela, subitamente me sentindo com falta de ar, porém Millie percebe, e quando se afasta me deixando livre, me viro para a mesa, agarrando as costas da cadeira, sentindo seu olhar pesar através de mim.
-Eu pensei nas coisas que você me disse hoje mais cedo. Pensei mesmo. E não sei como vou conseguir fazer isso, mas você está certa. Preciso me afastar de Nicolle, preciso deixá-la respirar e enfrentar as consequências do que fez sem a minha total proteção.
Nem sei como as palavras fluem com tanta naturalidade para fora de mim. Não pensei em como diria isso, foi apenas o que estava na minha cabeça.
Millie não diz nada por um tempo, talvez chocada que eu tenha tomado essa decisão tão rápido, então continuo, com medo de perder a coragem:
-Eu vou conversar com ela, perguntar se ela quer fazer isso. Vir para cá e...
-Você acha que ela vai aceitar ficar longe de você? -Ela me corta e eu solto um suspiro.
-Não, não vai. -Admito. -Nicolle nunca aceitaria ficar longe de mim, por isso vou dar a ela as razões pelas quais isso precisa acontecer.
As razões pelas quais me odiar.
Era o que e eu deveria dizer, mas não digo.
-Finn... -Millie sopra meu nome com pesar. Então encosta a mão sobre meu ombro. -Isso é tão corajoso, é tão bonito da sua parte... Eu achei que levaria muito mais tempo para você pensar sobre o que eu disse.
Eu gostaria de estar feliz com isso como Millie parece estar orgulhosa de mim, mas apesar de saber que é a coisa certa, simplesmente não consigo ficar contente com o rumo que as coisas parecem estar tomando.
-Vou precisar passar o natal com ela. Disso não abro mão, Nicolle se importa demais com essas festas e quer muito passar o feriado comigo em casa. Depois disso, se ela quiser, eu a trarei para ficar com você.
Sua mão escorrega para fora do meu ombro quando me afasto de novo. Millie me encara com misto de pena e dor por me ver recusar o seu toque.
Não quero que pense que eu a odeio porque isso não é verdade, só não suporto esse conflito dentro de mim. Essa sensação constante de que estou por um triz de estragar tudo.
Ela exala o ar com cuidado e põe as mãos na cintura, bem onde o top e o short se separam, na faixa de pele à mostra.
-Você tem o tempo que precisar, Nicolle também. Não vou exigir que a traga antes de vocês dois estarem preparados para isso.
Assinto, sem jeito de dizer que talvez nunca me sinta pronto. Millie se aproxima de novo, agora com ainda mais cuidado do que antes, como se eu fosse um pedaço de vidro pronto para feri-la.
-Finn, você não faz ideia do quanto isso é importante para mim e eu te prometo que eu cuidarei bem dela e que farei de tudo para que ela se sinta bem aqui e no hospital.
Não duvido disso nem por um segundo, mas como falar o que sinto quando há uma pedra no lugar da minha garganta? Quando há um abismo crescendo entre nós que não consigo ultrapassar?
Ela se abraça, parecendo cada vez mais preocupada com meu silêncio.
-Não quero que isso nos afaste. Sei que te peguei de surpresa, que talvez eu tivesse que ter esperado um pouco mais para tocar naquele assunto, mas por favor não me odeie...
-Eu não odeio você! -Exclamo, e do contrário do que quero demonstrar, falo com mais raiva do que pretendia. -Eu só estou me sentindo estranho e confuso. Não consigo falar nada, não consigo sequer olhar para você direito.
Me arrependo assim que termino de falar. Isso soou ainda pior e estou pronto para pedir desculpas e me condenar para sempre, quando Millie estende a mão, me pedindo para ficar em silêncio.
Ela se aproxima mais até ficar bem na minha frente. Não sei identificar o que é a expressão no seu rosto, só sei que ela não parece irritada comigo, mas como é possível que ainda tenha tanta paciência para minhas confusões?
Antes que eu diga mais alguma coisa, que provavelmente iria estragar ainda mais as coisas, Millie me empurra suavemente para trás e apesar de não usar muita força, eu caio sobre a cadeira que havia esquecido totalmente que estava atrás de mim.
Imediamente ela senta comigo, montando meu colo, segurando meu rosto com firmeza para encara-la.
-Então não precisa dizer nada. Não precisa pensar em mais nada, nem mesmo olhar para mim se não quiser...
-Millie... -Tento me sacudir, explicar que não era exatamente isso que eu queria dizer, mas ela põe o indicador sobre minha boca, me impedindo de continuar.
-Shhh, não fale nada. -Ela leva a boca até perto do meu ouvido e sussurra. -Feche os olhos.
Engulo em seco e a obedeço com custo, entendendo que a melhor coisa que posso fazer é deixá-la comandar a situação que eu já não sei como lidar.
Quando minhas pálpebras se fecham, sinto seus polegares alisando minhas bochechas. Um toque ínfimo, mas ainda assim, tão delicado e poderoso que sinto-me relaxar consideravelmente em poucos segundos.
Ela aproxima os lábios dos meus, mas não me beija. Minha mente praticamente apaga todo o resto para se concentrar na sensação de calor trazida pela sua pele, cheiro e respiração.
Me inclino um pouco para frente, buscando finalmente por sua boca e sinto seu sorriso nos lábios.
Ela sabia que eu cederia rapidamente por um beijo.
Mas em vez de me beijar na boca, Millie decide esfregar os lábios sobre meu queixo. Não me atrevo a abrir os olhos, mas estranhamente, não ver o que ela está fazendo, potencializa o efeito, então fico parado dando-lhe tempo e espaço que precisa para me tocar.
Os sentidos apurados me fazem ouvir o barulho da taça de vinho sendo batida suavemente na mesa, e quando seus lábios voltam para meu pescoço, estão mais úmidos e frios. Ela continua bebendo. Beijando e lambendo. Levando a taça para minha boca para me fazer beber também.
É uma sensação gostosa. Nunca fui tocado dessa maneira, sem pressa e com tanto carinho. Sinto pouco a pouco o gelo dentro de mim sendo quebrado, a amargura deixando minha boca.
Seu peso em cima de mim, conforme sinto seus dentes arrastando pela minha pele embaixo da orelha, e o vinho esquentando meu corpo, parece cada vez mais gostoso e não contenho as mãos, que vão imediamente para seu quadril, puxando-a para mais perto.
Ela solta um gemido quando percebe que seu simples esforço já foi o bastante para me deixar excitado. Minha respiração também pesa, minhas mãos apertam sua bunda até ouvi-la respirar mais e mais.
Millie puxa minha camisa para cima. Eu ergo os braços para ajudá-la a retirar a peça e no momento em que ela se livra da camisa, eu envolvo seu cabelo gigantesco com apenas uma mão e a trago para finalmente me dar o beijo que está me recusando desde o começo.
Parece a coisa mais absurda do mundo. Não posso falar com essa mulher, nem olhar para ela, mas posso beija-la e deseja-la com toda maldita força que tenho no corpo e no coração. Não tento achar sentido para isso, as coisas são simplesmente assim. Ela é meu tormento, a minha carrasca, minha dor, meu sofrimento, mas também é a única capaz de ser a minha salvação.
Millie também agarra meu cabelo, seu corpo pressiona o meu e sua boca se abre para minha língua. O gosto do vinho em sua boca só aumenta o meu desejo, a minha sede de buscar pelo gosto dela de verdade.
Suas unhas arranham minha cabeça, fazendo-me retribuir a pequena pontada de dor com uma mordida em seu lábio inferior. Ela arfa, quando deveria se assustar.
As coisas vão sair do controle.
Com um estalo, eu me afasto, respirando ofegante pela boca raspando na dela.
-O que estamos fazendo? -Pergunto, com os olhos vidrados nos dela.
Não é uma crítica, só quero deixar as coisas bem claras porque obviamente não deveríamos estar apelando para esse lado.
Ela envolve as duas mãos no meu pescoço e lambe os lábios de novo como se estivesse o tempo todo com sede.
-Eu não sei, transando para esquecer os problemas?
A inocência em sua voz, me quebra no meio. Porque nesse momento, quero mais do que tudo estar dentro dela e esquecer todo o resto, mas tenho medo do depois. De tudo apenas piorar e eu nunca esquecer o que me disse, embora concorde com tudo.
-E isso não é só mais um jeito de arranjar um novo problema?
-Não. -Ela murmura, descendo as mãos até o cós da minha calça. -No fundo eu sei que você está magoado comigo, por isso não vamos fazer amor. Vamos foder.
Ela com certeza não faz ideia do que está me pedindo, mas parece não se importar nem um pouco com as consequências, pois enquanto fico parado tentando absorver tudo, ela desce do meu colo e fica de pé na minha frente.
Acho que em nenhum outro momento essa mulher esteve mais sensual do que agora, os cabelos bagunçados devido o agarre de minhas mãos, a boca inchada num tom perigosamente vermelho dado nossos beijos e ao vinho, o top mal sustentando o peso de seus seios.
Não sei o que me excita mais. A perspectiva de foder com ela agora, ou ver o quanto ela realmente está louca por isso, mesmo que no momento eu não esteja caindo aos seus pés como sempre estive.
Tento não prestar atenção na marca horrorosa em seu braço e sem pressa, assinto com a cabeça.
-Tire a roupa. -Peço, totalmente impassível por fora.
Sua respiração sofre um vacilo que a faz hesitar só por um momento, mas logo ela me obedece. Não é nenhuma surpresa que esteja sem sutiã por baixo do top, a surpresa é a porra de uma calcinha minúscula que aparece quando se despe do short.
Não sei se já era sua intenção me seduzir quando a vestiu. Eu não pensei que essa noite terminaria em sexo, mas quando ela põe os dedos nas laterais do tecido de renda preta, eu nego com a cabeça.
-Fique com ela. -Digo e ela imediatamente afasta as mãos. -Agora venha aqui.
Seus passos até mim são lentos, mas nem um pouco inseguros.
A faço parar na minha frente e abro as pernas, a ajustando de pé entre elas.
A ansiedade de toca-la quase me faz ir direto ao ponto, mas antes de tudo, eu esclareço:
-Hoje de manhã você ferrou comigo, mas não é de você que estou com raiva. É de mim...
-Finn, não, por favor...
-Deixe-me terminar. -Toco sua coxa e ela fica em silêncio. -Vai levar um tempo para eu me acostumar, para eu saber lidar com tudo isso. Estou confiando que você vai fazer o melhor para Nicolle, mas preciso que tenha paciência comigo, não vou viver meus melhores dias depois que me afastar dela e talvez isso afete você de alguma forma.
Olhando para baixo, ela engole em seco.
-Eu sei. Se isso é demais para você, eu acho que não precisamos...
-Ei. -Ergo seu queixo, fazendo-a olhar para mim de novo. -Só quero deixar isso claro. Não significa que não quero ou não vou fazer o que me pediu. Venha cá.
Obedientemente, ela senta em meu colo e eu a beijo.
Tudo parece melhor quando faço isso. Acho que não conseguiria ir adiante sem explicar exatamente o que está acontecendo comigo.
Seguro suas costas e suas coxas e sem parar de beija-la, me levanto com ela em meu colo.
Millie se segura em mim, se ajustando quando fico de pé e a levo até a cama e a deito de costas em cima do colchão.
Quando me afasto, ficando de joelhos entre suas pernas, uma outra versão minha parece ressurgir, algo que talvez eu ainda não tenha deixado vir à tona até agora.
-Ainda quer foder, ou prefere fazer amor? -Indago, notando a forma como seus olhos brilham de expectativa.
Alcanço seus joelhos, massageando a área com calma e delicadeza.
Ela se apoia nos cotovelos, erguendo o corpo para cima.
-Com você, eu quero tudo. Um depois do outro.
Caralho.
Meu toque em seu joelho fica mais firme, meus dedos praticamente se fundindo em sua pele macia enquanto a vejo deitada inteiramente a minha mercê, mas tento não deixar isso subir à cabeça. Ainda que tenhamos bebido pouco, nem eu nem ela estamos acostumados com o álcool em nosso organismo, então nossas decisões de agora podem não ser totalmente conscientes.
-Vou dar o que está me pedindo, depois vou cuidar de você. -Prometo, me inclinando para beijar a parte interna de sua coxa.
Ela estremece com o simples contato. Seu corpo caindo de volta na cama, mas nunca deixando de olhar para mim.
-Eu sei que vai.
Depois de um segundo, selando a confiança que me dá com o olhar, eu a viro abruptamente e sem muita delicadeza sobre o colchão, deixando-a de costas para mim, suas mãos agarram imediatamente a colcha da cama quando ergo seu quadril para cima.
Ainda não tinha visto a parte de trás da calcinha, o tecido fino totalmente escondido entre as nádegas pequenas e redondas. E que Deus me perdoe, mas não consigo controlar a mão que estala contra sua carne.
O barulho que Millie emite é uma mistura de exclamação de surpresa e dor, um som que rapidamente preenche meus ouvidos e aumenta a pulsação do meu corpo.
Sou um hipócrita do caralho. Quase morri de ódio porque aquele fodido deixou-a marcada, mas estou aqui, fazendo praticamente a mesma coisa.
É o que penso quando afasto a mão da área afetada e ardida e vejo o desenho perfeito dos meus dedos ali em sua pele. Ofegando, eu me afasto, mas Millie se impulsiona para trás e dobra o pescoço virando a cabeça para mim.
-Faz de novo. -Ela pede, me pegando de surpresa.
Seu rosto está vermelho, seu lábio está preso entre os dentes e quase imagino que ela está pedindo mais só porque sabe que agora estou em uma crise fodida de consciência. Mas não é isso. Percebo pela forma como se empurra na minha direção, como junta as pernas, como estremece a cada segundo.
É estranha a consciência de que ela realmente quer mais. Como não se assusta com nada. Como no meio de tantas diferenças, somos tão fodidamente iguais no final das contas.
Estalo a outra mão do outro lado de sua bunda, mas dessa vez, antes mesmo que ela processe a fisgada de ardência provocada pelo tapa, acaricio sua boceta por cima da calcinha já úmida.
Como previ, ela enlouquece. A mistura de sensações é tão drástica e conflituosa que ela afunda o rosto no travesseiro e choraminga, totalmente perdida.
Duvido que já tenha experimentado algo desse tipo. Duvido que já tenha sentido prazer na dor, ou visto beleza em sentir medo por não saber o que vai acontecer. Isso não é novo para mim, mas com ela, tudo é infinitamente melhor.
Suas costas começam a acumular uma camada fina de suor e seu corpo começa a se mexer querendo mais dos meus dedos, mas ainda não afasto sua calcinha, dando-lhe só o bastante para deixa-la louca até o outro tapa.
Esse arranca um grito dela, que novamente é sufocado pela cama e pelo gemido estrangulado que vem quando finalmente afasto a calcinha para o lado.
Está tão perfeitamente molhada que ela me suga para dentro sem nenhuma dificuldade.
Meu pau pesa dolorosamente dentro da calça, louco para sentir a mesma coisa que meu dedo.
Agarro seu cabelo e a faço levantar e ficar de joelhos. Fico em suas costas, o dedo ainda deslizando em sua boceta quando puxo sua cabeça para trás e a beijo.
O ângulo é certamente desconfortável. Somos desproporcionais em altura, então Millie precisa se arquear inteira para conseguir acesso a minha boca, mas ela não parece nem um pouco incomodada com o esforço. Jogando os braços para trás, ela agarra meus cabelos, retribuindo o beijo com a mesma loucura enquanto se impulsiona ainda mais forte contra meu dedo.
-Você quer gozar assim? Na minha mão? -Sopro por cima de sua boca, engolindo cada gemido.
Ela morde o lábio que já está totalmente inchado pelo beijo e mal consegue manter os olhos abertos, mas responde.
-Não. Na sua boca.
Sorrimos juntos, então libero seu cabelo e a deixo cair na cama de novo, porém agarro suas mãos quando ela tenta tirar a calcinha com pressa.
-Devagar, meu amor. Vamos fazer isso nem devagar, pode ser? -Provoco, massageando suavemente as marcas que deixei em sua pele.
Ela solta um gemido de protesto, que me faz sorrir, achando adorável e a porra mais excitante do mundo ver seu desespero.
Faço tudo lentamente, desde beijar cada uma das marcas em seu corpo, até descer finalmente a calcinha até seus joelhos apoiados na cama.
Sua pele se arrepia com a carícia dos meus dedos e lábios, sendo possível visualizar cada pelinho claro se eriçar e ouvir cada murmúrio baixinho de antecipação.
Quando aproximo a boca de sua boceta, soprando a respiração quente pela carne molhada, ela geme de novo ainda mais angustiada e então finalmente lhe dou o alívio da minha boca.
Seu corpo inteiro treme e afunda no colchão. Preciso manter as mãos firmes em seus joelhos para impedi-la de ceder totalmente, mantendo o quadril erguido para minha boca.
O arrastar frequente da língua, acompanhado da sucção em seu clitóris, fazem seus gemidos se transformarem em gritos. Os sons preenchendo todo o ambiente e com certeza escapando para os corredores.
Algo que eu preciso ver, não apenas ouvir.
Pensando nisso, rapidamente, com as duas mãos em seus quadris, eu a viro de volta de barriga para cima na cama e antes que reclame pela ausência da minha boca, volto a chupa-la, agora de frente, podendo ver a insanidade tomar conta de seus olhos, podendo sentir suas mãos que imediamente agarram meu cabelo.
-Ai meu Deus... Mais.. eu preciso de mais. -Ela soluça, usando os pés, agora apoiados na cama, para se erguer e esfregar contra minha boca.
Ela mesma não aguenta a potência do que faz e em um segundo se desmancha inteira em um orgasmo que vem mais rápido do que poderia ter previsto e a pega de surpresa.
Eu me afasto só o suficiente para poder assistir a forma como sua alma parece escapar para fora do corpo, como os tremores castigam os músculos e o suor a faz brilhar em cima da cama.
Não faço idéia de como aguentei dez anos sem poder assistir a isso. A imaginação, mesmo que fosse fértil em todos esses anos, nunca poderia se comparar à realidade. E pensar que por muito pouco nada disso seria possível. Se fosse por todas as péssimas decisões que tomei ao longo da vida, eu jamais teria encontrado-a de novo. Jamais teria tido o prazer de conhecê-la inteiramente como agora sinto que a conheço.
E foi tudo por causa dela. Porque no meio de toda confusão, de toda dor que a fiz passar, essa garota ainda foi forte o bastante para ir atrás de mim, para lutar por mim sem nem mesmo perceber que enquanto isso, perdia tudo em sua vida.
Todo resquício de ressentimento pelo que aconteceu mais cedo, parece finalmente me abandonar quando considero tudo isso. Quando percebo que, mesmo tendo me destruído, ela ainda está aqui para me arrumar de novo.
Abaixo a cabeça sobre sua barriga e beijo a pele inteira. Agradecido. Revigorado. Mais apaixonado do que nunca estive.
-Obrigado. -Sussurro, buscando seus olhos quando ergo a cabeça.
Ela ainda está atordoada, respirando com dificuldade, mas ainda assim franze o cenho quando me escuta.
-Obrigado?! Acho... que sou eu quem deveria agradecer.
Balanço a cabeça e sorrio, deixando que ela pense que estou falando do orgasmo, então a beijo de novo, com mais calma dessa vez, mas minha pirralha tem outros planos no momento.
De uma só vez ela me empurra contra a cama e inverte nossas posições, montando meu corpo enquanto as mãos ávidas abrem o botão da minha calça.
-Me lembre de comprar mais vinho para você. -Me sentindo mais leve, eu brinco, com a mão espalmada em seu seio.
Ela não se envolve com minha piada, ocupada demais em me despir e segurar meu pau com ambas as mãos. É quase demais para que eu possa aguentar quando me esfrega contra sua boceta quente e molhada, mas consigo arranjar força para segurar sua coxa antes dela sentar em mim.
-Não estamos usando camisinha. Da última vez eu não lembrei e agora...
Não consigo terminar de falar. O ar sai praticamente inteiro de dentro dos meus pulmões quando ela me encaixa e desce pelo comprimento.
-Porra. -Agarro suas coxas no automático, chegando tão fundo dentro dela que é impossível não perder o fio do pensamento em poucos segundos.
Ela se deita sobre mim, buscando minha boca enquanto sua boceta pulsa ao meu redor, roubando cada grama de sentido de mim.
-Eu uso diu. É impossível estar mais protegida do que isso. -Assegura com a boca sobre a minha.
Sua confirmação faz a coisa toda mudar e o medo de que talvez ela pensasse errado de mim, também vai embora.
Enlaço sua cintura, a incentivando a ir mais forte, porque agora ela é quem está no controle.
A posição favorece seu prazer, nossos corpos se esfregando, seus seios raspando pelo meu peito e a boca na minha; tudo parece ser demais e Millie se contrai inteira com mais um orgasmo.
Ela sussurra meu nome quando finalmente acontece. Quando viro de novo nossos corpos e fico entre suas pernas, prolongando ainda mais seu ápice.
Vejo a mulher perder a razão sob mim mais uma vez e agarrar minhas costas, me puxando, me trazendo para dentro de si ainda mais como se nada fosse o suficiente, até que gozo também, profundamente enterrado dentro dela.
Quando caio sobre seu corpo, quase não consigo livra-la do meu peso de tão exaurido, mas ela não liga, tão ofegante quanto eu enquanto alisa minhas costas com as pontas dos dedos.
-Eu estava enganada, Finn... -Sua voz abafada chega em meus ouvidos.
Consigo afastar meu corpo só um pouco para o lado e a encaro, vendo a delícia que ela é embaixo de mim, trêmula, vermelha e suada.
-Enganada sobre o que? -Esfrego a boca sobre seu peito, bem em cima de onde pulsa seu coração.
Millie fecha os olhos e sorri.
-Nós fizemos amor.
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